Já o disse: ir ao Alentejo era um desejo antigo. Tinha imaginado esta viagem de muitas formas: ora com amigos, ora sozinha numa espécie de retiro, ora na loucura numa autocaravana alugada, pronta para dormir ao som do bater das ondas. Acabou por não ser de nenhuma dessas formas: fui com o meu namorado e foi maravilhoso.
O Alentejo não desiludiu. Mas soube a pouco - embora tentássemos aproveitar tudo ao máximo. Ainda deu para ver algumas praias, comer bem (viva a sericaia e o peixinho grelhado!), conhecer mais um bocadinho e até dar um mergulhinho!
Optamos por não fazer a viagem de rajada e fizemos algumas paragens estratégicas. A primeira foi nas Grutas da Moeda - uma estreia para mim, que nunca tinha entrado em nada do género. Apanhamos a última visita guiada do dia, a uma sexta-feira, por isso estava tudo muito calmo. Não me fez aflição nenhuma estar debaixo de terra e achei as grutas em muito bom estado de conservação. Todo o tratamento que lhe deram, ao nível das luzes, torna tudo ainda mais giro - e até mágico. O guia, sempre simpático, também ajudou a que fosse tudo muito agradável - explicou a formação das estalactites e estalagmites, mostrou-nos ossadas de uns animais que caíram para dentro da gruta e fazia-nos sempre puxar pela imaginação, tentado fazer-nos visualizar animais e outras formas nas rochas por onde íamos passando. A visita dura cerca de meia hora (não chega para nos sentirmos sufocados) e eu lembrei-me recorrentemente de uma coisa que o meu pai sempre me disse: se nos queixamos da nossa profissão, agora pensem nos mineiros! Dos poucos minutos que lá estive fiquei com a pele toda oleosa e sempre com alguma vontade de, literalmente, ver a luz ao fundo do túnel. E foi só meia hora! Tentar imaginar o que é passar dias inteiros ali fechados é só aterrador - já para não falar do próprio trabalho, exigente a nível físico e cujo fator segurança não é lá muito positivo. Deu para pôr as coisas em perspetiva e, só por isso, já valeu a pena! Para além de que foi uma experiência nova, bonita, que aconselho a todos.
Nas Grutas da Moeda
A primeira noite foi passada em Óbidos - terra onde já tinha feito uma paragem rápida o ano passado, que nem tinha dado para absorver bem a coisa. Fiquei surpreendida porque de noite não se via vivalma - lembrei-me até de Veneza, onde tive exatamente a mesma sensação. A dicotomia noite-dia é impressionante. Esperei que no dia seguinte estivesse uma avalanche de gente (tal como estava quando lá tinha ido), mas não: o facto de não estar a decorrer nenhum daqueles eventos dentro do castelo deve ter ajudado, tornando o passeio muito mais agradável e as ruas bem mais transitáveis. Confirmei aquilo que já desconfiava: Óbidos é um mimo. Adoro o conceito, adoro a cores, adoro as lojinhas, adoro as muralhas, adoro as vielas, os declives e os pormenores em cada recanto. As lojinhas com um toque tradicional derretem-me, os espaços alterados para a conjugação de duas coisas improváveis (tipo uma livraria e uma mercearia ou uma livraria e uma igreja) fazem de mim uma criança feliz. Gosto mesmo muito de vilas com história e sei que um dia lá vou voltar.
Paragem seguinte: Peniche. Também foi uma estreia para mim, nunca lá tinha ido. Estava tudo um bocado caótico: apanhamos uma prova de triatlo, que ia fechar muitas das ruas da cidade, por isso foi praticamente almoçar e vir embora. Também, sejamos sinceros: aquela ventania não convidava a grandes passeios. O vento estava presente em todo o país e não passamos por nenhum sítio onde não o sentíssemos, mas Peniche ganhou aos pontos neste campeonato. Ainda assim deu para fazer uma visita ao Cabo Carvoeiro e à Fortaleza de Peniche, prisão de muitos presos políticos, conhecida pela fuga de muitos deles (incluindo Álvaro Cunhal). Neste momento está transformado no Museu da Resistência e da Liberdade e a entrada é livre - só pagam se quiserem os audio-guias, que não me parecem muito necessários, até porque têm descrições em todos os locais. Os espaços abertos são poucos - têm o parlatório (local de conversa entre os prisioneiros e os visitantes), a sala de visitas (onde chegaram a decorrer alguns casamentos) e o segredo (a solitária). Isto para além das vistas da Fortaleza para o mar, obviamente muito bonitas (segunda foto do lado direito, na montagem abaixo). Mas confesso que fiquei um pouco desiludida, acho que há muito mais a explorar num local destes - nem que fosse a oportunidade de ver uma cela, para se ter noção das condições em que lá se vivia. Esperemos que seja uma coisa a melhorar a médio prazo.
As Berlengas lá atrás
Depois sim, rumamos até Milfontes, onde ficava o nosso hotel - As Três Marias, conforme já contei aqui. Visitamos várias praias (pelo menos aquelas com acessos minimamente decentes) e tentamos encontrar aquela que estivesse mais protegida do vento, para podermos tomar um banho. Escolhemos a Zambujeira no Mar, que tem toda uma arriba que nos protegia daquelas rajadas do diabo. E se cá em cima estava frio, lá em baixo estava um pequeno forno, mesmo com os singelos 22ºC de temperatura que se faziam sentir. Foi o primeiro mergulho do ano e soube pela vida!
Ainda fomos a Porto Côvo (enquanto ouvíamos o Rui Veloso no carro, obviamente) e demos outros passeios pela costa, meios à deriva e a ver até onde as estradas nos levavam. Não tínhamos grandes horas nem planos, por isso fomos à descoberta. Também por isso acabo por não conseguir precisar muitos dos sítios por onde passamos.
Na Zambujeira da Mar
No dia da vinda, em que tínhamos pensado fazer praia, acabamos por mudar de planos e ir até ao Badoca Safari Park. A verdade é que podemos ir à praia muitas vezes, mas não é todos os dias que estamos a lado do único safari em Portugal. E eu adianto-me já e ponho as fichas na mesa: fiquei muito desiludida.
Arrependi-me mal cheguei, quando vi uma fila enorme só para comprar os bilhetes. Aliás: arrependi-me amargamente quando percebi que ela não andava. Demoramos 40 minutos só para comprar as entradas, o que acho absurdo e inaceitável. O sistema de filas era muito confuso, as funcionárias não punham ordem (havia ultrapassagens, a fila prioritária era usada indiscriminadamente) e dava logo vontade de atirar a toalha ao chão. Mas sobrevivemos.
A questão é que lá dentro não foi muito melhor. A única coisa que se safa são, precisamente, os animais - que também não são muitos. Cadê os leões e os tigres e essas coisas todas que se deviam ver na selva africana? As placas informativas sobre as espécies, quando existiam, estavam muito degradadas, tornando muitas vezes impossível a leitura; muitos dos animais estavam sozinhos; algumas das proteções eram mal pensadas, sendo quase impossível perceber que bichos é que viviam em cada espaço; a ilha dos primatas, para além de ficar longíssima, é deprimente - os animais estão tristes, a água à volta completamente suja e choca e a própria visibilidade para as ilhas era má, não sendo bom nem para eles nem para quem visita. Isto para não falar do próprio safari! Acho que nunca snifei tanto pó e tanto cheiro a gasolina de uma só vez. O guia do safari era muito simpático, é uma experiência gira, mas as condições em que é feito deixam muito a desejar. Pontos altos: a proximidade com as girafas (o animal mais bonito que vi, de uma imponência inacreditável), as jaulas abertas dos pássaros, em que é possível a interação com eles e um sentimento de proximidade maior que o normal e, claro, os suricatas. Adoptava um, já, já, já!
De resto, fica a vontade de voltar e ver tudo o que ficou por visitar ❤️ Mas voltar. Sempre.
Onde ficamos: em Óbidos, na Josefa d'Óbidos - é uma antiga hospedaria, remodelada em algumas partes, mas que não merece as 4 estrelas que lhe foram atribuídas. Os quartos de banho precisavam de uma reforma e o pequeno-almoço merecia mais. O aspeto exterior é mau, mas o interior é melhor, por isso não se assustem. A localização é muito boa. Já em Vila Nova de Milfontes ficamos no Três Marias, que mereceu um post meu, que podem ler aqui.
Onde jantamos: tivemos sempre muita dificuldade em arranjar onde jantar, não por falta de oferta, mas por estar tudo cheio! Convém pensar no assunto e reservar com antecedência. O jantar em Óbidos foi razoável, no Jamón Jamón; o melhor foram, de longe, os croquetes de alheira. O polvo assado que comemos depois também estava bom, mas não era nenhuma especialidade. Em Porto Covo jantamos na Taska do Xico um bom peixe grelhado, em Milfontes fomos a um dos restaurantes mais conhecidos (Porto das Barcas), onde acho que elevamos demasiado as expectativas e o preço foi um bocadinho puxado. A maior surpresa foi num restaurante a caminho da Zambujeira do Mar, a Barca Traquitanas, onde comemos uma massada de peixe de bradar aos céus! Tínhamos passado pelo restaurante, não demos nada por ele, mas acabamos por voltar... e valeu tanto a pena. Ainda hoje sonho com aquilo, foi mesmo o petisco que marcou todas as férias, aconselho vivamente.