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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

29
Mar19

Menu de fim-de-semana: o instagram do Wandson Lisboa

Já não sei como nem porquê que conheci o Wandson, mas aconteceu na melhor altura possível: o dia em que ele ficou preso na casa de banho de um Alfa Pendular, no caminho entre o Porto e Lisboa. Chorei a rir com os seus insta stories desesperados, tentando abrir a porta encravada e pedindo assistência a umas turistas, com o seu inglês abrasileirado. Ainda me rio só de pensar.

Esta é por isso a minha sugestão de fim-de-semana: o Wandson é um designer brasileiro que vive aqui no Porto, é louco por ToyStory e leva o prémio do autor dos melhores instastories de sempre (incluindo, obviamente, os do comboio, que ainda podem assistir nos seus destaques com o nome "S.O.S."). Apesar de ter um feed giríssimo, com construções artísticas e muito originais, confesso que são os instastories que roubam o meu coração. Nunca me imaginei ansiosa por assistir ao unboxing de um frigorífico (e dizer adeus ao seu "DoubleDoor" (que é como quem diz Dumbledoor)) ou mega entusiasmada ao assistir canções a serem cantadas por animojis. Mas é verdade, aconteceu. Entre coisas meio parvas como as suas frases típicas - "paga finos" , "ídolo acessível" ou "A-MI-ZA-DE" - e brincadeiras com situações caricatas do dia-a-dia, o instagram do Wandson é dos que mais me alegra os dias. Para além de que ele é giro, simpático, fofinho... e tem aquele sotaque brasileiro que dá um apertozinho no coração, né?

Oupa, é só seguir aqui e dar cor aos vossos dias. Para desgraças já chega o telejornal.

 

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(foto daqui)

28
Mar19

Existe excesso de método e de organização?

Se falarem com a minha mãe é provável que ela vos diga que eu sou um nadinha desarrumada. Eu diria que tenho dias, até porque não consigo viver com as coisas desalinhadas e fora do sítio durante muito tempo. Mas uma coisa é inegável: eu sou organizada. Adoro ter um sítio para tudo, arranjar soluções lógicas para guardar cada coisa num respetivo local. Tenho montes de caixas, caixinhas, caixotes, sacas, saquinhas, sacolas e tudo o que sirva para compartimentar espaços e deixar tudo no seu devido lugar.

Custa-me um bocadinho admitir isto, mas cá vai: organizar as coisas com método e lógica é algo que me dá prazer. Não só por gostar de saber onde estão os objetos mas também porque gosto de pensar em formas inteligentes de as arrumar. Há só um pequeno senão: por vezes meto-me em empreitadas tão grandes, tão complexas, que é preciso muita força de vontade (que, às vezes, perco) para as terminar, acabando as coisas por ficar em banho-maria durante demasiado tempo. Aliás, basta olhar para os meus objetivos para este ano e perceber que dois dos pontos têm que ver com organização (a elaboração do álbum de vida dos meu avós, que implica scannar e catalogar todas as fotos tiradas ao longo da sua vida, e a própria reorganização das minhas fotos, algo que já comecei e que prevejo que me vá demorar um ano inteiro a concluir). 

Só há uns dias é que percebi que isto de organizar tudo é uma mania já antiga. Relembrei os tempos em que fazia colares, pulseiras e outras bijutarias e cheguei à conclusão que passava mais tempo na minha bancada a organizar as coisas (pôr as peças por cores, colocar etiquetas nas gavetas, fazer uma utilização optimizada do espaço, pôr os diferentes tipos de mosquetões em saquinhos vários, etc.) do que propriamente a conceber peças.

Sabendo disto e pensando que me enfio em projetos que prevejo que demorem um ano a serem concretizados, ontem passou-me uma ideia terrível pela cabeça: será que há um limite para o método e para a organização? Existe isto da "organização em excesso"? Ou seja: organizar tanto que às vezes não compensa o retorno e as vantagens que traz, acabando por ser trabalho, tempo e até material gasto em vão?

Eu, organizadora assumida, gosto de pensar que não. Que a longo prazo, o tempo que poupamos a não procurar as coisas compensa tudo o resto. Mas suponho que dependa das perspetivas e da forma de ser de cada um de nós. Eu acho que já não tenho cura: só a ideia de me livrar das minhas caixinhas e etiquetas me dá suores frios, por isso prefiro perder tempo a organizar tudo, não me vá dar um fanico. Se me der, ao menos morro descansada: quem ficar a arrumar as minhas coisas saberá onde está tudo. Isto dá ou não dá paz a uma pessoa?

 

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26
Mar19

As nossas roupas também influenciam as nossas atitudes

Se me perguntarem qual é o meu estilo eu não sei responder. Aliás, provavelmente lanço até outra questão: mas tenho mesmo de ter um estilo? Tenho de me auto-definir, de caber numa certa categoria?

Porque a verdade é que sou incapaz de o fazer. Não sei se é por, nesse aspeto, ser um espírito livre ou se durante os dois anos em que trabalhei no jornal, em que consumi e vi muita moda, acabei por agregar em mim uma miscelânea de tendências e de estilos que não consigo categorizar. Mas não sinto que algo me defina, até porque todos os dias mudo de ideias em relação ao que vou vestir. Gosto muito das minhas calças de ganga e sapatilhas, tal como gosto das calças de tecido com um salto alto, um vestido ou um macacão mais elegante. Depende da minha disposição, do meu dia, dos meus afazeres. Posso hoje estar mega desportiva e amanhã estar muito mais formal. Só porque me apetece, porque todas essas facetas vivem em mim e eu não sou só uma coisa.

Gosto de pensar que a moda é mais um meio que temos de expressar a nossa personalidade e o nosso estado de espírito. E eu, como todos, tenho dias. Mais felizes (roupa primaveril), mais tristes (roupa escura), mais feminina (vestidos), mais masculina (calças de ganga e sweater), mais gorda (roupa larga), mais magra (roupa justa), mais irreverente (conjuntos menos prováveis), a jogar pelo mais seguro (tragam-me os básicos), mais bonita (roupa pensada com mais detalhe) ou mais feia (aqueles dias em que nenhuma das peças do roupeiro nos fica bem e por isso vestimos qualquer coisa). Também por isto não gosto de planear a minha roupa na noite anterior: eu sei lá o que me vai apetecer usar no dia seguinte!

Mas é engraçado ver que aquilo que fazemos também pode influenciar este aspeto da nossa vida. Agora que estou nas empresas da família, e embora não se possa dizer propriamente que estou fora da minha zona de conforto, sinto que preciso de todos os pedacinhos de força e inspiração que consiga arranjar - principalmente nos dias mais complicados. Não tenho qualquer tipo de dress code na empresa nem me obrigo a cumprir um plano mental - faço como sempre fiz, enquanto trabalhadora ou estudante: visto o que me apetece e o que acho mais adequado perante o dia que tenho pela frente.

O engraçado é que hoje em dia tenho muito mais tendência para vestir roupas formais do que tinha dantes. Isto porque adoro o conforto de umas calças de ganga e das minhas sapatilhas, mas tragam-me um blazer e uns saltos altos e eu sinto que sou capaz de conquistar o mundo.

25
Mar19

A "senhora professora" *

É um bocadinho assustador perceber o quão importante o piano se tornou para mim nos últimos tempos. Em Setembro de 2017, ao perceber que me estava a tornar numa miúda que só falava de trabalho, achei que voltar a tocar seria uma boa forma de me distrair e de pensar noutras coisas para além de têxteis-moda-notícias-jornais e etc. O que eu nunca poderia imaginar é que ano e meio depois estava não só a aprender como a dar aulas – e capaz de aguentar o barco, ensinando todo o tipo de alunos, sempre que necessário.

Se pensar bem, fiz com o piano o mesmo que fiz com a escrita (e que achei que nunca voltaria a fazer): tornar um hobbie no meu trabalho. Acho que, frequentemente, isto resulta na aniquilação de um passatempo, algo que nos relaxava e fazia bem, para a criação de mais uma responsabilidade e uma coisa que nem sempre nos apetece fazer (como tudo o que é obrigatório nesta vida). Mas não consegui rejeitar esta oportunidade – acho que é disto que se faz a vida, no agarrar de pequenas oportunidades que por vezes nos parecem descabidas e descontextualizadas, completamente fora do nosso plano, mas que se tornam importantes para nós e que eventualmente nos adoçam os dias.

Hoje, dentro da instabilidade constante que é a minha vida, já consegui chegar a um certo equilíbrio – dou aulas duas vezes por semana, só a adultos. Percebi durante o primeiro mês que não conseguia ensinar crianças – aliás, eu conseguia... mas sofria demasiado pelo caminho. Não sou uma pessoa que goste de lidar com os mais novos, tenho dificuldade em perceber porque é que se portam mal, sou demasiado exigente e fico nervosa por não conseguir que eles façam aquilo que eu planeava para eles, o que acabava por não tornar as aulas prazerosas nem para eles nem para mim. Nessa altura foi importante voltar a lembrar-me que isto era um hobbie – para eles e para mim, ainda que esteja a ser recompensada por ele – e que não fazia sentido que nenhum de nós não estivesse a retirar prazer daquilo. E, daí em diante, foi essa a minha condição: dou aulas, mas não a miúdos (a não ser em casos excepcionais). E tudo melhorou.

Continua a ser um desafio – tanto ao nível da gestão de tempo como de aprendizagens, porque também eu tenho de aprender certas coisas antes de lhes ensinar – mas, nesta dose, tem sido recompensador. Acho que melhorei muito a minha capacidade de interagir com os outros, de perceber o estilo e os limites de cada um. Continuo a ficar muito surpreendida de cada vez que alguém dá um feedback positivo sobre mim e sobre as minhas aulas, porque sempre pensei em mim como um bicho-do-buraco que não nasceu para lidar com pessoas. E, no fundo, isto é um crescimento útil para o resto da minha vida, independentemente do que venha fazer a seguir.

Estou a delinear o meu caminho e acho que estou no trilho certo. Faz confusão a muitos que eu não esteja inteiramente dedicada a uma só coisa – ou nas empresas da família, ou a ensinar piano, ou a terminar a pós-graduação – mas a verdade é que acho que esta miscelânea é tudo o que melhor me define. Nunca fui óptima a fazer uma coisa, mas sempre fui boa a fazer muitas, por isso sinto que esta fase meio caótica da minha vida me assenta que nem uma luva.

É lógico que um dia vou ter de assentar. Quando a minha posição nas fábricas começar a ficar mais definida e me começar a cair trabalho a sério – algo que, espero, só comece a acontecer mais a meio do ano, porque prefiro acabar a pós-graduação sem essa pressão extra – eventualmente vou ter de prescindir destes pequenos devaneios, que me ocupam tempo mas que dão cor à minha vida. Até lá, podem continuar a chamar-me de professora (e eu continuarei sempre incrédula a olhar para trás e a pensar: “quem, eu?!”).

 

*e sim, tenho alunos mais velhos que me tratam por “senhora professora”. Respeitinho, hã?!

 

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22
Mar19

Menu de fim-de-semana: as redes sociais da Control

Hoje tenho mesmo de partilhar uma das contas de Instagram que mais me tem arrancado gargalhadas nos últimos tempos. O objetivo era ter feito este post pela altura do dia dos namorados - a época rainha da venda dos preservativos - mas a coisa passou e, afinal de contas, todos os dias são bons para falar de métodos contraceptivos, não é verdade? Então façam aquilo que vos digo: sigam a Control nas redes sociais.

Para mim esta é uma das marcas que tem feito dos trabalhos de marketing mais geniais que tenho visto nos últimos tempos. Porque é muito fácil brincar com o tópico sexo, mas nem sempre se conseguem fazer piadas inteligentes e atuais como eles fazem. Há coisas que são feitas em cima da hora, porque não há maneira de se preverem (estou a lembrar-me desta publicação, na altura em que aquele ovo foi a publicação com mais likes do Instagram ou uma brincadeira com aquela polémica da comida do Chef Kiko em Marte) e outras claramente pensadas, com trocadilhos ou mensagens subliminares que só nos fazem pensar "quem foi a mente brilhante que se lembrou disto?".

Como alguém da área imagino que não deva ser fácil tratar do marketing de uma empresa de preservativos. Primeiro porque não há assim tanta coisa para dizer sobre este tipo de produtos - eles bem inventam sabores e formas e tamanhos e texturas... mas nunca vai deixar de ser um bocado de látex com uma forma fálica (pelo menos os preservativos, já que eles agora têm outras coisas). E, quer queiramos quer não, este é ainda um tópico sensível - e lembro-me bem da Control já ter feito algumas apostas falhadas, como um jogo de poses sexuais em pleno NOS Alive - uma ideia claramente infeliz. Mas a verdade é que a diferença só se faz arriscando, não é a fazer igual. E estas imagens, um tanto ao quanto despretensiosas, mas que ao mesmo tempo espelham a visão criativa e jovem da marca, são o sinónimo de uma bela campanha e de grandes marketeers. Conseguem nunca falar de sexo e, ao mesmo tempo, tê-lo sempre como assunto central. Conseguem ter graça sem nunca serem propriamente piadas. Conseguem ser picantes sem serem porcos. E conseguem vender o produto sem nunca nos falarem dele. 

Mais não posso dizer. Ponham like e riam-se um bocadinho todos os dias de cada vez que fazem scroll nas redes sociais. Juro que vai valer a pena. Instagram e Facebook.

 

(clicar nas setas para ver mais imagens)

20
Mar19

Vinte e quatro anos

Simpatizo muito mais com números pares; não sei porquê, mas dão-me uma ideia mais reconfortante e redonda do que os números ímpares, que na minha cabeça estão repletos de  arestas e picos e coisas não tão fofinhas. Por isso disse sempre que até gostava da ideia de me livrar dos 23 anos e passar para um número par.

Comecei a pensar sobre os meus 23 e reparei que houve, de facto, arestas. Lombas, chamar-lhe-ia. Ou uns buracos na estrada. Que, na verdade, fui eu que construi. Aos 23 saí do jornal, comecei a trabalhar com o meu pai, inscrevi-me numa pós-graduação, comecei a dar aulas de piano. E a sensação de estar perdida - algo que aconteceu muitas vezes, quase todos os dias deste meu ano 23 - foi compensada com o conforto de me sentir em controlo da minha vida e de finalmente estar a seguir o caminho que sonhei desde miúda.

Acho que foi o ano em que mais arrisquei e em que mais bati o pé - tanto aos outros como a mim mesma, aos meus preconceitos, medos e ideias demasiado enraizadas. Foi provavelmente o ano da minha vida com mais apostas de longo prazo, em que esqueci o prazer imediato, e em que pus todas as fichas na minha resiliência; sinto que colei os meus pés na terra e gritei "daqui não saio, daqui ninguém me tira", já a antever todos os ventos fortes e tempestades que se avizinhavam. Até ver, aguentei. Aguentei o peso emocional e a carga de trabalho que implicou voltar a estudar e aguentei os pequenos terramotos provocados pelo simples facto de viver com a mesma pessoa com quem trabalho e com quem passei a partilhar opiniões e decisões estratégicas de uma empresa.

Hoje entro nos 24 - número par, redondinho e bonito - e despeço-me dos 23 com um agradecimento profundo a todas as lombas que instalei no meu próprio caminho. Quase que fiz as pazes com os números ímpares, porque percebi que as arestas também podem ser uma coisa boa; se não fossem elas, se tudo fosse redondo e liso, não havia mudanças de direção. E quase tudo o que eu fiz nestes meus 23 foi definir ângulos de mudança, usar a régua e o esquadro e escrever a lápis o caminho por onde é suposto ir - nunca me esquecendo que posso apagar, mudar de ideias e voltar atrás... Mas que ao menos o risco já está traçado. Só falta mesmo percorre-lo.

Que os 24 continuem a ser uma bela viagem. Eu estou aqui, do lado da janela, à espera de ter boas vistas.

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18
Mar19

A palavra de segurança

Se as vossas mentes são perversas e, ao lerem este título, se lembraram imediatamente das 50 Sombras de Grey e das boas práticas do sadomasoquismo, é bom que tirem já o cavalinho da chuva. Não venho falar dessas palavras de segurança... pelo menos, não nesse contexto (ninguém nos diz que a mesma palavra não pode ter várias funções, não é verdade?).

Lembro-me de ver num vídeo de um casal a fazer um balanço do seu casamento e um dos truques que diziam utilizar para uma boa harmonia dentro de casa era ter uma palavra de segurança. Para quê? Para avisar o outro que a probabilidade de aparvalhar, de se irritar ou se passar à mínima coisa é grande, ainda que o outro não tenha qualquer culpa no cartório. Porque, admitamos, a nossa tendência é sempre essa: atirar para cima dos outros – em particular aqueles que nos são mais próximos, que amamos e que nos aturam todos os dias – as frustrações e irritações do dia-a-dia. Às vezes basta uma frase mal dita, uma interpretação mal feita (que acontece quase sempre, porque as alterações de humor têm muito disso) ou algo dito com uma certa entoação para fazer estalar o vidro e impulsionar alguma discussão. E isto acontece porque, por um lado, quem está irritado não tem tolerância perante o outro e o outro não sabe que tem de ter cuidado com o que diz e com o que faz porque o companheiro está, nesse dia, feita uma autêntica florzinha de cheiro.

Acho que isto acontece com todos nós, independentemente do nosso trabalho ou da nossa personalidade; acontece a quem manda porque tem muitas responsabilidades, acontece a quem é mandado porque o chefe não sabe mandar, acontece a quem não faz nada porque os maus dias são umas espécie de lotaria que pode acontecer a qualquer um, desde que se acorde de manhã.

Há dias assim, nem sempre tudo corre como queremos e lidar com as frustrações é só uma das milhões de coisas que temos de aprender a lidar durante a nossa vida. Há quem faça esta gestão melhor, outros pior, mas parece-me que ter uma forma de avisar os outros que aquele não está a ser um bom dia devia estar em qualquer manual de boas práticas de “como viver em harmonia debaixo do mesmo teto”. Poupavam-se muitas discussões, muitos mal-entendidos, e muitas falhas de percepção – assim como um enorme desgaste emocional, uma vez que não é fácil ter de, diariamente, perceber o estado de humor das pessoas com quem vivemos e ter de as tratar com pézinhos de lã antes de conseguirmos fazer o nosso diagnóstico.

Por isso mais vale evitar chatices e, nesses dias, chegar a casa e gritar “banana!”. Ou “Stupeffy!”, para os fãs de Harry Potter. “Darth Vader”, já que mexe com o lado negro da força, também me parece uma expressão adequada para avisar os outros que constituímos um perigo para a paz caseira. Ou, por exemplo, “rede de pesca”, para quem quem gosta de coisas mais marítimas. Ou simplesmente “dia mau” - embora menos imaginativo, cumpre bem a função. E todos sabemos que há, simplesmente, dias assim.

17
Mar19

Quanto mais viajo mais gosto do meu país

Voltei há dias de Munique, numa pequena viagem de duas noites para visitar uma feira. Foi um dejá vù: já cá tinha estado há dois anos, também em trabalho mas noutro papel, e acabei por ficar exatamente no mesmo hotel e percorrer os mesmos caminhos, já bem conhecidos pelas botas que trazia calçadas. Se daquela vez tinha sido um desafio - a minha primeira viagem de trabalho, sozinha, num país que não conhecia e não percebia nada da língua, com o stress de ter de fazer um trabalho que não me era natural e para o qual tinha de me esgotar emocionalmente para fazer bem - desta vez já fui bem mais confortável. Primeiro porque os meus pais vieram comigo (invertemos a situação mais comum e fui eu que lhes apresentei a cidade), segundo porque já sabia ao que ia e terceiro porque, entre estas duas ocasiões já tenho umas quantas viagens e outras experiências no lombo para me dar mais traquejo e sentir mais confortável.

No entanto, acho que quando cá vim pela primeira vez estava tão absorvida pela novidade, pelo stress e pelo cansaço que nem consegui reparar numa série de coisas que numa viagem comum me saltariam à vista. E desta vez, embora só tenha passado pouco mais de um dia na cidade, deu para registar uma série de factos e opiniões sobre Munique... E perceber o quão bom é viver em Portugal.

 

A primeira coisa é, claramente, a meteorologia. Enquanto em Portugal já andamos a sacar os vestidinhos e as camisolas mais finas do roupeiro, lá continua um frio de bater o dente. Penso que a temperatura mínima que apanhamos foi de 3º C., mas a sensação térmica era um par de graus abaixo – tudo devido ao vento gélido que se fazia sentir e que nos rasgava por dentro, independentemente do número de camadas que tínhamos vestidas por cima do corpo. Eu, que sou assumidamente um bambi no que ao frio diz respeito, andava embrulhada até ao nariz, mas nem isso impediu que ficasse gelada até aos ossos. E pensar que já andei de vestido e sem casaco no nosso querido Portugal!

A sensação de segurança é outra das coisas que, ainda hoje, é uma das grandes vantagens do nosso país – mesmo estando cada vez mais na moda e tendo as cidades inundadas de turistas. O nosso hotel era muito perto da Hauptbahnhof (a estação central) – ou seja, um sítio extremamente concorrido, onde se espera encontrar muitas pessoas – mas à noite as redondezas eram um tanto ao quanto assustadoras. Não sei onde é que as mulheres se metem à noite nesta cidade alemã, mas ali não era de certeza – até porque 95% das pessoas que passavam por nós eram homens, e não particularmente com bom aspeto. Sei que, se estivesse sozinha, não me sentiria segura – tanto nas ruas como, por exemplo, nas estações de metro, que se tornam autênticos subterrâneos fantasma depois das 22h.

A pobreza e a prostituição são outra das coisas que, à partida, não associamos à Alemanha, mas que há de sobra. A zona onde fiquei tinha muitos night clubs com meninas pouco vestidas à porta, pedintes por todo o lado, bêbados caídos em cada recanto e homens a aliviarem a bexiga em sítios demasiado visíveis para o meu gosto. Eu, pelo menos, cresci com uma noção de uma Alemanha muito rígida, em que tudo era feito de forma rigorosa; onde se cumpriam as regras, os limites; onde havia um civismo implícito. Não sei se isso nunca existiu ou se é um paradigma que está a mudar, mas senti a diferença desde há dois anos para cá...

Por fim, falar de um detalhe que me impressiona, tendo em conta que aqui em Portugal somos precisamente o oposto: faz-me aflição que muitos deles, mesmo quando se apercebem que não falamos alemão, continuem a dizer as coisas como se nada fosse. Aliás, a feira onde fui tinha muitos stands alemães apenas com descrições na sua própria língua... o que dá uma ideia de nacionalismo e de uma enorme falta de vontade e disponibilidade de interagir com os outros, mesmo podendo tratar-se de potenciais clientes. Posso estar mal habituada, por nós aqui tentarmos sempre falar línguas alheias, ainda que metamos a línguagem gestual, o portunhol ou o portuinglês pelo meio... mas não me parece que este seja um bom prenúncio. Passamos a vida a apregoar que a União Europeia devia funcionar como um só, mas as cisões entre países são cada vez mais evidentes.

 

Fiz pouco turismo, daí que este não seja um dos meus típicos posts de viagem. Mas, feliz ou infelizmente, este parece-me um texto igualmente importante. Viajar é bom... mas voltar a casa é óptimo. E é bom sabermos apreciar aquilo que temos e este cantinho à beira-mar plantado 

 

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10
Mar19

A história por detrás das fotografias

Estou a cumprir com um dos meus objetivos de 2019 e já me lancei à empreitada que vai ser arrumar a minha gigante pasta de fotos digitais - aliás, pastas, no plural. Centenas delas. Se o quiser cumprir vai ter mesmo de ser assim: aos pouquinhos mas com muita frequência e desde do início do ano, que isto não vai ser uma coisa que vá conseguir resolver de um dia para o outro só para fazer "check" na resolução de ano novo.

A primeira fase já está completa: dividir todas as pastas pré-existentes por anos. Agora entrei na segunda, bem mais demorada: esmiuçar pastas macro (coisas como "fotos de iphone"), com milhares de fotos incategorizadas - e tantas outras incategorizáveis - que depositei no meu computador só com o objetivo de reaver espaço no meu telemóvel ou cartões de memória a abarrotar pelas costuras. Este tipo de pastas são o meu pior pesadelo e aquilo que aconselho sempre a que ninguém faça - mas é como diz no ditado, "faz o que eu digo, não faças o que eu faço".

No que aos telemóveis diz respeito esta é mesmo a saída mais comum; já há muitos anos que arquivo com data as fotos tiradas com a máquina, mas os telemóveis com câmara vieram acrescentar todo um nível de complexidade a este campo: porque inicialmente as partilhas das fotos para o computador não eram tão fáceis, porque tiramos fotografias a coisas absolutamente desnecessárias e desinteressantes (muita vezes só com o objetivo de registar algo, coisa que antes fazíamos utilizando o bloco de notas, por exemplo) e porque, por ser um telemóvel e não apenas um dispositivo que tira fotografias, vamos deixando acumular. Já deitei milhares de fotos fora - entre selfies, fotos de livros, de outras coisas que queria comprar, 45789 imagens manhosas dos meus cães e etc. - e já criei pastas para outras tantas que encontrei e que perderia caso não estivesse a fazer esta seleção. A fase seguinte, depois de me desfazer destas pastas monstruosas e de ter tudo dividido por anos, vai ser entrar em cada uma das subpastas e deitar todas as fotos más-repetidas-tremidas-desfocadas para a reciclagem. Mas até lá chegarmos, upa upa - temos muito caminho para percorrer!

A parte boa disto tudo é que tenho apanhado uns tesourinhos que me fazem quase ganhar o dia. Vídeos e fotos que nem sabia que existiam, ora dos meus sobrinhos a cantarem-me os parabéns, ora de colegas de turma a dançarem no balneário, entre outras pérolas. Mas é a mexer em fotos antigas que relembro que há duas fase de Carolina. Quase tipo A.C. e D.C., mas em que o "C.", em vez de Cristo, é o meu nome. Há uma fase clara em que sinto que renasci. Mais: há uma foto que marca esse momento.

Depois de um episódio triste que marcou a minha pré-adolescência, que já relatei há alguns anos aqui, sinto que congelei no tempo. Houve um período de mais de um ano em que passei um borrão e não era eu, era apenas uma fase de transição. Olho para as fotos dessa altura - fáceis de distinguir, porque foi a fase em que estive mais gordinha em de toda a minha vida - e não me reconheço. Honestamente, já quase nem me lembro. Percebo hoje o esforço que fiz para voltar a gostar de mim mesma, depois de me ter deixado engordar daquela forma e sou capaz de entender os sorrisos que fui reavendo com o passar do tempo. Assim se mede a intensidade de um acontecimento: não só pela forma como reagimos na altura em que ele aconteceu, mas também pela maneira (e dificuldade) com que nos reerguemos depois de ele passar. Sei que, para além de mim, mais ninguém consegue ver este tipo de coisas apenas a olhar para uma foto.

Durante as minhas limpezas dei de caras com a foto que durante mais tempo esteve no background do meu telemóvel. Ninguém diria que aquela simples fotografia, onde nem a cara aparece, foi um turning point. Lembro-me bem de a tirar, na casa de banho, com a minha camisola preferida do momento: da Zara, com muito elastano, com riscas transversais brancas e cinzentas. Bem justinha ao corpo. Foi ela que me fez aceitar que já não era a miúda gordinha que tinha sido. Fez também ela parte da minha transição para aquilo que sou hoje. 

É isto que adoro nas fotografias, a capacidade de me fazerem viajar no tempo, de conseguirem ajudar a (re)construir um bocadinho da história de alguém - e principalmente a minha. Relembrar o que fui, o que pensava, onde estava, o porquê de ter tirado aquela fotografia. Como era. Quem era.

Tenho pena que hoje em dia se use tanto a fotografia para manipular os outros: ora para se fingir que se tem a vida perfeita, o dinheiro para comprar uma mala Louis Vuitton, que se vai ao ginásio cinco vezes por semana ou para vender um produto qualquer de maquilhagem. Não quer dizer que essas fotos não tenham histórias por detrás; quer só dizer que não foram tiradas com o propósito certo - e o propósito certo, em muitas ocasiões, é mesmo não ter um propósito.

A fotografia vai muito além da cara cortada, do queixo marcado por algumas espinhas da adolescência e de uma camisola às riscas. É tudo aquilo que não se vê nos pixels, mas que eu sei que é tão ou mais importante do que tudo aquilo que lhes dá cor. É a capacidade de viajarmos no tempo. De voltarmos a calçar os nossos próprios sapatos e pensarmos "afinal é por isto que cheguei aqui". Cada foto é uma história, só que muitas vezes não nos lembramos dela.

 

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07
Mar19

Os meus auto-retratos

Muitas das fotos que partilho aqui e nas minhas redes sociais são auto-retratos. Já tinha falado disto aqui, neste post, mas nunca expliquei ao certo como o fazia e o porquê de o fazer.

Sempre que me dizem que sou muito fotogénica digo para não acreditarem em tudo o que vêem. Não sou pouco fotogénica, é verdade, mas as fotos que mostro ao mundo são resultado de muita paciência e persistência da minha parte de forma a tirar a fotografia, aos meus olhos, perfeita. Tenho sempre uma visão muito concreta daquilo que quero - do ângulo, do sítio onde me posiciono, do tipo de focagem - e pôr essa visão nas mãos de alguém, mais do que perigoso, é injusto. As pessoas não estão dentro da minha cabeça, não são obrigadas a ler e a perceber tudo aquilo que eu quero. Por isso, e em vez de ser chata e demasiado exigente com quem já me está a fazer um favor, desde há uns dois anos para cá que sou eu que tiro as minhas próprias fotos (a não ser em eventos ou qualquer outra ocasião especial).

Como? Escolho um fundo, trato da luminosidade - quanto mais, melhor, e de preferência sempre luzes amareladas (com luzes brancas fico com um ar de morta -, preparo o tripé, a máquina (tem de estar em modo automático, o manual vai interferir com a focagem, e com o modo de fotografia em controlo remoto) e o próprio comando (o que tenho não é da marca, que custam uma fortuna, mas dos comprados no ebay).

Depois é só disparar. E paciência caso os resultados não saiam brilhantes à primeira. Ou à segunda. Ou à terceira. Ou à 56ª vez. ;)

 

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A escolha do set é sempre essencial: não convém ter muitos ruídos. Normalmente fotografo sempre no meu quarto e fico sempre próxima da câmara, de forma a que fique eu focada e tudo o resto bem mais esbatido.

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O controlo remoto que mandei vir da internet. Não funciona às mil maravilhas (basta afastar-me a mais de metro e meio que ele começa a querer falhar) e os próprios materiais são fracos, mas serve para o efeito e o preço (perto de um euro) compensa imenso o investimento. O meu já tem uns anos e continua no ativo.

 

Neste caso, queria fotografar um momento fofinho com a Molly e o Panzer. Eis o resultado:

ComCaes-10.jpg

ComCaes-6.jpg

 

Outros auto-retratos:

Autoretrato_Abril (6).jpg

Autoretrato_Agosto18 (9).JPG

Auto-retrato_Fev18 (10).JPG

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