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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

18
Jan17

Review da semana 14#

Cabify

 

Este domingo fui a Lisboa. Ia e vinha no mesmo dia, que agora os dias e as horas são contados - cenas de "gente crescida" -, por isso optei por ir de avião. A verdade é que a viagem me ficou ao mesmo preço do comboio e acaba por ser muito mais rápida, mesmo tendo em conta todos os entretantos dos aeroportos. Já levava o meu trabalho de casa feito, por onde queria ir e passar - precisava de ir do aeroporto para o Cais do Sodré, daí para os Pastéis de Belém, com passagem pelo novo MAAT, depois almoço no LX Factory e de seguida para a zona de Carnide.

Do aeroporto para o Cais do Sodré fui de metro, mas depois como queria seguir pela marginal e não há linha por aqueles lados, optei por me estrear na Cabify. Já me tinha precavido no dia anterior, instalando a aplicação. Enquanto estive no aeroporto fiz o registo - super rápido, diga-se de passagem - e depois foi só chamar o carro. Achei o processo super intuitivo - aliás, até o acho fácil demais: uma pessoa engana-se facilmente num botão e, sem se aperceber, já vem um carro a caminho. Eu não me preocupei com custos e distâncias, mas a esse nível não me pareceu tão fácil a navegação na app - ainda assim, como disse, isso esteve longe de ser um entrave.

No total fiz 3 viagens, com 3 condutores diferentes. Foram todos impecáveis, os carros tratados como novos, sempre com águas à disposição. O primeiro que apanhei também era do Porto, por isso tivemos a trocar uns bitaites - ofereceu-nos rebuçados e foi super simpático. Os outros dois, ainda que mais calados, também foram sempre de uma delicadeza incrível - perguntaram se a música estava do nosso gosto e um deles carregou-me o telemóvel, porque estava a ficar sem bateria.

No fundo, se tivesse que pontuar esta review, era de 100%. Foi perfeito, não houve absolutamente nada que não gostasse na Cabify - não tenho termo de comparação direta porque nunca andei de Uber e optei por me estrear nestas andanças com a Cabify - por qualquer razão, atraiu-me mais. Não achei nenhuma das viagens absurdamente caras - e uma delas demorou meia hora. De qualquer das formas, mesmo que fossem mais caras do que os táxis, valia a pena: ter um carro limpo, bem-cheiroso, música para além da Rádio Festival, águas ao dispor e, acima de tudo, simpatia e respeito no trato para com os clientes compensa largamente.

Fica a certeza de que voltarei a usufruir destes serviços e de que dificilmente me apanharão num táxi nos próximos anos.

17
Jan17

ENCONTREI-O!

Eu corri literalmente metade da cidade do Porto. Fui a supermercados, hipermercados, pastelarias, padarias, facebook's madeirenses, lojas online. Só me faltou mesmo ir bater à porta dos restaurantes da moda, com todos aqueles hambúrgueres XPTO, para lhes implorar o contacto dos fornecedores. Chegava a casa e só dizia à minha mãe que tinha fome, que só me faltava uma coisa para ser feliz. O desespero foi tal que ela, numa medida drástica, perguntou no seu facebook se alguém sabia onde encontrar o dito e, no meio de algumas respostas vazias de verdade, veio a luz.
Para mal dos meus pecados veio logo de um dos sítios que menos gosto de ir: a makro. Sempre que lá vou não só me gelam as extremidades como as entranhas, uma vez que aquilo mais parece um iglo do que uma superfície comercial. Mas vamos ao que interessa: eles têm bolo do caco congelado!!!
Não é certamente o melhor do mundo, é baixinho e um bocadinho farinhento... mas meus amigos, é bolo do caco e tudo o resto é conversa. E para além disso é vendido em packs de 12, por cinco euros (resulta em 50 cêntimos por pão), o que não me parece ser um mão negócio. Eu trouxe logo duas caixas debaixo do braço, não fosse o diabo tece-las e tornar a tirar os bolos do caco do meu caminho, tal como aconteceu no Continente. Pelas minhas pesquisas deveras aprofundadas, penso que o Jumbo também vende estas caixas, mas não cheguei a confirmar.
Para além de disseminar esta informação que creio ser útil para toda a comunidade e partilhar a minha imensa alegria com esta minha descoberta, quero com este post agradecer a todos os que me deram ideias, sugestões e dicas relativamente a esta busca ingrata da tão apreciada iguaria madeirense. Tenho a dizer que engordei mentalmente só por causa das vossas descrições e fotos enviadas, salivei em seco e sofri em silêncio enquanto pensava em dar uma trinca num daqueles pães, mas ainda assim, e como dizia a outra, "vocês batem forte cá dentro". [Não tão forte como o bolo do caco, mas vocês percebem...]

16
Jan17

Sobre a complexidade de construir uma história ou uma simplicidade escondida

Não é segredo para ninguém que o meu grande sonho é escrever livros. E quando eu digo "escrever livros" não me refiro a compilações de textos soltos, crónicas e coisas desse género - porque aí já podia ter uns cinco! -, mas sim a ficção. Quero um dia, mais do que partilhar os meus sentimentos, ideias e peripécias, conseguir criar uma história de raiz e fazer com que os leitores se embrenhem nela.

Até hoje tal nunca aconteceu. Sei que há muita gente da minha idade que já tem imensa coisa escrita, mas não é o meu caso - e sinceramente é algo que me apoquenta, porque nunca vi em mim a capacidade de construir histórias. Há imensas pessoas que, desde pequenas, inventam personagens, sítios e enredos, mas eu nunca fui assim; adoro perder-me em mundos criados pelos outros, mas não tenho grande capacidade de criar os meus, e temo que isso me impeça de escrever (bem) uma narrativa. No entanto, tenho esperança que a experiência de vida me dê novas ideias, perspetivas e aprendizagens nesse sentido. Ainda assim, tento ler sempre muito sobre o assunto, tanto por parte de quem sabe como de escritores, que são os melhores mentores possíveis.

E uma das coisas que mais me fascina no processo de criação é a construção das personagens e as suas ligações. Acho que um escritor tem de ter uma mente muito vasta para imaginar toda uma árvore em que tudo se liga para um determinado fim, tendo de ser realista e humano enquanto descreve todos aqueles acontecimentos. No entanto sempre me questionei até que ponto é que a profundidade dessas ligações é de facto criada pelos escritores ou se são os leitores, às vezes de forma obsessiva (eu, Carolina, me confesso) que as criam. Para além disso, acho sinceramente que são feitas leituras excessivas de todas e quaisquer frases que são escritas - um "sim" pode querer somente dizer "sim" e não trinta coisas diferentes; acho que às vezes os leitores têm tendência a dar mais significado às coisas do que as próprias pessoas que as escrevem.

Eu explico: peguemos no caso de J. K. Rowling, com os livros do Harry Potter. Há uns meses largos, quando tive a ideia de criar este post (sim, são estes os meus tempos de atraso...), cruzei-me com um post repleto de factos interessantes sobre o HP. Vejamos: "O último livro da saga decorre no ano em que o 1º livro é publicado, e muitos indicam que a frase “I open at the close” tem, realmente, um duplo significado." Outro exemplo: "Se alterarmos a ordem das letras do nome Remus Lupin, podemos escrever “primus lune” que se pode traduzir como “primeira lua”". Eu adoro a J. K., acho-a um génio, mas questiono-me muitas vezes: será que ela pensou, de facto, em tudo isto?! Todos os "potterheads" podem corroborar comigo: há teorias sobre tudo o que envolve o Harry Potter, desde os nomes das personagens, passando pelas suas famílias, feitiços e etc. Mas eu acho humanamente impossível que alguém tenha uma história tão bem construída, que tudo tenha uma razão por detrás, um significado subliminar. Penso, sim, que tal acaba por ser fruto de um trabalho posterior, tentando responder às milhentas perguntas de inúmeros leitores famintos que querem saber de coisas que nem tinham ocorrido ao escritor enquanto escrevia.

Há dias li uma notícia que contava que a autora de um poema que apareceu num manual escolar tinha reclamado devido ao facto de nem ela - que era a autora! - conseguir responder a uma pergunta que era feita sobre o seu texto. Acho que, muitas vezes, temos a tendência de esmiuçar tanto os textos, as frases e as palavras que complicamos tudo e esquecemo-nos de que, como na vida, há coisas que são como são, tão simplesmente. Lembro-me de pensar muito nisto quando dei Camões, altura em que me senti uma completa analfabeta - [supostamente] percebia tudo ao contrário, as minhas interpretações eram completamente díspares daquelas que eram propostas pelos autores e professores. E eu, nessa altura, anuía simplesmente e concordava, mas a verdade é que Camões já não está cá para dizer porquê - e sobre quê - que escreveu determinado soneto, pelo que não há prova dos nove possível para tirar as teimas.

Já foi o tempo em que escrevia textos que só eu entendia - diria que agora 90% daquilo que escrevo é claro como a água, sem mensagens subliminares. Mas a verdade é que se me mostrarem um dos textos que cabem nesses 10% que restam, eu provavelmente já não me vou recordar dessa corrente de "porquês/ para quês/ para quem's" que está por detrás daquilo. As coisas que escrevemos no momento fazem sentido naquele contexto, com aquele sentimento - e depois, como tudo o que é visto a longa distância, vão perdendo o sentido e eventualmente o valor. E a verdade é que nunca são perfeitos, porque são genuínos - porque pouco do que sentimos é racional e extremamente pensado. Por isso contem comigo para desconfiar sempre daquelas pessoas que têm narrativas construídas ao milímetro, com personagens desenhadas até ao âmago, com histórias de vida desde o primeiro minuto de idade - porque a verdade é que, na realidade, nós somos um esboço em constante criação, as coisas mudam e nada é perfeito. E se um livro se quer realista... tem de haver imperfeição, incoerência e irracionalidade à mistura - porque na vida também não há explicações para tudo.

14
Jan17

E tu, que queres ser quando fores grande?

Quando somos pequeninos perguntam-nos o que queremos ser quando formos grandes. Eu tenho para mim que a maioria das vezes respondemos aquilo que gostamos de fazer, os nossos hobbies. Não é por acaso que 90% dos rapazes respondem que querem ser jogadores de futebol e que muitas das meninas dizem querer ser princesas e outras tantas veterinárias - ora porque gostam das barbies e dos desenhos animados da Disney ora por adorarem animais. 

A ideia não está errada e acho que nós seguimos a nossa vida profissional também à base daquilo que gostamos de fazer (mal fora, não é?). Quem gosta muito de computadores vai para engenharia informática, quem adora animais vai para veterinária, quem gosta de tratar dos outros vai para médico e por aí fora. É claro que isto é uma ideia generalizada, uma vez que há outros fatores que mexem com as nossas decisões relativamente às nossas profissões (coisa que não acontece quando somos pequenos): muitas vezes seguimos as pisadas dos nossos pais, outras fazemos escolhas porque não temos escolha ou então seguimos outros argumentos como a empregabilidade ou o dinheiro. Ainda assim, acho que tentamos sempre conciliar tudo isto com os nossos gostos pessoais, porque ninguém quer ser pró em algo de que não gosta.

Eu claramente escolhi um hobbie como profissão. Ando a refletir nisto porque, primeiro, escolhi algo que tem muitas fases; a realidade é que eu nem sempre escrevo bem, nem sempre me sinto inspirada. Há dias em que eu fico a olhar para a página branca e nada sai - mas, bolas, tem de sair, porque é o meu trabalho! Só me dei conta disso um par de meses depois de ter começado, numa vaga de pura desinspiração - escolhi algo que não é "pão pão, queijo queijo", que não tem certo nem errado, que não é matemático, que depende imenso do meu estado de espírito. E isso é um risco, principalmente quando a boa execução do nosso trabalho depende disso.

E depois há outra questão: eu transformei o hobbie da minha vida no meu trabalho - e quando isso acontece, isso deixa de ser hobbie. Isto parece uma verdade parva de La Palice, mas tem que se lhe diga. Ainda há dias, enquanto ouvia a entrevista da Raquel Tavares para o Alta Definição, ela dizia algo como "o meu amor é o fado, mas a paixão da minha vida é a dança; eu amo cantar, mas as pessoas pagam-me para eu o fazer - já não sou livre de errar, de o fazer livremente, porque tenho expectativas para corresponder. Na dança não - posso dançar como quiser, porque sou livre e não tenho de dar justificações a ninguém" (não citado à letra). E eu só pensei - "é tão isto!". 

Nos últimos 5 meses escrevi mais do que nunca e apesar de em nenhum momento me ter arrependido da escolha que fiz, a verdade é que isso mudou o meu olhar sobre a escrita. Continua a ser aquilo que eu adoro fazer, aquilo que me preenche, mas agora há todo um lado que antes não tinha: o da responsabilidade, o de "liberdade aprisionada". Antes, escrever era a minha cena. Agora, escrever não só é a minha cena como é o meu trabalho. A sorte é que tenho a escrita "off-duty" e a escrita "on-dutty" que, em conjunto, me enchem as medidas e acabam por se compensar mutuamente, fazendo com que dificilmente o lado "hobbie" se extinga por completo.

E daqui se concluem duas coisas: que não tenho dúvidas de que escrever é mesmo um amor para a vida, a minha vida, a escolha certa; e, caraças!, que sou mesmo uma sortuda.

12
Jan17

Arrumações do demónio

Há três coisas que tenho de fazer periodicamente, que odeio e que juro sempre que não volta a acontecer [e depois faço na mesma]. Acontecem porque faço igualmente três coisas, mesmo não devendo e embora me chicoteie mentalmente sempre que as tenho de desfazer. São elas: 1) gravar documentos no ambiente de trabalho com a desculpa "não tenho tempo para arrumar no devido lugar"/ "é para apagar logo a seguir por isso não tem mal gravar aqui" / "está mais à mão para ter no blog"; 2) deixar acumular emails no gmail, ao ponto do meu telemóvel anunciar que tenho 1278 emails por ler e ter outros dois mil para arrumar pelas 54 pastas que tenho, com a desculpa "não tenho tempo para ver este email agora" / "este tem de se ver no computador porque é um powerpoint" / "este é muito grande e não tenho paciência" / "quando chegar a casa depois do trabalho trato disso"; 3) e por fim, uma combinação destas todas: arrumar tudo nas devidas pastas - incluindo aquelas coisas que já estão naquelas outras pastas criadas em desespero de causa, chamadas "PARA ARRUMAR".

E sim, estão a pensar bem: estou no meio de uma dessas arrumações do demónio. Já estou a arrancar cabelos e a pensar "porque raio é que eu deixo isto acontecer sempreeeee?!" e a fazer promessas que sei que vão ser em vão - o que não impede que eu as faça - tais como "NUNCA mais na vida deixo isto chegar a este estado de sítio". Porque a verdade é que isto chega a um ponto em que eu própria já não consigo conviver com o meu computador - não há sítio por onde passe que não tenha lixo e coisas por arrumar e eu começo a dar em doida. Chego a estar a trabalhar, gravar alguma coisa numa pasta caótica e me apetecer parar tudo só para arrumar a dita cuja.

Mas esse é o problema das arrumações: quando uma pessoa começa a arrumar - e se quer as coisas bem feitas - acaba por ter de mexer em tudo. Põe-se uma coisa noutra pasta, essa pasta também está num caos, começa-se a arrumar, passa-se a outra que está igualmente desarrumada... e nisto passam-se dias. E ainda há outro problema: aquelas coisas que simplesmente não têm sítio e não há pastas onde as meter. Enfim. É um drama.

Sei que devia ter uma regra qualquer para impedir isto - sei lá, obrigar-me a limpar as pastas e o ambiente de trabalho todos os domingos ou algo assim parecido. Mas acho que vou falhar com a minha palavra. Juro que não sou uma pessoa desarrumada e até gosto muito de organizar coisas - mas não consigo ultrapassar esta questão. Aí umas três vezes por ano isto acontece: e durante todas elas eu digo mal da minha vida, passo horas de desespero enquanto arrumo tudo e depois, estúpida, faço igual. Há dias em que me odeio. Arrg!

11
Jan17

O mundo a tons de sépia

Há uns tempos perdi os meus óculos - sim, aqueles que comprei por causa do Edward/Pattinson e que eram os meninos dos meus olhos. Descansem que não foi por muito tempo: um dia depois encontrei-os, mas entretanto - e como não sobrevivo sem óculos de sol, os meus olhos já não querem outra coisa - roubei uns à minha mãe para ir para o trabalho. Confesso que não gosto muito de me ver com eles, mas era o que havia - e a cavalo dado (ou roubado, neste caso) não se olha o dente.

Não sei se foi nesse dia que notei, mas subitamente tudo me parecia mais bonito. O relevo das nuvens estava muito mais acentuado, o pôr do sol ainda mais incrível, o azul do céu mais quente. Por um lado senti que algo tinha mudado, mas por outro a mudança pareceu-me natural. Só quando, por qualquer razão, tirei os óculos é que percebi que não estava tudo mais bonito: estava tudo igual, eu só tinha uns óculos diferentes. E ainda hoje, mesmo sabendo que são os óculos que me embelezam o mundo, há qualquer coisa no meu cérebro que não deteta imediatamente que eu tenho um filtro à frente dos olhos e continuo a achar, por breves segundos, que o mundo subitamente está mais bonito. 

E a verdade é que eu continuo a não gostar de me ver com eles: mas aquilo que eu vejo através deles compensa tudo o resto. 

 

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10
Jan17

Porque não viajar sozinha se a própria vida é uma viagem solitária?

Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos.

Orson Welles

 

No próximo mês vou fazer duas viagens em trabalho, uma delas a um sítio onde nunca fui. Vão ser mesmo seguidinhas e, no total, vou estar uma semana fora - não vou com ninguém do meu escritório mas sim com pessoas com quem já trabalhei e com quem agora não privo diariamente. Vai ser uma experiência nova para mim mas como, de alguma forma, tenho o amparo de gente que conheço, não tenho qualquer tipo de receio - pior vai ser mesmo o trabalho lá, que não sei como vai ser; aliás, sei uma coisa: vai ser MUITO cansativo. Sei que vou chegar à noite e cair invariavelmente redonda na cama do hotel, o que me vai impedir de desfrutar dos sítios onde vou estar.

Pus por isso em cima da mesa ficar mais um ou dois, por minha conta e risco, para conhecer um dos sítios onde vou ficar - aí já não teria nenhuma das pessoas que ia viajar comigo para me acompanhar. Lancei a ideia para o ar aqui em casa e senti que ficou alguma apreensão no ar - eu, sozinha, numa cidade estrangeira... não é propriamente a mistura de palavras que agrade aos ouvidos dos meus pais. Mas a verdade é que eu sempre quis ter a experiência de viajar sozinha - e acho que se não o fizer nos próximos tempos, eventualmente vou-me conformar com a ideia típica de que viajar recreativamente só acompanhada o que, creio, me tirará muitas oportunidades no futuro.

A questão vai muito para além da experiência - acho que chega à necessidade. Ao longo da minha vida aprendi a fazer muita coisa sozinha - não só porque quis e gosto da minha companhia, mas também porque não tinha ninguém com quem as partilhar e nunca quis deixar que isso fosse um entrave às minhas vivências. Eu sempre joguei monopólio sozinha, vou ao cinema sozinha, aos saldos sozinha e almoço sozinha sem grandes problemas. Desde cedo que me limitei a aceitar que sou assim e não quero nunca que esta característica minha me impeça de viver - sendo que viajar, para mim, é uma parte essencial da vida.

O que eu quero dizer é que não só quero ter esta experiência porque acho que vou gostar mas também porque acho que é só uma amostra do meu futuro - não porque não goste de viajar com pessoas, mas porque já sei o que esta vida gasta: é difícil encontrar alguém de quem eu goste, que goste de mim, que tenha um poder económico semelhante ao meu, férias nos mesmos timings e que tenha gostos semelhantes aos meus - e eu simplesmente não estou para esperar por uma coisa que não sei se vai acontecer. Sei que isto choca muitos, porque estamos formatados desde cedo que a vida tem de ser partilhada com alguém - mas essa ideia, para mim, é tão estereotipada como tantas outras. Eu não me imagino casada, não me imagino com filhos. Não quer dizer que isso não venha a acontecer, não nego à partida uma ciência que desconheço - mas posso garantir que não é algo que tenho como um objetivo para a minha vida. Eu sei que este é um assunto pesado, que normalmente as pessoas mais velhas contrariam veementemente: dizem logo que não é assim, que as coisas mudam - e eu não digo que não. Mas o que é facto é que há muitas pessoas sem filhos e sem alianças nos dedo que são igualmente felizes. E porque não? Para mim, é uma forma de viver tão legitima como todas as outras, com os prós e contras que existem como em todas as outras coisas da vida.

Eu sei que sou nova, mas também sei que a vida não pára. Aliás, acontece-nos: e sim, se tudo correr bem tenho muitos anos pela frente, mas tenho de os fazer valer e agarrar cada oportunidade não como se fosse mais uma, mas como se fosse A oportunidade. Custa-me desperdiçar uma viagem - sim, porque quem é que gosta de andar enfiada naquelas bichos com asas a que chamamos aviões? - sem tirar o menor proveito dela, só pela carga de ir sozinha, quando ainda por cima acredito que este vai ser sempre o estado primário da minha vida.

Se em miúda aprendi a ser feliz sozinha enquanto brincava no quarto, sei que serei feliz também em qualquer recanto do mundo. E quanto às fotos... bom, eu sabia que aquele selfie-stick me ia dar jeito um dia destes. ;)

09
Jan17

Golden Globes: mais um ano seca na passadeira vermelha

Vou começar dizendo uma coisa que todos vocês já sabem: estou velha. Para além do mais, hoje, sinto-me desinspirada. Estava muito animada com o início das passadeiras vermelhas mas à medida que a noite foi passando e que as fotos se iam desenrolado à frente dos meus olhos, percebi que era mais do mesmo: tanto os vestidos como os meus comentários. Para além do mais, em busca da minha má-língua perdida, fui ver posts antigos e vi tantos comentários de gente que não percebe o gozo disto e que leva a vida tão a sério que, subitamente, não me apeteceu ter a trabalheira do costume. 

A verdade é que esta foi uma gala homogénea em termos de trapinhos: para mim, não houve nem coisas lindas nem incrivelmente horríveis. Posto isto, este ano, juntei tudo num só post - sinto que não tenho muito a acrescentar e espero que nos Óscares a inspiração chegue - tanto a mim como às estrelas de Hollywood, que estão claramente a precisar tanto quanto eu.

 

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 Começando em bom: apresento-vos o meu preferido da noite. Mandy More numa cor já mais que vista, num modelo também já conhecido mas muito bonito. Adoro.

 

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Sarah Jessica Parker festeja este ano 20 anos de casamento e, como tal, decidiu renovar os votos nos Golden Globes - na verdade, é essa a única razão para não trazer um véu em conjunto com este vestido de noiva.

 

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Anna Chlumsky na edição anual do clássico não-tinha-mais-nada-para-vestir-por-isso-trouxe-um-lençol. Há, no entanto, que apreciar a qualidade do mesmo: não é toda a gente que dorme envolta em cetim verde. Haja respeito.

 

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Ouçam... eu não posso dizer que a Lilly Collins esteja péssima. Para muitos foi a melhor da noite, eu sei. Tudo o que posso dizer é que está dentro do estilo: imagino que era assim que as senhoras iam vestidas nos Golden Globes... em 1917.

 

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Qualquer semelhança é pura coincidência. 

 

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 Pior do que vir vestida de zebra brilhante, é vir vestida de zebra brilhante e ser fotografada de pernas abertas. Que lady.

 

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 Tenho sempre relações difíceis com os vestidos da Emma Stone - usa normalmente cores pálidas quando ela própria é branca como um copo de leite. Não se pode dizer que o vestido seja feio e muito menos que lhe cai mal - simplesmente parece uma continuação dela. O que não deixa de ser irónico, uma vez que ela é mesmo uma estrela. (Perceberam?)

 

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 Eu acho que já disse isto numa das anteriores galas, mas repito, porque é verdade: querida Kerry, a tua assessora ODEIA-TE. Como é que alguém sai assim de casa? E os três palmos de vestido que faltam ali em baixo? Porquêêêê....?!

 

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 Eu vi este vestido e não percebi muito bem o que se passava. Depois vi o laço e caiu-me a ficha: foi claramente um presente envenenado.

 

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 Sofia Vergara raptou a Jennifer Lopez, sequestrou-a em casa durante a noite e desfilou com o vestido que ela tinha escolhido para esta passadeira. Está explicado.

 

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 Eu acho que o facto de uma das minhas vestimentas preferidas da noite ser um fato já diz muito sobre a insossisse que se viveu naquela passadeira vermelha. Evan Rachel Wood incrível.

 

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 Tenho para mim que quem criou este vestido não era estilista... mas sim um professor de geometria descritiva.

 

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Os vendedores de brilhos e lantejoulas para os lados de Hollywood estão a rejubilar e a esfregar as mãozinhas de contentes: este ano foi só encher os cofres! Este ano houve brilhos para dar e vender, ao ponto dos meus olhos já terem ferimentos de tanta coisa reluzente. Podia dizer que isso é algo bom mas... not really.

 

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 Uma amiga minha disse e bem: a Cláudia Vieira está, neste momento, a tirar a referência deste vestido para usar nos Globo de Ouro, versão portuguesa. Como resistir a mostrar aqueles abdominais conseguidos com muito esforço e três meses só a alfaces?

08
Jan17

Chávena de letras - "A Doença, o Sofrimento e a Morte entram num bar"

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 O humor é algo que pensamos ser simples, inato e natural, porque provoca em nós (pelo menos quando bem feito) uma reação que é exatamente assim: o riso. Mas a verdade é que há muito que se lhe diga em relação à escrita humorística, quando vista de um ponto de vista racional e pragmático, como algo que não só se tem de nascença, qual dom, mas que também se aprende e se treina. É sobre isto o livro de Ricardo Araújo Pereira.

Que se desengane quem compra este livro para se divertir. A escrita do RAP está lá, mas isto é essencialmente a reflexão de alguém extremamente culto e com experiência sobre essa arte que é fazer as pessoas rir. Confesso que o primeiro capitulo foi um choque, porque parecia estar a ler uma tese cheia de referências bibliográficas: e embora elas continuem ao longo do livro, lêem-se bem e enriquecem-no imenso, nunca chegando a tornar-se chatas.
Há algumas coisas que, a meu ver, não ficaram muito claras e bem explicadas (caso do capítulo "mudar uma coisa de um sítio para o outro"), mas no fundo isto não passa de um manual sobre fazer humor, cheio de exemplos e muitas reflexões interessantes. É inegável a cultura e a inteligência do RAP, que transpiram a cada parágrafo deste livro.
Termino dizendo que uma forma de resumo desta obra é a entrevista do Alta Definição que Ricardo Araújo Pereira deu há alguns meses - muito do que está aqui escrito está lá dito, de forma se calhar menos exaustiva mas obviamente mais engraçada.
Em suma, gostei muito e aconselho a todos aqueles que queiram aprender um pouco mais sobre a escrita humorística, vista pelos olhos daquele que é, para mim, um dos melhores de Portugal.

07
Jan17

Blogs, os livros da vida real

E eis que esta semana caiu uma bomba no mundo blogosférico: a blogger mais badalada do país anunciou, por meias palavras, o divórcio de um casamento que todos acompanhávamos há anos. Quando li a notícia, enquanto passeava descontraidamente no meu feedly e via as horas passar enquanto devia estar a fazer alguma coisa de útil, caiu-me tudo. E, nesse momento, senti pena. Naqueles segundos precisamente a seguir foi como se uma amiga com quem já não falava há muito me tivesse dito que o casamento - que na minha cabeça achava ser perfeito - tinha acabado. E fiquei triste por ela.

Só depois é que me caiu a ficha. Eu não a conheço, não o conheço a ele, não me dizem nada e nem sequer sou particularmente fã de nenhum deles: a única relação que mantemos - e que é unilateral - é a de eu ler as coisas que escrevem há uns sete anos. Nada mais. Mas, de facto, a nossa [dos leitores] perceção é de que estamos "dentro" da vida daquelas pessoas, qual livro aberto, que está a ser escrito em direto enquanto a vida se desenrola. Esquecemo-nos é que, ao contrário de um livro, o narrador não nos conta tudo, não está dentro da cabeça das personagens, não sabe - ainda que secretamente - o fim da história. 

Já vi muitas fases da blogosfera e estou pacientemente à espera que esta que vivemos agora passe de moda: estou cansada de todos os blogs de celebridades, sem grande conteúdo; das marcas nos verem simplesmente como portadores de mensagens e produtos, como se não quiséssemos mais nada para além de fama e dinheiro; de todo este conteúdo falso, hipócrita, que passa a ideia de vidas perfeitas, quais revistas de moda. Por tudo isto, neste momento, o mundo dos blogs está completamente descredibilizado para mim: e foi com espanto que olhei para aquele post e senti qualquer coisa. Algo verdadeiro, um sentimento que vai para além do dinheiro, patrocínios e interesses. Algo que sentia no início, quando lia blogs que gostava, de gente genuína e sem agendas. Essa coisa de que falava antes, essa sensação de conhecer a pessoa de algum lado e me doer por ela.

Foi estranho, porque era algo que já não sentia há muito tempo e que só podia ser despoletado por algo de grande dimensão, mas também esperançoso e nostálgico; um abanão da vida, como quem diz "ainda é possível"! Às vezes este tipo de coisas fazem-nos descer um pouco à terra: por vezes recebo mensagens que acho serem estranhas, de pessoas que aparentemente quase "vivem" a minha vida tanto como eu... que me saúdam pelas vitórias, que ficam tristes pelas derrotas, que me querem conhecer. Às vezes há coisas que me comovem, outras que nem sequer sei como reagir, mas em grande parte aquilo que hoje percebo é que normalmente me esqueço do poder que a blogosfera tem; do calor humano que consegue transportar, mesmo sendo meramente virtual.

Nós - bloggers - somos personagens de livros abertos que algumas pessoas gostam de acompanhar; não sei se há quem escreva a nossa história ou o nosso destino, papel dos escritores nas obras comuns, mas o que é certo é que mesmo nos livros em papel não são poucas as vezes em que nos emocionamos em nome das nossas personagens favoritas, choramos ou sorrimos com elas. E acho que, no fundo, aqui se passa precisamente a mesma coisa - as personagens são pessoas da vida real, mas o que queremos é o mesmo: que o final seja feliz. 

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