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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

31
Mai20

Uma questão de prioridade(s) - e, já agora, respeito

Neste momento apetece-me bater à porta de todos os otimistas (ou deverei dizer ingénuos) que achavam que esta história da pandemia vinha mudar a humanidade. Alguma coisa como: "Truz, truz! O desconfinamento já vos fez acordar para a vida?".

Solidariedade como vimos nestes tempos difíceis é típica nos portugueses: sempre nos socorremos uns aos outros nestes momentos. Mas isso não quer dizer que mudamos; não quer dizer que deixamos de fazer comentários parvos, insolentes, racistas e ofensivos nos comentários das notícias no facebook; não quer dizer que deixamos de nos insultar no trânsito; não quer dizer que daqui em diante o nosso comportamento para com profissionais de saúde e outras pessoas que se arriscam diariamente em prol dos outros seja diferente. O esquecimento faz parte da condição humana - se assim não fosse não tínhamos a capacidade de perdoar e andar para a frente com as nossas vidas, as mulheres não teriam filhos novamente se se recordassem a cada instante das contrações na hora do parto e provavelmente também não voltariam à esteticista se aquele momento em que a banda de cera se descola da pele estivesse bem vivo nas suas memórias. Acredito que há muita coisa nas nossas vidas que vai mudar graças ao aparecimento deste vírus - mas tratam-se de hábitos, não de características pessoais. Essas continuam as mesmas - e com traços típicos do egoísmo humano e da falta de sensibilidade para com o próximo. 

Eu, que não "confinei" por força do meu trabalho, nunca cheguei a ver o mundo pela janela e em modo arco-íris. Mas à medida que as coisas vão voltando à normalidade e que somos obrigados a interagir novamente com mais pessoas no nosso dia-a-dia, e embora nunca tenha acreditado numa mudança nas pessoas, vou-me agora relembrando da massa de que são feitas.

Há dias fui à última da hora ao supermercado, comprar meia-dúzia de coisas que estavam em falta para o jantar - cabia tudo num saquinho de pano que levava ao ombro. Era hora de saída de trabalho, o espaço estava cheio e as filas iam crescendo pelos corredores - de tal forma que abriram três caixas durante o tempo de espera em que lá estive. Fui uma das pessoas que se moveram para uma nova caixa quando o anúncio se ouviu nos altifalantes; a caixa em questão tinha lá pousadas algumas garrafas de vinho, deixadas por um casal de idade que, pelo peso das bebidas e pela sua parca condição física, pediu a um funcionário para as lá deixar. Voltaram pouco depois da caixa abrir, com tantas coisas como as que eu tinha no saco - poucas, portanto. Ambos entre os 70 e os 80 (sendo que a idade não tinha sido branda com nenhum deles), andando com o auxílio de bengalas e claramente perturbados por toda esta logística das máscaras e distanciamentos, tomei a liberdade de os deixar passar à minha frente.

Apesar da distância de segurança consegui ouvir bufar o senhor que se encontrava atrás de mim. E ao meu lado, na fila paralela, um senhor de carrinho cheio ainda me disse: "a fila prioritária é esta onde estou, não essa", apontando para a plaquinha indicativa, sofrendo claramente por um problema que não era o dele. O que respondi não vem ao caso, pois as ações falam por si e o casal já estava a pagar a conta. Mas isto lembra-nos (mesmo a mim, que sempre achei que estes meses fechados em casa não iriam mudar ninguém para melhor) da necessidade de colocar cartazes à porta de todos os espaços públicos, aquando do pico da pandemia, listando todos aqueles que têm prioridade; recorda-nos o porquê de ter de legislar, pedir, obrigar e punir ações que aparentemente seriam de bom senso.

Acredito que estas mesmas pessoas - as que bufam, as que reclamam, as que fazem caras de desagrado tão óbvias que se notam apesar das máscaras - são também aquelas que, neste momento, se insurgem contra as ações racistas daqueles polícias americanos e que colocam posts no facebook apregoando que as "black lives matter". Acho que muita gente não percebe que, atrás das lutas contra o racismo, a xenofobia, a homofobia (entre outros), está uma coisa tão simples como o respeito para com o próximo. Em não olharmos só para os nossos umbigos. E antes de tentarmos lutar pelo que quer que seja, convém que sejamos os primeiros a agir quando as ocasiões nos aparecem à frente - seja em relação a pessoas de outra raça ou simplesmente alguém que precisa de ajuda. A mudança começa em cada um de nós - mais do que gritar no meio da rua com cartazes ou pondo imagens bonitas nas redes sociais.

24
Mai20

Para ver na Netflix: uma série viciante

TigerKingReviewThumbnail.png

 

O trailer do The Tiger King é execrável. Mesmo. Quando começou todo o zum-zum à volta da série e eu me rendi a ver a sua apresentação só pensei: mas está tudo doido?! Mas depois li a opinião da Inês e decidi dar uma chance à série do momento. E fiquei agarrada.

"Americana". É o melhor adjetivo para descrever esta série. Acho que não há outro sítio no planeta onde aquela realidade (que se confunde com profunda loucura) seja possível. Nos EUA há mais tigres em cativeiro do que há no planeta inteiro em meio selvagem: é este o mote da série. E isto acontece porque as pessoas os compram e criam, quase de forma recreativa e doméstica, como se de gatinhos se tratasse. Alguns para entretenimento próprio, outros para fazer negócio: como é o caso do Tiger King, o protagonista desta série, que ganhou dinheiro graças aos felinos que tinha em cativeiro (e principalmente das crias que criava e comprava, de forma a mostra-las ao público e cobrar por fotos com elas).

Mas isto é ver a série pela rama. Para além de Joe King e daqueles que o rodeiam - maridos, amigos e funcionários - entram também outras pessoas do mesmo ramo de negócio. Já para não falar de Carole Baskin, uma acérrima defensora dos animais que se torna alvo de troça (e obsessão) por parte do "Rei dos Tigres" (isto em português soa muito mais foleiro). Pelo meio há um assassinato, divórcios, negócios comprados, incêndios... E muita loucura em cada pitada de episódio, que faz com que, incrivelmente, fiquemos agarrados do princípio ao fim.

Para além disto há dois ingredientes que me parecem essenciais para o sucesso deste mini-documentário. O primeiro é o facto de nada ser reconstituído: todas as imagens são reais, envolvendo todas as pessoas em causa. O segundo é a forma como o realizador joga com estas imagens, misturando-as com os depoimentos, para tornar a série muito apelativa - e, acima de tudo, nos fazer mudar de opinião sobre as personagens a cada episódio que passa. Seria lógico detestarmos o Tiger King - um louco, provavelmente criminoso e abusador dos animais - e sermos fãs das ações de Carole, a suposta defensora dos oprimidos no meio de todo este negócio. Mas será mesmo assim?

Vale a pena ver e cada um tirar as suas próprias conclusões.

 

(O último e oitavo episódio, acrescentado à posteriori e já em tempos de pandemia, é altamente dispensável e não acrescenta nada à série. É um follow up com algumas das personagens e uma forma que a Netflix arranjou para atrair ainda mais pessoas para a série e fazer a mesma render mais uns trocos).

16
Mai20

A importância dos humoristas

Em particular do Ricardo Araújo Pereira e do Bruno Nogueira

Algures em tempo de campanha para as últimas eleições (parece que foi noutra vida, não é? As arruadas com centenas de pessoas que não precisavam de estar a dois metros de distância uma das outras, enquanto entregam flyers sem luvas e sem pensar quantos micro-nano-bichos alguém pode ter lá deixado após um espirro acidental e  coisas do género) eu já queria ter escrito um texto sobre a importância dos humoristas. Aliás: desta nova vaga de humoristas que se consolidou nos últimos anos, que conseguem o mix difícil de não só nos fazer rir como nos chamar à atenção para a realidade. O que eu quero dizer é que há uma linha que separa o Fernando Rocha do Ricardo Araújo Pereira (RAP) e outra que separa o Salvador Martinha do Bruno Nogueira. Não quer dizer que uns sejam melhores que outros, mas são claramente diferentes. Provavelmente o que os distingue é que uns têm como objetivo fazer-nos rir; os outros querem que nos ríamos perante assuntos sérios.

Na altura, o mote do meu post era o impacto do "Gente que Não Sabe Estar", em que o RAP comentava (e gozava) a atualidade política e fazia entrevistas aos principais líderes partidários - tudo isto sempre com o seu toque de ironia e sarcasmo característicos. Pensei muitas vezes na preciosidade que ele tinha em seu poder e, por outro lado, o quão arriscado é deixar uma coisa tão importante nas mãos de um só indivíduo, que também terá a sua preferência política e poderá influenciar os outros sem que estes oiçam a outra parte. Isto porque, para mim, um programa destes tem muito mais impacto do que qualquer grande entrevista, debate ou outros formatos clássicos - e chatos - que se fazem nestas alturas. Chega às massas. As pessoas sabem que se vão rir e não vão adormecer; identificam-se com o que se diz em vez de sentirem que lhes estão a vender banha da cobra; percebem o que é dito e não se perdem no meio dos chavões lançados pelos políticos. Isto para além de conseguir fazer com que percebamos como é que são aquelas pessoas que nos querem representar, para além das suas ideias políticas. Têm sentido do humor, são boa onda, sabem rir-se de si próprias e safar-se quando as questões não são sobre o orçamento de estado? Isso importa. Hoje pouco se vota em partidos, esquerdas ou direitas; tendemos a personificar a política e é-nos essencial perceber quem são essas pessoas. E é por isso que para mim estes programas do RAP em tempos de eleições fazem mais pela política do que 99% dos outros programas e propagandas. Daí a sua importância.

Mas não só na vertente política o humor tem importância. Sempre o teve do ponto de vista do entretenimento: vai ser eternamente um escape e a forma de relaxar de muitos. Mas nesta altura de pandemia penso que foi mais que isso: foi uma tábua de salvação para a sanidade de muitos. E, neste caso, falo especificamente dos diretos feitos pelo Bruno Nogueira no seu Instagram, sob o nome "Como é que o Bicho Mexe". A "série" acabou ontem e uma amiga minha, que a acompanhava religiosamente, dizia-me: "e agora o que vou fazer à noite? Aquilo era essencial para mim! Quando o cansaço começava a bater e os pensamentos maus chegavam, por causa dos medos e da pandemia, lá vinha o direto do Bruno para eu me rir e esquecer tudo". E é verdade.

Já aqui tinha falado sobre esta ideia do BN no post em que nomeava algumas das coisas boas que surgiram graças (e durante) a pandemia. Não era espectadora habitual porque as horas do direto não eram compatíveis com o meu horário de sono - mas vi alguns momentos marcantes, como o Vhils a "construir" o Zeca Afonso na parede de sua casa no 25 de Abril, a Maria João Pires a tocar Debussy no seu piano de cauda e as homenagens que várias pessoas fizeram no dia da mãe às suas mães. E sinto que para além de uma mera forma de entretimento, estes foram episódios quase educativos, mostrando uma cultura muitas vezes não tão tocada ou popular. O Bruno deu a conhecer muita gente que estava nas margens - e mostrou algumas facetas de outras que já conhecíamos mas que se revelaram perante uma pequena câmara no conforto de sua casa, onde aparentemente ninguém os está a ver. Independentemente do número de vezes em que se disse e mencionou "cona", "caralho", "foda-se", "pila" entre outros vocábulos (até deste ponto de vista enriquecedores ao nível do vernáculo), o que BN fez foi importante. Para a cultura, para o entretenimento mas, acima de tudo, para as pessoas.

Isso viu-se ontem quando, após ter dado o mote para as pessoas que assistiam aos diretos colocarem luzes de Natal nas suas varandas, ele saiu à rua para testemunhar com os próprios olhos o impacto do programa que fez. Aliás: da companhia que fez às pessoas. O resultado foi uma mistura entre o hilariante e o emocionante, com milhares de pessoas às janelas e outras tantas na rua (eles iam dizendo ou mostrando onde estavam a passar), assim como a formação de autênticas comitivas atrás do carro adornado com luzinhas, onde ia com o Nuno Markl ao volante. Por vezes mal o conseguíamos ouvir, tal era a potência das buzinadelas e dos berros das pessoas que passavam. Foi uma espécie de procissão, vá, mas a um ritmo mais acelerado e mantendo a distância de segurança. No meio disto tudo a Georgina Rodriguez - a mais que tudo do Ronaldo - comenta, o Bruno liga e do nada dá duas de conversa com o CR7 (já deitado na sua caminha); um carro descaracterizado pela polícia coloca-se atrás deles, fazendo-os pensar que a brincadeira ia acabar, mas que queria só dar o ar da sua graça naquele último programa; o Cal Lookwood, o radialista do pólo norte que ficou famoso em Portugal graças ao Nuno Markl, também disse olá do outro lado do mundo (as maravilhas da tecnologia!); até uma ambulância que passou ligou o altifalante só para dar uma palavra de apreço. Tudo isto com 150 mil pessoas a ver - números que muitas vezes não são atingidos por programas de televisão em canal aberto.

O que aconteceu ontem foi uma demonstração de apreço como não me recordo de ver; foi o exteriorizar da importância que uma simples pessoa pode ter na vida de tantas, principalmente durante estes dois meses difíceis que todos vivemos. Não é fácil ter noção do impacto que estas coisas têm nas pessoas - no caso do RAP, que falei em cima, é impossível quantificar ou ter a certeza sobre aquilo que acho e sobre a importância que teve naquele período político - mas é certamente emocionante perceber que um número incrível de pessoas gosta e valoriza o trabalho de alguém, ao ponto de se dar ao trabalho de sair à rua ou pôr luzes de Natal na varanda em forma de agradecimento. Não sei como é que o Bruno Nogueira se aguentou ao longo daquelas duas horas loucas em que tudo aconteceu; também não sei se, durante estes dois meses, essa comunidade que se formou à volta dele percebeu como é que o bicho mexe. Aquilo que eu sei é que isto vai ficar na memória de muitos e revela bem a importância que o humor e a cultura têm na nossa vida.

 

bn.png

 

13
Mai20

Para ver na Netflix: uma série para nos inspirar

fyc-self-made-1180x520.jpg

 

A Octavia Spencer foi o isco para ter começado a ver esta série. Gosto dela, acho-a boa atriz e o trailer deu-me vontade de ver aqueles quatro episódios. "Self Made" é a história de vida da Madame C. J. Walker, tida como a primeira americana negra a tornar-se multimilionária. Para além de todos estigmas e preconceitos a que teve de fazer frente - se ser mulher no ramo dos negócios já é difícil, sendo negra ainda pior -, a personagem interpretada por Octavia Spencer é obrigada desde muito cedo a fazer pela vida, que nunca lhe é facilitada (tanto pessoal como profissionalmente, muitas vezes acabando mesmo por se misturar).

Dada a sinopse da série, e sabendo à partida que C. J. Walker se tornou multimilionária, não é difícil perceber que, apesar de tudo, esta mulher foi bem sucedida. Diria que o mote da série é ensinar-nos a ver para lá do óbvio e do sucesso aparente; perceber que por detrás de muito dinheiro está muitas vezes muito sofrimento envolvido. E, acima de tudo, lembrar-nos que quem luta por aquilo que deseja, mais tarde ou mais cedo, acabará por receber a recompensa do seu esforço.

Devo confessar que, destas 4 séries que destaco aqui (dos dois últimos posts e um que ainda vai sair a seguir), esta foi a que mais me desapontou (talvez pelos atores envolvidos e por ter gostado do trailer). Não pela história, que é interessante, mas por sentir que numa narrativa tão impactante - onde se fala não só do desprezo para com as pessoas de raça negra como das mulheres em particular - faltou uma espécie de moral, para fechar a história. Há algo que fica por dizer - ainda que não saiba dizer ao certo o quê. (Para os que já viram a série, concordam comigo? Acham que falta ali algo para esta ser excelente?)

Fora esta crítica pessoal, recomendo a série a todos - e em particular a quem estiver à procura de algo rápido e inspirador para ver na plataforma de streaming.

12
Mai20

Para ver na Netflix: uma série para conhecer

The-English-Game.jpg

 

Este é dos casos em que a sinopse engana. "The English Game" é mais - muito mais! - do que uma série sobre os primórdios do futebol. Para mim teve um extra muito interessante, porque tem como epicentro uma tecelagem (como a que dirijo), onde se retrata muito bem o fosso que existia na altura entre patrões e funcionários. É muito curioso ver como ambos os lados lutam em prol do mesmo fim mas de formas diferentes, nunca conseguindo fazer ver à outra parte o seu ponto de vista. Tão antigo e tão atual ao mesmo tempo, não é?

Mas, para além deste "pormaior" que é mais especial para mim do que para a maioria, esta é uma história sobre a luta entre classes - em que uma, que se tem como a "criadora" do jogo, não o quer ver ser corrompido e jogado por operários, que jogam em condições muito diferentes das dos outros -, a forma como umas não sobrevivem sem as outras e, acima de tudo, de como é a dignidade do Homem que faz a diferença no desfecho de uma história. Muitas vezes não só da sua, mas como também da dos outros e da sua comunidade.

"The English Game" não é só uma série para amantes de futebol. Sim: retrata bem o sentimento, a vibração e a sensação de união que o futebol consegue ter como nenhum outro desporto; retrata o sacrifício dos jogadores, a paixão e a compaixão (ou falta dela); retrata o evoluir de um desporto que hoje toda a gente conhece. Mas é, acima de tudo, para quem adora boas histórias e que gosta de as ver bem contadas.

Com uma fotografia lindíssima, personagens ricas e bem construídas, são seis episódios que nos deixam desejosos por mais - mas cujo objetivo já foi mais que conseguido, não fazendo sequer sentido continuar. Como se tudo isto não bastasse, há que juntar a delícia de ouvir recorrentemente o sotaque escocês. De realçar ainda que, como bónus, um dos protagonistas é Edward Holcroft - eu também não o conhecia... mas, caramba, vale a pena não ficar na ignorância!

06
Mai20

Para ver na Netflix: uma série para pensar

Acho que nesta altura do campeonato todos podemos concordar que a Netflix mudou completamente a forma como vemos e consumimos séries. Começando pela possibilidade de ver tudo de uma só vez, quando quisermos e onde quisermos, e terminando na luta contra o estigma que existia relativamente a séries de língua não-inglesa. (Quem diria, há meia-dúzia de anos, que o mundo iria estar louco por uma série sobre um roubo produzida em Espanha e falada em espanhol?)

Pelo meio, na minha opinião, teve outra grande conquista: transformar documentários, histórias e biografias em algo apetecível. Pode aprender-se imenso a ver Netflix - tanto como no Discovery, no National Geographic ou no Canal de História. Posso estar errada, mas acho que existe a ideia (talvez por ser verdade?), de que muitos dos programas que por lá passam são chatos e maçadores. De certeza que também os há na Netflix, mas os produtores e realizadores contratados pelo canal de streaming têm uma visão muito diferenciadora deste tipo de programas. Só assim é possível agarrar as massas a histórias que, de outra forma, não seriam vistas por mais do que umas centenas de pessoas.

É claro que dinheiro gera dinheiro e aquilo que eram inicialmente pequenas produções são agora coisas gigantes, com budgets a abarrotar pelas costuras mas que fazem o gasto valer a pena, tal é a qualidade dos programas. Tudo isto continuando com o seu espírito inicial, dando ênfase não só a grandes séries, como a outras mais pequenas (e poucos episódios, algo que adoro!) e com conteúdos que, até há poucos anos, eram feitos somente para públicos de nicho.

Nos próximos quatro dias vou falar-vos de quatro séries documentais, sobre pessoas ou histórias reais: Unorthodox, The English Game, The Tiger King e Self Made.

 

Uma série para pensar: Unorthodox

 

unorthodox.jpg

 

Esta série retrata a vida de Esther Shapiro, uma rapariga que cresceu no seio de uma comunidade judaica ortodoxa. A história é contada com recursos a flashbacks, que intercalam com a atualidade, que faz com que rapidamente se perceba que ela decidiu fugir daquele estilo de vida, onde se sentia prisioneira.

Em quatro episódios entendemos o porquê dela sentir necessidade de sair da comunidade hassídica e ficamos a conhecer muitos dos hábitos dos judeus ortodoxos - desde raparem o cabelo às raparigas quando casam, passando pelos banhos de purificação e acabando nos eruv, os circuitos fechados onde os judeus podem passear no seu dia de descanso. Nada disto nos é dado de mão beijada: não são explicados os rituais ou as razões por detrás deles - cabe-nos a nós pesquisar, se tivermos essa curiosidade. Mas eu diria que é impossível não tentar perceber alguns daqueles ritos e algumas cenas da série, tal a estranheza que nos provoca. Diria mais (perdoem-me os mais sensíveis): não é estranheza, é quase asco. A certa altura dei por mim a pensar que pouco distingue um judeu de um muçulmano (a religião que, diria, mais é criticada), quando ambos levam a sua crença aos extremos; percebi, finalmente, alguns estigmas, preconceitos e até ódios que existem em relação aos judeus, que deverão ter em alguns destes costumes a sua raiz. 

Não é uma série boa para os aficcionados do inglês: é falada maioritariamente em iídiche, embora com algum inglês pelo meio (uma vez que retrata a comunidade de Williamsburg, em Nova Iorque), pelo que é normal sentir alguma estranheza no início - que é compensada pela qualidade da série. Para mim há apenas um ponto negativo, que descobri nas minhas pós-pesquisas: a história de Esther (que na verdade se chama Deborah Feldman) não aconteceu exatamente como foi retratada na série, embora a ideia esteja lá.

Fora isso, é fácil saber se uma série é boa: quando nos faz pensar, pesquisar e querer saber mais. Em todos os pontos coloquei um "check", o que me fez sentir uma pessoa mais rica depois de tudo o que aprendi.

(Para os que viram, gostaram e ficaram com curiosidade, encontrei um artigo muito interessante na NIT, que desmonta e explica alguns dos rituais vistos na série.) Ler aqui.

01
Mai20

11 anos de blogs em 45 minutos de conversa

2020 tem sido uma caixinha de surpresas. Acho que ninguém, enquanto tocavam as doze badaladas, sabia aquilo que se avizinhava. Eu estou longe de ser exceção. Também fui abalroada pelas notícias do vírus, também me vi imbuída numa sensação de letargia tremenda quando me apercebi que havia muita coisa que ia pelo cano. É fácil deixarmo-nos invadir pela sensação de má sorte que toda esta situação nos leva. Apesar dos dias maus, tenho tentado olhar para estes quatro meses de forma diferente. O que correu bem já ninguém me tira. As conquistas já não as esqueço. E as surpresas boas guardo-as com carinho.

Receber um email da equipa do Sapo foi uma dessas coisas boas - tudo isto antes da bomba da pandemia ter arrebentado sobre nós. Esse email resultou numa conversa com pouco mais de 45 minutos que está disponível desde a última quarta-feira para todos ouvirem. Falou-se sobre o início do meu percurso por estas bandas (numa altura em que ainda nem sequer sabia que gostava de escrever), as várias fases deste meu diário aberto que viria a dar origem ao Entre Parêntesis, a importância da escrita na resolução de alguns problemas interiores, os meus objetivos a longo prazo e até um bocadinho sobre o meu processo de escrita. 

Foi das poucas ocasiões em que, ao voltar a ouvir aquilo que disse, não me senti envergonhada. Uma das coisas boas deste blog é que revela uma das minhas facetas mais puras - e é essa faceta que está presente nesta conversa com o Pedro, com quem adorei falar e reviver alguns momentos do passado, que recordo com saudade.

Para quem tiver curiosidade - nem que seja para saber como é a minha voz e de detetar o meu sotaque portuense - a conversa está disponível aqui, no Blog da Equipa do Sapo (a quem eu agradeço, mais uma vez, este convite que me deixou tão feliz). Posso nunca vir a ser um blogger de sucesso - mas, caramba, até já participei numa espécie de podcast (algo que está mais na moda do que as calças de cinta subida)! Já faz de mim uma pessoa feliz. 

 

ConversaDeBlogs.JPG

 

 

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