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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

25
Mai21

Uma história com princípio, meio e sim! #7

Um post crú sobre a organização de um casamento

Um mês sem publicar nada não é sinónimo de desaparecimento, mas sim de uma imposição de tempo para pensar. É tudo muito bonito na viragem do ano, sempre cheia de desejos e promessas, mas a verdade é que só à medida que as coisas se vão desenrolando é que podemos agir, reagir ou... simplesmente, ficar.

A verdade é uma: 2021 está a ser um ano muito difícil para mim. 2020 já não foi óptimo e eu sabia que não era pela mudança do número que as coisas se iam alterar. No entanto, com o pedido de noivado, a realização do casamento acabou por servir de propósito para tentar dar a volta a este período mais chato. Sempre fui movida por objetivos e, com uma data escolhida, tinha ali timings e tarefas para cumprir, para uma coisa que eu queria muito! Precisava de um projeto que me deixasse entusiasmada e achei que este seria o ideal. Mas enganei-me.

Um dia, no futuro, escreverei sobre isto de forma mais concreta, prática e, acima de tudo, sarada. Mas um casamento é algo que implica expectativas de todas (e quando digo todas, é TO-DAS) as partes e eu diria que, não só no casamento como na vida, isso é o mais difícil de gerir. Toda a gente tem uma ideia sobre o que é casar, sobre o que é organizar um casamento e, acima de tudo, sobre a festa de um casamento. Todos imaginam algo: ou é dança pela noite fora, ou é a noiva a entrar pela igreja adentro, ou o bar aberto ou as quantidades astronómicas de comida. E todos tendem a expressar essas ideias, não de forma maldosa ou mal-intencionada, mas porque estão entusiasmados e querem de alguma forma fazer parte. Mesmo aqueles que dizem não querer casar, mesmo quem só foi a um casamento na vida ou quem já foi a muitos e já está farto da mesma coisa. Tenho vindo a dizer que o casamento é quase o primeiro filho de um casal, na medida em que todos opinam e todos sabem o que é melhor para a criança. E aí entra a parte difícil: o casal ter de saber separar o trigo do joio, saber impor-se (a que custo?), saber ouvir as opiniões que realmente importam daquelas que só causam ruído.

Eu não soube lidar com tudo isto, principalmente tendo partido de um estado de instabilidade que já trazia do ano anterior. Aquele que devia ser um projeto motivador tornou-se no acontecimento em que se centraram os problemas. Aliás: mais problemas. E, dentro de mim, instalou-se o caos. Porque isto não é "só" um projeto: é a celebração de um amor que existe, que é enorme, que é a razão por ter mudado as minhas crenças e a minha vida do avesso. É o materializar de um novo projeto de vida.

O caos instalou-se porque se confundem duas coisas que são aparentemente iguais mas que são, na verdade, completamente diferentes: o casamento e a festa do casamento.

Nunca quis casar, nunca foi um sonho meu (a única coisa que queria era um vestido de noiva). Mas a verdade é que desde que comecei a namorar que isso começou a fazer parte da equação; tendo em conta aquilo que sentíamos um pelo outro e o projeto conjunto que queremos construir, a questão não era "porquê casar?" mas sim "como não casar?". Era óbvio. É, ainda hoje, óbvio. É uma vontade conjunta, expressa, clara e que para nós faz todo o sentido. O Miguel tornou-se na inspiração da minha vida e, muitas vezes, na minha vontade de viver. É o meu companheiro nas horas vagas e ocupadas, a pessoa que mais gosto neste mundo. E isso - só isso, porque há muito mais - são razões suficientes para eu querer casar com ele. Casava hoje, já, agora! Sem piscar os olhos, numa confiança para com alguém que até hoje nunca tive.

O problema não somos nós, não é a nossa vontade de casar. O problema - o meu problema - é tudo o que envolve a festa de um casamento, os rituais, as tradições, as expectativas, o envolvimento dos outros, as vontades e o conceito de casamento de cada um. É tudo tão exaustivo, tão cansativo. É tudo "tão" em todas as vertentes... e eu não estava preparada para isto. Cheguei a um ponto em que me pergunto como é que decidi fazer uma festa grande quando eu nunca gostei de festas. Como é que decidi, eu e o noivo, sermos o centro das atenções, quando normalmente somos os que ficamos num canto desejando ser transparentes. Como? Porquê?

O porquê é retórico. Eu sei o porquê. Porque eu sempre fui casamenteira e era hipócrita da minha parte não festejar o meu casamento como gostaria que os outros festejassem o seu - dando a possibilidade de outros casamenteiros festejarem também o meu casamento, como eu gostaria de ter ido ao deles. Porque interiormente, apesar de não ter um desejo ativo de casar, já tinha tudo imaginado e planeado. Porque fui apanhada na rede de um amor gigante, que me tira a vergonha de partilhar juras de amor em frente a mais de uma centena de pessoas, e me faz querer gritar ao mundo que encontrei, no meio de tantos milhões de humanos, a minha pessoa. E porque, no fundo, queria festejar esse milagre com aqueles de quem gosto. 

Acho que fui feita para todo este trabalho de backstage, preparação e planeamento que um casamento exige - e nesse aspeto, em que normalmente todos se queixam, tudo corre às mil maravilhas! - mas há momentos em que fico em pânico com a perspetiva de ser eu o centro da festa. Eu sou  a pessoa que ignora os comboios num casamento, aquela que não arreda os pés da mesa enquanto uma corrente de pessoas circula ao longo de toda a sala e suga as pessoas para aquele convívio forçado. Mas, desta vez, sou eu a noiva. Como é que uma noiva foge a um comboio? Como é que uma noiva que não bebe álcool foge aos cinco brindes por mesa? Como é que uma noiva que tem um trauma com dança vai dançar? Como é que a Carolina vai ser noiva, continuando a ser a Carolina, mas não sendo a-chata-da-Carolina?

Tenho feito um trabalho interior relativamente profundo para conseguir separar todas estas dores e estes semi-dramas que se formaram dentro de mim, não só mas também por causa do casamento. Desde o momento em que me apercebi que aquilo que sentia em relação ao casamento não era um nervosismo ou ansiedade normais, mas sim pensamentos que me levavam a ter vontade de não casar de todo, que tive de separar o casamento-formal do casamento-festa para conseguir estruturar o meu pensamento.

No que diz respeito ao casamento formal, não há dramas, e continua a ser de minha profunda vontade casar com aquele que eu acho ser o homem da minha vida; já no que diz respeito às festas, tenho vindo a perceber que o meu conceito de festejo não coincide, necessariamente, com o conceito de casamento clássico. Aliás: festejar, para mim, não é sinónimo da maioria das coisas que é para os outros. Não implica dança, álcool, caos, barulho ou protocolo. E essa sempre foi a razão pela qual eu nunca gostei de festas ou me senti integrada nelas: porque, de facto, não me sigo pela regra.

Gostava que o meu casamento fosse um jantar caseiro sem menu gourmet - apenas com o extra de uma barraquinha de pão-com-chouriço -, música ambiente, conversa boa e muitos jogos de tabuleiro. Gostava que não tivesse momentos-chave (que, na verdade, são momentos de alta pressão), que fosse fotografado só com luz natural e ambiente, sem flashes e sem poses. Gostava de uma coisa idílica, cujos detalhes eu própria desconheço, porque nunca os vivi: de me sentir integrada numa celebração. Nunca fui a uma festa de que gostasse, onde não olhasse para o relógio para saber quanto tempo faltava para ir embora.

É esse, acima de tudo, o meu medo: que eu, noiva, não me sinta feliz naquele que é suposto ser o meu dia. Que aquilo tenha passado a ser uma festa que cabe no conceito dos outros, mas não no meu. E que todas as razões boas que me levaram a celebrar este dia culminem em tudo aquilo que nunca gostei nas razões dos outros. 

Quero continuar a escrever as peripécias do meu casamento - as coisas giras, as chatas, as que correm menos bem e as que correm lindamente - mas, no que diz respeito à escrita, sempre foi assim: quando tenho algo "engasgado" nada mais flui, e eu não conseguiria relatar tudo isto sem dizer aquela que é a maior verdade destes últimos meses: que este processo não está a ser um mar de rosas e que eu estou a ter muita dificuldade em imaginar-me feliz num casamento típico, cheio de tradições e momentos-tipo.

E, por isso, estou a fazer duas coisas muito importantes: a primeira é conhecer-me melhor a mim mesma, ganhando uma melhor capacidade de leitura dos meus próprios sentimentos, ativando ferramentas para me ajudar a mim própria quando necessário. Isto vai ser essencial nos momentos que sei que não vou conseguir alterar, cuja tradição é mais forte que a minha vontade individual e visão idílica de festejo. A segunda é precisamente mudar algumas coisas que percebi que me sufocavam e que são mutáveis, independentemente das vontades ou expectativas dos outros. 

Caso daqui a um mês e, honestamente, aquilo que mais desejo é que nesse dia me sinta em paz. Em paz com todas as escolhas que fiz, para com tudo aquilo que cedi e com todos os "tem que ser" que vem acoplados a um casamento. Acho que, com a paz e leveza de espírito, o resto acaba por chegar também. Vem o desvalorizar de todos os momentos que me aterrorizam e vem a capacidade de olhar à minha volta e sentir-me concretizada com o que vejo, com o que organizei, com o que planeei, com o que desenhei e sonhei.

Quero casar. Quero a mão do meu marido na minha e quero o sorriso na cara dos meus. Quero sentir-me bonita. Quero fotos para a vida, gargalhadas que ficam e detalhes que morem na memória dos outros por muitos anos.

Não acho que vá ser o dia mais feliz da minha vida - mas quero muito que seja mais um dia muito feliz na minha vida. Um dos milhares de dias com o Miguel a meu lado.

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