Acaso
Enquanto desço a rua inclinada que dá acesso a minha casa com a cara levemente molhada de lágrimas e olho o céu, pergunto-me como uma coisa tão perfeita como a vida às vezes nos pode trazer coisas tão más. Somos, de facto, uns privilegiados em termos nascido, em termos a oportunidade do que chamamos "viver". Temos um planeta especial, somos todos especiais. Respiramos, controlamos a natureza(controlamos?), movemos mundos e fundos. Criamos o dinheiro, aprendemos uma ou mais línguas e até descobrimos a electricidade.
Mas sofremos tanto. Mas tanto. Quantos ácidos corroeram o nosso peito? Quantas facas esfaquearam o nosso frágil coração? E, porra, continuamos vivos. Dói, dói mais do que tudo. Nós, com a mania que controlamos tudo e todos, esquecemo-nos do pequeno pormenor de que, pura e simplesmente, há coisas incontroláveis. Oh, terrível acaso. Quantas vidas tornaste num inferno?
A morte é incontrolável, por vezes. As ações dos outros são incontráleis. A dor que sinto no peito é incontrolável. As lágrimas que nos escorrem nos rostos são incontroláveis. Vivemos num mundo quase perfeito, não fossemos nós os seres mais imperfeitos e o tempo e o espaço os condicionantes do inferno. Há dias tristes. Hoje é sem dúvida um deles - mais um.