Estava a passear pelo facebook e dei de caras com um post de um humorista que disse que fez férias à velho: foi viajar num cruzeiro. Nos comentários diziam-se coisas horríveis tipo "cruzeiros nunca, jamais!" e onde, lendo o post na diagonal (já tenho pouco tempo recreativo, não me apetecia gasta-lo a ler bacoradas), só se viam coisas do género "é só velhos e gordos a comer durante o dia todo". E até podem desvalorizar este meu post por eu ter uma alma velha, alegando que penso tal e qual as pessoas que frequentam este tipo de viagens, mas acreditem que eu adoro viajar e o faço de todas as formas e feitios, sem problemas de criticar o bom e o mau de cada sítio e de cada meio para lá chegar.
Uma coisa é absolutamente indiscutível: fazer um cruzeiro é a forma mais cómoda de viajar. Queixam-se dos velhos, queixam-se dos gordos, queixam-se das crianças - mas passar dez horas enfiados num avião em classe económica, com uma pessoa obesa a ocupar metade do vosso lugar, um velho com ar bafiento a adormecer em cima do vosso ombro e uma criança a testar o limite dos vossos tímpanos no lugar da frente é muito bom, não é? Vou contar-vos um segredo: no barco, podem quase correr uma meia-maratona lá dentro. Se não quiserem estar parados, não estão. E se quiserem dormir, têm um quarto e uma cama só vossos, sem barulhos, pessoas ou crianças aos guinchos. É uma opção vossa se querem socializar ou querem estar sozinhos, assim como se querem sair ou ficar dentro do barco.
Esquecem-se que a idade traz sabedoria; os mais velhos escolhem este meio porque já experimentaram todos os outros e sabem qual é o melhor. E vocês dizem: "não é nada, é porque andar de barco não cansa!". Ai não? Haviam de se ter levantado às cinco da manhã para estar no autocarro às sete, tal como eu fiz na Rússia, para ver se não chegavam à noite com soninho. Em média, na semana que fiz no Báltico, andei dez quilómetros por dia. E se isso não cansa, não sei o que fazem nas vossas viagens. É claro que podem ficar no barco, não fazer nenhum e comer cachorros e cheeseburgers o dia inteiro - mas, mais uma vez, a opção é vossa.
Outra coisa espetacular: não pagam para comer, não pagam para ir a espetáculos, não pagam para ir ao cinema, não pagam jogar nos trivia, não pagam para ir ao ginásio, não pagam para ir à piscina. E sabem aqueles momentos em que temos de nos meter num avião, para viajar de um sítio para o outro, e lá estamos à espera do check-in, depois à espera que o avião levante, e as horas de viagem sufocantes em que só nos podemos mexer cerca de trinta e sete centímetros e saímos com formigueiros nas pernas e costas suadas e coisas que tais? No barco não existe. Fazem o que querem, vivem a vida, fazem as atividades que mais gostam, dormem confortavelmente - e, sem dar por isso, já estão no sítio seguinte. E se gostarem de ver as vistas, aviso já que em pleno mar se vêem coisas incríveis e pores do sol de cortar a respiração.
Se passam pouco tempo nos sítios? Passam. Se isso é mau? Nem sempre, há sítios de treta. Para mim, a magia de um cruzeiro é esta: fico a conhecer várias cidades em pouco tempo, passo a ter uma ideia geral do que aquilo é, se faz ou não o meu estilo. E depois, mais tarde - ensardinhada num avião, lá terá de ser - volto para divagar com todo o tempo do mundo na cidade. Dou um exemplo: quero muito voltar à Suécia, voltar a percorrer Estocolmo e não só; já ir à Finlândia, penso que só irei se se proporcionar ir em trabalho ou me oferecerem a viagem, porque simplesmente não ficou o bichinho. Foi fixe, risquei um país da lista, mas não tenciono voltar.
Agora tudo depende do cruzeiro que fazem, da companhia onde vão e do tipo de quarto que escolherem. Há cruzeiros fracos, companhias más e quartos horríveis sem sequer uma janelinha para ver o céu. Entre ir num cruzeiro fraco e bafiento e ir para um só destino, mesmo que seja num low-cost e ficar num hotel com melhores condições... se calhar prefiro a segunda opção. O cruzeiro que fiz no Báltico foi com a Royal Caribbean e agora o próximo é com a Celebrity - vamos ver o que vai sair dali - e fiquei em quartos com varanda. São companhias boas e os quartos também são de nível superior - mas sei que há quartos com janela, sem varanda, que também são perfeitamente aceitáveis (e os quartos sem janela, ainda que um bocado claustrofóbicos, quando inseridos num cruzeiro bom devem valer a pena). É, como em tudo, uma questão de dinheiro. Mas vale a pena fazer as contas: se virem todos os sítios onde param, se incluírem comida e bebida, mais dormidas e se se atreverem a juntar todos os extras ao nível de comodidades (ginásio, piscina, sauna, solário...) e de entretenimento (espetáculos, cinema, jogos, etc.) acho que a questão nem se coloca.
No entanto, é como vos digo: fazer um cruzeiro é como ir ao sushi - se começarem num mau, nunca mais põem lá os pés; se começarem num bom, no início estranham e depois não querem outra coisa. A minha experiência foi tão boa que eu vou repetir - e sou uma miúda de 22 anos! Conheci pessoas muito simpáticas, sítios diferentes, falei línguas, convivi e diverti-me imenso enquanto viajava. Fiz um post grande depois do meu primeiro cruzeiro que podem ler aqui, assim como diários de bordo dos sítios onde parei que podem ver aqui.
E, a sério, tendo possibilidades... deixem-se de preconceitos e experimentem.