Chávena de Letras: "O Tatuador de Auchwitz"
Um bom livro não vive só de uma boa história. Não sei se por "ter vindo" de uma obra em que a escrita era central e crucial (sendo que a história tinha na escrita o seu pulmão de oxigénio, por não "sobreviver" sozinha) ou por ter, simplesmente, um sentido crítico apurado: achei que este livro pobre no que à escrita diz respeito. Falo a todos os níveis: desde o vocabulário, passando pela fraca construção frásica e uma escrita demasiado básica (pontos finais a cada oração, falta de qualquer frase mais trabalhada), pelo parco trabalho na construção das personagens, terminando naquilo que me parecem trechos cheios de "arestas", que não viram a mão de um editor. Não sei que culpa é que a tradução poderá ter no meio disto tudo. Mas continuo a achar estranho a (tão) alta pontuação que é atribuída ao livro.
Acho ainda que o tema dos campos de concentração é abordado pela rama; não sei se sou só eu, mas apesar das atrocidades relatadas, este acaba por não ser um livro pesado. As personagens têm sempre um fundo de esperança que confere à obra uma aura mais leve do que aquilo que esperaria - o que, sendo bom por um lado, por outro acaba por lhe tirar um pouco de credibilidade (porque não há nada de light quando se fala em Auschwitz).
Não obstante, esta é uma bonita história de amor, que sem dúvida mereceu ver a luz do dia. Destaque positivo para o destaque de uma das dualidades mais duras do holocausto: colaborar com os agressores para sobreviver ou morrer com a dignidade intacta. Creio que o peso dos crimes que foram praticados pelos judeus contra judeus, principalmente dentro dos campos, é das questões que mais deve ferir um povo - já para não falar da consciência de quem os praticou.