A minha experiência num concurso de escrita criativa
A minha irmã diz que eu entro em tudo para ganhar - quem a ouvir, quase pensa que sou uma fera competitiva! Mas a verdade - aliás, a minha verdade -, é que gosto de dar o meu melhor em tudo o que faço. No entanto, entendo perfeitamente que se devem escolher as batalhas em que lutamos, porque ser-se bom a tudo é perfeitamente irrealista. Por exemplo: se eu, algures no secundário, ficasse chateada por perder todos os jogos que fazia em educação física, era hoje um pessoa em profundo estado de depressão.
Foi então com este espírito que me inscrevi, o ano passado, num concurso de escrita criativa. Nunca foi meu objetivo ganhar (até porque o prémio - publicar um livro - não me interessava, visto que não tenho nada escrito para publicar...), mas fi-lo pelo gozo da participação e para testar os meus próprios limites no que à escrita diz respeito. Isto porque, apesar de adorar escrever, sinto que não consigo sair muito deste meu registo pessoal e introspetivo, que resultam numa espécie de crónicas ou artigos de opinião, o que pode ser um grande entrave para um dos meus grandes sonhos, que é publicar um livro de ficção; sempre achei que a minha capacidade de imaginar histórias e narrativas que extravasassem a minha vida era muito limitada, e isso entristecia-me. E por isso atirei-me ao desafio, para ver se conseguia pensar fora da caixa.
Acho que nesse aspeto consegui superar-me, embora com algumas dificuldades. Eram-nos dados temas todas as semanas, que tinham depois de ser explorados em textos muito curtos, que de alguma forma tinham de contar uma história com princípio, meio e fim. Se adorei? Confesso que não, embora a culpa não seja tanto do conteúdo do concurso mas sim da sua forma. Vou elencar algumas das coisas que fui achando:
- Textos muito curtos, embora explorem a capacidade de síntese de quem escreve, são quase sempre redutores no desenvolvimento de uma narrativa. Se queremos contar a história toda, temos de cortar nos detalhes; se queremos dar detalhes, temos de sacrificar a história. É um meio termo muito difícil, ainda para mais quando a nossa escrita está a ser avaliada. Percebo que é importante para quem avalia impor uma medida pequena para que seja mais fácil a leitura, mas acaba por sacrificar um pouco o conceito do próprio concurso.
- Sinto que a avaliação não espelhava a qualidade dos textos e não os diferenciava entre si. Com isto não quero dizer que me tenha sentido injustiçada ou ache que os meus textos eram melhores que os dos outros; a questão é que todos eles - os meus e os dos outros - eram avaliados de forma praticamente igual. A escala de pontuações era de um a 20 - no entanto, era quase tudo despachado de 13 a 16. Faz lembrar aqueles professores que nunca dão 20, porque nunca ninguém chegará a atingir esse nível de genialidade. Acho que se há uma escala, é para ser usada em toda a sua dimensão, sendo que a partir do momento em que nos assumimos como avaliadores, não devemos ter medo de dar nem pontuações baixas, nem pontuações altas. Dar sempre 13, 14, 15 e 16, como dizia o outro, é "peanurs".
- Por fim, e ainda no campo da avaliação - e confesso que isto foi das coisas que mais me desmotivou -, o facto de me ter apercebido que ganhavam sempre as mesmas pessoas. Não vejam isto como mau perder da minha parte ou mesmo uma insinuação de qualquer espécie: mas eu acho estranho que, num concurso de escrita, ganhem quase sempre os mesmos. Escrever não é como na matemática, em que sabemos ou não sabemos; na escrita, há dias em que estamos menos inspirados, outros em que o tema não nos diz tanto, e ainda outros em que o estilo da narrativa que nos exigem não é a nossa praia. Acho difícil, num concurso com temas tão diversos, que as melhores pontuações sejam sempre para os mesmos. Percebo que se possa gostar mais de um estilo de escrita do que de outros, revelando aí já alguma tendência, mas que nesses casos deve ser atenuada com racionalidade extra e sensibilidade ao ponto de percebermos que um texto é bom e está bem escrito, ainda que não seja o nosso estilo de eleição.
E então o que é que retirei de tudo isto? Primeiro, que sou capaz de escrever outras coisas para além das que partilho aqui - embora sejam estas, sem dúvida, que me dão mais gozo (para além de serem as mais puras e as que mais me libertam a mente). Segundo, que me importo pouco se as pessoas gostam ou não daquilo que eu escrevo, a partir do momento em que me sinto confiante com aquilo que fiz.
A verdade é que produzia sempre aqueles textos sob pressão - de tempo e de número de palavras - por isso nunca pude mesmo dar vida a uma ideia, conforme teria gostado. Achei alguns dos temas interessantes e que teriam pano para mangas, se houvesse mais liberdade para os explorar - e com isto consegui perceber que até consigo desenvolver ideias e personagens, ainda que sempre um tanto ao quanto rebuscadas, o que me deixou mais descansada em relação ao futuro (embora a minha família tenha ficado um bocadinho preocupada em relação às minhas ideias mirabolantes, que eu por vezes partilhava à hora de almoço, para seu grande regozijo ou horror, dependendo dos casos). Não acho que vá voltar a participar em algo deste género, por me sentir demasiado restringida, mas acho uma ideia gira para quem quiser alargar os seus horizontes, criar hábitos de escrita ou até sair de uma crise de página branca. E, quem sabe, até pode ser o início de um bom livro.
(querem que publique aqui um dos textos que escrevi, só para terem uma ideia do que saiu dali?)