A fotografia no corredor
Não sei precisar a quantidade de horas que passei em hospitais este ano. Provavelmente umas largas centenas.
Os caminhos já se fazem quase às escuras e, a maior parte das vezes, a cabeça está em sítios que não nos permitem que vejamos o que está em nosso redor - fugimos dos obstáculos como robôs, seguimos como se os pés só conseguissem parar na meta. Mas há uma excepção: um corredor de fotos no São João que me faz sempre, sempre olhar para a mesma sequência de fotos. A torrente de pensamentos entra em pausa, os pés ajustam a trajetória para mais perto da parede e a cabeça roda sempre para ver melhor; para, a cada dia que passa, apreciar mais um detalhe.
É um casamento em circunstâncias particulares - más, para sermos mais claros. Quiçá em fim de vida? Não sei, não conheço a noiva. E ela, não me conhecendo também, dá-me força todos os dias e reforça o meu novo mote de vida: a de que pode haver momentos felizes no centro do furacão das vicissitudes da vida; de que a partilha e o amor podem não nos salvar, mas dão-nos força para querer viver. Que, mesmo sem (ha)ver uma luz ao fundo do túnel, podemos ter luz no caminho incerto - e sem prazos - que é a vida.