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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

12
Abr24

Chávena de Letras: "A Gorda"

gorda.jpg

Decidi ler este livro depois de ter ouvido Isabela Figueiredo no podcast da Mariana Alvim, o "Vale a Pena". Simpatizei com a voz da escritora, gostei da forma como falou; já conhecia o livro, mas tinha medo de ter uma escrita demasiado intrincada. Ouvir aquele episódio foi a força que precisava para me arriscar na aventura de conhecer mais uma autora portuguesa.

Confesso que foi difícil avaliar "A Gorda"; a avaliação que será mais fidedigna são provavelmente umas 3.5 estrelas. Queria ter gostado mais deste livro, mas achei a história algo confusa, com uma narrativa caótica do ponto de vista de organização. Na verdade também não adorei a linguagem em alguns pontos, embora Isabela Figueiredo tenha no geral uma óptima escrita, algo poética até - mas, de vez em quando, dá-lhe umas "facadas" de calão que me apanharam desprevenida e que eu não achei particular graça.

O mote do livro é bom - ser gorda não é só uma questão de balança. Molda a vida, a forma de estar e de ser, muitas vezes de forma profunda; as inseguranças estão profundamente enraizadas, a ideia de não merecer mais. Esse retrato é bem feito pela autora, nomeadamente na relação (para mim, tóxica) que Maria Luísa tem com o seu namorado de longa data (e aparentemente amor para a vida toda) assim como uma dependência algo excessiva dos pais. Isto não é retratado como uma coisa má - fica encarregue ao leitor fazer esta interpretação. E eu vou mais longe: não gostei nada da leviandade com que foi retratada aquilo que para mim é uma violação.

Também não compreendi a divisão dos capítulos nem a relação com as divisões da casa - por mais que me esforce não chego lá.

Há, por isso, demasiadas pontas soltas e muitos detalhes que se tornam "pormaiores" quando vistos num todo. Foi um livro que ficou aquém das minhas expectativas.

07
Abr24

Cinco anos e um beijo depois

Hoje é um dia importante para mim. É, talvez, o aniversário mais significativo do ano (não desdenhando todos os outros) - acima de tudo porque fui eu que tive de fazer por ele acontecer. Porque foi dos passos mais difíceis da minha vida - mas também aquele que mais retorno me deu. Faço hoje cinco anos de namoro com o Miguel e esta é uma data que não posso deixar passar. Posso ignorar as bodas de casamento e até fingir que os anos não passam por mim - mas a grandiosidade que daquele passo tem de ser de alguma forma celebrado. Porque mudou - MESMO - a minha vida.

Eu e o Miguel começamos a namorar quando o mundo estava a gastar os seus últimos cartuxos de paz dos tempos modernos. Pouco depois... Covid. Não tivemos direito a grandes saídas, idas ao cinema ou passeios: os shoppings estavam fechados, os bancos de jardim interditos e a passagem entre concelhos proibída. Ficamos em casa, a conhecermo-nos um ao outro, em conversas infinitas; demos passeio pela nossa história, sobre o nosso passado e as ideias de futuro; os filmes eram aqueles que fazíamos em conjunto sobre aquilo que faríamos quando o mundo voltasse ao normal. Quando voltou, foi sol de pouca dura: guerra na Europa e depois no médio-oriente. Sabe-se lá o que mais virá por aí... O clima é de instabilidade constante. Entretanto, recentemente, foi o meu mundo que ficou virado do avesso.

E o que é que todos estes eventos têm em comum? É que o Miguel está lá, sempre a meu lado. É a minha pedra, o meu porto seguro. A forma como se mantém comigo nestes últimos meses, como me mantém de pé - e, na verdade, como me apoia em tudo na vida - é digno de um herói. É a pessoa mais empática que conheço, calçando os meus sapatos como nunca vi ninguém fazer - muito embora calcemos números diferentes, portanto imagine-se o esforço! Tem uma capacidade única para me acalmar. É gentil, trabalhador, honesto - e é a minha pessoa preferida no mundo. O momento em que chega a casa é o mais alegre do meu dia, e o que sai o mais triste. Anseio diariamente pelo momento em que me encosto no seu ombro e que sei que estou em casa.

O facto de hoje estarmos a festejar o nosso quinto aniversário é a prova de que só são precisos 20 segundos de coragem para mudar o mundo - nem que seja o nosso mundo. O beijinho que lhe dei nesta data, há cinco anos, foi pequenino mas inversamente proporcional ao esforço que tive de ter para fazer para conseguir agir. Foi, provavelmete, o momento mais corajoso da minha vida. E sem dúvida aquele que teve mais impacto.

Hoje, pelas circunstâncias atípicas que em que vivemos, não lhe consegui comprar uma prenda. Mas quis que ele soubesse que é, todos os dias, o maior presente que alguma vez recebi. Digo-o muitas vezes: não faz sentido jogar no euromilhões, pois era sorte a mais ele sair-me duas vezes. O melhor prémio andará sempre de mãos dadas comigo. 

 

PorDoSolNaPraia_Out23-15.jpg

04
Abr24

Quero sair da montanha russa

Estou viva. Estamos todos vivos - e é assim que planeio que estejamos por muitos mais anos. 

De todas as parecenças que não me importaria de ter com a família real, está é a última que colocaria na lista: dois casos de cancro em dois meses, dentro do meu núcleo familiar.

Sem sabermos, em Dezembro, entramos numa montanha russa que ainda não teve fim - e a luz não aparece sequer ao fundo do túnel. Sempre que achamos que o pior loop já passou, vem outra descida abrupta que nos leva o estômago para uma outra parte do corpo onde este não devia estar. A pior parte? É que nem sempre temos cinto de segurança. Já perdi a conta às vezes em que senti que estava a sair da cadeira, a perna já meia de fora e o rabo a escorregar - ou, num cenário ainda mais negro, que estávamos mesmo todos a descarrilar. Não chegamos ainda à parte do vale, em que podemos respirar de alívio porque acabou, sabendo que estamos prestes a sair daquele suplício, daquele banco desconfortável, daqueles sustos consecutivos. Eu já não peço para sair da montanha, porque sei que nalgum dos casos não vamos ter alternativa - só desejo que o caminho esteja limpo e com a manutenção em dia, que a montanha russa seja daqueles de nível baixinho e sem grande adrenalina. Já estou farta de paragens abruptas a olhar para o abismo; não quero ficar de cabeça para o ar nem com o cinto mal posto. Não podendo sair deste parque de diversões do mal, que a viagem seja no equipamento mais calmo.

Porque a verdade é que uma parte de nós parte-se neste processo e eu acredito que não a recuperamos. É como as Horcroxes do Voldemort: pedacinhos da nossa alma que, neste caso, repartimos sem querer e que ficam algures, em alguém ou presos a momentos-chave onde não temos sequer força ou vontade de regressar. Não há nada neste processe que nos acrescente - só nos retira. Não contam os conhecimentos que adquirimos ao longo do processo, a resiliência que construímos ou a força que percebemos que temos. Pondo na balança, não há forma de sairmos a ganhar, porque a memoria não se apaga, a alma não se reconstrói e a dor dificilmente se transforma em alegria. É um caminho de uma só via em que a balança está viciada.

Podia dizer que, com isto tudo, ganhamos perspectiva. Que percebemos que a vida é para ser vivida - e rapidamente, porque porra!, ela muda num estalar de dedos. Mas para além desta filosofia de vida colidir com tantas perspetivas mais cautelosas e conservadoras (com as quais, ainda por cima, eu me identifico), a questão maior que eu coloco é: como é que se vive e se aprecia a vida quando os nossos estão num sofrimento atroz? Como é que se enche a alma com coisas boas quando esta está partida, furada, em alguns dias feita em cacos? Como é que se criam objetivos quando a estrutura base da nossa vida está constantemente a ser abanada, qual sismo intenso e cheio de réplicas? A conciliação da urgência de viver com a inevitabilidade de sofrer é muito dura. Mais uma das coisas duríssimas com que temos de lidar quando entramos neste caminho com as pessoas que amamos.

Enfim. Quem me dera que chegasse ao fim, esta montanha russa. Quem me dera aprender a gozar a paisagem, ainda que a carruagem siga a grande velocidade. Aliás, mais: quem me dera que pudéssemos todos sair e incendiar o parque todo. No final de contas, sempre disse que não gostava de parques de diversões.

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