Eu sei que 2022 já acabou, que toda a gente o quer ver pelas costas e que 2023 é o que está a dar. Mas a verdade é que fazer análises sobre o ano sem ele ter acabado parece-me sempre um bocadinho precipitado - é como fazer a crítica a um livro sem ler a última página. O que é que nos diz que não muda tudo ali, naquele pedacinho de papel? Morrem pessoas no último dia do ano. Ganha-se a lotaria ou o euromilhões no último dia do ano. Começam-se e terminam-se relações no último dia do ano. Por isso há que esperar, certo? Não vamos fazer como o Spotify, que a 30 de Novembro já está a fazer o resumo do nosso ano. Estou eu aqui a apregoar à importância de um dia e eles descartam um mês inteiro das suas contas. Um ultraje.
À semelhança do ano passado, este ano decidi fazer um best of de tudo aquilo que me apetece e acho relevante partilhar. Há uns anos escrevia opiniões sobre tudo e mais um par de botas, por isso era fácil ir acompanhando aquilo de que gostava ou não; agora, como ando poupada nas palavras, penso que é uma boa ideia resumir tudo aquilo de que gostei num só post. Se para o ano não fizer um texto deste género será bom sinal - sinónimo de que voltei a escrever conforme gosto. Mas, até lá, contentamo-nos com este resumo de coisas boas.
Podcast do ano
- Livra-te -
Comecei a ouvir podcasts em 2021, como vos contei no post de best ofs desse mesmo ano. No entanto, tudo o que eu seguia se esgotou - alguns, à época, já tinham acabado e eu ouvi tudo o que já havia para trás, outros foram findando entretanto (excepção feita ao Extremamente Desagradável, que na verdade continua a ser o programa que mora em primeiro lugar no meu Spotify).
Na minha lista de podcasts mais ouvidos constam, para além da Joana Marques, o "Vale a Pena", da Mariana Alvim (que eu já havia falado neste post), a seguir o "Livra-te" da Rita da Nova e da Joana da Silva, em quarto lugar o "Pijaminha de Cenas" da Ana Garcia Martins e do David Cristina e, por fim, o "Somos Todos Malucos", do António Raminhos. Ouvi ainda um ou outro episódio do "Incríveis Conversas Banais", da Catarina Raminhos. Os três primeiros são aqueles a que, neste momento, sou fiel - nos restantes escolho os episódios que me parecem melhor, tendo em conta os entrevistados e os temas em causa, que nem sempre me interessam.
Mas porquê ser o "Livra-te" a minha escolha do ano? Porque o meu regresso ao mundo dos livros foi das melhores coisas de 2022 - e sinto que os dois podcasts sobre livros que comecei a ouvir me ajudaram muito a retomar a leitura. Diria que não é um podcast consensual nem muito organizado - mas é por ser orgânico que é assim. Como o ouço enquanto estou sozinha a tratar dos afazeres da casa, sinto que a Rita e a Joana são uma companhia; às vezes posso nem estar com muita atenção, mas tenho ali duas vozes familiares como pano de fundo, e isso deixa-me confortável. Isto para além do óbvio: conseguir apontar um monte de sugestões literárias, para além de algumas boas dicas (nomeadamente, por exemplo, em relação ao Kobo).
Passei a gostar ainda mais do podcast quando percebi que uma das vozes que estava a ouvir fazia parte da minha vida passada - e dos confins deste e doutro blog, sobre o Twilight. Foi muito engraçado ouvir a voz da Joana mais de dez anos depois de ler aquilo que ela escrevia e de uma série de trocas de comentários que tivemos. O mundo é mesmo pequenino, não é?
Série do Ano
- Wednesday -
Não esperem neste texto grandes novidades ou pérolas escondidas. Fui tão mainstream como a maioria do mundo - e a prova disso é que hesitei nesta minha escolha entre "House of the Dragon" e "Wednesday".
E porque é que escolhi a série do Tim Burton? Porque eu e o Miguel a vimos sem qualquer tipo de expectativas - gosto do realizador mas não sou fanática, acho que nunca tinha assistido a nada sobre a família Addams e não sou, de todo, adepta de terror. Vimos o primeiro episódio à experiência, com um olho meio fechado caso acontecesse algo horripilante, mas a verdade é que adoramos. A série tem partes muito engraçadas e bem apanhadas, uma linha condutora bem desenhada e um combo "atriz-personagem principal" brilhante. Acho que a Jenna Ortega nasceu para aquilo. Para quem gosta de um pouco de fantasia é uma escolha segura.
"House of the Dragon" entregou aquilo a que se propunha (diria que com algumas falhas em relação a "Game of Thrones", nomeadamente em termos de realização/CGI), mas esteve dentro das expectativas (que eram elevadas).
De resto, 2022 foi marcada por me ter estreado no universo Star Wars com o "Obi-Wan Kenobi" (que, surpreendentemente, gostei bastante). Vi também "Guilded Age" (gostei, mas também peca pelos cenários e outros "pormaiores", embora vá melhorando), "The White Lotus" (estranho), "First Lady" (gostei), iniciei "The Crown" (muito lentooo), "Bridgerton" (fiquei agarradíssima) e "Emily in Paris" (fraca ao nível da história, mas óptima para ver na bicicleta). Se quisermos pôr os reality shows nesta caixa de séries - algo que também consumo bastante enquanto faço cycling (não me julguem!), tenho de acrescentar o "Love is Blind", o "Soy Georgina" e o "Love on the Spectrum" (acho este último um mimo!). Para além disso, revimos a série toda de "Game of Thrones".
Documentário do ano
- Harry&Meghan -
Ao contrário do que fiz até aqui, não me vou alongar sobre este documentário, porque lhe quero dedicar um post e uma reflexão mais longa. Mas, sendo a minha escolha do ano, não é surpresa que gostei muito - mas acho que, embora tenha sido amplamente visto pelo mundo fora, faz mais sentido para um nicho como eu, que gosta muito de família reais. Vi-o numa perspectiva de entender o que se passa dentro de uma família deste calibre e não para saber cusquices sobre este casamento mediático - e acho que só assim se pode gostar mesmo deste trabalho que eles fizeram.
Fora isso, este ano vi muitos documentários - quase todos eles em cima da bicicleta. Numa semana faço, em média, uma hora e meia a duas horas de treino - o que, parecendo que não, são episódios quanto baste. Vi "O homem mais odiado da internet", "O nosso pai", "Falsa vegana", "Pray away: Preece anti gay", "Histórias do desporto - a namorada que não existia", "Sejam dóceis, rezem e obedeçam", "A rapariga na fotografia", "Winter on fire", "O impostor do tinder" e "Crime na comunidade mórmon". Todos de alguma forma chocantes ou com premissas um pouco inacreditáveis. Não acabei o "The Staircase" - é demasiado longo para aquilo que se propõe a contar.
Música do ano
- As it Was, Harry Styles -
O que é que eu vos disse sobre ser mainstream? Pois, exato.
Mas não há como negar: era a música com a vibe mais positiva do ano - e o que queremos são coisas que nos puxem para cima, que para baixo já chegam os dissabores da vida. Para além desta música, o meu Spotify regista no meu top 5 a "Watermelon Sugar", também do Harry, a "Easy On Me" da Adele (apesar de gostar mais da "I Drink Wine"), a "Shivers" do Ed Sheeran e a "Talvez se eu Dançasse" do Miguel Araújo. Curiosamente não colocaria nenhuma das quatro no meu top, mas os minutos ouvidos não enganam. Nota especial para "Quero É Viver", de Sara Correia, que me acompanhou em muitos momentos.
Livro do ano
- Sete dias em Junho -
As críticas literárias são (e foram) a única coisa que nunca deixei de escrever, mesmo quando não publico nada aqui durante meses. Mas como não queria transformar este blog só em livros, ia deixando passar esses textos para conseguir ir intercalando com os outros conteúdos - que, muitas vezes, eram inexistentes, pelo que tenho as minhas reviews literárias todas nos rascunhos.
Por isso, nos próximos tempos, vou libertar a opinião dos livros que li no ano passado - e do que li este ano, uma vez que ao terceiro dia do ano já acabei de ler um (vitória!).
Em 2022 li alguns livros que me desiludiram, outros dos quais gostei - mas poucos me marcaram. Aliás, escolher um já é difícil. Mas a ter de ser, é o "Sete Dias em Junho", da Tia Williams. Não só porque gostei do que li, mas também pelas circunstâncias em que o li: no cruzeiro, enquanto tinha mar a perder de vista. Em breve deixo aqui o texto com a minha opinião mais detalhada.
Foto do ano
Esta não foi fácil. Tenho fotos das quais gosto muito da viagem que fizemos, mas quis pensar mais além. E escolhi esta, tirada nuns dias que passamos com os meus pais, no Algarve, em Setembro. Porquê? Porque não só me sentia feliz por ali estar mas também confiante no meu corpo - e isso, por incrível que pareça, aconteceu tão poucas vezes ao longo da minha vida... Ao dia de hoje, por exemplo, não me sinto bem na minha pele; sinto-me outra vez insatisfeita com o peso que tenho e da forma como me pareço. Mas passei uma série de meses feliz com aquilo que via no espelho - provavelmente o período mais longo da minha vida em que fiz as pazes com a minha imagem - e isso está bem presente na foto abaixo. Gosto muito dela.