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Eu estava a precisar de um fim-de-semana fora como de pão para a boca. Desde Setembro que ainda não tinha feito férias e o meu cérebro já pedia misericórdia - principalmente por todas as mudanças consecutivas no âmbito de trabalho (ora têxteis, ora piano, ora contabilidade e gestão). Contei afincadamente os dias para me meter no avião e ir para Londres - uma visita de médico, ir sexta e voltar domingo, mas que me soube pela vida. Mudar de ares consegue fazer milagres.
Mentiria se não dissesse que esta foi uma viagem especial. Foi, porque foi a primeira viagem que fiz com o meu namorado; foi a primeira vez que estivemos juntos durante 24 horas, sem trabalho pelo meio, sem cada um ter de ir para suas casas ao final da noite. Em que superamos questões que diariamente dão discussões em casais pelo mundo inteiro tal como "onde é que vamos comer?", em que partilhamos casa de banho e as decisões do dia-a-dia. E a verdade é que foi incrível.
O plano inicial era irmos aos estúdios da Warner Bros, do Harry Potter, do qual ambos somos fãs. Compramos as viagens, marcamos hotel (pensando que tudo isto seria prioritário) e, quando vamos ao site dos estúdios comprar bilhete, damos (ainda que virtualmente) com o nariz na porta. Já só há bilhetes para Julho - a menos que se comprem packs por agências que incluem viagens de ida e volta e cujos preços são ainda mais inflacionados que o normal (uma negociata qualquer com a Warner Bros que devia ser proibida, mas enfim). Ficamos com pena, mas Londres é muito mais do que aquilo: por isso fomos à descoberta.
Esta foi a minha terceira visita à capital inglesa mas a primeira dele, por isso quis dar-lhe um cheirinho de tudo aquilo que Londres é para mim - a cidade que, apesar de cinzenta, seria provavelmente aquela que escolheria para viver se fosse obrigada a sair do meu país.
Tivemos sorte com o hotel (Grange Wellington Hotel), que fica num edifício antigo, tipicamente inglês, localizado na zona de Westminster. A envolvência era muito calma, com um parque e casas vitorianas a toda a volta; no fundo estávamos muito perto de tudo mas longe da azáfama que é a Londres citadina que sempre conheci. Apesar da aparência antiga do exterior, o interior era todo renovado e o quarto (assim como a casa de banho) era muito agradável e espaçoso o suficiente para se circular e não nos sentirmos apertados. A única coisa que não adorei foi o pequeno-almoço: a comida era boa e fresca, mas os funcionários não eram muito simpáticos e achei a distinção entre "english breakfast" e "continental breakfast" um bocadinho parva... como a minha reserva só incluía o pequeno-almoço continental não tínhamos direito a comer os pratos "quentes", pelo que havia uma zona onde não podíamos tocar. Não que a mim me faça diferença, pois sou pessoa de ó comer pão com manteiga ao pequeno-almoço, mas achei um tanto ao quanto indelicado, como quem diz "ali não podem comer, é só para clientes de ordem superior"...
Cresci a ouvir falar dos teatros em Londres, de como tudo era magnífico. Da última vez que lá estive, há três anos, fomos ver o Mamma Mia e fiquei fã. Queria muito repetir a experiência (com outro espetáculo) e levar o meu namorado comigo - e enquanto esperávamos pelo avião no aeroporto (era TAP e atrasou como sempre...!), fomos pesquisando algo que interessasse a ambos e que não custasse mais do que a estadia do nosso hotel e viagens juntos... Tivemos de também de conjugar a nossa disponibilidade com os poucos lugares que já havia vagos e, no meio disto tudo, surgiu o Witness of the Prosecution - um teatro baseado numa obra da Agatha Christie. As reviews eram na generalidade muito boas e havia uma sessão no dia da nossa chegada, por isso foi o escolhido.
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Cartaz do espetáculo
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County Hall, local do espetáculo
A peça acontece no County Hall e decorre naquilo que parece ser o centro de um parlamento, em forma de hemiciclo. Só por isso já é giro e diferenciador - e faz sentido, uma vez que toda a peça decorre à volta de um julgamento e parte do público faz até parte integrante da ação. As voltas e reviravoltas que a história dá, muito ao estilo de Agatha Christie, mantêm-nos presos à trama - mesmo nos momentos mais lentos. Confesso que depois de um dia de viagem houve alturas em que o sono apertou, mas de uma forma geral gostei muito da peça e das interpretações - e o final, claro, foi inesperado, ou não fosse esta uma peça escrita pela mestre do crime! Não é um musical e, como tal, não nos traz aquela boa disposição e energia com que fiquei no Mamma Mia - mas saímos de lá enriquecidos e com um segredo no bolso que, como é óbvio, não podemos revelar. ;) Não aconselho a quem não tenha um entendimento muito bom do inglês - com dicções menos boas e a rapidez com que eles falam, nem sempre é fácil entender tudo, por isso é necessário ter um bom conhecimento da língua.
É engraçado como fomos bafejados pela sorte com muitas das pessoas que se cruzaram no nosso caminho durante a viagem. Durante o intervalo da peça um casal de americanos, do Texas, meteu conversa connosco - e do nada já estávamos a falar de Fátima, dos pastéis de nata, do bacalhau e de como eles tinham mesmo de vir a Portugal. Mal aterramos tivemos também uma surpresa boa: quando íamos comprar os bilhetes para o comboio até ao centro da cidade, um casal, a dirigir-se para o aeroporto, vem ter connosco e oferece-nos os seus bilhetes de transportes públicos, válidos até ao resto daquele dia. Andamos de comboio e metro durante sem pagar um cêntimo e graças à boa-vontade de um casal, que podia perfeitamente ter levado os bilhetes consigo e ter-se borrifado para os outros. Achei um gesto mesmo muito bonito.
À chegada ao hotel, já preparadíssimos para pôr em prática o nosso saber da língua inglesa, recebe-nos uma portuguesa - contentíssima por, nesse dia, já serem os segundos conterrâneos que conhece. E, já no fim da viagem, à ida para o aeroporto e num comboio atolado de gente (com carruagens vazias mas fechadas ao público - não se percebe...), sem lugar para me sentar, um italiano ofereceu-me o seu lugar. Ao meu lado ficou uma inglesa que também meteu conversa connosco - e lá voltei eu à conversa do bacalhau e de como a senhora tinha de visitar Portugal. Aprendam comigo: a conversa do bacalhau não falha! Ajudou a que a viagem passasse mais rápido e, por a senhora ser nativa, faz-nos sentir muito mais integrados - conhecermos pessoas que vivem nas terras que estamos a visitar é, talvez, a melhor forma de sentirmos que aquela cultura ficou verdadeiramente entranhada em nós.
Apanhamos um tempo incrível e por isso quisemos usufruir ao máximo dos outdoors em vez de nos metermos em locais interiores. Nas horas em que choveu aproveitamos para ir ao Madame Tussauds (que eu também nunca tinha ido) e foi um momento divertido. Fiquei de coração partido por já não estar lá a estátua do Robert Pattinson, mas enfim, penso que seja o destino - agora que tenho namorado, já me tiraram o homem inglês do caminho...
Compramos os bilhetes pela internet e todo aquele sistema de entradas é um bocado confuso (é feito por slots de horas, mas há filas diferentes em vários locais, o melhor é sempre perguntar). Apesar de estar cheio de gente e do preço não ser barato, acho que é algo giro de se fazer (principalmente se não quisermos ver museus mais "pesados" e estivermos à procura de uma escapadela mais descontraída) e transforma-se numa recordação que se leva para a vida. Há algumas estátuas mais bem conseguidas que outras, atrações pagas (como uma viagem ao mundo do Sherlock Holmes ou as fotografias com o Harry e a Meghan), mas passam-se ali um par de horas num abrir e piscar de olhos. Para mim uma das minhas partes favoritas foi o percurso de "táxi" que se faz dentro da história de Londres.
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Picamos o ponto em todos os lugares principais: Buckingham Palace, Picadilly Circus, Oxford Street, Westminster Abbey (nunca lá tinha passado e fiquei um pouco desiludidade, pois achei que era muito maior, devido às fotos do casamento da Kate e do William), Leicester Square, Westminster Bridge, etc. Outro dos locais que, para mim, é obrigatório é Camden Town: fomos numa altura em que choveu um bocadinho mas é sempre um local com graça, com todo o tipo de pessoas e estilos, óptimo para quem está no mood para compras e coisas mais fora da caixa (que não foi o meu caso). Ainda tentei passar pelo estúdio de fotografia que me roubou mais gargalhadas em toda a minha vida, onde me vesti de dama antiga, mas creio que já fechou... É pena. Almoçamos por lá, demos uma volta, rimo-nos com algumas personagens que passaram por nós e foi um bom bocado. Ah!, e já que não conseguimos ir aos estúdios dos Harry Potter fizemos uma paragem rápida em Kings Cross, onde deixamos umas libras na loja dedicada aos filmes porque, apesar de adultos, no que toca a HP, ainda somos umas autênticas crianças.
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Vista para o London Eye da Ponte de Westminster
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Westminster Abbey
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Leicester Square
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Oxford Street
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Palácio de Buckingham
Acabamos por passar uma boa porção de tempo a passear por parques, eu toda embevecida a olhar para patos, gansos e, claro, os esquilos. Parecia uma criança eufórica quando vi um esquilo a passar-me à frente! Por sorte apanhamos um local onde viviam três "papagaios" (não sei se eram de facto papagaios ou outro tipo de aves), que várias pessoas alimentavam. Mais uma vez fomos presenteados pela simpatia dos locais, que nos deram para a mão muitos frutos secos e por isso passamos largos minutos a fazer vídeos e a tirar fotos com os pássaros, enquanto os chamávamos e eles pousavam nas nossas mãos, enquanto enxotávamos as pombas com o resto do corpo (uma delas agarrou-se ao meu soutien; na altura não teve graça!). Foram momentos completamente improvisados mas que, honestamente, vão ser dos que vão ficar mais marcados na minha memória.
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Carolina embevecida com os animais, parte 1
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Carolina embevecida com os animais, parte 2
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A tentar uma transferência do passáro de mão para mão
Passei também pela zona rica das embaixadas, perto do nosso hotel, que depois acaba por ir dar ao Harrods. Pelo meio ainda atravessamos a ChinaTown lá do sítio, local onde também nunca tinha estado. Por estas pequenas "pérolas" pelo caminho é que vale muito a pena conhecer uma cidade a pé e perder tempo a explora-la, mesmo nos locais que não aparecem nos mapas como sendo turísticos. Tenho para mim que a verdadeira essência das cidades está nos sítios onde menos esperamos.
Londres, por ser uma cidade enorme, tem muito que ver - e a zona onde ficamos hospedados influencia muito os locais que visitamos, pois nunca queremos sair muito de um determinado raio. Ainda não foi desta que fui a Portobello Road, à Tower Bridge, a Cheshire Street ou ao Old Spitalfield Market (assim como o Borough Market): coisas que já tinha na agenda mas cujo tempo não deu para tudo. Por um lado é bom: assim ficamos com mais uma razão para um dia lá voltar.
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Pelo bairro de Westminster
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Chinatown
O que faltou ver: Portobello Road, Tower Bridge, Cheshire Street, Old Spitalfield Market, Borough Market. Museu britânico. Estúdios da Warner Bros.
Onde fui comer: Jamie's Italian em Victoria Street (nada de especial); Tozi's (italiano, no bairro de Westminster, comemos uma boa carne e o espaço é bastante agradável); Loco Locale (também italiano, em frente ao County Hall, razoável).
Onde fiquei: Grange Wellington Hotel, em Westminster.
Relato da minha viagem a Londres em 2016, aqui.