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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

30
Jul19

O momento em que os sonhos passam a ser planos

Anda há uns tempos uma imagem do Facebook a perseguir-me que diz qualquer coisa como "um sonho escrito passa a ser um plano". Não posso dizer que seja uma surpresa. Mas não deixa de ser curioso que ela me apareça repetidamente, uma vez que já há algum tempo que escrevo os meus sonhos, com a plena consciência de que se tornam bem mais reais quando deixam de existir somente na minha cabeça e passam a passar para a realidade, nem que seja num qualquer suporte físico.

Desde que comecei a trabalhar nas fábricas que me faço sempre acompanhar do que chamei o meu caderno de trabalho, com todo o tipo de auxiliares de memória e apontamentos que me podem ser úteis, tanto amanhã como daqui a um ano. É lá que aponto tudo, onde quer que seja, às horas que der. As boas ideias surgem da mais pequena coisa, as conversas técnicas aparecem a meio de um jantar de família, a lembrança de algo importante a fazer não tem hora marcada para apontar. É lá que os meus sonhos ganham forma e passam a ser projetos.

Não me posso queixar de falta de ideias. Ainda há dias, entediada numa aula, fiz todo um plano de negócio numa página A4 - com os custos, as margens e todas essas ferramentas que um ano de curso tinha inevitavelmente que me dar. Não sei se o negócio vai para a frente - não é um sonho que tenha, ao contrário de outros projetos que já idealizo há muito mais tempo - mas foi diverti-lo pô-lo em teoria em pouco mais de uma hora. As minhas insónias recorrentes alimentam-se disso, da minha vontade de fazer mais, de ter uma coisa minha, diferente; de deixar o meu cunho num qualquer gap que esteja em falta no mercado. Uma amiga minha, quando me viu de férias, disse: "já não estou habituada a ver-te no dolce far niente, de certeza que vens do Algarve com um negócio montado". E passa um pouco por aí: o corpo pára, mas a mente está em constante movimento. Sou fisicamente sedentária, mas se o meu cérebro tivesse músculos tenho a certeza que seria super fit. Como disse no outro dia, acabei há dias uma maratona: mas não resisto em começar outra nova em breve.

27
Jul19

Uma carta à... #5 NOS

Querida Nos,

Tem calma: este post não vai ser uma reclamação, como as dezenas (centenas?) que recebes diariamente. Também não te entusiasmes: não vou estar aqui a elogiar os teus serviços, igual a todos os outros. Mas há uma coisa em que, desde o início, és brilhante: a publicidade. E isso há que admitir! Desde o "Don't Stop Me Now", que marcou o lançamento da marca, passando por vários anúncios geniais com o Bruno Nogueira. Mas, confesso, estes últimos é que me roubaram o coração: o duo Ana Bacalhau e Samuel Úria a cantar músicas em forma de serenata a jovens desesperados com dramas do século XXI (coisas gravíssimas como o acabar da net móvel ou o não ter wi-fi fora de casa) são a minha paixão dos últimos tempos. Daí a minha carta. O mundo precisa de ter aquelas canções completas e não apenas sketchs de 30 segundos. A genialidade não deve ter fim.

Até porque ainda há tantos assuntos do género por tratar e cantar! Como isto não pode ser só pedir e não dar nada em troca, eu tomei a liberdade de usar os meus parcos dotes de compositora para vos ajudar nesta árdua tarefa. Escrevi sobre três temas distintos: as falhas recorrentes das boxes, a lentidão da net e o momento em que o dinheiro do nosso cartão SIM chega ao fim. Peço-vos, por favor, que leiam isto ao som da melodia desenvolvida pela Ana e pelo Samuel, só assim isto resulta como deve ser. Ora vamos lá:

 

 

Se a box está sempre a falhar

Tu tem calma

Não a mandes para um certo lugar

Chama os nossos assistentes,

Eles são giros e carentes,

Acredita, eles não te vão falhar.

 

Se a tua net está lenta

É uma questão de tempo até recuperar

Não te irrites

Não nos grites

Prometemos uns convites

E ao cinema vais poder voltar.

 

Acabou-se o dinheiro no cartão?

É bom que tenhas umas notas à mão...

Vai buscar ao mealheiro,

Ao teu pai,

Ao galinheiro,

Paga o que deves ou pede ao teu irmão...

 

Posto isto, sinto que já fiz um grande contributo para a causa. Qualquer coisinha, é só apitar. Tenho a certeza que sabem o meu número, não é verdade? Essas bases de dados devem servir para alguma coisa de útil.

 

Beijinhos,

Carolina

26
Jul19

Chávena de Letras - "Estar vivo aleija"

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Sou suspeita: gosto bastante do Ricardo Araújo Pereira. Talvez por isso tenha saído um bocadinho desapontada depois da leitura deste livro, pois senti que conhecia muito daquilo que li: a história das batatas da avó (uma das suas melhores crónicas, para mim), do pão parvamente cortado e outros "clássicos", já dados a conhecer na rádio e noutras entrevistas.

Ainda assim, todas elas são pautadas pela sua piada inteligente, tão característica, e por pitadas de sarcasmo e acidez que dão mais sabor à leitura.

As crónicas são curtas, de fácil leitura - mesmo que o tema não cative (como houve alguns, no meu caso, relacionados com política brasileira), não é um "sacrifício" que dure muito.

É um bom livro para se ir lendo, crónica a crónica, quando nos apetece; ou para ler de fio a pavio, numa boa tarde de verão, enquanto ouvimos interiormente a tão conhecida voz do Ricardo a ler as suas piadas exclusivamente para nós.

 

As minhas crónicas favoritas: "Aquele Momento", "Amor e Batatas", "Curriculum Vitae", "Maus-tratos a Livros", "Chamaram-me um Nome" e "Perigo: Importantes Lições de Vida".

24
Jul19

Review da semana 27#

Pão Ancestral da Pachamama, Padaria artesanal

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O pão vai ser sempre o meu ponto fraco. Levem-me tudo: os doces, os chocolates, as batatas fritas, os gelados... Mas tirar-me o meu pãozinho com manteiga é matar-me.

Já tentei (e consegui) reduzi-lo muito da minha alimentação, mas é das coisas mais difíceis que posso fazer. Em fases em que me sentia mais gordinha, e por ter pouco onde cortar mais (por não beber álcool, pouco consumir refrigerantes, não colocar açúcar no chá, não comer durante a noite, entre outros pecados comuns que levam à engorda), tentei cortar nesta 8ª maravilha do mundo, mas nunca fui completamente bem sucedida. O meu amor por pão vai ao ponto do meu irmão, que vive em Inglaterra, me trazer sempre um mega pão delicioso que lá fazem (o sourdough) de cada vez que cá vem - e de essa ser a melhor prenda que ele me pode dar, de toda a panóplia de coisas que existe naquele país.

A questão é que, para além da engorda (não necessariamente associada à manteiga que acompanha o dito, porque gosto de pão sem nada), este alimento tem um defeito: o fermento. Tenho frequentemente crises de cólicas que, suspeito, são muito causadas por este ingrediente - para além de stress, que também é certamente culpado e me faz engolir ar de forma gratuita...

Mas, no que diz respeito ao pão e ao fermento, fiz uma bela descoberta há uns tempos. Quando fui à festa da comida continente, no Parque da Cidade, descobri a barraquinha da Pachamama, uma padaria artesanal um bocadinho diferente do habitual, que produz pães que são vendidos em grandes superfícies (nomeadamente no Continente e no Jumbo). Provei os vários produtos que eles lá tinham à disposição e, de todos, o meu preferido foi o Pão Ancestral - precisamente porque tem um travo amargo, semelhante ao pão inglês que tanto adoro! Qual não foi a minha surpresa quando vi que, para além de ser feito a partir de farinha de espelta, este pão não tem fermento!

Borrifei-me nas borlas e trouxe um pão para casa, para comer ao pequeno-almoço, e a experiência correu muito bem. É mais caro que os outros, mas dá-me quase para uma semana de torradas ao pequeno-almoço... E fica delicioso com aquela manteiga da Primor que já vos falei aqui. Pelo que se diz agora (sim, porque estas coisas mudam constantemente) a espelta é uma boa alternativa ao trigo convencional, sendo à partida uma opção mais saudável. Por isso é experimentar! Para além dos pães sem fermento há também uma grande seleção de pães sem glúten, por isso dá para todos os tipos de esquisitos ;)

Aconselho!

20
Jul19

Chávena de letras - "O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares"

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Já há muito tempo que me tinham aconselhado a leitura d'"O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares", nomeadamente aqui no blog, em alturas em que desesperei por algo que me voltasse a querer reaver os meus bons hábitos de leitura. Fui adiando até um dia comprar o livro... E adiando ainda mais até o começar a ler.

Não sou pessoa de gostar de temas fantasmagóricos e de coisas assustadoras; ninguém me apanha a ver um filme de terror ou a ler sobre espíritos. Não é para mim. E quando li a sinopse deste livro achei podia resvalar para alguma destas temáticas.

Agora percebo que não. Há muito pouco de assustador aqui - pelo menos não mais que nos restantes livros de fantasia - e, pelo contrário, não há falta de coisas ternurentas a que nós agarrarmos. Vejo o porquê de mo terem aconselhado em tempos onde a leitura não esteja a fluir: este é um livro que se lê de rajada, em que a narrativa empolgante é ajudada pelo correr fácil das páginas, a escrita simples e as imagens que fazem acompanhar todas as descrições de criaturas peculiares, remetendo-nos para os tempos de criança, em que a nossa imaginação era auxiliada pelas ilustrações e outros desenhos.

É uma obra boa para ler no verão, que não nos faz querer parar de ler até sabermos o seu desfecho  A história está nitidamente desenhada para ter uma continuação - que, se não me engano, já existe - visto que há, claramente, muitos mundos para explorar neste universo criado por Riggs.

Gostei.

19
Jul19

Faltam cinco meses para acabar o ano

Não houve maneira de fazer tudo com o preciosismo que queria e a exigência pela qual me pautei ao longo da minha vida. 2019 foi, até aqui, um ano de muitas conquistas, mas também com uma lista longa de coisas de que prescindi. Escrevi pouquíssimo, deixei de ler livros, cancelei a minha inscrição no ginásio, mal toquei piano, parei com os meus projetos relacionados com a organização de fotografias, não passei em blogs e muitas notícias passaram-me ao lado, ignorei que os fins-de-semana eram para descansar, adiei interminavelmente cafés, passei em branco muitos jantares, deixei de ir de férias com os meus pais em troca de cumprir prazos, trabalhos e ir a aulas. Houve momentos complicados. A gestão de tempo moeu-me. A pouca dedicação para coisas de que gosto foi difícil de aceitar.

Ter surgido um namorado nesta altura da minha vida não ajudou. Sofri, e ainda sofro, com a gestão que faço entre ele e tudo resto - querendo, ao mesmo tempo, estar com ele e não deixar de fazer nada. Conciliar isto com a relação fortíssima que sempre tive com os meus pais foi duro - e culpei-me muito por, durante tantos anos, ter dito que queria ficar sozinha. Não porque não acreditasse nisso, mas por sentir que não os preparei para este golpe duro que foi, de um dia para o outro, ter o meu coração dividido entre eles, de quem o meu amor será eterno, e outra pessoa. A verdade é que nem eu estava preparada, toda esta nova dinâmica apanhou-me desprevenida. Estamos todos ainda em fase de adaptação.

Mas eu queria muito que chegasse o dia em que a minha vida ia estabilizar, ter uma rotina que não implicasse prazos de trabalhos de grupo, de exames ou reuniões. Ansiei por estas férias - que, durante meses achei que não iam existir - por saber que seriam o fim de uma fase e o início de outra. Por ver nesta a oportunidade de finalmente equilibrar a balança.

Os dias de descanso estão a saber-me pela vida e, de cada vez que acordo, sinto vontade de recomeçar. Em pegar em tudo aquilo que ficou a meio, por acabar. Em voltar a fazer coisas que me fazem feliz - ler, escrever, aprender a tocar peças novas no meu piano. E arrancar com todos os planos novos que tenho em mente - e de fazer deles parte do meu dia, como fiz do curso o meu objetivo de um ano. Agora com mais força, mais completa e mais feliz. Por tudo aquilo que aprendi. Tudo aquilo que consegui. E, acima de tudo, por tudo o que conquistei.

 

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18
Jul19

5 dicas para fazer boas compras na internet

Muita gente fica admirada com a quantidade de coisas que mando vir da internet. Há dias em que estou vestida só com roupas que encomendei à distância. E também por causa disso acabo por ajudar muita gente neste processo, por confiarem mais em mim do que nelas próprias. Não há muitos segredos: é uma questão de hábito, de arriscar, de saber esperar e ter alguma tolerância à frustração - porque já se sabe que nem tudo corre conforme esperado.

Mas com base em tudo aquilo que fui vendo até aqui, dos medos que muita gente me disse que tinha em relação a este assunto, dos erros que fui cometendo e do que eu própria aprendi - depois várias centenas de encomendas- decidi fazer uma listagem de 5 coisas essenciais a ter em conta quando fazemos compras pela internet. Ora cá vai:

 

comprasonline.jpg

(imagem retirada da internet)

 

Ter espírito crítico

Antes de gostar do que quer que seja, de ver detalhes ou roupas, é essencial fazer uma avaliação do site onde fomos parar. É de uma loja que conhecemos, que tem presença física? Tem um url normal, com uma terminação conhecida (.com, .pt, .um, etc.)? O nome da loja corresponde ao url? A linguagem é profissional? As traduções são de qualidade? É preciso pensarmos nisto tudo se não queremos ser enganados.

Como já nasci neste "mundo", sinto que já faço esta avaliação de forma automática - mas vejo que para as pessoas mais velhas isto não é tão intuitivo. Não se deixem enganar por sites falsos, que dizem ser Michael Kors mas que têm malas a 20 euros e cujo link é qualquer coisa como "mk-cheap.tk". A internet é como a vida real: tem coisas boas e coisas más. Se vos oferecessem uma mala de luxo ao preço de uma mala da Parfois não desconfiavam?

 

Analisar a composição das peças e sua modelagem

É importante saber aquilo que gostamos e não gostamos - e para isso é preciso tocar em muitas peças e ver sempre a composição das mesmas, algo que a maioria das pessoas não se preocupa em fazer (porque nem sequer pensa nisso, o que é perfeitamente normal). Como cresci no ramo têxtil, sempre foi um desafio para mim perceber como e de quê que as peças são feitas: ora polyester, algodão, modal ou elastano; se é tecido ou malha; se é malha circular ou de teia. Sei que o toque do linho pode não ser simpático, assim como a lã se não for bem tratada; sei que não gosto do angorá porque deixa pêlo por todo o lado; sei que se a peça for só composta por elastano vai sair justa ao corpo. Coisas que se aprendem com a experiência e que nos dizem logo à partida como é que a peça nos vai cair e como nos vamos sentir com ela. Para isso, basta ter atenção aos detalhes e o conhecimento vai-se entranhando. Não esquecer, no entanto, que diferentes tratamentos ao fio ou ao pano podem dar diferentes resultados, pelo que não podemos julgar uma peça só pela sua composição.

Para além disso é sempre importante ver como é que as peças caem no corpo - ou seja, ter fotografias de modelos com a roupa vestida. Só assim conseguimos perceber se a t-shirt é comprida e larga, se o gancho das calças e alto ou baixo ou até onde vão as meias. A cereja no topo do bolo é conseguir saber as medidas das modelos, assim como o tamanho das roupas que vestem, para se estabelecer pontos de comparação entre nós e as elas. Tanto as características das peças como das manequins estão normalmente escondidas em janelinhas que dizem "outras informações" - sites como a Mango ou a Zara costumam disponibilizar estes dados.

 

Ver sempre as políticas de devolução

Comprar online compensa o risco se pudermos devolver as peças. A possibilidade de trocar não é, muitas vezes, um bom negócio - porque, por azar, não gostamos de mais nada da loja ou porque a qualidade deixou muito a desejar, por exemplo. É essencial vermos se podemos devolver e como o podemos fazer. O grupo Inditex tem políticas de devolução óptimas, por exemplo; já na H&M tem de se devolver as peças por correio (ainda que seja grátis), o que obriga uma pessoa a deslocar-se ao posto mais próximo e, como se diz em bom português, a perder tempo. Para mim o ideal é a recolha em casa ou o poder devolver em loja - apesar desta última solução também exigir que nos desloquemos, mas é sempre uma hipótese de vermos outras coisas que gostamos ou experimentar um tamanho diferente de uma peça que apreciamos mas que não nos assentou como devia. Há ainda outro caso: se comprarmos coisas da China em preço de saldo não vale a pena questionarmo-nos se vamos devolver alguma coisa. Não vamos. O envio fica, provavelmente, tão ou mais caro que a peça em si - por isso, quando a compramos, temos de ter sempre isso em mente.

 

Ter em atenção os métodos de pagamento

A transferência direta é, sem dúvida, o método mais duvidoso. Se o site tem protocolos com o PayPal ou o MbWay, a história é outra;  fornecer uma referência de multibanco (para pagar através de "pagamentos de serviços" hoje em dia também é comum e aceitável. Mas é sempre de evitar fazer transferências para uma conta que desconhecemos. E nunca, mas mesmo nunca, devemos dar os dados do nosso cartão de crédito por e-mail ou derivados. Se o vosso método de pagamento preferencial for o pagamento por cartão, aconselho a que o façam através do PayPal ou criem um cartão virtual através do MbWay, em que o dinheiro lá depositado é limitado. Assim, se tudo correr mal e no pior dos cenários forem vítimas de phishing, os danos são muito mais controlados.

 

Conhecer o nosso próprio corpo

No que diz respeito às roupa, e de forma a sermos bem sucedidos, é essencial conhecermos bem o nosso corpo; saber o que fica bem e mal, o que nos favorece ou piora. Conhecer estilos genéricos de peças é bom. O que me fica bem? Calças à boca de sino ou skinny jeans? Cintura subida ou mais baixa? Vestidos midi ou curtos? Camisolas com peplum ou retas? Mangas caviadas ou curtas?

Tudo isto vai acontecendo de forma natural à medida que vamos experimentando coisas. Estabelecermos paralelismos com o formato do corpo das manequins também ajuda: se a peça lhe fica bem a ela, que tem ancas largas, se calhar também me fica bem a mim ;) Em todo o caso, se a política de devoluções for boa, podemos sempre arriscar e ir experimentando novos estilos que vão surgindo anualmente. Podemos ter sorte e encontrar novas peças favoritas. Caso contrário, devolve-se e o problema fica resolvido!

17
Jul19

Chávena de letras - "Se esta rua falasse"

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Os livros da Alfaguara têm o dom de me conquistar pela capa. Este "Se esta rua falasse" não foi excepção. O título também ajudou.

Mas a verdade é que tudo o resto me desiludiu. Não gostos de livros abertos, sem fins claros. Esta é uma obra pura, até dolorosamente pura, que retrata a vida dos pretos na América até há umas décadas atrás; as injustiças, as desigualdades, a diferença de tratamento em relação aos brancos. Algo que, se calhar, dura até hoje - ainda que mais disfarçado. Os paradoxos daquilo que se sente, do que se quer fazer... É tudo tão real quanto confuso.

Em termos da narrativa, foi como se não saísse do sítio. Passaram-se nove meses, entre o início e o fim do livro, excluindo os flashbacks - e tudo parece ter ficado igual. É um tanto ao quanto desmotivante - embora espelhe exatamente aquilo que o livro quer transmitir. A inércia. A tristeza. A incapacidade de fazermos algo.

Não digo que não seja um bom livro. Só não é o meu tipo de livro, algo cuja leitura me dê prazer.

16
Jul19

Um passeio pela Costa Vicentina

Alentejo_Junho_Tlm-81.jpg

 

Já o disse: ir ao Alentejo era um desejo antigo. Tinha imaginado esta viagem de muitas formas: ora com amigos, ora sozinha numa espécie de retiro, ora na loucura numa autocaravana alugada, pronta para dormir ao som do bater das ondas. Acabou por não ser de nenhuma dessas formas: fui com o meu namorado e foi maravilhoso. 

O Alentejo não desiludiu. Mas soube a pouco - embora tentássemos aproveitar tudo ao máximo. Ainda deu para ver algumas praias, comer bem (viva a sericaia e o peixinho grelhado!), conhecer mais um bocadinho e até dar um mergulhinho!

Optamos por não fazer a viagem de rajada e fizemos algumas paragens estratégicas. A primeira foi nas Grutas da Moeda - uma estreia para mim, que nunca tinha entrado em nada do género. Apanhamos a última visita guiada do dia, a uma sexta-feira, por isso estava tudo muito calmo. Não me fez aflição nenhuma estar debaixo de terra e achei as grutas em muito bom estado de conservação. Todo o tratamento que lhe deram, ao nível das luzes, torna tudo ainda mais giro - e até mágico. O guia, sempre simpático, também ajudou a que fosse tudo muito agradável - explicou a formação das estalactites e estalagmites, mostrou-nos ossadas de uns animais que caíram para dentro da gruta e fazia-nos sempre puxar pela imaginação, tentado fazer-nos visualizar animais e outras formas nas rochas por onde íamos passando. A visita dura cerca de meia hora (não chega para nos sentirmos sufocados) e eu lembrei-me recorrentemente de uma coisa que o meu pai sempre me disse: se nos queixamos da nossa profissão, agora pensem nos mineiros! Dos poucos minutos que lá estive fiquei com a pele toda oleosa e sempre com alguma vontade de, literalmente, ver a luz ao fundo do túnel. E foi só meia hora! Tentar imaginar o que é passar dias inteiros ali fechados é só aterrador - já para não falar do próprio trabalho, exigente a nível físico e cujo fator segurança não é lá muito positivo. Deu para pôr as coisas em perspetiva e, só por isso, já valeu a pena! Para além de que foi uma experiência nova, bonita, que aconselho a todos. 

 

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Nas Grutas da Moeda

 

A primeira noite foi passada em Óbidos - terra onde já tinha feito uma paragem rápida o ano passado, que nem tinha dado para absorver bem a coisa. Fiquei surpreendida porque de noite não se via vivalma - lembrei-me até de Veneza, onde tive exatamente a mesma sensação. A dicotomia noite-dia é impressionante. Esperei que no dia seguinte estivesse uma avalanche de gente (tal como estava quando lá tinha ido), mas não: o facto de não estar a decorrer nenhum daqueles eventos dentro do castelo deve ter ajudado, tornando o passeio muito mais agradável e as ruas bem mais transitáveis. Confirmei aquilo que já desconfiava: Óbidos é um mimo. Adoro o conceito, adoro a cores, adoro as lojinhas, adoro as muralhas, adoro as vielas, os declives e os pormenores em cada recanto. As lojinhas com um toque tradicional derretem-me, os espaços alterados para a conjugação de duas coisas improváveis (tipo uma livraria e uma mercearia ou uma livraria e uma igreja) fazem de mim uma criança feliz. Gosto mesmo muito de vilas com história e sei que um dia lá vou voltar. 

TRÊS MARIAS (4).png

Paragem seguinte: Peniche. Também foi uma estreia para mim, nunca lá tinha ido. Estava tudo um bocado caótico: apanhamos uma prova de triatlo, que ia fechar muitas das ruas da cidade, por isso foi praticamente almoçar e vir embora. Também, sejamos sinceros: aquela ventania não convidava a grandes passeios. O vento estava presente em todo o país e não passamos por nenhum sítio onde não o sentíssemos, mas Peniche ganhou aos pontos neste campeonato. Ainda assim deu para fazer uma visita ao Cabo Carvoeiro e à Fortaleza de Peniche, prisão de muitos presos políticos, conhecida pela fuga de muitos deles (incluindo Álvaro Cunhal). Neste momento está transformado no Museu da Resistência e da Liberdade e a entrada é livre - só pagam se quiserem os audio-guias, que não me parecem muito necessários, até porque têm descrições em todos os locais. Os espaços abertos são poucos - têm o parlatório (local de conversa entre os prisioneiros e os visitantes), a sala de visitas (onde chegaram a decorrer alguns casamentos) e o segredo (a solitária). Isto para além das vistas da Fortaleza para o mar, obviamente muito bonitas (segunda foto do lado direito, na montagem abaixo). Mas confesso que fiquei um pouco desiludida, acho que há muito mais a explorar num local destes - nem que fosse a oportunidade de ver uma cela, para se ter noção das condições em que lá se vivia. Esperemos que seja uma coisa a melhorar a médio prazo. 

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As Berlengas lá atrás

 

vistas alentejo.png

 

Depois sim, rumamos até Milfontes, onde ficava o nosso hotel - As Três Marias, conforme já contei aqui. Visitamos várias praias (pelo menos aquelas com acessos minimamente decentes) e tentamos encontrar aquela que estivesse mais protegida do vento, para podermos tomar um banho. Escolhemos a Zambujeira no Mar, que tem toda uma arriba que nos protegia daquelas rajadas do diabo. E se cá em cima estava frio, lá em baixo estava um pequeno forno, mesmo com os singelos 22ºC de temperatura que se faziam sentir. Foi o primeiro mergulho do ano e soube pela vida!

Ainda fomos a Porto Côvo (enquanto ouvíamos o Rui Veloso no carro, obviamente) e demos outros passeios pela costa, meios à deriva e a ver até onde as estradas nos levavam. Não tínhamos grandes horas nem planos, por isso fomos à descoberta. Também por isso acabo por não conseguir precisar muitos dos sítios por onde passamos.

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Na Zambujeira da Mar

 

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No dia da vinda, em que tínhamos pensado fazer praia, acabamos por mudar de planos e ir até ao Badoca Safari Park. A verdade é que podemos ir à praia muitas vezes, mas não é todos os dias que estamos a lado do único safari em Portugal. E eu adianto-me já e ponho as fichas na mesa: fiquei muito desiludida.

Arrependi-me mal cheguei, quando vi uma fila enorme só para comprar os bilhetes. Aliás: arrependi-me amargamente quando percebi que ela não andava. Demoramos 40 minutos só para comprar as entradas, o que acho absurdo e inaceitável. O sistema de filas era muito confuso, as funcionárias não punham ordem (havia ultrapassagens, a fila prioritária era usada indiscriminadamente) e dava logo vontade de atirar a toalha ao chão. Mas sobrevivemos.

A questão é que lá dentro não foi muito melhor. A única coisa que se safa são, precisamente, os animais - que também não são muitos. Cadê os leões e os tigres e essas coisas todas que se deviam ver na selva africana? As placas informativas sobre as espécies, quando existiam, estavam muito degradadas, tornando muitas vezes impossível a leitura; muitos dos animais estavam sozinhos; algumas das proteções eram mal pensadas, sendo quase impossível perceber que bichos é que viviam em cada espaço; a ilha dos primatas, para além de ficar longíssima, é deprimente - os animais estão tristes, a água à volta completamente suja e choca e a própria visibilidade para as ilhas era má, não sendo bom nem para eles nem para quem visita. Isto para não falar do próprio safari! Acho que nunca snifei tanto pó e tanto cheiro a gasolina de uma só vez. O guia do safari era muito simpático, é uma experiência gira, mas as condições em que é feito deixam muito a desejar. Pontos altos: a proximidade com as girafas (o animal mais bonito que vi, de uma imponência inacreditável), as jaulas abertas dos pássaros, em que é possível a interação com eles e um sentimento de proximidade maior que o normal e, claro, os suricatas. Adoptava um, já, já, já! 

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TRÊS MARIAS (2).png

De resto, fica a vontade de voltar e ver tudo o que ficou por visitar ❤️ Mas voltar. Sempre.

 

Onde ficamos: em Óbidos, na Josefa d'Óbidos - é uma antiga hospedaria, remodelada em algumas partes, mas que não merece as 4 estrelas que lhe foram atribuídas. Os quartos de banho precisavam de uma reforma e o pequeno-almoço merecia mais. O aspeto exterior é mau, mas o interior é melhor, por isso não se assustem. A localização é muito boa. Já em Vila Nova de Milfontes ficamos no Três Marias, que mereceu um post meu, que podem ler aqui.

Onde jantamos: tivemos sempre muita dificuldade em arranjar onde jantar, não por falta de oferta, mas por estar tudo cheio! Convém pensar no assunto e reservar com antecedência. O jantar em Óbidos foi razoável, no Jamón Jamón; o melhor foram, de longe, os croquetes de alheira. O polvo assado que comemos depois também estava bom, mas não era nenhuma especialidade. Em Porto Covo jantamos na Taska do Xico um bom peixe grelhado, em Milfontes fomos a um dos restaurantes mais conhecidos (Porto das Barcas), onde acho que elevamos demasiado as expectativas e o preço foi um bocadinho puxado. A maior surpresa foi num restaurante a caminho da Zambujeira do Mar, a Barca Traquitanas, onde comemos uma massada de peixe de bradar aos céus! Tínhamos passado pelo restaurante, não demos nada por ele, mas acabamos por voltar... e valeu tanto a pena. Ainda hoje sonho com aquilo, foi mesmo o petisco que marcou todas as férias, aconselho vivamente.

11
Jul19

Há um ano estava nos Açores

Há uns dias perguntaram-me qual o destino do mundo, para onde tinha viajado, que mais tinha gostado. Eu respondi: "para além dos Açores?".

Acho que isso diz tudo.

Há precisamente um ano eu estava na ilha, sem saber que me esperava uma das melhores semanas da minha vida. É difícil explicar a importância que aqueles dias tiveram para mim. Foram a recolha de um conjunto de provas que eu precisava para comprovar tudo o que dizia até ali: que podia viajar sozinha, que me safava sozinha. Que podia ser feliz sozinha. E fui.

Não houve uma pinga de solidão naqueles dias. Percebi que era assim porque sabia que quando voltasse ia ter uma série de braços abertos para me receber, estrafagar e apertar com mimos. Porque sabia que estava sozinha ali, mas não estava só. E o concretizar dessa dicotomia, que me perseguiu durante tantos e tantos anos, foi o equivalente a um respirar de alívio. Pude desfrutar de mim mesma - sem o stress de querer agradar aos outros, de fazer a vontade aos outros, de ter outros na equação. Foi a sensação de liberdade mais profunda que senti até hoje - uma mistura que, hoje vejo, também tem muito de egoísta. Mas é o que é. Sou assim. Fiz as pazes comigo mesma naquela terra, aceitei-me. E acreditei em mim mesma, em tudo aquilo que dizia e que queria. Ganhei forças para este ano que passou - e que tanto exigiu de mim - e sinto que fui buscar muito àquelas paisagens e àquele silêncio. E, acima de tudo, muita vontade de voltar.

Por tudo isto, os Açores terão para sempre um significado especial para mim. Hei-de sempre falar das ilhas com um brilhozinho nos olhos, de quem se sente eternamente grata pelas coisas mais bonitas que viu na vida. Por tudo o que aprendeu. E por toda a paz que absorveu. Sou hoje uma pessoa mais feliz por ter lá ido.

 

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