Aos políticos (estilo Padre António Vieira)
E aí, vós, políticos? Porque haveis de tirar aos que mais precisam para vosso próprio proveito? Aí escondidos por detrás daqueles balcões de madeira, pensando que todo o povo é cego e não vê quantas vezes põem as mãos nos bolsos recheados.
Diferem tanto nas ideias, mas os vossos princípios são todos os mesmos - ai, senhores deputados, quão parecidos sois! Não vêem um país em decadência, ou são os vossos bolsos demasiado grandes para vos deixar ver? Não vêem o desemprego a alastrar-se, qual peste negra, ou estão os vossos olhos demasiado tapados com a ganância? Não vêem as empresas a fechar, enquanto trabalhadores desesperados e esfomeados gritam por ver os seus direitos por cumprir, ou as paredes da vossa excelente assembleia têm uma demasiada boa insonorização?
Sóis pagos para dar o melhor que têm ao país e ao seu povo, e é com isto que se saem? Qual a razão de tal desrespeito? A ganância, a vaidade, a ambição? Ingenuidade não será com certeza! Que vergonha, essa, de desonrarem um povo que tão grandioso fora no passado! Recordai-vos desses tempos, em que meio mundo estava nas nossas mãos? Pobre D. Afonso Henriques, que neste momento deve estar a contorcer-se de dores, lá do alto dos reinos, a olhar tal tragédia!
E agora, de tanto dinheiro que metestes aos bolsos, quem paga é povo que vos deu emprego! Vêm os economistas, vêm os bancários, vêm os que sabem ou que pensam saber, e acabamos sempre na mesma desgraça. O povo, sofre - é ver quem mais se desenrasca; os senhores roubam - que é o que mais sabem fazer.