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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

17
Set18

Uma breve passagem por Bratislava, na Eslováquia

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A minha passagem por Bratislava não passou mesmo disso: uma passagem. A capital da Eslováquia fica a meio caminho entre Praga e Budapeste, pelo que é a paragem perfeita para esticar as pernas, comer qualquer coisa e fazer mais um "check" na nossa lista de capitais e de países por onde já passamos. Demoramos cerca de 4 horas a lá chegar - saídos de Praga - e depois ainda passamos mais três horas dentro do autocarro para ir até Budapeste. Estava muito preocupada com estas horas de viagem, principalmente tendo em conta que nunca fui muito fã de viagens de autocarro, mas devo dizer que não foi nada por aí além: entre um estado de meio-sono e o embalo da música que pus nos auriculares, a coisa fez-se bem.

Ou seja: eu não posso dizer que conheci Bratislava. Foi um passeio agradável, digamos. Mas a verdade é que fiquei com a ideia de que não é uma cidade que tenha muito que ver e onde compense ir de forma exclusiva, sem passar por outras cidades ou países.

Tivemos cerca de uma hora para passear no centro depois do almoço (curiosamente o restaurante era precisamente em frente à embaixada portuguesa), parte dela feita com uma guia que nos fez uma breve introdução à capital e explicou alguns dos edifícios que vimos. Como só vagueamos por aquela zona, o Castelo de Bratislava - que dizem ser um dos pontos a visitar na cidade - ficou de fora dos planos. Confesso que não fiz grande pesquisa sobre a cidade porque sabia que não ia ter tempo para a explorar. Fui sem expectativas e sem planos - e, com tão pouco tempo, era difícil defraudar qualquer um dos dois.

Como não tenho muito para dizer, prefiro mostrar fotos e legendar com aquilo que sei e as impressões que fui ficando. Ora vamos lá:

 

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A Catedral de São Martinho, uma das maiores e mais antigas da cidade, que foi o local de coroação de vários reis entre 1563 e 1830. Não houve tempo para ver o seu interior

 

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A embaixada portuguesa que, curiosamente, ficava precisamente em frente ao local onde almoçamos

 

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O local onde Mozart deu o seu primeiro concerto, aos 6 anos. Metade das peças que tocou já eram compostas por ele. Um génio. (Nesta fase da minha vida, ai de mim que não tirasse uma foto aqui!)

 

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Provavelmente a estátua mais conhecida e visita de Bratilslava: o Cumil, mais conhecido por Man at Work, que representa um homem deveras trabalhador que nos seus muitos tempos livres se punha nesta posição para espreitar por debaixo das saias das senhoras. Há muitas estátuas engraçadas (e bem feitas) nesta cidade. Podem ver mais algumas neste site.

 

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A estátua de Hans Christian Andersen é outra das tais. De frente pode parecer uma estátua normal, mas nas suas costas estão algumas personagens dos muitos contos infantis que escreveu. Daquilo que percebo, Hans nunca viveu nesta cidade, mas referiu-se uma vez a ela como sendo um autêntico conto de fadas.

 

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A praça principal, que tem uma fonte no centro, e em onde o protagonismo vai para o Old Town Hall, que atualmente alberga o Museu Municipal, o museu mais antigo da Eslováquia, fundado em 1868.

 

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À volta da praça há inúmeros cafés e esplanadas muito agradáveis. Na altura em que fui, havia também uma pequena feirinha de souvenirs e algum artesanato.

 

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A cidade é calma e o espírito é bom, sem grandes correrias, pressas ou multidões de turistas.

 

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Para além de caixas de música de Mozart e de imensas coisas de Klimt (o pintor vienense - não me perguntem porque há coisas dele aqui), os souvenirs mais riquinhos de Bratislava eram estas flores em vidro. Havia de diferentes tamanhos e cores e, quando colocadas naqueles vasinhos de madeira, eram um autêntico mimo.

 

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A apreciar o edifícios, também eles bonitos como em Praga, mais mais pobres. Tudo na Eslováquia é mais pobre do que na República Checa e essa diferença berrante também deve ter contribuído para a divisão dos (agora) dois países. Apesar de tudo, ainda que com um centro histórico pequeno, achei uma cidade simpática. O que lhe falta em ex-libris tem em calmia o que, por estes dias, parece ser raro em quase todas as capitais. É como digo: se estiverem por lá, vale a pena passar uma tarde e fazer o "check". 

 

 

Importa saber: na Eslováquia o Euro está implementado, por isso não há trocas ou contas de cabeça para fazer. Yey!

O que faltou ver? De berrante, o Castelo de Bratislava e o Castelo de Devin, construído sobre um rochedo, à moda do Game of Thrones. A Igreja de Santa Elisabeth, também conhecida por Igreja Azul, também parece ser um local que merece a visita.

15
Set18

Dois dias em Praga, a cidade harmoniosa

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 À entrada do Castelo de Praga, com a bandeira nacional

 

Praga foi a primeira cidade que visitei neste meu percurso. Devo confessar que era aquela da qual guardava maiores expectativas, muito por culpa da (pouca) preparação que fiz antes da viagem, das imagens que fui vendo e do muito que me foram falando dela ao longo dos últimos anos.

A minha primeira perceção da cidade foi um tanto ao quanto vazia; fui dar um passeio de noite, no dia da minha chegada, e não se via praticamente ninguém na rua. Pensei, mais uma vez, na situação não-tão-hipotética de estar lá sozinha e a verdade é que não me sentiria muito segura. Não por me sentir ameaçada, mas pela sensação de que se gritasse ninguém me ouviria - não obstante, toda a gente diz que a cidade é muito segura e que não costumam haver problemas para além dos típicos carteiristas. Nessa mesma noite também comecei a definir a minha opinião sobre o checos, quando os vi no único bar movimentado da zona a pôr as beatas dos cigarros nos cinzeiros que carregaram consigo até ao exterior (pousando-os nos beirais das janelas e noutros sítios práticos, de forma a não as atirar para o chão). Mais uns pontinhos na minha consideração! Ao fim dos dois dias acabei também por os achar acessíveis, numa clara tentativa de abertura ao mundo (depois das consequências de quarenta e cinco anos de comunismo no país) - começando pela língua. O checo é absolutamente incompreensível e apesar de a maioria deles ainda não ser perito no inglês - mesmo as camadas mais jovens - nota-se um esforço grande para comunicar com os turistas.

Já de dia, percebi que o adjetivo que melhor descreve a capital da República Checa é “harmoniosa”. Isto porque Praga é uma cidade linda como um todo, é coerente - não só por fora, mas também por dentro, com bares, hotéis e espaços públicos muito bem decorados, com um ar "cozy" e confortável. Mas se olharmos ao detalhe não vemos nada que nos faça cair o queixo de espanto, como acontece por exemplo em Itália. Tudo ali é bonito, limpo e bem tratado (os edifícios são todos reconstruídos - e o que não está, está a sofrer obras de requalificação), ornamentado com as imensas igrejas que por lá há, que pintalgam a paisagem com uns elementos mais ricos e as suas imensas estátuas. Todos os edifícios do centro da cidade (não só o centro histórico, mas também os bairros centrais – na periferia já não é tanto assim) têm um estilo imperial: todos da mesma altura, com majestosas janelas e tons pastel, que fizeram as minhas delícias em cada rua que passei. 

Se tivesse de fazer uma comparação - e já desvendando um bocadinho do post sobre Budapeste -  diria que Praga é comparável ao Porto e a capital da Hungria seria, nesta minha analogia, Lisboa. Isto porque Praga é ligeiramente mais escura, as ruas são mais estreitas, a luz não se reflete em tudo o que se vê. Vi partes que me lembraram Tallin (a saída do Castelo em direção à Cidade Velha), com o seu ar medieval, e outras São Petersburgo, em algumas das avenidas mais amplas. A verdade é que o tempo que apanhei não abonou à boa luz da cidade, mas foi óptimo para passear: estava muito nublado, quase sempre a ameaçar chover, mas tal acabou por nunca acontecer. Isto fez com que o passeio fosse fresco e que não tivéssemos de estar constantemente a parar em sombras e a beber litros de água para conseguirmos continuar a caminhada.

 

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Se por um lado o tempo ajudou ao passeio, houve um "pormaior" que dificultou a nossa vida em Praga: a mala da minha mãe não chegou connosco, por isso passamos parte do tempo que estaríamos a conhecer a cidade atrás de algumas roupas que ela pusesse usar caso a mala não chegasse durante mais um dia - felizmente chegou (seria muito mau se não chegasse, porque dali a dois dias já seguiríamos caminho para outra cidade) e o resto da viagem decorreu de forma normal.

O circuito que compramos previa dois dias na República Checa, mas só um dia em Praga - o segundo seria passado em Karlovy Vary, a cidade balnear mais famosa do país, que fica a cerca de duas horas e meia de autocarro. Ainda antes de partimos, eu e os meus pais tínhamos decidido não ir com o grupo a este sítio: se dois dias em Praga já é pouco, um dia muito menos. Pesquisei, vi fotos e de facto a cidade balnear é muito gira - mas, para nós, não compensava passar cinco horas dentro do autocarro quando estava numa outra cidade linda que ainda me faltava conhecer. Assim, fizemos uma tour conjunta na manhã do primeiro dia e tivemos essa tarde livre, assim como todo o segundo dia. 

A visita começou no Castelo de Praga, a morada do presidente checo. Devo já adiantar que esta foi provavelmente a tour que, para mim, foi pior gerida: passamos muito tempo em sítios que não mereciam tanto destaque e não fomos a outros locais que devíamos ter ido. A Catedral de São Vito é um exemplo: apesar de ser o símbolo maior do Castelo acabamos por não visitar, por supostamente estar uma missa a decorrer (embora eu tenha visto um grupo a entrar na igreja). Por fora é bonita, mas tenho a certeza que valia a pena a ida ao seu interior - para além das suas inúmeras capelas, túmulos e vitrais amplamente conhecidos, é lá que estão as jóias da Coroa, dentro da Capela de São Venceslau - algo que está literalmente fechado a sete chaves, cada uma delas distribuída por várias pessoas importantes para a cidade ou para o país (como o Presidente da Republica, o Primeiro-Ministro, o Arcebispo e etc.). Se quiserem saber mais sobre esta catedral, este site tem imensas informações sobre todos os seus recantos.

 

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Um dos pátios do Castelo

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Catedral de São Vito

 

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Uma das entradas da Catedral

 

A Rua do Ouro é outra falha grave: não passamos por lá - se não me engano, é uma das partes pagas da visita ao Castelo - mas é geral a opinião de que este é um dos sítios a visitar: inicialmente era a rua onde viviam os guardiões do Castelo, mais tarde ourives (daí o seu nome) e depois passou a ser povoada por mendigos e delinquentes. Coincidência ou não, foi lá - no número 22 - que viveu Frankz Kafka durante parte da sua vida.

 

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 Basílica e Convento de São Jorge - atualmente alberga a coleção de arte boémia do século XIX da Galeria Nacional de Praga

 

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Numa das entradas do Castelo 

 

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No miradouro junto à entrada do Castelo 

 

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Já ia preparada para apanhar avalanches de gente em tudo o que era ruas da cidade, apesar daquele primeiro impacto inicial depois do passeio noturno. No entanto, acho que me mentalizei de tal forma para isto que, quando lá cheguei, não foi assim tão mau; talvez o tempo mais escuro tenha afugentado algumas pessoas das ruas, mas a verdade é que já testemunhei muito pior (neste momento lembro-me de Dubrovnik, que por vezes se tornava intransitável). Frisar, no entanto, as paletes de turistas asiáticos que se veem em todas as cidades por onde passei. É i-na-cre-di-tá-vel. É um bocadinho chato dizer isto, mas estamos a ser invadidos. E a presença deles faz-se sentir em grande parte porque andam sempre todos juntinhos - desconfio que andam religiosamente atrás dos guias, até porque não sabem falar outra língua para além da deles - e torna-se difícil ultrapassa-los quando os encontramos em ruas mais apertadas ou espaços já por si caóticos.

A encabeçar o Top 3 dos sítios mais movimentados de Praga está, sem dúvida alguma, a Ponte Carlos - uma das várias que faz a travessia do rio Vltava (ou, em português, Moldava) . É a mais bonita da cidade e a "residência" de muitos artistas de rua - desde músicos até pintores - o que atrai muitos, muitos turistas. É a ponte que liga a área do Castelo até à cidade velha, por isso é usada de facto para fazer uma rota muito comum, o que ainda piora as coisas no que à afluência de pessoas diz respeito.

 

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Na Ponte Carlos

 

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Um retratista na Ponte Carlos

 

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A Ponte Carlos lá atrás

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O movimento na ponte Carlos

 

Outro dos ex-libris da cidade é o Relógio Astronómico, situado na Praça Velha. Infelizmente, quando lá fui, o relógio (e o edifício?) estava fechado para obras; segundo apurei é suposto tudo estar pronto em Outubro, mês em que se vai festejar o centenário da fundação da Checoslováquia, mas até àquele momento pouco se deslindava por detrás dos panos que o protegiam.

Toda a praça é animada, com estátuas vivas, música e lojinhas de souvenirs e de comida. O que mais se vê é o trdelnik, um doce tradicional um tanto ao quanto difícil de descrever: são uns rolinhos de massa "assados" em forma de cilindro, que se servem simples (com açúcar e canela) ou recheados com gelado. Era algo que, se fosse em Portugal, seria claramente frito: lá, assam-nos quase como nós assamos o porco no espeto, rodando a massa constantemente até ficar cozida e tostada por fora. O veredicto? É um doce engraçado, um bocadinho enjoativo e nada do outro mundo. Experimentem-no, mas guardem o resto das calorias para a verdadeira pastelaria: a portuguesa. Outra coisa que me ficou debaixo de olho foram as batatas fritas, com casca!, servidas num palito gigante. Tinham um ar delicioso, mas nunca chegou a altura certa para as comer.

 

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Ao lado do relógio astronómico (à direita vêem-se os panos azuis que o cobrem devido às obras)

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Uma das igrejas vista da Praça Velha 

 

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Na Praça Velha

 

Se há coisa que eu gosto de fazer numa cidade estrangeira é "perder-me" no seu centro, conhecer as ruas afluentes dos sítios principais e andar um bocadinho sem destino. No fundo, tentar perceber como funciona a cidade fora dos seus locais mais consagrados, ver as pessoas que lá vivem e trabalham. Ao fazer isto, no dia que tivemos livre, apercebi-me que o centro de Praga é relativamente pequeno - embora no mapa as distâncias parecessem muito maiores. Andava por duas ou três ruas diferentes e ia dar a um sítio onde já tinha estado. E para fugir deste ciclo vicioso decidimos sair um bocadinho do centro da cidade e visitar um dos locais que dizem ter a melhor vista de Praga: o Monte Pétrin. Fomos a pé, num caminho feito em grande parte pelas margens do rio, e enquanto apreciávamos os patos bravos que lá nadavam o meu pai reparou num animal dissonante. Não tinha penas, não eram patos. Depois de vermos bem - e de nos perguntarmos inúmeras vezes "será que isto são ratos gigantes?" - percebemos que eram castores. Castores! Nunca na vida tinha visto uns, parecia uma criança no dia de Natal. (Mais tarde fui pesquisar porque estes castores não tinham uma "pala" no lugar da cauda, parecia simplesmente uma cauda nojenta de rato, mas pelos vistos há algumas espécies assim. Lá se foi a ideia "fofinha" que tinha dos castores...).

Não sei se foi uma coisa esporádica ou da época, mas - e já que estamos a falar de animais - nunca vi uma cidade com tantas abelhas. Como andei sempre de casaco amarelo, cor que elas parecem apreciar, fui várias vezes perseguida por estes insetos que estavam literalmente por todo o lado - e em particular nos caixotes do lixo, dos quais eu fugia a sete pés. Diria que foi um milagre ter saído de lá sem uma única picadela.

 

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Segundo li, os castores estiveram "desaparecidos" do Rio Moldava durante mais de 150 anos. Parece que agora estão de volta!

 

A Torre Pétrin (uma "miniatura" da Torre Eiffel, com 51 metros de altura) é o monumento mais conhecido deste alto da cidade, que fica 138 metros acima do nível do rio. Para além disso é conhecido pelos seus enormes jardins, uma igreja (que não vi), um observatório espacial e um labirinto de espelhos. Fiquei um bocadinho chateada porque a vista sobre a qual tinha lido referia-se ao topo da Torre - o que implicava subir mais de 200 degraus, algo para o qual não estava preparada nem tinha particular vontade - e não propriamente ao local em si, cuja vista para a cidade está maioritariamente impedida por árvores e outros tipos de vegetação. Acabei por ir ao labirinto de espelhos, que é giro, mas que não é um labirinto - é apenas um caminho curto com espelhos, que dá para tirar algumas fotos giras, mas pouco mais para além disso. Para quem tiver tempo e coroas checas em excesso na carteira (a entrada custa 180), aconselho; caso contrário, munam-se de água, toalhitas para o suor e uma camisola de manga curta e subam até à Torre. 

 

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Torre Pétrin - a foto parece a preto e branco, mas não é: o dia estava mesmo assim

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No labirinto dos espelhos, no Monte Pétrin

 

Como nesse dia estávamos sozinhos e sabendo que íamos andar de um lado para o outro - e tendo em conta que o nosso hotel era relativamente longe do centro (informações sobre o sítio onde fiquei no fundo do post) e tinha elétrico praticamente à porta - optamos por comprar o bilhete de 24 horas que é transversal para todos os transportes públicos (podem comprar nas estações de metro - muitas só aceitam moedas - e nas tabacarias), que nos custou 110 coroas checas (pouco mais de quatro euros). A frequência dos elétricos é bastante boa e o seu funcionamento é intuitivo, desde que tenham um mapa convosco e saibam os sítios para onde querem ir. Foi assim que subimos até ao Monte Pétrin (através do funicular) e que voltamos para o centro da cidade, de elétrico.

Por entre os passeios ainda houve tempo para ver umas montras giras e de passear no bairro judaico, onde há cinco sinagogas (onde é permitida a entrada). O sítio mais conhecido deste bairro é, no entanto, o cemitério, onde se estimam que estejam enterradas mais de 100 mil pessoas (e onde estão 12 mil lápides). O bilhete que dá acesso a todos estes locais custa 300 coroas checas (o equivalente a 12 euros), mas optamos por não visitar, em grande parte porque já se aproximava a hora do fecho e íamos ter de andar a correr de um lado para o outro.

 

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Numa montra de brinquedos 

 

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Numa "ilha" vertical no meio da cidade, com roupa a secar

 

Referir, por fim, que Praga transpira cultura: muito mais do que os artistas de rua, Praga tem imensos teatros, espalhados por tudo quanto é sítio. A nossa tour incluía uma peça de teatro negro (chamada WOW), que acabou por me surpreender muito pela positiva. Pelo sítio onde foi e pelo número de pessoas envolvidas no espetáculo, calculo que seja algo com um low-budget, mas os efeitos visuais eram muito giros e, diria até, surpreendentes. O pior da peça foi mesmo a história, praticamente impercetível: uma mistura entre sonhos, a natureza e os seus elementos... qualquer coisa estranha. Mas foi uma hora engraçada, que valeu algumas gargalhadas.

 

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Um dos teatros no centro de Praga

 

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A Torre da Pólvora, uma das mais conhecidas da cidade

 

Podendo, é sem dúvida uma cidade a visitar. Diria que três dias inteiros dão para muitos passeios calmos, muitas fotos e, claro, (para quem gosta) muitas paragens nos bares para beber a típica cerveja! 

 

Onde fiquei? Por ter feito uma excursão, os hotéis onde fiquei não foram escolhidos por mim. Mas em Praga tive sorte: fiquei no Penta Hotel, um hotel giríssimo, em que a receção era um bar e onde todo o espaço de lobby era recheado de mesas (tinha restaurante - bastante bom para o nível de um hotel), sofás, um bilhar, playstation e todas essas coisas giras. Era também lá que eram servidos os pequenos-almoços (bons e completos). O quarto era giríssimo, super bem decorado e confortável; as amenities eram super originais e cheirosas. Tinha wi-fi grátis (sinal fraquinho) e um Lidl a um minuto a pé, o que dá jeito para comprar frutas, bolachas e líquidos para andarmos abastecidos durante o dia inteiro. Lado menos positivo: ficava um bocadinho longe do centro.

Importa saber: Apesar de fazerem parte da União Europeia, não adotaram o Euro - o que para nós, gente já pouco habituada a ter de trocar moeda e fazer contas, é um bocadinho chato. Um euro representa cerca de 25 coroas checas. A língua checa é impossível de perceber, por isso ou se recorre ao inglês ou à linguagem gestual. Boa sorte em ambos os casos! ;)

O que faltou ver? A Rua do Ouro, a vista da Torre Petrín e do Parque Létna, a Lenon Wall, o cemitério judeu e o Relógio Astronómico a funcionar. Ah!, e fazer um retrato na Ponte Carlos.

11
Set18

Fazer uma excursão: como é, vantagens e desvantagens

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 A vista do meu lugar no autocarro

 

Apesar de o blog ter andado pacatamente normal na última semana, quem me acompanha nas redes sociais deve ter-se apercebido que os últimos dias tiveram pouco de calmo. Na verdade, foi um corropio. Durante uma semana passei por Praga, Bratislava, Budapeste e Viena – um percurso que fizemos de autocarro com um grupo e um roteiro muito bem definido, cansativo quanto baste.

Depois de nos dois últimos anos termos feito cruzeiros, e já tendo esgotado as nossas rotas preferidas (nomeadamente na Europa), decidimos que este ano íamos fazer algo diferente. Há muito tempo que as capitais da Europa central pairavam nas nossas cabeças e algures no início do ano fomos a uma agência de viagens e acabamos por nos decidir por esta alternativa - o circuito "As 4 Capitais da Europa Central", feita pela Nortravel. Os meus pais já tinham feito uma coisa deste género nos Estados Unidos, para mim foi uma estreia. E, como em tudo na vida, tem vantagens e desvantagens - que vou passar a enumerar abaixo, assim como alguns detalhes que acho importantes.

 

AS PESSOAS

A forma mais fácil que eu tenho de descrever isto é dizer que fazer uma excursão em grupo é quase como um regresso à escola, mas numa permanente visita de estudo. Ao todo éramos 23 (eu era a única desemparelhada – a culpada por sermos um número ímpar - e, claro, a mais nova do grupo) e, como seria de esperar, vínhamos todos de contextos e sítios diferentes, com uma formação e educação muito distintas. Era um grupo bastante heterogéneo, em todos os sentidos. Havia o palhaço, havia o tímido, havia a-Maria-vai-com-todos, havia a estridente, havia a “mãezinha”... havia de tudo, tal e qual uma turma de liceu! E, como é lógico, surgem rapidamente empatias com uns e distância de outros, tal como acontece numa turma – e grupos, claro. Ao fim de dois dias os elementos das mesas já estão praticamente definidos, assim como quem se sente atrás e à frente do autocarro (eu não disse que isto era como na escola?!).

Confesso que para mim foi estranha a falta de abertura que houve logo de início. O grupo era maioritariamente de pessoas mais velhas (com média entre os 50 e 60 anos, provavelmente) e talvez isto seja algo geracional, mas a verdade é que saí da excursão sem saber o nome de muita gente. Acho que na minha geração temos logo a tendência de nos apresentarmos, dizermos de onde somos, o que fazemos, que idade temos; talvez aqui, por ser de alguma forma evidente que os contextos socio-económicos eram distintos e serem pessoas com outros hábitos, tal não aconteceu. Parecia que estava tudo no segredo dos deuses, o que não ajudou a uma interação completa entre todos os membros – os viajantes que faziam parte do mesmo “grupinho” iam sabendo mais entre si, todos os outros tendiam a ficar na ignorância. Apesar disto, a convivência entre todos era simpática, ainda que de alguma circunstância. Acredito que um mau grupo – ou simplesmente um grupo onde alguém não se integre – possa fazer a diferença numa viagem deste tipo.

 

AS GUIAS

Não há uma turma sem professora. Neste caso tínhamos uma guia, que nos acompanhou do princípio ao fim da viagem, e que era quem tinha de pôr toda a gente na linha – um papel que não invejo. Não é fácil para uma rapariga, na ordem dos seus 30 anos, pôr ordem num conjunto de pessoas que têm idade para ser pais dela – e alguns homens que, sendo homens, não apreciam que sejam uma mulher a impor as regras. Mas a verdade é que não há alternativa e há que ser muito rigoroso: se há alguma coisa essencial nestas viagens é, por exemplo, a pontualidade. Houve uma situação em que dois elementos se atrasaram e tudo ficou um bocadinho em alvoroço. A gestão de pessoas é, em todas as áreas, o maior desafio de todos – e aqui não é exceção.

Para além desta guia principal, com quem tratávamos de todas as questões práticas (era ela que definia o horário e o plano do dia) havia, em cada uma das cidades, uma guia local que nos levava e descrevia os locais com mais pormenor. Curiosamente foram todas mulheres e todas falavam português – algo indispensável, pois vários membros do grupo não sabiam falar inglês.

 

AS REGRAS

Eu ficava fula sempre que as pessoas se punham a reclamar dos horários, dos tempos para isto e para aquilo. Quem se mete neste tipo de viagens tem de perceber que isto não funciona sem regras rígidas, que têm mesmo de ser cumpridas. Se são do tipo de pessoas que gosta de acordar ao 12h, passear relaxadamente pelas avenidas e ainda fazer um retrato pelo caminho numa das ruas pedonais mais famosas da cidade... esta modalidade de viajar não é a indicada para vós. Também não é o ideal para quem gosta de passar dez minutos atrás da fotografia perfeita. Nem para quem é demasiado independente.

Primeiro havia hora para acordar. E não, não era definida pelas pessoas: era a guia que definia a wake-up call à hora pretendida, por isso ou acordam... ou acordam. Nos dias de viagem entre cidades havia também uma hora para colocar as malas à porta do quarto (cerca de uma hora antes da saída do hotel) para que não tivéssemos de as carregar e estas pudessem ser contadas e colocadas dentro do autocarro. E, claro, havia horas de saída e de pontos de encontro. Todos os tempos livres eram contados ao minuto e a tolerância para atrasos era baixa – até porque em alguns sítios os autocarros só podiam parar por escassos momentos, por isso era problemático se a contagem das pessoas não desse o número certo à hora marcada.

No fundo, a única coisa que é preciso fazer (para além de não ser preguiçoso) é pôr as regras de civismo e boa educação em prática, ter em mente que deixamos de ser um só para ser “apenas” um dos membros de um grupo maior, que deve sempre prevalecer nas nossas decisões durante o tempo de viagem.

 

AS VANTAGENS

A maior vantagem é, sem dúvida, ter a “papinha” toda feita. Nem o check-in fazíamos! Chegávamos ao hotel, esperávamos cinco minutos e logo depois tínhamos a chave na nossa mão, já com tudo pronto para nos receber. Esta excursão em particular tinha tudo incluído, por isso até as refeições estavam todas combinadas ao pormenor.

Esta é também  uma forma fácil de conhecer vários sítios num curto período de tempo, com a garantia de que nos mostram os sítios mais emblemáticos e que nos dão a conhecer algum do contexto e da história da cidade, assim como do país. Se não quisermos não precisamos de fazer nenhum tipo de pesquisa à priori – podemos ir completamente às cegas, pois sabemos que vamos ser sempre elucidados pelo caminho. As guias estão sempre disponíveis para dar dicas sobre onde ir, como ir, o que ver e quando ver – ou porque vivem lá ou porque já têm conhecimento de causa para falar, o que evita muitos imprevistos e percalços que acontecem a todos os viajantes que andam por si próprios e partem à descoberta.

É também uma forma óptima de se viajar sozinho, pois apesar de estarmos sem a companhia de alguém conhecido, rapidamente nos entranhamos no grupo e simpatizamos com alguém que se assemelhe a nós. No fundo, é viajar sozinho, mas acompanhado.

 

AS DESVANTAGENS

Para mim, a maior desvantagem é a falta de liberdade e a sensação de que o meu tempo não está a ser gerido da melhor forma – sim, tenho uma veia independentista um bocadinho acentuada. Os minutos estão sempre contados neste tipo de situações e há momentos em que parece que estamos a correr contra o tempo. Lembro-me de estar na Ponte de Carlos, em Praga, e da guia estar a acelerar por ali fora, quando todos queríamos parar e tirar fotos; acaba por ser algo stressante, porque acabamos mesmo por tirar as fotos, mas estamos sempre de olho na bandeirinha de Portugal que ela carrega para tentarmos não a perder de vista e tentar apanhar o grupo com uma corridinha logo depois de todos os clicks estarem feitos. O nosso tempo deixa de ser nosso, para estar a ser governado por outras pessoas – mas é mesmo assim, faz parte das regras quando se entra numa coisa deste género.

Os tempos livres sabem a pouco e há que fazer cedências, que não são poucas: não convém afastarmo-nos muito do ponto de encontro e, de tudo o que gostaríamos de fazer, sabemos que só algumas é que podem ser concretizadas. Nunca há tempo para tudo e, creio eu, nunca aproveitamos as coisas a 100%: estamos sempre a pensar no que vamos fazer a seguir, no caminho que vamos seguir, a forma mais rápida de lá chegar... e quando lá chegamos, mais uma vez, já pensamos em partir para outra coisa qualquer.

A falta de liberdade pode também revelar-se numa coisa tão simples como não poder escolher aquilo que se come às refeições. Eu vim um quilo mais leve, e não foi por ter adorado a comida ;)

E, claro, não esquecer o cansaço que uma viagem destas acarreta. Apesar da maioria das pessoas que faz este tipo de coisas ter idades mais avançadas, a verdade é que isto cansa! Andar sempre com as malas num faz-desfaz constante (mesmo que não as desfaçam na totalidade, como aconteceu comigo), acordar cedo, fazer várias horas de viagem num autocarro, andar a passo de procissão atrás da guia, às vezes debaixo de um sol abrasador... não é fácil. Não se compara a uma praia no Algarve ou em Punta Cana. É para chegar mais cansado do que se foi – com a alma cheia, é um facto, mas com o corpo a pedir umas horinhas extra de sono ;)

 

Nos próximos posts faço uma descrição alargada, estilo diário de bordo, sobre cada uma das paragens desta minha viagem. Podem ler tudo relacionado com ela clicando aqui.

08
Set18

Gorjetas: dar ou não dar, eis a questão

Há certas normas na sociedade que já estão mais que formadas, implementadas, concretizadas e especificadas. E depois há outras deixadas um bocadinho ao Deus dará (ou o chamado senso comum), que por vezes causam certas dúvidas a quem se dedica um bocadinho a pensar sobre elas. Para mim, uma dessas normas pouco definidas é a cultura das gorjetas – pelo menos aqui, porque nos Estados Unidos (e, calculo, noutros locais) está bem padronizado e, calculo até, previsto na lei.

Apesar de ao longo de toda a minha vida me ter confrontado com este "problema" e opinado frequentemente sobre se ou o que deixar, só nos Açores (mais uma vez) é que me caiu a ficha. Estava sozinha, não podia deixar a decisão de dar ou não gorjetas para cima dos meus pais, como fiz quase sempre durante a minha vida. A situação era específica: depois de duas tours - que, importa dizer, correram bem, embora tivesse gostado mais de uma que de outra – perguntei-me a mim mesma se devia dar alguma coisa aos meus guias.

Este é o tipo de situação em que tipicamente se dá qualquer coisa assim de forma muito discreta – algo que eu também nunca percebi. Num restaurante deixamos o dinheiro em cima da mesa, no cabeleireiro metemos-lhes a moeda ao bolso de forma nada discreta, num cruzeiro deixam-se envelopes a dizer "GORJETA" em cima da mesa, mas ali faz-se a coisa pela calada. Porquê?

Há ainda o problema da quantidade a deixar. Num restaurante dos Estados Unidos deixa-se o equivalente a 10 ou 15% da conta total... mas e aqui? Num tour que, em princípio, eu nem saberia o preço, uma vez que estava incluída num pacote comprado previamente?

Acho que o que tende a acontecer em países como o nosso, que não têm nenhuma norma estabelecida para este tipo de casos, é cada um estabelecer a sua própria norma. Eu própria estou a construir a minha – e confesso que nem sempre a sei explicar. Se sou mal servida, em qualquer tipo de sítio ou serviço, nunca deixo nada – isso é certo. Mas se for a um restaurante ou café costumo deixar alguma coisa; o mesmo não se passa no cabeleireiro, onde vejo muitas pessoas a darem moedas a quem lhes fez a manicure ou pintou o cabelo, por exemplo, algo que nunca faço; também não dou àqueles rapazes que nos hotéis transportam as malas para os quartos. Porquê? Não sei bem e depende de caso para caso. Se às manicures, pensando bem, até podia dar – porque me tratam sempre bem, já sabem como gosto das unhas -, ao camareiro – que tem um serviço rápido – já não me faz tanto sentido. O que levanta outra questão: porquê que há profissões em que se dá "gorjas" e outras que não? Porque é que não damos umas moeditas a um médico ou enfermeiro que nos tratou de forma impecável e hiper humana? Porque é que não damos um extra à senhora do IKEA que nos ajudou a escolher o móvel? Porque é que não damos gorjeta à senhora da frutaria por debaixo da nossa casa?

Enfim, são questões que me assolam de vez em quando. A verdade é que acabei por dar gorjeta a cada um dos meus guias, tentando dar-lhes o dinheiro de forma discreta mas sem arranjar todo um esquema para o fazer. Vi que as pessoas que estavam comigo não deram nada, o que gera ainda outro problema: o confronto de normas dentro do mesmo grupo, que faz cada um dos indivíduos sentir-se mal, ora porque deu, ora porque não deu.

E se por um lado o rapaz recebeu bem o presente extra que eu lhe dei, a rapariga disse-me logo que não era preciso. Para mim, que não sou muito boa a interpretar este tipo de coisas, foi um momento um bocado chato: era óbvio que eu não ia retirar o dinheiro que já lhe tinha dado, mas por momentos até achei que a podia ter ofendido. Depois a situação rolou normalmente, ela aceitou e eu lá suspirei de alívio, mas naquele momento pensei em tudinho que está aqui neste post e amaldiçoei o facto de não existir um livro com este tipo de regras, para não andarmos todos aqui meio perdidos.

Mais tarde perguntei a uma prima minha, também ela guia, qual era a relação dela com gorjetas e se de alguma forma o dinheiro extra podia ser mal interpretado. Ela quase se riu na minha cara. Mas eu sei lá – as coisas mudam tanto, há pessoas com filosofias de vida tão distintas, que é difícil o mesmo comportamento agradar a gregos e a troianos. Embora eu perceba que, metendo dinheiro extra no bolso, poucos se possam queixar.

E por aí, dão gorjetas? Só a alguns, a todos ou são os sovinas?

 

07
Set18

Menu de fim-de-semana: Kid's Meet

Numa altura em que se crítica tanto as crianças por passarem a vida nos "eletrónicos", nomeadamente no YouTube, a ver os miúdos da moda que não conseguem fazer muito para além de parvoíces, é importante lembrar que há conteúdo bem feito, bem produzido e bem pensado por aí. Inclusivamente para os mais novos.

O segmento "Kid's Meet", do canal Cut, é um desses exemplos. Trata-se de um painel de miúdos que conhece alguém com algum tipo de característica diferente e que desconstrói essa personagem (e todo o rol de preconceitos que vêm com ela) através de perguntas e de comentários, muitos deles bem típicos de crianças, um tanto totós como fofinhos. Se por um lado as crianças podem ser cruéis, por outro têm uma empatia que os adultos já foram perdendo, e por isso é bonito ver como se comportam com pessoas que não sem bem iguais a elas.

Quem gostar desta série de episódios está com sorte: há mais de 50 para ver no canal. Coisas como conhecer uma pessoa com Tourette (aquela doença dos tiques), um jovem que acabou de sair de um clínica de reabilitação, um drag queen, um anão ou alguém com 101 anos... tudo formas de aprender sobre os outros e a sua realidade, o que é sempre bom, quer sejamos crianças ou não. É dos vídeos que me dá mais gozo ver quando tenho tempo livre.

Ver a playlist aqui.

 

04
Set18

Chávena de letras - "O Projeto Rosie"

01040642_Projeto_Rosie.jpg

 Ler as primeiras páginas aqui.

 

Achei este livro muito "queridinho". Adoro ler livros sobre pessoas que não se adaptam à sociedade (neste aspeto, esta obra lembra-me um pouco o "A Educação de Eleonor"), talvez porque me fazem sentir melhor comigo própria. Penso sempre: "ufa, afinal há quem seja pior que eu!". Ambos fazem com que esta característica tenha piada, de tão profunda que é e de cenas tão caricatas que proporciona. É a racionalidade levada a limite. 

É uma histórinha impossível de acontecer mas que bem dispõe e cuja escrita é agradável. Nota apenas para o final: não sei se fui eu que estava desatenta, mas não o achei nada óbvio. Tive de pensar, reler e voltar atrás para ter a certeza se percebi bem - e já vi perguntas aqui no Goodreads relacionadas com isso, daí achar que pode não estar tão bem conseguido. 

De resto, óptima leitura de praia.

 

P.S. Esta obra tem uma sequela, chamada "O Efeito Rosie", também editada em português pela Editorial Presença. Talvez o leia em breve.

03
Set18

Sobre uma tatuagem, a falta de coragem e de loucura

Há uns dias estava a rever o Inception e chamou-me à atenção uma frase que a personagem do Leonardo di Caprio diz à Ellen Page: as ideias, a partir do momento em que são implantadas na nossa cabeça, são como um vírus - não saem e tendem a propagar-se, neste caso dentro de nós.

Naquele momento lembrei-me da minha tatuagem - que ainda não é minha, porque não existe. Tive dia e hora marcada para a fazer, faz por esta altura um ano: mas fiquei tão agoniada, tão preocupada, tão atormentada com os "e se's", que desmarquei. Sei ao pormenor o desenho, o sítio; sei quem quero que ma faça, sei o preço, sei a morada; sei a opinião dos meus pais, sei que não adoram, mas sei que não vão deixar de dormir por causa disso. Sei tudo. Só não sei se quero um compromisso desses para o resto da minha vida. Mas também sei que a ideia não me sai da cabeça.

No dia em que a fizer, se a fizer, não quero dar aviso prévio; quero aparece e, oh!, já está. Não quero colher mais opiniões do que as que já tenho, não quero conspurcar a minha mente com ainda mais preconceitos com os que já lá existem - e a verdade é que tenho muitos, mesmo inconscientemente. Lembro-me que na altura em que tinha tatuagem marcada o tema surgiu várias vezes em conversas de família (sem que eu puxasse pelo assunto) e as vozes eram tão dissonantes ("odeio", "adoro", "nem pensar", "porquê mexeres no teu próprio corpo?", "é arte") que acabaram por implantar mais medos dentro de mim. O faz-não-faz estava a consumir-me tanto que deitei a ideia para trás das costas e desisti, ainda que desiludida comigo mesma. Senti (e ainda sinto, na verdade) que não a fiz por ter medo daquilo que os outros iam pensar e por recear as consequências que aquelas marquinhas podiam ter. E, caraças, isso não sou eu! Mas não queria ir contra a vontade dos meus pais que, embora me tivessem dado carta branca, torceram um bocadinho o nariz; tive medo de crescer e não querer ver aquilo no meu pulso; pensei no que os outros podiam pensar quando, numa reunião de negócios importante, o relógio deixasse ver que outrora eu decidi escrever algo em mim; tive medo de, depois de fazer uma tatuagem, querer fazer outra, como toda a gente diz que acontece.

Li muito sobre o assunto - não sobre a ciência de fazer as tatuagens ou os riscos, mas sim sobre o potencial arrependimento e as consequências sociais que ainda hoje existem caso queiramos mexer na nossa própria pele. Nunca cheguei a nenhuma conclusão. Passei sempre por períodos de certeza absoluta e outros de dúvida extrema - e mudava de estado em pouco mais de cinco minutos. Tive tanta certeza de que a ia fazer que tenho aqui, nos rascunhos, um post a descrever o porquê e a explicar a necessidade que eu senti de tatuar algo; mas também tive tantas dúvidas que cheguei ao ponto de desistir. Disse à tatuadora que, quando a fizesse, seria num ápice: decidir, ir e fazer. Não podiam haver muitos dias de hiato, não podia ser algo extremamente pensado (não mais do que já é, entenda-se). Mas isso também não é o que eu sou. 

Voltando ao di Caprio, a ideia é um vírus. Ficou em remissão durante uns meses, mas voltou em força desde a primavera. Faço-não-faço, a minha mente anda nisto tipo pêndulo. Olho para pessoas que admiro, que gosto (por dentro e por fora), e penso "caraças, a tatuagem que ela tem não afeta nada aquilo que penso dela". Mas sei que nem todos são assim. Sei que até eu posso mudar e odiar-me daqui a uns anos por um dia ter tatuado, de alguma forma, um período da minha vida. 

Pergunto-me se algum dia conseguirei tomar uma decisão e passar por cima de todos os argumentos - tanto racionais como emocionais - que se levantam sempre que penso nisso. Pergunto-me se algum dia terei coragem de me render a um compromisso tão grande (espero) como o período da minha vida. Por um lado gostava muito. Por outro... "e se...?".

02
Set18

Pela hora de verão, alé, alé

Eu não fui uma das pessoas que votou na sondagem da União Europeia sobre a mudança da hora. Não fui porque não o consegui fazer no telemóvel, embora tenha tentado várias vezes. E foi por isso com grande alívio que recebi as notícias dos últimos dias, que revelam que cerca de 80% das pessoas que votaram querem acabar com a mudança da hora – algo que eu também quero há muitos, muitos anos (daí ter tentado votar e ter ficado chateada por não ter conseguido).

É claro que agora, como em tudo, se insurgem mil e uma vozes contra. Que seria de uma mudança destas se não tivesse opositores? É mau porque faz mal às crianças, é mau porque as pessoas precisam de dia para acordar verdadeira, é mau por isto, é mau por aquilo. Para mim, a única coisa de mal que esta mudança pode trazer é a aniquilação de um dia muito feliz, que surge inevitavelmente uma vez por ano: o dia em que mudamos para a hora de verão. Por outro lado, também acaba com um dos dias mais infelizes, aquele em que roubamos uma hora de luz ao nosso dia. Por isso é ela por ela.

Acho que todas estas desculpas que os especialistas estão a trazer ao de cima – que, para mim, não passam mesmo de desculpas – se argumentam com casos reais, Como é que fazem as pessoas que vivem mais perto dos pólos? Como é que dormem, vivem e acordam os islandeses (e outros tantos), que têm épocas de só de dia e outras só de noite? E que diferença faz, para a maioria das pessoas, o sol nascer às sete e tal ou às oito e picos da manhã? Nesse período estamos quase todos entre o fim do sono, o acordar, a rotina diária e o sair de casa. Não é muito melhor termos mais uma hora de dia para aproveitar – essa sim, em que todas as pessoas com horários normais estão de pestana aberta e sedentas de sair do trabalho ou da escola com um bocadinho de luz natural, de forma a aproveitar um bocadinho o dia?

Lembro-me perfeitamente de, no meu 8º ano, em que tive um horário estapafúrdio em que acabava as aulas muitas vezes às 18.30h, sair da escola e ser escuro como breu. O cenário repetiu-se certamente ao longo dos anos, mas esse ano marcou-me: era escuro e frio demais, sentia-me como se tivesse a andar na rua às tantas da manhã. Com noite às cinco e tal da tarde uma pessoa tem a tendência para se aninhar e sentir menos viva, de sair menos, de se enrolar numa manta e esconder do mundo. O verão é maravilhoso não só pelo tempo e pelas férias, mas também por ter dias que se esticam e que parecem não acabar. E se podemos trazer um bocadinho disso para o Inverno sombrio, por pouco que seja, acho que chegou a hora de tentar. E não pode ser por acaso que tantas pessoas tenham a mesma vontade. Estou mesmo a fazer figas para que esta medida vá para a frente.

01
Set18

O fim do mistério

Eu tinha um feeling que me dizia que, no dia em que fiz o post, haveriam avanços no caso do rapaz misterioso infiltrado numa festa de carnaval de família. Não me enganei.

O meu irmão “taggou” vários amigos na foto, obrigando-os a ver a foto; eu voltei a chatear a minha família com uma nova foto do intruso encapuzado e também chamei à atenção da minha tia emigrante (beijinhos tia!) para que ela voltasse a olhar para o foto com olhos de ver. Todos os contactos feitos através do meu irmão caíram em saco roto - ainda tive um falso alarme, um homem que caía perfeitamente naquele estilo de rosto mas que dificilmente teria ido parar a uma festa como aquelas - quando, finalmente, caiu a bomba. Tive de esperar dois anos por isto, meus amigos!

A pressão que fiz com a minha tia resultou: ela voltou a mostrar a foto ao meu tio que, por milagre, se recordou daquela cara que afinal não lhe era estranha. O intruso é afinal um sobrinho afastado desse meu tio, que estava cá de visita (vindo de África do Sul, creio), e que deve ter integrado o baralho de cartas para, na altura, estar com ele. Não sei até que ponto o rapaz não se terá integrado, uma vez que absolutamente ninguém se lembra dele (será que recebemos os outsiders assim tão mal?!), mas a verdade é que nunca obtive uma resposta positiva sempre que perguntei sobre quem ele era. Para nosso consolo, ele ao menos estava com uma cara feliz - e, dado todo o espalhafato que foi esse carnaval, deve ter achado que éramos uma família altamente (ainda que, aparentemente, ninguém lhe tenha falado...!) ;)

Venho então por este meio agradecer a vossa participação na resolução deste mistério que assolava a minha mente há demasiado tempo. Não é que tenham reconhecido o rapaz -teriam de morar do outro lado do globo para o conhecer - mas acredito que ao nível da força cósmica talvez tenham ajudado alguma coisa. Pouparam-me dinheiro num detetive privado - creio que essa era a próxima fase do meu estado de loucura.

 

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