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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

29
Ago19

A minha caixa de correio voltou a ser feliz

(ou como reativei a minha conta no Postcrossing)

No verão a minha casa transforma-se num autêntico campo de férias, com todos os meus sobrinhos a serem depositados aqui das suas respetivas casas. Neste momento eles já são (quase) todos crescidos, entretém-se sozinhos, não é preciso andar com eles ao colo; mas, ainda assim, não deixam de nos dar preocupações assim como dores de cabeça - neste caso literais, graças ao barulho que fazem, digno de recreio de escola.

O problema nesta fase é tira-los dos eletrónicos. Mesmo tendo um terreno gigante para correr, cães para brincar, terra para lavrar e uma piscina onde mergulhar, preferem o recanto do computador ou o sofá em frente da PlayStation, com todas as tentações do Fortnite, Minecraft, Roblocs e outras coisas que não sei escrever. Pior que isso é disputarem e contarem os minutos, vendo quem joga mais que quem, numa obsessão que nos deixa a todos (graúdos) completamente loucos.

Foi numa tentativa de os arrancar deste ciclo vicioso e irritante que decidi tirar uma coisa do baú: os meus postais. Inscrevi-me no Postcrossing há mais de oito anos, tenho mais de 700 guardados religiosamente, mas a falta de tempo obrigou-me a parar. Para quem não sabe, o Postcrossing é uma atividade baseada no site com o mesmo nome, que consiste na troca de postais entre pessoas de todo o mundo. Antes que perguntem: não, as pessoas não se conhecem. Mas através de pequenos perfis ficamos a conhecer um pouco das suas vidas e dos seus gostos, que nos ajudam a perceber que postais enviar e que mensagem escrever. Por cada postal que mandamos, recebemos um. Isto de forma resumida e poupando-vos a questões mais técnicas - e a factos depressivos, como o aumento pornográfico do preço dos selos desde a altura em que comecei até agora (na ordem dos 20 cêntimos cada!!!).

Reativei a minha conta e consegui arrastar a minha sobrinha Clara para a ideia. Criámos um ritual e, de cada vez que podemos escrever mais uns postalitos, chamo-a para a minha beira. Ora escreve uma, ora escreve outra - e assim nos divertimos, entre escolher que postal enviar e decidir o que dizer. Ela já percebeu toda a dinâmica, entre selos, moradas e códigos e já escreve como gente grande. Fiquei muito feliz por conseguir fazer com que ela entrasse neste mundo analógico. Como li hoje num post da Isabel Saldanha, que cita José Saramago, “Jamais uma lágrima manchará um email". E apesar desta atividade ter pouco de sentimental - por não conhecermos as pessoas e por serem mensagens demasiado curtas, limitadas por aquele quadradinho de papel -, é engraçado perceber como simpatizamos mais com umas pessoas do que com outras apenas pelo inclinar da sua caligrafia, o cheiro do papel ou o cuidado com que escrevem o nosso nome. Nada disto é possível neste mundo das novas tecnologias.

É muito bonito transmitir-lhe isso e é, para além do mais, uma vitória: pelo menos é menos uma a passar tanto tempo nos eletrónicos ;)

Agora volto a sentir-me uma criança na noite de natal de cada vez que vou à caixa de correio - nem que seja pela expectativa de ter lá algo, para mim e para a Clara, que nos encha o coração. E que coisas boas me têm saído na rifa! Estou feliz por ter voltado.

 

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25
Ago19

Pensamentos de uma lista-holic

A linha que separa uma pessoa organizada de um comportamento obsessivo-compulsivo

Mais um ano, mais um campismo de família. Desta vez foi por um triz que se realizou – confesso que a vontade era pouca, muito provocada pela fraca adesão da família durante este ano. Mas cá estamos, desta vez em Vila Praia de Âncora.

O campismo é muito divertido mas implica uma logística um tanto ao quanto complicada. Há uma grande desvantagem neste tipo de férias: independentemente do número de pessoas que venham, a mala do carro vem sempre cheia. É tenda, mesa, cadeiras, colchões, sacos-cama, lancheira, camping-gas, coisas para lavar a loiça... tanta coisa que o risco de nos esquecermos de algo é muito elevado.

Cresci com um pai extremamente organizado, que antes de qualquer viagem me aparecia no quarto com uma lista, dentro de uma pequena mica, que passava a ditar em voz alta: “cuecas, meias, cartão de cidadão, dinheiro, máquina fotográfica, pasta dos dentes (...)”. Eu ia anuindo com a cabeça ou, pelo contrário, apontando o que faltava.

Passaram alguns anos e o bicho da organização passou a morar em mim. E, como diz o ditado, a necessidade aguça o engenho: a verdade é que a lista do meu pai, apesar de muito completa, é dirigida a homens (tinha falta de coisas tipicamente femininas, como artigos de higiene ou roupas que só mulheres usam) e só contemplava objetos para viagens normais. O campismo exige todo um outro nível de planeamento. Por isso fiz-me ao piso e desenvolvi a minha própria lista – uma folha A4, dividida por categorias (objetos de campismo, roupas, comidas, higiene, eletrónicos e outros), para que nada faltasse. Sinto-me, honestamente, muito orgulhosa do meu feito!

Por isso, por achar que as listas têm uma beleza própria e por achar piada ao meu próprio sentido de organização, partilhei há dias uma imagem da minha lista no instagram. Recebi várias mensagens com emojis a chorar a rir e outras tantas, mais direta ou indiretamente, a dizer que eu era maluca. E eu fiquei a pensar naquilo.

O que distingue uma pessoa organizada de outra com um transtorno obsessivo compulsivo? Sim, eu sou organizada; sim, dá-me prazer ver tudo organizado por categorias, enfiado em compartimentos próprios. Gosto que as coisas tenham sítios para estar, adoro saber onde posso encontrar tudo. Não gosto de caos. Não gosto que faltem coisas que sinto que vou precisar – daí a necessidade de uma lista vasta neste tipo de férias.

A questão é que não me dá um chilique ou calores quando as coisas estão fora do sítio. Não fico stressada se vir que me faltou alguma coisa. Sei lidar tranquilamente com isso. E penso que é essa a linha que separa uma coisa da outra: não só a forma como fazemos as coisas, mas acima de tudo como reagimos às contrariedades, ao oposto daquilo que gostamos e desejamos.

Sou uma orgulhosa lista-holic, gabo-me da minha organização. Para os que acham o contrário, também dou bem por maluca. Uma maluca organizada, se faz favor.

 

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24
Ago19

Adeus flamingos, os pinguins invadiram as praias

Não é para me gabar, mas considero-me uma visionária no que diz respeito às novas bóias da atualidade, que nos últimos dois anos invadiram tudo o que é feed no Instagram e que tiraram lugar ao golfinho-desiquilibrado, à orca-infeliz ou ao crocodilo-pouco-estável que se vendia um pouco pelas papelarias de todo o país quando o sol de verão começava à espreita. Os gelados, as melâncias, os ananases, as fatias de pizza e, mais importante de tudo!, os flamingos de todas as cores e feitios vieram roubar o lugar a estes veteranos - e ainda bem porque, como disse na altura, enquanto o mundo inventava tudo e mais alguma coisa, estas bóias ainda eram ali do tempo da descoberta da roda.

Pois que eu não previa o que agora aconteceu. Não é que as bóias da nova geração tenham entrado em extinção, mas as praias portuguesas têm agora uma nova moda: os pinguins-nadadores-sempre-em-pé. É atira-los para a água e eles mantém-se ali, sobrevivendo à rebentação, na constante procura pelo equilíbrio, até conseguirem atingir a areia. E aí voltam a estar em família. Tenho para mim que aquilo vai dos netos aos trisavós, tal a quantidade de tamanhos que existem. Ou então é uma família à moda antiga, um casal cheio de filhos, com todas as idades e feitios, como bem se quer.

Não me parece que a moda vá durar muito, mas o pinguim é claramente a espécie que reina nas praias portuguesas este verão. Os ecologistas vão dizer que é culpa do aquecimento global; para mim, esta é só mais uma coisa para aquecer os bolsos dos asiáticos. Para o ano queremos sardinhas nadadoras made in Portugal. 😜

 

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23
Ago19

Menu de fim-de-semana: Círculo Perfeito

A página ideal para sabermos mais sobre saúde feminina

Sempre fui muitíssimo reservada. Em tudo. Nunca interpretei isso como "ter segredos" - simplesmente acho que há determinadas coisas que estão dentro de uma bolha demasiado pessoal para se partilhar. Acho que essa é só uma das 48903 razões pela qual sempre detestei ir ao médico: as perguntas. Se ia regularmente à casa de banho, quando é que me tinha vindo o período pela primeira vez (serei a única criatura do mundo que não faz a mínima ideia e simplesmente lança um número à sorte?!), se tinha uma vida sexual ativa. Eu percebo o propósito mas..! Deslarguem-me, que esse tipo de partilhas não são para mim, e eu prefiro focar-me no essencial.

Esta bolha que criei para mim própria fez com que nem sequer gostasse muito de ouvir falar sobre determinados assuntos. Sim, eram tabus. Criados por mim. E foram eles que sempre me forçaram a desenhar uma linha muito clara entre o que é da esfera íntima e o que não é, nomeadamente devido àquilo que decidia partilhar aqui no blog. Recordo-me da minha incredulidade quando alguém um dia me disse, depois de eu ter feito um post a propósito do ano novo, que agora toda a gente sabia que eu usava cuecas azul-bebé naquela noite de transição. Na altura fiquei confusa. É grave saber-se que, como tantas outras pessoas, uso cuecas daquela cor, naquele dia em específico? Que sigo uma tradição cumprida por tantos?

Esse episódio não mudou a forma como atuo aqui no blog, estou segura de tudo o que sempre partilhei - e que, claro, acho que deve ser dito ao mundo. Mas esta nova vaga de youtubers e influencers quebrou muitas das barreiras que havia nesse sentido - pelo menos para mim. Percebo que apesar de não gostar de falar sobre certas coisas - e de eu não fazer questão de as abordar no meu blog, porque não considero ser esse o meu papel - há um público para as ouvir. E em alguns casos pode ser mesmo serviço público.

A extrapolação deste conceito pode ser perigosa. Partilhar algumas coisas não é sinónimo de partilhar tudo com detalhes. E partilhar a nossa experiência, às vezes infundada e pouco argumentada, também não contribui para o conhecimento alheio - só para a formação de ideias erradas e da típica conversa do "eu conheço uma pessoa que...". E se os youtubers tiveram o mérito de abrir caminhos e mentalidades, servir de ombro amigo e poço de respostas para coisas que muitas pessoas (maioritariamente jovens) não querem perguntar, a verdade é que por vezes pecam pela desinformação que propagam. É um pau de dois bicos.

No entanto há projetos com valor - que não tem nada de teen, da nova vaga de youtubers, mas que sabe aproveitar as redes sociais para o bem geral. Descobri o Círculo Perfeito através da Maçã de Eva e diria que foi a descoberta deste verão! É uma página dedicada à saúde feminina, em toda a sua plenitude. A autora é a Patrícia Lemos, que dá workshops e faz sessões individuais nas áreas da saúde menstrual, da fertilidade e contracepção (nomeadamente o método natural de fertilidade, onde não se faz uso de nenhum método contraceptivo clássico, mas usa-se o conhecimento do nosso próprio corpo para controlar as alturas férteis). Eu, apesar de não ter interesse em mudar o meu método, gosto sempre de aprender mais; como se diz, o conhecimento não ocupa lugar! E já tenho aprendido imensas coisas que não sabia com os posts da Patrícia. Sou hoje uma pessoa mais informada graças a esta página - e espero continuar a aprender. Sem fundamentalismos ou segundas intenções, acho que é isto o bom da internet: o poder de propagar o conhecimento. Agora é só usufruir!

 

Círculo Perfeito no instagram

22
Ago19

As idiossincrasias das bolas de berlim

Sempre fui muito esquisitinha. Não gosto de nada que fuja da norma, de comida gourmet, de temperos arrojados, de especiarias, de texturas estranhas, de vegetais, de papas ou coisas moles. Sou muito simplória no que toca a comida, vá. Mas pode-se dizer que na praia viro uma pessoa bastante eclética.

Há uns anos escrevi aqui sobre a bolacha americana de côco - uma delícia que, pelos vistos, entrou em extinção este ano. Enquanto estive no Algarve chamei pela senhora, que me disse que já não faziam essa pequena relíquia da praia. Uma pena. Era óptimo e muito menos enjoativo que a bolinha. Mas enfim, uma pessoa aceita - ainda que com uma tristeza no estômago, de quem sabe que não vai voltar a provar uma coisa destas tão cedo.

Ataquei portanto o senhor das bolinhas com uma descoberta que tinha feito o ano passado: "tem bolas de beterraba?". "Não, já não fazemos de red velvet". Tau! Mais uma machadada neste meu coração, mais um golpe duro nas minhas papilas gustativas. Tudo num só ano... Mas ele colmatou: "mas temos de tinta de choco!".

E foi assim que eu comecei a começar bolas de berlim pretas, para grande impressão de todos os que me rodeavam. Mas choquem-se: são boas! Tal como as da beterraba, o doce é cortado por estes sabores mais atípicos, tornando os bolos muito menos enjoativos. Fiquei muito fã!
Quando agora fui para o Alvor a escolha das bolinhas era mais reduzida - embora a escolha por entre os vendedores seja bem mais vasta. Se em Albufeira há com creme, sem creme, morango, Nutella, doce de leite, tinta de choco, entre outros, no Alvor ficam-se pelo básico. Mas, mesmo assim, tornei a inovar: marcharam umas bolinhas de alfarroba que, para mim, batem as bolas simples.
Agora estou em Vila Praia de Âncora e não há grande alternativa: ou é com creme ou não há nada para ninguém. É o fechar de um ciclo: começo nas estranhas e regresso à base, normais mas fresquinhas, tal como se querem.

Aguardo agora com ansiedade os novos sabores do próximo ano. Bolas de café, para abrir a pestana em plena praia? De maracujá, com um toque crunchy? De abóbora menina, já a antecipar sabores de natal? De cenoura, com toque caseiro? Ou uma total inovação, como bolhinhas de carvão ativado, para evitar os gases noturnos?

Ficam as ideias, senhores das bolas. Surpreendam-me!

 

SAVE_20190822_205242.jpg

19
Ago19

O milagre do betacaroteno

Hoje é o meu último dia no Algarve - o último destas férias e provavelmente o último deste ano. Não tem dado para escrever. Entre as caminhadas, o kaiak, as partidas de volley e de ping-pong (meu deus, o meu namorado conseguiu o milagre de me fazer parecer desportista...!) e a falta de disponibilidade mental para o fazer, com a cabeça em problemas distantes que não consigo resolver, resta pouca energia e tempo para pôr os dedos a teclar e a cabeça a escrever. Não que me falte vontade, inspiração ou coisas para falar. Há alturas em que simplesmente as palavras não surgem - e não vale a pena fazer um grande drama disso.

Mas voltemos ao tema: Algarve e sol, provavelmente o único sítio no país onde o verão decidiu aparecer. Esta conjugação de fatores tem, nos últimos anos, constituído um problema para mim: alergia ao sol. Fico rapidamente com a pele vermelha e repleta de bolhinhas, que me dão uma comichão de bradar aos céus.

Da primeira vez que me aconteceu, estando completamente a leste, passei numa para-farmácia para comprar um after-sun, para ver se a coisa melhorava. A funcionária foi perentória: eu estava com alergia ao sol, tudo porque aos 20 e poucos anos já tinha apanhado a quantidade de sol que era suposto ter ao longo de toda a minha vida. Por outras palavras: tinha esgotado o meu plafond solar.

Fiquei um bocadinho abananada - e ainda duvido muito da sua teoria. Ainda assim, essa visão drástica foi um pouco assustadora. Mas a senhora pôs água na fervura: a única solução era comprar betacaroteno. Pedi-o logo de rajada. Veio a cereja em cima do bolo: "agora não vale a pena, tem de tomar com bastante antecedência". E foi nesse ano que, em desespero de causa, conheci o ISDIN, quando perguntei no Facebook se alguém me podia ajudar em relação àquelas comichões. Foi bom, ajudou, continua a ser o meu protetor de eleição apesar de custar os olhos da cara, mas não resolveu totalmente.

A situação replicou-se nos anos seguintes e desta vez eu levei a coisa a sério: depois do primeiro dia de sol do ano (lá para Maio, o que se veio a perceber ser demasiado cedo) comprei betacaroteno e tenho tomado desde aí. Dizem que prolonga e promove o bronze - algo que honestamente não sinto - mas, para mim, cumpre o objetivo: acabou-se a alergia. Nunca desprezo o uso do protetor e mesmo nos raros dias em que apanhei escaldões (coisas leves), nunca se transformaram em bolhas ou numa sensação de coceira infernal. Missão cumprida!

O verão já tem fim à vista, as minhas férias estão a acabar e eu estou na última cartela dos comprimidos. Por este ano, o betacaroteno já está a dar os últimos cartuchos mas já temos encontro marcado para o ano. Agora já não falho a toma ;)

 

BioActivo_Caroteno_60-1024x807.jpg

 

10
Ago19

Menu de fim-de-semana: Isabel Saldanha

A verdade é que criei esta rubrica a pensar nela: a Isabel Saldanha foi das minhas primeiras ideias de partilha aqui mas as oportunidades foram passando e aquilo que tinha escrito mentalmente sobre ela foi-se dissipando. Mas hoje é o dia! A Isabel começa hoje uma viagem à Transilvânia, portanto a menção não podia ser mais oportuna, merecendo destaque e acompanhamento - a começar agora!

Conheci-a pela mesma razão que a maioria: foi (e é?) a fotógrafa de Cristina Ferreira. Mas também é muito mais que isso - aliás, apesar das fotos serem o centro da sua profissão, para mim, acabam por ser "só" as aliadas perfeitas das palavras que escreve: essas sim, a estrela do seu Instagram.

Viagens - dentro e fora de Portugal -, o amor (principalmente pelas filhas) e o desapego são os temas centrais. Isso, o vinho e o presunto. Confesso que apesar de ser fã de enchidos (mas não beber álcool...) e de gostar muito da forma racional, mas ao mesmo tempo extremamente afetiva, com que fala das filhas, são as viagens que mais me atraem na sua página. Pela forma incrível como descreve tudo por onde passa, adoçadas pelas peripécias que vai vivendo, como pelas fotos que nos atraem até ao sítio mais remoto. Sempre com muito enfoque nas pessoas - das que viajam com ela e das que lá vivem, carregando sempre humanidade nas suas palavras. Acima de tudo, gosto de todos os preconceitos que consegue deitar por terra: foge dos sítios mais mainstream e mostra como podem ser bonitos os locais que normalmente descartamos. Arménia, Albânia, Montenegro. Índia e São Tomé, do qual recordo fotos e histórias incríveis. E, como eu disse, agora Transilvânia.

Para além do instagram, onde se pode ler (e ver) tudo mais instantaneamente (e com um toque de graça que só as coisas contadas no momento é que têm), a Isabel depois publica os seus diários de viagem no Gang do Pé Preto, onde podemos conhecer a sua viagem mais a fundo e que podem ser uma ajuda preciosa quando preparamos os nossos passeios. Não esquecer as escapadelas dentro de Portugal, que também relata com rigor, e nos dá a conhecer pequenos pedaços de paraíso bem aqui ao lado.

Para ver e ler, para alimentar a alma e dar vontade de conhecer o mundo.

Instagram da Isabel Saldanha.

 

armenia-gang-19.jpg

Foto: Isabel Saldanha, na sua viagem à Arménia. Retirada do Gang do Pé Preto.

06
Ago19

Ter um blog é lembrarmo-nos do que fomos. Há oito anos que faço por recordar.

Escreve Ricardo Araújo Pereira no seu último livro: "Ser adulto é esquecer o que foi ser criança." O Ricardo é um génio, mas não é preciso muito para chegar a esta conclusão. Bato de caras com ela de cada vez que vejo um carro de condução a ser pressionado por um outro condutor, que tenta ultrapassar pela esquerda, pela direita e só não passa por cima porque o automóvel (ainda) não tem asas. Isto tudo porque já não se lembra do pânico que é estar ao volante de um carro pela primeira vez; do chato que é estar constantemente a ser mandado e corrigido por um instrutor; do suor que toma conta das mãos e do tremor que invade as pernas. Já se esqueceu. Ser adulto é esquecer.

É por isso que sei que ainda não sou adulta. Pelo menos, na maioria dos casos. Ainda me lembro de muita coisa - e, ai!, se me recordo daquelas aulas de condução! E, sobre o que não me lembro, (re)leio.

Este blog faz hoje oito anos e sinto que essa é a maior vantagem que ele me traz: lembrar-me de quem sou, de quem já fui, o que senti, o que pensei, pelo que passei. Tenho uma regra de ouro: nunca apagar um post. Por muito que me envergonhe, que não goste ou já não me identifique, ele está lá; porque em algum momento eu senti que ele fazia sentido. 

Racionalizar as coisas de forma a escreve-las é um exercício que me faz crescer todos os dias. Encontro as minhas próprias contradições, argumento contra mim mesma. Apuro as minhas ideias. E lembro-me delas com mais facilidade. Não me esqueço. Torno-me adulta, mas nem tanto.

Consigo recordar com precisão o impasse da minha mudança de área no secundário; a escolha do curso, o tormento do primeiro ano; a ânsia do primeiro trabalho, o terror de ter de me despedir; a aventura de entrar nos negócios de família, a loucura de começar a dar aulas de piano, a falta de vontade de tirar uma pós-graduação. Ter tirado a carta, ter entrado na faculdade, ter-me formado, ter sido tia mais uma vez, ter arranjado namorado, ter ultrapassado a morte de familiares, ter sido operada. Ter viajado - tanto!, e poder reviver tudo com tanto pormenor.

Ter um blog é ter a oportunidade de viajar no tempo. De não esquecer.

Ter um blog há oito anos é saber que temos parte da nossa vida escrita - no meu caso, um terço da minha história está aqui, para relembrar o que fui. E, em parte, para me lembrar todos os dias o que quero ser.

 

north-shore-mama-for-the-first-time-in-8-years-750

01
Ago19

O regresso

Tinha precisamente metade da minha idade quando o meu irmão emigrou. Chorei, não quis que ele fosse. Chorei o suficiente para ele adiar a ida e, no dia seguinte, partir enquanto eu ainda dormia. Deixou-me um bilhete com mil beijos, para gastar sempre que tivesse saudades. Está guardado no meu baú das recordações. Cruzei-me muitas vezes com ele enquanto arrumava a minha caixa e, de todas, o meu coração apertava-se. Lembrava-me o momento da partida. E das saudades.

A verdade é que uma pessoa se habitua à ausência. Não é algo bom de se ouvir, ou sequer de se dizer, mas é o que é; o facto daquelas pessoas não estarem presentes em momentos importantes é colmatado com as chamadas via whatsapp, com as mensagens, com os já habituais "então e novidades?". A partilha continua, mas acostumamo-nos ao delay; à falta do abraço, do beijo, das palmadinhas nas costas. Essas pequenas celebrações que nem notamos no dia a dia.

Mas se a ausência faz parte, as inevitáveis idas nunca chegam a entranhar-se. Foram muitas as visitas que o meu irmão e a sua família nos fizeram ao longo destes anos. O mês de Agosto, que hoje começa, foi sempre, por excelência, a altura mais louca nesta casa: quartos cheios, miúdos a correr por todo o lado, jantares, churrascos, festas, visitas. "O João já está cá? Podemos passar por aí?", já faziam parte das perguntas retóricas desta altura do ano. Até ao momento em que, de malas aviadas, eles voltavam a casa - e nunca, independentemente dos anos passados, esse momento deixou de doer. Nunca as ausências nos Natais deixaram de ser notadas. Nunca a vontade de voltar a partilhar com eles os aniversários e outras festividades se extinguiu. 

Este ano Agosto volta a ser sinónimo de confusão, de churrascos, de miúdos a invadir a casa... mas não é mais uma visita. É o regresso. O alterar da morada, do significado de "casa". É sinónimo de presenças em aniversários, de beijos e palmadinhas nas costas sem data marcada; de poder "ir lá a casa" sem ter apanhar um avião para lá chegar; de conseguir ligar para um número sem que o atendedor nos diga "the number you tried to call is not available". É sinónimo de vida em família.

Hoje o meu irmão regressa, deixa de ser emigrante. O bilhete com mil beijos - hoje, com umas largas dezenas a menos - deixa de ser preciso, porque o vou ter perto de mim.

Hoje voltamos a estar os quatro irmãos juntos, sem fronteiras a separar-nos.

É um sonho de há doze anos tornado realidade.

 

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