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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

27
Jun18

Call Me by Your Name - o livro, a opinião e uma leitura simultânea

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É preciso, antes da crítica, fazer um disclaimer importante: quando comprei este livro já tinha visto o filme, sabendo por isso de antemão a linha da história e que eventualmente o final me ia deixar com o coração partido. O filme, apesar de espetacular, não supera o livro, que (para mim) é soberbo.

Esta obra, mais do que uma história de amor, é um conjunto complexo (e muito fidedigno) de pensamentos quase infindáveis, que nos faz mergulhar dentro da cabeça de um adolescente que claramente se está a apaixonar mas que está em negação. E isto tem muito de bom, mas algo de mau: é incrível testemunharmos a evolução da personagem, perceber como o livro está bem construído e é fiel à complexa mente humana, mas esta constante torrente de pensamentos não necessariamente linear e incoerente pode ser cansativa, até porque o livro tem muito poucas pausas (sem capítulos, apenas quatro partes distintas). Mas enfim, até isso é real: às vezes o pensamento e as dúvidas constantes que assombram a nossa cabeça também são cansativas. Talvez tenha sido esse o objetivo do autor.

Acho que este é provavelmente o livro que li que melhor relata a complexidade que as relações humanas acarretam, ainda para mais quando são de teor amoroso. O querer e não quer, o medo de avançar, de estragar o que já existe, de atingir situações sem ponto de retorno. A eterna duvida se aquela pessoa vale a pena. Isto é algo constante na obra, nunca cessa; não é como na maioria dos romances, em que depois da duvida inicial as personagens se mudam de malas e bagagens e se atiram de cabeça para uma relação. Identifiquei-me muito em muitas passagens porque toda eu sou dúvidas nisto das relações. Aquela coisa de nos negarmos a nós próprios algo que emocionalmente sabemos que queremos mas que racionalmente não temos a certeza ser a escolha certa; de chegarmos ao ponto de querer que algo de mal aconteça só para não termos o poder de decisão, para que a culpa não seja nossa por aquilo não ter acontecido, arranjando na vida ou no destino um bode expiatório para a nossa própria cobardia. O vai-não-vai de Elio, as interpretações que faz das ações de Oliver e tudo o que vem a perceber depois é algo que faz jus à realidade e tiro o chapéu ao autor por conseguir descrever todo esse processo mental para o papel.

Aqui se prova que não há amores gay ou hetero, simplesmente há histórias de amor. E que bela história de amor, esta (ainda que triste, por isso preparem os lenços). Prova-se também que não é preciso descrever tudo ao pormenor (sim, estou a falar de ti, 50 Shades of Grey) para um livro ser extremamente sexy e erótico. Acho que toda a obra transmite, desde o inicio ao fim, um clima de romance e de uma tensão sexual difícil de encontrar.

Tudo para dizer que gostei muito, muito do livro - e que penso que será daqueles em que posso pegar daqui a uma dúzia de anos, dar-lhe novos significados, identificar-me com outras coisas, encontrar novos detalhes, e voltar a adorar.

Se vale a pena ler depois de ter visto o livro? Vale sempre a pena ler as histórias originais e, apesar da interpretação muito fidedigna, este não é excepção.

 

Curiosamente, li este livro ao mesmo tempo que a Beatriz, do "Procrastinar Também é Viver". Entre trocas de instastories - ferramenta através da qual nos apercebemos que estávamos a ler a mesma obra, na mesma altura - achamos que seria giro publicar as nossas reviews ao mesmo tempo, quase como uma comparação em tempo real. Porque, como a minha mãe diz, cada livro pode ser um milhão de livros, consoante o número de pessoas que o lê :) Sendo eu uma grande fã da Beatriz e levando muito a sério todas as suas críticas e conselhos literários, acho que este nosso timing não podia ser melhor. Passem pelo "estaminé" dela e digam de vossa justiça! 

26
Jun18

Salvem os golfinhos das pranchas de esferovite!

Não, meus amigos: eu ainda não ultrapassei o facto de ninguém me ter dado os créditos por, o ano passado, terem surgido todo o tipo de insufláveis (eram flamingos, fatias de pizza, ananases e melancias e até uns gelados ocasionais), após eu ter escrito, no ano anterior, sobre a falta de originalidade nas boias, que andavam sempre entre o golfinho desequilibrado, a orca assassina e o crocodilo-fofo. Tudo coincidências, dizem! Mas eu cá não acredito nessas falinhas mansas. Mas enfim, a vida continua.

Hoje estava outra vez na valiosa - e subvalorizada - atividade de observação quando me apercebo de uma menina a carregar uma daquelas pranchas de esferovite, que devem custar uns 32 cêntimos na China, que têm coisas estampadas de um lado e uma espécie de saco de ráfia preto no outro. Ainda sem ver nada, apostei comigo mesma que por detrás da parte negra estaria um golfinho. E bingo, acertei!

Porque a falta de criatividade ao nível dos produtos aquáticos aqui no Algarve não abrange (ou abrangia) somente os insufláveis. As braçadeiras para criança continuam a ser cor de laranja e as pranchas têm, 90% das vezes, imagens de golfinhos assustadoro-pirósos no seu verso mais colorido. O que é de louvar, tendo em conta que é difícil tornar um animal tão querido como o golfinho em algo quase aterrador. Mas eles conseguem!

As restantes 10% das pranchas são para os pais das crianças - na sua maioria rapazes - que não deixam que os filhos andem com essas coisas “amaricadas”. Há que comprar coisas com um ar de macho. Um tubarão e os seus 357 dentes, porque não? Ou então labaredas bem laranja, que fazem o olho de qualquer pirómano brilhar de alegria. Tudo coisas bonitas, portanto. E é incrível ver como, ano após ano, esses artigos de tecnologia altamente avançada se continuam a vender quais pãezinhos quentes! São gerações e gerações de golfinhos maltratados!

Venho, por isso, pedir que libertem os bichos dessa praga que os assombra desde que eu tenho idade para me lembrar. Mas, ao contrário do que fiz com as boias, não vou deixar sugestões de novos designs que poderão potenciar a venda deste objeto tão resistente, que perante as enormíssimas ondas de 40 centímetros fazem “crack”, deixando os filhos em lágrimas e os pais a chorar os 7,5€ que deixaram na papelaria ao lado do hotel. Ainda é com alguma dor que recordo que, embora me tenham roubado o projeto golfinhos-e-orcas-nunca-mais, nunca chegaram a concretizar a minha ideia de fazer uma bóia-Andorinha, que faria certamente furor por essas praias fora. Posto isso, que pensem sozinhos em novos padrões para libertas os pobres golfinhos das pranchas de esferovite, seus empreendedores de meia tigela! Não têm de quê!

 

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20
Jun18

Apaixonada pelos meus vestido de verão

Há uns dias a minha mãe, ainda que sem maldade, disse que eu era insossa a vestir-me. A questão é que a insossisse é, para mim, das piores coisas que há. Pessoas insossas, desenxabidas, sensaboronas, amorfas ou qualquer sinónimo de tudo isto dão-me um bocadinho a volta ao estômago. Pessoas que nem sim nem sopas, onde está sempre tudo bem, que não têm uma opinião definida para nada e que têm medo de falar o que quer que seja, são difíceis de lidar. Para mim é mais fácil estar com alguém que tem personalidade, ainda que bata de frente comigo, do que alguém que se esconde por detrás do seu escudo imaginário e não diz nada.

Por isso, quando ela me disse que eu era insossa, eu não achei graça. Porque, de facto, eu sou uma pessoa simples a vestir-me - mas, caraças, insossa não! Acima de tudo, gosto de passar despercebida... e é difícil vestir um corpo onde queremos esconder mil e uma coisas e ainda assim ficarmos bem e, talvez por isso, ao longo do tempo, a minha tendência foi vestir básicos, cores sólidas e não arriscar demasiado. No inverno com malhas e calças de ganga ou pretas e no verão usando t-shirts ou camisas - sempre tudo adornado com algumas peças que, achava eu, sempre iam dando uma graça aos looks.  

A verdade é que eu vejo as coisas nas lojas e nas passarelas e até as acho engraçadas. Sou uma privilegiada porque tenho acesso a novas ideias, novos conceitos de como vestir ou, como se costuma dizer, "sei o que está na moda" (na realidade não sei, quando me perguntam isto fico toda encavacada, acho que é uma pergunta sem resposta certa - mas percebem o que quero dizer). Mas depois penso que não quero mostrar muita perna, ou a peça não tem costas e eu não gosto de dispensar o soutien, ou são calças muito curtas e eu não quero mostrar o meu tornozelo inchado, ou é cai-cai e eu sinto-me sempre sufocada com aqueles soutiens, ou as camisolas têm mangas de morcego e não dá para usar casacos, ou as calças têm cinta baixa e sinto-me com a carne toda de fora, ou as peças são muito apertadas e as minhas formas não são assim tão boas para estarem todas à vista. Enfim! Sim, sou difícil de vestir. Mas já há algum tempo que queria pôr os básicos de lado (ou pelo menos não abusar deles) e tentar coisas mais arrojadas - e a boca da minha mãe foi o rastilho para que isso acontecesse.

A primeira fase da minha investida - aquela que ainda estou neste momento - incidiu nos vestidos. A moda dos vestidos e das calças, neste momento, combina com os requisitos que tenho para o meu corpo: uns são cintados e mais compridos, outros têm a cinta alta, tal como gosto. Já aqui disse: a minha vontade é fazer uma espécie de Arca de Noé com roupas para os próximos cinco a sete anos, porque sei que um dia destes a moda muda e voltam as skinny jeans e os calções e vestidos que deixam ver a prega do rabo e eu vou ficar outra vez sem roupa para comprar. Mas bom, agora tenho é de aproveitar. E se o meu roupeiro já está recheado de calças, como não tinha desde a altura em que era miúda, o mesmo não se podia dizer dos vestidos. Acho que o ano passado vesti os que tinha meia-dúzia de vezes, já demasiado preocupada com a horribilidade das minhas pernas, e portanto é a grande mudança desta estação. Comprei uns quatro, todos abaixo do joelho mas apertados na cinta, e pode dizer-se que foi uma autêntica paixão de verão. Todos têm cores vivas, todos têm padrões e personalidade e, por isso, acho que combinam um bocadinho mais comigo. Eu, honestamente, sinto-me muito feliz com eles. Ando há dois anos a trabalhar diretamente com quem vê, faz e produz moda e a ver imagens de streetstyle e de gente gira, com um estilo que eu às vezes pensava que poderia facilmente ser o meu, só me faltava coragem e "um bocadinho assim". E é fixe conseguirmos estar mais próximos do ideal que desejamos para nós mesmos. 

 

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17
Jun18

Dar-me tempo para viver

Sexta-feira foi um dia importante porque, de alguma forma, pus fim a um ciclo. Algures em Março deste ano decidi que ia deixar o trabalho onde estou há quase dois anos e todos estes meses têm sido de preparação para a minha saída. Sexta foi o dia em que, para todos os efeitos, deixei tudo pronto para ir embora; a data que defini para ter tudo em ordem para que o meu trabalho continuasse a ser (bem) feito pelos outros, para que a minha ausência provocasse o menos impacto possível. É tempo de férias. Vou descansar as ideias, ficar morena, desfrutar da ausência de stress e do “pling” dos e-mails a caírem na caixa de correio. Até porque sei que depois nada vai ser como dantes: ainda volto ao escritório, às pessoas que me viram nascer enquanto “trabalhadora”, mas agora quase em modo consultora, para ajudar a lançar mais um projeto. Depois, talvez, o adeus definitivo. Até lá, férias, descanso e viagens, pontuadas por momentos de trabalho, para não esquecer a sensação ;)

Tomar a decisão não foi fácil, dizer que me ia embora não foi fácil, estar estes meses a trabalhar e a saber que estava a preparar a minha própria saída não foi fácil. Acima de tudo, para mim, foi difícil sentir que sou substituível. Não é que, racionalmente, não o soubesse; mas uma das coisas que mais me puxava a trabalhar era saber que fazia parte de algo maior que eu, mas do qual eu era uma peça fundamental. E deixou de ser assim. Passei pelo processo de escolha das pessoas que me iam substituir e ensinei-as até chegar o dia em que praticamente as minhas funções ficaram vazias. Passei-lhes tudo. Do trabalho chato e mais burocrático, passando pela escrita e a parte criativa, assim como a gestão da parte online, entre tantas outras coisas. Algumas que eu ajudei a criar de raiz e que, tenho a certeza absoluta, ninguém conhece melhor que eu. Era quase o meu bebé... que mudou de colo.

A verdade é que eu nunca escondi de ninguém que esta seria uma fase da minha vida passageira, até por sentir que o meu caminho já estava traçado há muitos anos, ainda eu não me tinha desviado de todos os planos iniciais. Para além de que, para mim, é inconcebível trabalhar num sítio a vida inteira (a menos que seja um negócio nosso, do qual não nos podemos "despedir" assim de um momento para o outro) - muito menos na fase em que eu estou, em que preciso de movimento. Tenho muitos anos pela frente, em que vou querer paz e sossego, e não acho que agora seja altura para isso. Tenho 23 anos, trabalho há tempo inteiro há dois, e tenho medo de estar a perder "os melhores anos da minha vida" com responsabilidades crescentes e chatices diárias (ainda que muito minhas), que me tinham vindo a tirar alguma qualidade de vida nos últimos tempos.

Cheguei a um ponto em que comecei a desenhar o meu futuro e a pensar "vai ser só isto?". Fiz todo o meu percurso sem pausas ou paragens. Acabei o secundário, fui para a faculdade; apesar de ter vacilado muito nos meus três anos de curso, completei tudo sem deixar nunca uma cadeira para trás e segui para estágio; no estágio propuseram-me trabalhar, eu disse que sim, e é assim que estamos até agora. Já tinha algumas responsabilidades no meu trabalho atual e uma carga de trabalho valente, que sempre tentei articular com tudo aquilo que queria fazer no dia-a-dia, graças a uma flexibilidade de horários, por vezes, quase heroica. Mas ou parava agora ou continuava com a minha vida estilo maratona, sem parar para respirar.

Percebi que este ia ser o gap da minha vida. Estou entre o trabalho que escolhi e o trabalho que vou ter que fazer (que também escolhi, mas que foi algo "naturalmente imposto" pelo meu dia-a-dia, pela minha infância e pelo estilo de vida que quero manter). Perspetivei o meu futuro a médio prazo enquanto empresária e vi que aí sim, a minha vida vai ser dura; aí é que eu tenho mesmo de trabalhar aos fins-de-semana, fazer horas extraordinárias, passar almoços de amigos ou saídas em prol de um negócio bem sucedido. Aí é que eu vou suar as estopinhas, dar o tudo por tudo - porque aí as coisas dependem de mim e o meu sucesso deverá ser proporcional ao meu esforço (ou assim o esperamos..). Aí é que eu vou sentir o peso da responsabilidade, quando tiver pessoas a meu cargo, salários para pagar e um orçamento para gerir.

Há dois anos fui trabalhar porque quis e voltava a fazer o mesmo - vá-de retro a faculdade! Tive sorte em quase tudo e quase tudo foi incrível. Mas comecei a sentir peso nas costas - da responsabilidade, do medo de não estar a aproveitar estes anos, de estar a levar uma vida apressada e demasiado seguida. Olhei à minha volta e apercebi-me que quase todos os meus colegas estavam a "viver a vida", independentemente do sentido que dessem a essa frase - a namorar, a viajar, a ir de erasmus, a fazer voluntariado num país qualquer que eu nem sei precisar no mapa, a ir de boleia pela Europa, a marcar férias sem terem de se preocupar com o facto de só terem 22 dias úteis para as gozar. E olhei para mim, a levar uma vida sedentária que podia ser a de alguém na casa dos seus trinta e tal anos, e disse que se calhar era a altura de acordar.

É engraçado, porque eu sempre tive escolha. Fui livre de fazer o que quis quando terminei a licenciatura e, curiosamente, acabei por me prender a mim própria. Nos últimos tempos senti-me acorrentada ao trabalho e quando percebi que podia estar a gozar dessa forma os últimos anos de alguma liberdade, quase que entrei em pânico. E quando digo "liberdade", refiro-me a poder ir de férias sem ter de avisar com três meses de antecedência e sem ter de contar os dias úteis; a poder ficar a dormir um bocadinho mais de manhã por ter estado a tossir a noite inteira; a poder empenhar-me com afinco em algo que me está a dar realmente prazer, como é o caso do piano. No fundo, é ter flexibilidade e menos responsabilidade em cima dos ombros.

É claro que tudo isto é muito bonito, se descontarmos toda a carga emocional que esta decisão acarreta. Vai-me custar não ver o meu nome impresso num jornal mensal, a assinar um qualquer texto; vai-me doer não ter uma credencial do Portugal Fashion sem o "P" de press; vai ser duro deixar de ter a companhia diária de algumas pessoas que me enriqueceram, pessoal, profissional e culturalmente; e, acima de tudo, vai-me fazer muita falta sentir-me essencial em algo - ser importante numa estrutura, estar mais que integrada nela, fazer parte de algo (essa coisa em que, ao longo da minha vida, sempre fui tão má). Até porque a lista de coisas que aprendi nestes dois anos é infindável. Vão ser lições que vou carregar para a vida. Uma das mais importantes (e que eu já sabia, mas que continuo a confirmar) é que nem tudo é preto ou branco, como eu quero ver. Não gosto de cinzentos, mas aprendi a resignar-me (um bocadinho, vá...) que eles existem. Nem a minha saída vai ser preto no branco: não trouxe as coisas todas, não deixei as chaves. Vou voltar, tenho trabalho em mãos (já não tenho é as rotinas) e não sei se algum dia vou sair por completo. Mas para alguém como eu, que gosta dos tons nos seus extremos, isso é confuso. Por um lado bom, porque não é algo abrupto; por outro, o vai-não-vai causa-me instabilidade. 

Estou por isso a passar uma fase incerta, entre a alegria de um futuro que eu acho que vai ser risonho e a dor de deixar um trabalho que me deu muito; entre as certezas de um presente com um dia-a-dia de rotinas e de um futuro que terá de ser totalmente governado por mim; entre a vontade de ver o que vem aí e a saudade que já se aloja dentro de mim; no fundo, entre saber se tomei a decisão certa ou a decisão errada. Tem sido também uma lição de "adultismo": tomar uma decisão, leva-la avante e arcar com as consequências. Respirar fundo, ganhar coragem e enfrentar o boi pelos cornos. Ficar magoada. Aprender a curar-me. E saber andar em frente.

Tenho vários planos para o que vem aí mas não sei timings nem nada em concreto. Lá está, é tudo um bocadinho cinzento, e isso inquieta-me profundamente. Ao ponto de não me apetecer escrever - algo que aconteceu muito ao longo dos últimos meses - por ocupar tanto espaço na minha mente. Vai ser uma aventura. Agora é concretiza-la, não me deixar ficar pelas ideias e fazer desta oportunidade aquilo que eu realmente quero dela.

Estou a dar-me tempo para viver a vida. O momento é agora. 

 

 

06
Jun18

Já tenho férias marcadas... e vou sozinha!

Decidi que vou passar férias sozinha. Foi rápido: lembrei-me do destino, encontrei um pacote apetecível e marquei. Não perguntei a ninguém se queria vir comigo e fi-lo de forma consciente, por duas razões: a primeira é porque já sabia as respostas que ia obter se perguntasse, a segunda é porque sempre quis viajar sem ninguém ao lado.

Há uns dias lia o blog da Beatriz, que foi sozinha até à Escócia (também hei-de ir!), e ela dizia lá uma coisa de que eu gostei muito, a propósito de viajar sem companhia: "Este silêncio, que só se quebra com o ruído dos locais, dos turistas, dos guias e das colegas de quarto, é um descanso. Adoro estar assim, principalmente porque sei que tenho o oposto em Portugal. Só daria valor a um e a outro cenário, tendo os dois. É o caso." Felizmente, também é o meu. Na verdade, esta frase aplica-se, para mim, não só nas viagens como no resto da vida. Eu sou das pessoas que conheço que mais gosta de estar sozinha - mas isso acontece porque sei que chego a casa e, se quiser, tenho o "colo" dos meus pais ou os meus irmãos a uma chamada de distância. Acho que só é bom estarmos sozinhos quando sabemos que também temos o outro lado da moeda - o que, pensando bem, até é um tanto ao quanto egoísta. A solidão completa é assustadora.

Mas voltando à viagem: é sabido que eu não tenho muitos amigos. Aliás, talvez seja melhor retificar: tenho mesmo muito poucos amigos. E a verdade é que os que tenho não estão na mesma "página" que eu. No que a companhias diz respeito é muitas vezes a família que me safa: para ir a concertos, a festivais, a viagens, às compras ou simplesmente dar um passeio. Sempre achei - e continuo a pensar o mesmo - que uma das maiores dificuldades nisto de arranjar alguém (seja esse alguém um namorado ou um amigo) que combine mesmo connosco é precisamente essa estar na mesma situação que nós, a todos os níveis (financeiros, familiares, sociais...); as coisas funcionam se isso não acontecer (senão, o mundo estava perdido!), mas vão sempre existir entraves. E eu tenho a plena consciência de que é muito difícil alguém estar nas condições em que eu estou neste momento. Neste verão eu devo ter um coisa que é rara: tempo. Para além disso, tenho dinheiro no bolso. E, acima de tudo, não tenho amarras: não tenho namorado, não tenho filhos, não tenho pais que precisem de mim a tempo inteiro, não tenho um trabalho que me exija uma presença permanente, não tenho eventos para ir, não tenho nada marcado. Tenho um freepass e quero aproveita-lo. E sei que mais ninguém à minha volta tem todas estas condições reunidas. Ora porque as amigas têm namorados, ora porque os meus irmãos têm filhos, ora porque todos os outros têm trabalho ou preferem aplicar o seu dinheiro noutra coisa qualquer. E eu percebo e respeito isso. Só não posso é deixar escapar esta oportunidade. Porque, como cheguei à conclusão aqui, acho que já chega de esperar pelos outros. Sinceramente, acho que já chega de esperar por alguém que eu acho que não vai chegar.

Não marquei esta viagem por querer estar sozinha, por querer fazer uma auto-descoberta ou qualquer uma dessas coisas meias-espirituais com as quais não me identifico. Foi uma questão prática: vi, quis e marquei. E que bom que foi, não ter de esperar pelos outros; não ter de me adequar aos gostos e opiniões alheias; não ficar em stand-by à espera de autorizações, de consultas de budgets ou impasses. Que bom que foi, querer algo e fazer. E eu sei que sou muito egoísta nesta minha forma de ser, de estar, de pensar. Mas acho que esta vai ser a única forma de eu fazer alguma coisa na vida - ou de, pelo menos, não me irritar tanto no processo.

E ainda que eu não esta não seja, como disse acima, uma viagem de auto-descoberta, acho que vai ser uma boa prova para eu ver como me safo, realmente, sozinha. As expectativas estão altas. E, caraças, estou a contar os dias! Tem tudo para ser incrível.

 

04
Jun18

Mais um dia na luta

Acho que corria o mês de Janeiro quando voltei ao ginásio. No último post que escrevi sobre o assunto (algures em Outubro do ano passado), terminei com a frase "se isto sobreviver ao Natal, sou uma mulher feliz." Pois que não durou. Lá para o fim de Novembro, quando me meti no meu projeto Natalício, larguei (quase) tudo para me dedicar a isso, e o ginásio foi uma das coisas condenadas. O resultado não foi bom: nesse mês, de tanto estar sentada e parada, engordei perto de quatro quilos. Por azar, tinha uma consulta na nutricionista do ginásio poucos dias antes do Natal, onde constatei esse facto (o peso), que até aí desconhecia. A rapariga não foi branda - muito pelo contrário, achei-a rude e com muito pouco jeito para abordar uma questão que todos os nutricionistas deviam saber ser sensível - e eu fiquei em choque.

Tenho sorte em muitas coisas na vida, mas esta não é uma delas. Não tenho uma boa genética, nem um bom metabolismo; uso a comida como conforto em momentos de maior stress e gosto muito pouco de cenas verdes e hiper saudáveis; as dietas comigo só resultam se forem levadas ao extremo ou com auxílios externos; e o gosto de fazer desporto não está no meu ADN. Isto tudo é um mix perigoso, até porque basta olhar para a minha linha genealógica para ver o possível resultado (que é grande, se é que me entendem). E eu tenho pânico de ficar assim. Sofro com isso constantemente e todos os dias me olho ao espelho e penso que nunca me posso desleixar até aquele ponto. Mas, por outro lado, sei que o desleixo não tem de ser grande - basta "um bocadinho assim" para as coisas saírem dos eixos. Bastou um mês embrenhada num projeto para ganhar quatro quilos no lombo.

Então em Janeiro tentei controlar a boca e atirei-me ao ginásio. Quanto à primeira parte, é um caso difícil: o meu pecado tem um nome e chama-se "pão", que é provavelmente o alimento que eu mais gosto na vida. Para além disso, como doces esporadicamente (ainda que, dentro do conceito do esporádico, talvez mais vezes do que devia). Mas não bebo álcool, não tenho night cravings, não ponho açúcar no chá (e não bebo café, onde aí sim, preciso de açúcar) e portanto fica difícil cortar nessas coisas básicas, uma vez que não existem. Quanto ao ginásio, foi uma vitória: fiz um grupinho com alguns membros da minha família e lá íamos nós, tias e primas da vida airada, suar as estopinhas para uma aula qualquer onde tínhamos de saltar para cima de caixas (eu não salto, subo, porque tenho muito amor aos meus dentes), fazer burpees a toda a hora e coisas que tais. Comecei a fazer calo. Caraças, nunca fiquei tão orgulhosa de um calo! Achei mesmo que isto ia de vento em pôpa, já me sentia bem mais confiante.

Porque a questão aqui está no equilíbrio. Eu não sou obcecada pelo meu peso - mas tenho claramente uma panca com aquilo que vejo ao espelho e nas fotos (que nem sequer sei dizer se é, ou não, uma visão real e fidedigna daquilo que eu sou). Isto quer dizer que se eu estiver mais pesada mas visivelmente mais magra e/ou tonificada, é na boa; não é o peso que me importa. Para além disso, trata-se também de tentar fazer uma boa gestão de expectativas. Há uns anos para cá, sempre que me inscrevia no ginásio sonhava com o corpo perfeito: (acrescentar aqui tuuuudooo o que detesto no meu corpo e que gostava de mudar, mas que não vou escrever porque isso ocuparia uma folha A4 inteira). Depois, quando eventualmente desistia e me via praticamente igual, era uma desilusão. E quando comecei esta empreitada, fi-lo consciente de que não ia nunca ter o corpo que sempre quis. Só queria melhorar um bocadinho, naquilo que fosse possível - embora isto já seja admitir quase uma derrota à partida. Mas a verdade é que à medida que vamos fazendo e nos vamos entusiasmando, até pensamos "se calhar até consigo aniquilar aquele músculo do adeus". E as expectativas vão aumentando. Lembro-me bem de sentir a minha auto-motivação durante as aulas, de estar a sofrer horrores, de chegar ao ponto de querer chorar, e de pensar que ia conseguir olhar para uma foto na praia e não ter vergonha de mim mesma. E por isso continuava, até ficar mais vermelha que nem um tomate, a deitar os bofes de fora e de em alguns casos até me sentir a cair para o lado. A levantar pesos, mesmo sabendo que os meus trapézios estavam a gritar por socorro; a ter dores horríveis nos dias seguintes, a lidar com as contraturas nas costas diariamente, ao ponto ir fazer uma massagem para me aliviar a pressão (e quem me conhece sabe que, para eu ir fazer uma massagem, é preciso muito). Caraças, houve uma aula em que saí feliz, contente e satisfeita! Foram uns três meses nisto. Até ao dia.

Começou com uma amigdalite chata, meia gripe, que me deitou abaixo e me deixou sem forças. Depois meteram-se umas complicações no trabalho, que resultaram em horários mais alargados. E, nisto, foi-se o hábito, foi-se o grupo, foi-se tudo. Voltaram os medos. A vergonha. O pânico de ficar disforme, de não caber na roupa. A auto-depreciação. E, pá, eu sou muito boa nisso. Chateio a única pessoa que me ouve (a minha pobre mãe, cansadinha das minhas pancadas), choro as pedras da calçada. Não sei se somos donos do nosso próprio destino, mas sei que temos algo a dizer sobre ele - e eu estou sempre num limbo, entre aceitar que sou assim e de querer mudar a toda a força. Até porque há coisas que eu sei que não mudam (pelo menos sem bisturis pelo meio), porque fazem parte de nós: não há como deixar de ter uma anca larga, uma perna grossa. Mas ter de aceitar essas e querer mudar as outras é um meio termo difícil de alcançar. E mais difícil ainda é o caminho que é preciso percorrer para chegar a qualquer uma delas.

Na altura daquela polémica da Carolina Patrocínio, que andava a subir escadas no ginásio dois dias antes da filha nascer e que depois apareceu linda na sala de partos, eu tinha um post escrito mentalmente para aqui colocar. A primeira coisa que eu lá tinha era uma palavra de apoio à minha homónima, porque também eu gostava de me sentir bonita naquele que dizem ser um dos dias mais felizes na vida de qualquer pessoa; e a segunda é que tenho uma inveja horrível da força da vontade e motivação daquela mulher. E quem diz Carolina Patrocínio diz, por exemplo, Isabel Silva. Lá terão os seus defeitos, mas caraças, acordam com as galinhas para ir treinar, fazem instastories pelo meio e ainda saem de lá felizes. Quem me dera a mim ter metade dessa força.

Ainda assim, continuo a tentar. Um mês e meio de sedentarismo depois, hoje voltei ao ginásio. Este post era só mesmo para assinalar isso.

02
Jun18

Hoje em dia é tudo instagram

Acabei o último post dizendo que não havia instabooks. A verdade é que não me dei ao trabalho de procurar, esperei simplesmente (e esperançosamente) que eles não existissem - porque, hoje em dia, existe tudo o que é passível de ser “instagramável”, que é como quem diz “tudo o que fica bem na fotografias”. O que tem tanto de bonito como de fútil.

Pensei muito nisto no Brasil, onde o meu primeiro momento de “pânico” na viagem foi quando achei que ia integrar uma comitiva de instagramers, bloggers e influencers. Percebi que o hotel estava pejado delas logo no primeiro pequeno-almoço, quando uma rapariga passou cerca de vinte minutos a tirar fotos aos seus pratos e a fazer instastories de todo o material comestível disponível no buffet. Quando eu digo vinte minutos, foram mesmo vinte minutos: ao ponto de nem sequer chegar a vê-la comer! Mexia um prato, trocava outro, tirava a foto de 47 ângulos diferentes, fazia zoom in e zoom out... e nisto o café já devia estar frio. Notei também devido à presença constante de câmaras e de telemóveis e, claro, pela forma como elas se vestiam só para ir comer, demonstrando que não eram pessoas da mesma "classe" que todas as outras presentes na sala. Entre maquilhagens e vestidos esvoaçantes, tenho a certeza que passavam mais tempo a arranjar-se para ir comer antes de ir para a praia do que eu costumo demorar antes de ir para um qualquer evento de maior importância - o que é indiferente, desde que elas gostem... mas que não deixa de ser uma prisão para elas, porque Deus-me-livre de ir tomar o pequeno-almoço com o cabelo apanhado e as olheiras de quem acabou de acordar! Não vá alguém pedir uma foto, claro! ;) E foi por isso com o maior alívio que eu percebi que não ia andar com elas no evento. Se me senti desintegrada com os três jornalistas que me acompanharam nesta viagem, se tivesse de andar com elas sentir-me-ia pior que o patinho feio durante quatro dias. 

A situação mais caricata que vivi durante aqueles dias foi numa das minhas manhãs na praia. Estava deitada a ler o meu livro na areia e surge um grupo destas raparigas, em conjunto com um fotógrafo, prontas para uma sessão fotográfica. Uma vem educadamente falar comigo e diz: "olá, desculpe incomodar! Posso pedir um favor a você?". Respondi que sim. "Pode emprestar o seu livro, para tirar uma foto?". Eu não sei precisar a minha cara naquele momento, mas deve ter sido engraçada. "S... sim." E entreguei o livro de João Pinto Coelho à brasileira, que prontamente se deitou na espreguiçadeira, abriu a obra em parte incerta e fingiu ler com muito afinco. Uma série de disparos depois, vem entregar-mo, rematando: "ao menos o livro é bom?". "Muito bom", disse-lhe, esperando que ao menos fizesse boa publicidade ao livro de um autor português. (Poupo-vos a pergunta: apesar dos meus esforços em encontrar a blogger em questão e a foto em particular, as minhas pesquisas foram infrutíferas).

Toda esta necessidade de tirar fotos para ficar bem e parecer melhor mexe-me um bocadinho com as entranhas. Não é só tornar a realidade mais bonita do que aquilo que ela é: trata-se de mentir mesmo. Eu tenho noção de como é que tudo isto funciona e estava lá nesta situação em particular - e em todas as outras, enquanto comiam os seus próprios cabelos esvoaçantes à medida que andavam sensualmente pela praia, quando o mar lhes dava chicotadas nas costas e elas pareciam estar a saborear o cheiro a maresia ou em puros momentos de narcisismo ou mesmo má-educação, enquanto tiravam selfies a meio dos desfiles. Mas a verdade é que muita gente não sabe disto - principalmente as miúdas mais novas, que acham que os pequenos-almoços são sempre incríveis, que aquelas pessoas que seguem têm tempo para ser lindas, bonitas e cultas ao ponto de até lerem na praia, pensando que tudo é um mar de rosas.

A verdade é que hoje em dia é tudo para o Instagram. Eu vejo aqueles fatos de banho com 59 fitas espalhadas pelo corpo e sei que nenhuma influencer que se preze quer ficar com aquelas 59 marcas no corpo; sei que são fatos-de-banho para a foto. Vejo aquelas agendas com frases inspiradoras e percebo que são apenas para "flatlays" perfeitas. Reparo naqueles saltos assustadoramente finos e sei que a foto deve compensar a dor nos pés ao final do dia. E vi muitas, muitas vezes todos aqueles sorrisos momentâneos, enquanto a câmara se apontava para elas, e que se desvaneciam imediatamente quando olhavam para o ecrã, já com o dedo pronto para retocar e esconder qualquer imperfeição.

Esta rede social ganhou uma dimensão ainda mais irreal do que o facebook, na medida em que tudo tem de ser bonito e perfeito; em que não só as fotos são 100% cuidadas como o próprio feed é mexido com muito carinho e amor, qual bonequinho de porcelana. Acho incrível - no bom e no mau sentido - como é que alguém tem paciência para prever o seu feed antes de publicar uma foto, só para perceber se o "conjunto" fica bonito e coerente. Porque, aparentemente, a vida para estas pessoas é isto: a beleza de tudo, em tudo. E eu não acho mal que se veja o bright side of life. No meio das minhas pesquisas para encontrar a blogger-do-livro, deparei-me com fotos incríveis da praia e do resort onde estive e pensei "bolas, aquilo era assim tão bonito?". De facto elas tornam o banal em algo incrível, transformam o bonito em tendência. Mas, pelo meio, espelham uma vida irreal que (mesmo inconscientemente) todos acabamos por ter como referência: porque queremos aquele pequeno-almoço completo e de aspeto delicioso, queremos um rabo sem estrias, queremos os biquinis mais giros do mercado, queremos aquela maquilhagem perfeita, queremos as viagens, queremos aquele carro XPTO, queremos o relógio em promoção, queremos um fotógrafo que nos tire aquelas fotos bonitas. Só nos esquecemos que a vida é também tudo o resto. Tudo o que não é instagram. Se calhar, tudo o que é de mais real. Basta pensar num cozido à portuguesa: pouco bonito e fotogénico, mas delicioso e autêntico. E a verdade é que há um mar de coisas estilo cozido à portuguesa espalhadas por aí.

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