Um presente para a vida
Já aqui tinha dito: eu queria um piano de cauda. Sempre quis – sempre achei que esta era uma das peças mais bonitas que se pode tem em qualquer sítio – mas, desde que comecei a tocar piano (e o meu velhinho piano vertical já começava a dar de si), esse desejo intensificou-se.
Comecei a perceber que, eventualmente, isso ia acontecer. Quer fosse um presente, quer fosse eu a compra-lo com o dinheiro que tenho de parte, eu sabia que era uma questão de oportunidade. Ia vendo o que aparecia em sites de segunda-mão (comprar um novo estava fora de questão, tanto por questões financeiras – um piano por estrear pode custar o mesmo que um carro ou até um apartamento – como pelo trabalho já nele desenvolvido, um vez que os instrumentos novos tendem a ser mais “esganiçados” e eu prefiro-os mais maduros) e houve um dia em que apareceu um.
Basicamente os astros juntaram-se a meu favor. Era de um pessoa de quem eu já tinha referências e é extremamente competente, o preço era incrivelmente bom, o piano já carrega uma história de mais de cinquenta anos e já está “mole”, fazendo com que o bater nas teclas seja um ato de meiguice e não de luta. Para a idade que tem – e tendo em conta que era um piano em que o antigo proprietário tocava e não servia apenas um objeto de exposição – está em ótimo estado, com pequenas mossas que só nota quem estiver à procura. Tem as teclas em marfim (algo que eu não estava certa se queria, porque se degradam mais facilmente) mas até isso já raramente se vê. E, obviamente, é lindo. Isso é indiscutível. E fica ainda melhor na minha sala do que aquilo que eu imaginava!
Isto serviu como prenda de anos um bocadinho atrasada – o que não importa absolutamente nada, porque um presente destes não tem preço, nem data, nem valor sentimental possível. Não descorando tudo aquilo que recebi ao longo da vida – e foi muito! - acho que esta foi, sem dúvida, a melhor prenda de todas. Um carro, por exemplo, é muito mais útil, é quase indispensável para a minha locomoção... mas esta é uma peça emocional. É todo um outro nível. Passaram-se quase dois meses (sim, atrasei-me a divulgar esta boa nova, mas a malta do instagram já sabia há algum tempo – sigam em @carolinagongui) e eu ainda suspiro de cada vez que entro na sala. Passaram-se quase dois meses e eu ainda dou por mim com a cabeça encostada a ele, enquanto me sento no seu banquinho. Passaram-se quase dois meses e eu ainda agradeço sempre ao meu pai, de cada vez que ele olha para mim enquanto toco (e isso é quase diário). Acho que pode passar o resto da vida e esta será sempre uma das melhores coisas que me caiu nas mãos.
(e enquanto estive no Brasil passou-se quase uma semana sem lhe tocar – e as saudades que eu tive!)