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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

26
Set19

Eu quero viver fora da gaiola dourada

Desde que vi Narcos que gosto muito de ver documentários sobre narcotraficantes, as suas vidas e as inúmeras peripécias que passam (e que fazem os outros passar) para levar o negócio avante. Não faltam filmes e séries sobre o assunto - e como a televisão está quase sempre ligada no National Geographic ou no Odisseia, não é difícil ir deitando o olho em temas como este.

No outro dia estava a ver um documentário sobre o El Chapo e as suas inúmeras fugas. A certa altura mostram a casa segura em que ele vivia - um autêntico cubículo, com pouco mais do que aquilo que é necessário para viver (uma cama, mesa e cadeiras de plástico, uma mini-televisão) - e eu pensei: "para que raio é que um homem se preocupa em fazer milhões, ainda por cima ilicitamente, se depois tem de viver nestas condições?".

Para mim o dinheiro só faz sentido quando é para ser gasto - principalmente em coisas que nos fazem felizes. De que serve uma carteira recheada se estamos presos, se não somos livres dentro da nossa própria vida?

Poucos dias depois de ver o documentário, cruzei-me com um jogador do Porto num restaurante - a comer sozinho, com os auriculares nos ouvidos enquanto ouvia o resumo de uma partida qualquer de futebol. Só abriu a boca para fazer os pedidos. Tinha uma aliança no dedo - sinal de uma família dividida, que não vive com ele, e cujo fuso horário não ajuda à convivência. Nem um sorriso durante aquele par de horas. E eu voltei a perguntar-me: "para que servem aqueles milhões que eles ganham, a fama, os nomes nos jornais e as camisolas estampadas nas montras das lojas de desporto se depois vivem assim?". Ricos mas isolados do mundo.

Não é que isto seja uma coisa nova. Penso muitas vezes nesta questão de cada vez que vou a um popular restaurante, sempre a arrebentar pelas costuras, e vejo lá o patrão, a correr de um lado para o outro. "Isto é uma mina de ouro", comentamos. E deve ser. Mas muitas vezes não nos lembramos que as minas são, precisamente, locais fechados, onde nos encontramos encurralados e sem grande folga para respirar. Aquele homem pode ser alguém com os bolsos cheios, mas que trabalha de manhã à noite, com apenas uma folga semanal e com 15 dias de férias por ano. De que serve tanto dinheiro se não se pode ir jantar fora com a família - ou, tão simplesmente, jantar em casa com eles, sem o stress do trabalho? Se não se pode ir de férias a não ser na época mais popular do ano? Se nas datas especiais também tiveres de trabalhar? Para mim, serve de pouco.

O meu pai sempre me disse que, no que diz respeito ao trabalho (e mais propriamente aos negócios), o mais difícil é encontrar um equilíbrio. A gestão entre aquilo que ganhamos e a forma como usufruímos é muito, muito complicada. A quantidade de dinheiro que obtemos é normalmente proporcional ao trabalho que temos (e às responsabilidades que somos obrigados a acatar); chega uma altura em que o dinheiro é muito - até porque o tempo é tão pouco que as notas se vão acumulando, por falta de oportunidade para as gastar. Mas e usufruir? Qual é a razão principal para a qual trabalhamos? 

Costumo dizer que este tipo de vidas estão enjauladas numa gaiola dourada. É tudo muito bonito, tudo pintado a ouro: mas as pessoas não deixam de estar por detrás das grades, presas dentro das suas próprias vidas, trabalhos e decisões. E se há coisa que eu sei é que não quero isso para mim.

Quero muito o sucesso da minha empresa. Aliás, luto e anseio pelo meu próprio sucesso - e, admito-o sem problemas, gosto muito de ter dinheiro na carteira e de não ter preocupações de maior. Mas espero perceber quando (e se), um dia, passar por esta ténue linha. Entender que já não estou a lutar para uma melhor qualidade de vida mas, pelo contrário, a pôr um pé na minha própria prisão. Porque nem tudo o que é pintado a ouro é bom. E porque uma vida livre e desafogada pode valer mais do que muitos milhões juntos.

13
Set19

A história do par de aspas que mora na minha pele

Quando era mais nova dizia muitas vezes que "tudo o que é preciso são 20 segundos de coragem". Ainda hoje acredito nisso - embora perceba que não é só a coragem que tem de estar envolvida. A nossa capacidade de lidar com as consequências dessa coragem, o capado que temos para aguentar com o ricochete também é muito importante. Mas a verdade é que, depois daqueles 20 segundos, o resto vem por acréscimo, porque o que custa é o início. Dar o passo inicial.

Em relação à tatuagem que há muitos anos estava nos meus planos, tive vários momentos de coragem. Cheguei a ter data e hora marcada para a fazer; passado um ano voltei a tentar marcar. Mas eis outro problema sobre esta teoria: quando o tempo se mete entre a coragem e a ação, está o caldo entornado. O tempo de espera - e todos os pensamentos, vozes, opiniões e comentários que fui recolhendo e que me invadiam nesses hiatos - demoveu-me sempre.

 

"Não percebo qual é a necessidade de alterares o teu próprio corpo."

"As pessoas reles é que têm tatuagens."

"Se é uma coisa assim tão pequena que até vais esconder, para quê que vais fazer?!"

"Daqui a uns anos vais-te arrepender."

"Ninguém faz só uma tatuagem. Daqui a uns tempos estás toda rabiscada."

 

Foi como tinha de ser - e foi o ideal. Sem planeamento. "Pode vir agora", disseram-me do outro lado da linha, quando liguei para o estúdio de tatuagens. E eu fui. Sozinha, sem tempo para arrastar ninguém comigo. Sem tempo para me arrepender. E não dando tempo para que o peso de uma marcação e a necessidade que iria ter de esconder da maioria das pessoas aquilo que ia fazer pesasse na minha consciência. Decidi não lidar com as opiniões mas sim com os comentários. Lidar com as consequências e não com os avisos. Lidar com os olhares de espanto em vez dos de reprovação.

Hoje, uma semana depois de a ter feito, gosto muito do que vejo. Dei que a podia ter feito há quatro anos, altura em que me deu vontade, e que estaria tudo bem. Mas que agora, para além de muito mais certezas, faz tudo muito mais sentido.

As aspas significam a conexão com as letras; são as rainhas do jornalismo, que vive das fontes, das citações, das opiniões e dos discursos dos outros. São a forma de pormos os outros a falar. E a pensar. Cabe um mundo de letras dentro de um par de aspas.

E esse mundo é algo que fará eternamente parte de mim - mesmo que eu já pouco me lembre do curso que tirei, dos dois anos que trabalhei como jornalista e que hoje em dia escreva menos do que dantes. Sinto que me afastei radicalmente do mundo das palavras e, no que toca a trabalho, não planeio uma reaproximação. Mas não deixa de ser uma paixão pela qual lutei - desde o 11º ano, em que deixei as ciências, até aos momentos de pânico no jornal, em que tinha que me debater contra mim própria para falar com as pessoas de forma a obter algo para escrever no papel. E embora hoje esteja longe dessa realidade, todos esses embates e lutas (internas e externas) serviram para alguma coisa. 

Estas pequenas bolinhas no meu pulso não servem por isso só para me lembrar daquilo que gosto e que fará para sempre parte de mim; têm também o objetivo de me lembrar que acreditando, eu consigo. E que as lutas são para se ganhar - mesmo que no fim mudemos de ideias.

Agora sei que posso fugir à vontade das letras. Porque o mundo das letras jamais voltará a fugir de mim.

 

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09
Set19

A preparação para a viagem ao Japão em 5 pontos

Daqui a precisamente um mês estarei a aterrar no Japão. E se quando marquei a viagem parecia faltar uma eternidade para esta se concretizar, hoje, este mês que me afasta do outro lado do mundo parece ser um par de dias que vai passar a voar. E só agora é que eu me sinto a cair na real: de que vou fazer a viagem mais longa da minha vida (18 horas dentro de um bicho com asas!), de que será o maior choque cultural que vou experienciar até hoje. Que vai mesmo acontecer.

Preparar uma viagem destas não é fácil, muito em parte devido ao muito que há para ver - e torna-se ainda mais difícil nesta época meia conturbada da minha vida, cheia de mudanças. Ainda assim, no último mês, fizemos avanços consideráveis em toda a preparação para a viagem; até aí pouco mais tínhamos do que a marcação das viagens, os hotéis e um esboço muito rudimentar daquilo que hoje se tornou no nosso roteiro de viagem - muito graças à minha companheira de viagem, que tem feito um trabalho que não tem preço.

Por isso, a um mês do início desta aventura, enumero as cinco coisas que estão a fazer parte (ou fizeram) da preparação desta viagem de sonho.

 

1. O roteiro

Gostei muito de um modelo de organização de viagens que vi um dia no instagram da Diana Bouça-Nova e decidi copiar. Dividi, numa folha de excel, sítios a visitar, onde comer e onde ficar. Não tinha muitos conhecimentos pré-adquiridos sobre o Japão – esta foi uma viagem marcada à maluca, um bocadinho por impulso devido a uma série de coisas que tinha visto na altura sobre o país – e por isso comecei por fazer um levantamento de coisas que me pareceram interessantes, divulgadas por pessoas que tinham viajado para lá há pouco tempo: nomeadamente a La Dolce Rita, a Stylista, o Alma de Viajante e o meu chefe (que também me forneceu uma catrefada de livros e guias sobre Tóquio que só agora estou a conseguir explorar devidamente). A minha companheira de viagem, a Ana, muito mais culta do que eu em matérias nipónicas, fez o mesmo – e assim se desenhou o primeiro esboço de tudo o que queríamos e/ou poderíamos visitar nas quatro cidades a que vamos: Tóquio, Kyoto, Osaka e Nara.

Numa segunda fase a Ana fez o trabalho mais duro: agrupar todos aqueles locais em "pequenos" roteiros, circulares, de forma a que pudéssemos ver tudo gastando o menor tempo possível entre viagens. Não sabemos até que ponto é que estes circuitos serão realistas para o tempo que temos – e por isso é que não faço intenções de os partilhar agora – mas vamos descobrir na altura. Prometo contar tudo depois ;)

 

2. A mochila

Hesitamos entre ir de mochila às costas ou com mala de rodinhas. Ponderei sobre o assunto e vieram-me à memória momentos pouco simpáticos, durante viagens, em que me vi à rasca para pegar no meu trolley de viagem para subir ou descer escadarias. O objetivo não é andar sempre de um lado para o outro com as coisas, mas nas transferências entre cidades não temos outro remédio – e, nesses momentos, o ideal é descomplicar. A mochila é a melhor solução. Não só pela questão do transporte mas também porque, por não ser muito grande e por o seu peso ser literalmente carregado por nós, nos obriga a conter na quantidade de coisas que pomos lá dentro. Travel light vão ser as palavras de ordem! Se virmos que começamos a ficar demasiado carregados com coisas que compramos lá, entre souvenirs e coisas a que não vamos resistir (ouvi dizer que há uma Uniqlo mesmo em frente ao meu hotel... estou desgraçada!), compramos uma mala de mão na reta final da viagem para levarmos tudo mais confortavelmente.

Comprei uma das mochilas de viagem da Decathlon, de 50 litros. Já a utilizei na minha viagem para o Algarve, em que fui de avião pela Ryanair (tendo por isso de andar, esperar e subir escadas com ela às costas) e a prova foi superada. O apoio nas ancas ajuda imenso e ter as mãos livres faz uma diferença enorme. Enquanto o pessoal andava à rasca para carregar os trolleys, eu andava ali como se nada fosse – mesmo tendo mais de dez quilos às costas. Fiquei a gostar – e esta experiência pré-Japão tranquilizou-me um pouco em relação ao que está para vir.

 

3. Compras antecipadas

Ir à descoberta não é a nossa praia. Por isso, outra das coisas que quisemos fazer foi comprar tudo o que podíamos com antecedência – para evitar filas, complicações ou eventuais dramas na explicação daquilo que queremos comprar (não sabemos até que ponto é que a comunicação é fácil...). As viagens de comboio-bala entre cidades eram uma prioridade, mas acabamos por perceber que tínhamos de comprar os bilhetes in loco; ainda assim temos assente os horários que preferimos e que tencionamos comprar quando lá chegarmos.

Tratamos também de reservar o nosso wifi portátil, que nos vai permitir estar online durante toda a nossa estadia por um preço relativamente baixo. No fundo é um mini-router que levantamos no aeroporto e que nos faz desligar das preocupações sobre roamings e outras questões.

Outra das coisas que compramos foi o Pasmo Card – uma espécie de passe recarregável que permite utilizar vários meios de transporte em todo o Japão e que nos vai ser muito útil nas ligações entre locais a visitar, principalmente quando a distância entre eles for maior ou o cansaço das pernas começar a pesar.

Por fim, comprar tudo o que sejam entradas em museus e locais de interesse, ou marcar atividades, para não perder tempo desnecessariamente. Admito que esta parte ainda não fizemos...!

 

4. Preparação física

Eu, neste momento, pareço uma pequena lontra bipede, com uma forma física digna de um hipopótamo, em que o único exercício que faço e abrir e fechar a boca – para comer, obviamente. Tenciono mudar isso em breve, mas até lá tenho que me pôr a mexer. Sei que não vão ser poucos os quilómetros que estas minhas pernas vão ter de aguentar e convém estar minimamente preparada para não passar a vida a sentar-me, qual velhinha, enquanto deito os bofes pela boca.

Por isso, até me inscrever na piscina para fazer exercício regularmente, temos tentado fazer algumas caminhadas. Fico cansada e de mau humor, principalmente nas subidas, mas passado dois minutos – e após pensar que é tudo em prol de uma causa maior (o Japão... ou a diminuição destas minhas ancas) – já passou. Agora é tentar aumentar o ritmo e a quantidade de vezes que vamos dar estas voltinhas.

 

5. Os vídeos parvos

Esta tem sido a componente mais engraça (muito mais gira do que fazer exercício, não é verdade?) e, também, mais inesperada. De um momento para o outro o meu YouTube ficou inundado de vídeos com nomes e letras que não percebo nada, mas que acabam por ser mega divertidos e com um ritmo que fica no ouvido durante o dia inteiro. Aqueles que nos tentam ensinar japonês, misturando o inglês pelo meio, são uma autêntica pérola. E, a brincar a brincar, já sei umas coisas. Já sei que Kito Kato é Kit Kat e bisu é cerveja. Já não morro nem à fome nem à sede. Siga!

 

08
Set19

É oficial: deixei outra vez de ser estudante

(ou um resumo da minha pós-graduação)

Já passaram quase dois meses do fim do meu curso, mas agora que já saíram todas as notas é que posso dizer, a alto e bom som, que ACABEI. E se há um ano estava stressada com o facto de voltar aos estudos e com medo de encontrar fantasmas do passado, hoje sinto-me mais completa e feliz. Por ter concluído o curso com sucesso - com média de 18, yupi! - e ultrapassado algumas barreiras e receios que tinha relativamente às matérias que ia abordar. Por ter conhecido pessoas que acrescentaram à minha vida - nomeadamente o meu colega do lado, que viria a tornar-se meu namorado. Por ter arrecadado ferramentas que sei que virão a ser úteis no meu futuro (e já no presente) enquanto empresária. Por ter aguentado todo o ano, a estudar e a fazer trabalhos consecutivamente, ao mesmo tempo que trabalhei na fábrica e a dei aulas de piano (incluindo sábados). E por, mesmo assim, ter conseguido manter uma vida relativamente normal, com os velhos hábitos que já me faziam feliz.

Não escondo o orgulho que sinto em mim própria por ter conseguido tudo isto.

Começando pelo início: escolhi tirar o Curso Geral de Gestão na Católica Porto Business School porque, de todos os planos que vi deste género - e sendo que procurava uma coisa muito prática e direcionada para aquilo que iria ser o meu futuro, a gestão das fábricas - me pareceu o mais completo. Por outro lado, era aquele que me pareceu mais terra a terra; eu não queria este curso para currículo, não precisava de ter professores XPTO e com nome na praça, nem cadeiras com nomes giros para florear o meu percurso. Eu queria mesmo aprender.

O curso leciona-se na Foz, no Edifício Américo Amorim (com umas condições ótimas) e consiste, normalmente, em duas aulas por semana, das 18:30h às 21:30h. Em determinados períodos somos obrigados a ir lá mais vezes, porque há seminários ou exames para fazer. Não há épocas de exames nem melhorias (recurso só em caso de chumbo ou falta de elementos de avaliação); a avaliação é feita ao longo de todo o ano, cada cadeira à sua maneira, por avaliação contínua (trabalhos) ou por exame, quando logo após o fim da disciplina. Por isso não há um período de estudo intensivo e outro de calmia - é sempre turbulento. 

A heterogeneidade do grupo - éramos mais de 40 - era muito grande, o que tornava tudo mais interessante. Pessoas dos 20 aos 60, com formações em engenharia, direito, passando pelas letras, o desporto e até a música; alguns mais calados, outros claramente mais interventivos. E é giro ver que, independentemente do tempo que passou, pouco parece mudar desde os tempos de escola: formam-se sempre grupos, há sempre o palhaço da turma e aquele que passa a vida a reclamar. Isto apesar de todas as relações serem sempre muito cordiais, muito por culpa de todas as atividades que a faculdade organizou para que nos conhecessemos melhor (uma para quebrar o gelo no início e outras duas no fim, que só pecaram por não terem acontecido mais cedo). Até isso foi bom!

Mas vamos ao que interessa. Ao longo deste percurso foram várias as pessoas que me foram perguntando como é que estava a correr, se estava a gostar, como é que é e não é. Quem convive comigo dispensava algumas perguntas - bastava olhar para mim e perceber. O cansaço era evidente. E o muito trabalho consequente das aulas também.

Fazer um curso destes é, sem sombra de dúvida, um sacrifício. De sono, de tempo para a família e amigos, de coisas que gostávamos de fazer e para as quais já não temos espaço na agenda, de alguns fins-de-semana. Tudo. Se para mim foi difícil, imagino para todos aqueles - e eram muitos - que tinham um trabalho full time e filhos para criar. Expliquei muitas vezes que três horas de aulas, duas vezes por semana, se transformavam em muito mais que isso - porque esses dias estavam sempre condicionados por esse compromisso, por termos de sair com muita antecedência de casa para garantir que não chegávamos atrasados (eu saía uma hora antes), e porque todo o trabalho extra-aula se transformava em muito mais do que meia-dúzia de horas. Só conseguir coordenar com os nossos colegas para os trabalhos de grupo era uma complicação! Há que ter consciência disso tudo antes de nos inscrevermos; que, durante um ano, a gestão de tempo vai ser dura e que vamos ter de fazer sacrifícios se queremos ver as coisas feitas.

No que diz respeito ao plano curricular, é como tudo: gostei mais de umas coisas do que de outras. Há cadeiras que acho totalmente dispensáveis, professores com quem não simpatizei, e outros casos em que aconteceu precisamente o oposto; disciplinas de que gostei muito e que acho que deviam ser ainda mais exploradas e de professores que sinto que me ajudaram realmente a aprender. Uma coisa é certa: eu agora sei umas coisas daquilo que estou a fazer. Muito do conhecimento que adquiri é totalmente prático - e eu sinto-o no meu dia-a-dia, ora no entendimento da contabilidade da minha empresa ora quando preciso de fazer um mapa de tesouraria. Mas, acima de tudo, sinto que adquiri espírito crítico. Aprendemos sempre tudo tendo em mente que, provavelmente, não seremos nós a fazer aquelas coisas (pelo menos em empresas grandes não é o gestor que faz planos financeiros ou quem vigia a contabilidade) - mas tendo a plena noção de que temos de as perceber para que as coisas corram bem e não nos passem a perna. Porque, no final, é o gestor que decide - e quem decide é quem depois arca com as responsabilidades.

As matérias iam-se baseando umas nas outras; começávamos com cadeiras mais básicas (tipo cálculos de juro) e acabávamos com outras estilo previsão financeira ou análise de investimento, em que os conhecimentos adquiridos inicialmente eram basilares para a aprendizagem. Isto fez com que o fim do curso de tornasse particularmente pesado, com todos os cadeirões a pesarem-nos nos ombros numa altura em que já não tínhamos a força nem a vontade que havia no início. O final foi particularmente desgastante, com muitos trabalhos e exames, tudo seguido; chegou uma altura em que eu já só queria passar..! 

Houve momentos em que senti as consequências de não ter um background de números, embora o curso seja construído para pessoas vindas de qualquer quadrante. Quando chegavam fórmulas e raciocínios lógicos mais difíceis nem sempre consegui apanhar à primeira - e era aí, em grande parte, que o efeito de pós-laboral se fazia sentir. Concentrarmo-nos depois de um dia de trabalho quando nos estão a tentar ensinar coisas que parecem árabe não é tarefa fácil. Houve alturas muito, muito difíceis, em que o sono e a vontade de ir para casa quase levavam a melhor. Acho, por isso, que é um curso mais fácil para quem vem das engenharias, habituado a lidar com excels e tudo o que mete números. Para além disso diria que é essencial ter já alguns conhecimentos sobre o mundo do trabalho - e ainda melhor se trabalharmos próximos dos gestores (ou se já o formos ou possuirmos uma empresa) e tivermos noção das suas tarefas, desafios e necessidades.

No final de contas (e, caramba, foram muitas!), faço um balanço positivo. Sim, é um sacrifício e um investimento (de tempo e de dinheiro), mas que compensa, principalmente se tivermos sempre em mente os nossos objetivos e soubermos ao certo porque é que estamos ali. Penso que não conseguia tirar este curso "na desportiva", como alguns dos meus colegas que lá estavam. Mas eu sabia ao certo porque é que ia. E agora é só fazer-me ao caminho. 

05
Set19

Chávena de Letras - "Janela Indiscreta - O que dizem as Estrelas"

por Mário Augusto

janelaindiscreta.jpg

Sou há muito tempo uma fã confessa de Mário Augusto. Foi ele que, indiretamente, me indicou o caminho para o jornalismo numa altura da minha vida em que eu estava particularmente perdida - e em que no encontramos num programa de televisão, ele enquanto entrevistador e eu como entrevistada (em 2010). Vi aí uma forma de aliar várias das minhas paixões e o meu objetivo passou a ser uma espécie de sua sucessora: "a" jornalista de cinema no país.

Esse sonho já lá vai - não quero nada com jornalismo. E mesmo do cinema tenho-me distanciado bastante. Mas o bichinho daquela ambição continua lá, assim como a admiração que tenho por este senhor. Acho-o extremamente humilde; daquelas personalidades que não conhecemos mas que pensamos "este homem deve ser mesmo boa pessoa".

Não podia, portanto, deixar passar este seu último livro. Queria muito saber as suas opiniões pessoais sobre as estrelas - esperando o seu polimento clássico e o seu típico cuidado com as palavras - e aprender algumas das peripécias por que passou, para poder absorver aquilo que é um bocadinho da sua vida, aquela que eu um dia também quis ter.

Nesse sentido, o livro não me encheu as medidas. Queria mais! Mas não deixa de ser uma obra de aprendizagem sobre o cinema, a sua história e evolução - e a perspectiva dos seus protagonistas (e do Mário Augusto) sobre isso mesmo. Há um grande enfoque sobre as diferenças sentidas pelos atores entre o cinema, a televisão e o teatro, assim como a forma como lidam com a fama e a gestão das suas carreiras. No fim, aprendemos que uma estrela de Hollywood se faz de um mix de trabalho, empenho, talento... e sempre uma pitada de sorte.

Não é um livro que vá recordar daqui a muito tempo, mas estou certa de que me vai servir para me ajudar a lembrar de pequenas histórias e dicas que Mário Augusto foi deixando ao longo da obra. Destaque para as sugestões de filmes que dá no fim de cada capítulo sobre os atores/realizadores... aguçou-me a vontade de passar umas belas horas em frente ao ecrã.

02
Set19

Em busca da francesinha perfeita #10

no Bufete Fase

Se no último par de anos comi mesmo muito poucas francesinhas - muito por culpa de me sentir eternamente insatisfeita com aquilo que ingiro sempre que faço uma nova tentativa - nos últimos meses tenho-me vingado e experimentado vários restaurantes que têm como especialidade esta iguaria portuense.

A última foi naquele que é, provavelmente, o local mais famoso de todos: o Bufete Fase, na rua de Santa Catarina.

Sejamos claros à partida: é um tasco. Se procuram um sítio bonito e glamouroso para comer e estar confortáveis, este não é certamente o lugar ideal. Aliás, ali não se cultiva a arte de estar à mesa: é chegar, comer e sair (prova disso é termos jantado em 40 minutos). No fundo, é uma coisa à antiga: o objetivo é sair satisfeito, não é postar uma foto bonita no Instagram.

E isto vê-se logo no atendimento. A senhora foi direta: "são então duas francesinhas? E para beber, o que vai ser?". Ou seja: não há muito mais escolha para além do prato típico - se não é francesinha, é bife (daquele que vem dentro da francesinha...). E vamos diretos ao assunto: a dita é boa. E lembrou-me a do Gambamar, o que é um óptimo elogio.

O pão é bem tostado e o conteúdo recheado; o bife é fino mas tenro e não há salsicha fresca (yey!). E há aqui um twist: não só há bife como também carne assada, que dá um travo final que não é do gosto de todos, mas que eu não achei mau. No meio das carnes nenhuma me pareceu ter daquelas pepitas malvadas de pimenta, que normalmente me infernizam as refeições. E isto leva-me ao molho. Apontem bem isto: NÃO. É. PICANTE. Aleluia, irmãos! É uma autêntica lufada de ar fresco. Os molhos de francesinha foram progressivamente ficando mais pungentes neste sentido, algo que nem o meu palato nem o meu estômago aprovam; mas o molho do Bufete Fase, por default, não é picante. Mas descansem os fãs da língua em formigueiro, porque também há uma versão picante ;)

Penso que a questão do molho foi crucial para não me sentir pesada quando saí de lá. Normalmente, sempre que como francesinha, sinto-me enfartada, como se tivesse comido um boi (o que depois me faz sentir arrependida de a ter comido - porque ninguém quer sentir que comeu um boi, não é verdade?). E ali, pelo contrário, senti-me leve e bem disposta depois de sair do restaurante - o que, só por si, já é uma sensação a registar.

A nota final vai para a dificuldade em arranjar mesa. Nós chegamos ao restaurante pelas 19:40h e estreamos o jantar dessa noite; quando saímos (pelas 20:20h) o corredor apertado que liga a porta às salas de jantar já tinha pelo menos uma dúzia de pessoas à espera. Encheu num fósforo. E, pelo que me pareceu, ia continuar a encher nas horas seguintes.

O maior elogio que posso fazer ao Bufete Fase é que acho que há uma razão válida para isso acontecer. Eles têm a fama, tiram claramente o proveito - mas é bom finalmente ver uma base nisso.

Fiquei fã (desde que se vá cedinho).

 

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