A palavra do meu ano
Este é capaz de ser o ano mais fácil de caracterizar de sempre. Uma palavra reinou: mudança.
Despedi-me do trabalho no jornal, comecei a trabalhar com o meu pai, voltei à faculdade, iniciei (e deixei) a arte de dar aulas de piano, viajei sozinha, perdi grande parte dos meus hábitos de escrita. Foi todo um mundo novo para mim - e quem me conhece sabe perfeitamente que coisas novas não me deixam muito confortável.
Foi também um ano de coragem. Eu não estava feliz no meu antigo local de trabalho mas, quando decidi que ia enveredar nos negócios de família, sabia que tudo ia piorar - pelo menos nos primeiros tempos. Não é fácil trabalhar com família. Não é fácil ser indispensável num trabalho e ser inútil noutro. Não é fácil ser a filha do patrão. Não é fácil lidar com a expectativa - as nossas e as dos outros. Não é fácil ouvir e estar calada, sob o mote de não termos qualquer tipo de experiência. Não é fácil não ter uma rotina definida. Não é fácil impor-me. Não é fácil. Não foi fácil. Não está a ser fácil. Mas eu quero muito acreditar que vai valer a pena e que tudo isto faz parte de um processo de dor e sacrifício indispensáveis para que algo maior possa acontecer a médio prazo.
Tudo o que aconteceu foi, em parte, o impor da minha personalidade ao mundo - mais do que em qualquer discussão ou ato de rebeldia que algum dia possa ter tido. O ir, o fazer, o aceitar, o desafiar-me foi quase uma forma de bater o pé e dizer que eu consigo, mesmo que os outros achem que não.
Ir para os Açores sozinha foi a coisa mais maravilhosa que fiz este ano, a memória mais preciosa que guardo destes últimos 365 dias - foi tudo aquilo que queria, que precisava e que sonhava. Foi o sabor a liberdade mais puro que encontrei na vida. E que bom foi perceber que eu me aguento e sou feliz comigo mesma!
Aceitar dar aulas de piano, em particular a crianças, foi das coisas mais malucas que fiz - e, mais tarde, desistir foi duro. Percebi que apesar de adorar piano e gostar de ensinar adultos, estar com os mais novos não é algo para o qual tenha nascido - e embora sempre tenha dito isso, enfrentar essa realidade, todos esses pensamentos e as minhas próprias reações foi doloroso.
Ouvi muitas vezes, este ano, coisas como "não te imaginava a fazer isso". Não me imaginavam a dar aulas a miúdos. Não me imaginavam a tirar um curso de gestão. Não me imaginavam com coragem para ir sozinha para outro local passar férias. Não me imaginavam com vontade de ir para o chão de fábrica, de sujar as mãos, de descer dos escritórios para a linha de trabalho.
Pois que 2018 foi só o início. Sei que 2019 não trará menos desafios. Sei que será, igualmente, o sinónimo de muitas vezes ter de me pôr fora da minha zona de conforto. Sei que será duro, mas também sei que tenho todas as minhas flechas apontadas para o meu novo papel e que as coisas vão acontecer. Melhor ou pior, mais rápido ou de forma mais lenta, mais fácil ou dificilmente. Tudo o que peço é saúde para poder enfrentar tudo isso e alguma estabilidade. A coragem também vai dar jeito. O resto arranja-se.
Bom ano, meus queridos leitores. Espero escrever-vos mais no ano que se aproxima.