Chávena de Letras: "A Gorda"
Decidi ler este livro depois de ter ouvido Isabela Figueiredo no podcast da Mariana Alvim, o "Vale a Pena". Simpatizei com a voz da escritora, gostei da forma como falou; já conhecia o livro, mas tinha medo de ter uma escrita demasiado intrincada. Ouvir aquele episódio foi a força que precisava para me arriscar na aventura de conhecer mais uma autora portuguesa.
Confesso que foi difícil avaliar "A Gorda"; a avaliação que será mais fidedigna são provavelmente umas 3.5 estrelas. Queria ter gostado mais deste livro, mas achei a história algo confusa, com uma narrativa caótica do ponto de vista de organização. Na verdade também não adorei a linguagem em alguns pontos, embora Isabela Figueiredo tenha no geral uma óptima escrita, algo poética até - mas, de vez em quando, dá-lhe umas "facadas" de calão que me apanharam desprevenida e que eu não achei particular graça.
O mote do livro é bom - ser gorda não é só uma questão de balança. Molda a vida, a forma de estar e de ser, muitas vezes de forma profunda; as inseguranças estão profundamente enraizadas, a ideia de não merecer mais. Esse retrato é bem feito pela autora, nomeadamente na relação (para mim, tóxica) que Maria Luísa tem com o seu namorado de longa data (e aparentemente amor para a vida toda) assim como uma dependência algo excessiva dos pais. Isto não é retratado como uma coisa má - fica encarregue ao leitor fazer esta interpretação. E eu vou mais longe: não gostei nada da leviandade com que foi retratada aquilo que para mim é uma violação.
Também não compreendi a divisão dos capítulos nem a relação com as divisões da casa - por mais que me esforce não chego lá.
Há, por isso, demasiadas pontas soltas e muitos detalhes que se tornam "pormaiores" quando vistos num todo. Foi um livro que ficou aquém das minhas expectativas.