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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

31
Jan17

Pôr miúdos a ler Valter Hugo Mãe é a anedota da semana

Comecem a preparar as pedrinhas, defensores acérrimos da literatura portuguesa, porque vão precisar. Eu, pelo sim pelo não, já fui buscar o escudo, que daqui a dois dias vou de viagem e não me apetece ir de olho negro. Vamos lá a isto.

Ontem explodiu uma polémica a propósito de um livro do Valter Hugo Mãe, que contém conteúdos explícitos a nível sexual, por este estar proposto no plano de leitura dos alunos do terceiro ciclo. Foi uma queixa apresentada por pais, o que eu acho muito bem, mas fico parva com tudo o resto: primeiro porque o conteúdo, para além de explícito, é bruto; segundo porque os típicos comentadores de facebook vêm dizer que as criancinhas não são nenhumas santas e que sabem muito bem o que é sexo e blablabla. Pois uma criança de 12 anos saber o que é sexo, principalmente nos dias de hoje, é de facto normal; já saber interpretar e contextualizar uma frase que diz "e a tua tia sabes de que tem cara, de puta, sabes o que é, uma mulher tão porca que fode com todos os homens e mesmo que tenha racha para foder deixa que lhe ponha a pila no cu" (citado) é outra coisa completamente diferente. Nem me vou alongar neste tópico, sou tudo menos experiente no campo da educação sexual, mas sei que dar uma visão destas a um puto é para ele 1) rir histericamente à gargalhada por ver escritos uma série de termos que os pais censuram, 2) não perceber absolutamente nada, 3) ficar com uma visão deturpada sobre aquilo que é o sexo e 4) ainda ter o bónus de saber o que é uma "puta", no pior sentido possível. Só por isto, este livro nunca deveria ser sugerido para alunos com 15 anos no máximo. 

Por outro lado há toda uma outra questão, onde me pretendo focar mais - e aqui até posso incluir os alunos de secundário, a quem supostamente este livro é verdadeiramente destinado (embora eu também não concorde): se o Plano Nacional de Leitura tem também como objetivo fomentar hábitos de leitura, porquê dar um dos autores mais difíceis da literatura portuguesa contemporânea? Principalmente se pensarmos em alunos, por exemplo, do sétimo ano, dá-me uma vontade de rir imensa de tão ridículo que é. 

E podem achar que não falo com conhecimento de causa, mas falo. Primeiro porque saí da escola há quatro anos, ainda me lembro bem dessa realidade; segundo porque aprendi a gostar de ler relativamente tarde e lembro-me bem de como foi esse processo; e terceiro porque lido com miúdos com idades próximas do terceiro ciclo, praticamente todos os dias, e sei aquilo que eles sabem e a maturidade que têm (ou não têm, que é mais este o caso). Muitos deles mal lêem direito, têm graves falhas de vocabulário, não sabem escrever direito, não sabem pontuar sequer razoavelmente, não cumprem regras básicas de ortografia - e é ridículo dar-lhes um livro que não cumpre as regras clássicas de pontuação, que não escreve com maiúsculas e que, como bónus, ainda tem uma linguagem bruta por detrás e uma história pesada que têm de saber digerir. Não cabe na cabeça de ninguém.

E digo que isto também serve, em grande parte, para alunos de secundário porque a verdade é que muitos deles também não gostam de ler - e não é com livros destes que vão chegar lá. Eu fui para um curso de letras e vi textos e trabalhos que davam direito a um ataque de coração, de tão mal escritos (e com erros) que estavam.

Faz falta ler. E irrita-me que as pessoas sejam fundamentalistas e queiram pôr putos a ler com obras que nem sequer muitas pessoas adultas conseguem, que não gostam, com estilos de escrita demasiado carregados e histórias pesadas, só porque são autores com nome na praça. Para mim, pode ser o Harry Potter, o Twilight, o Eragon, o Triângulo Jota, os Uma Aventura - o que quiserem. Todos os livros que façam alguém gostar de ler deviam ter um estatuto de deuses gregos. Porque são esses os responsáveis por todos os livros que vêm a seguir: os clássicos, os light, os young adult, o que for. Mas tudo começa ali. E eu duvido seriamente que alguém comece a gostar de ler com Valter Hugo Mãe. Muito menos aos 14 anos de idade.

30
Jan17

Uma colheita de vestidos fabulosa nos SAG Awards

Hoje acordei, abri um olho e enquanto acordava e não acordava, fui passeando pelo facebook. Dei de caras com um artigo da Vanity Fair sobre os SAG Awards, que aconteceram ontem, e mesmo acabadinha de acordar e com apenas metade do cérebro a funcionar percebi logo que ia ter de comentar alguns daqueles trapinhos.

Acho que já o ano passado isto aconteceu - deparei-me com tanta tragédia que não consegui ficar calada. Este ano também apareceram por lá algumas coisas com piada e, nestes tempos que se vivem, não podemos desperdiçar nem que seja um singelo sorrisinho. Tenho para mim que a moda está tão louca que, hoje em dia, o que se vestir pior e causar mais choque é quem leva o prémio para casa. Só isto explica as passadeiras dos maiores eventos do mundo no último par de anos. Mas bom, aqui ficam as ventimentas de ontem:

 

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 Emma Stone num Alexander McQueen. A verdade é que este era um vestido vintage da sua avô - algo que se nota nos detalhes e bordados florais. Mas ao longo dos anos a traça acabou por dar cabo do lado esquerdo da peça, ainda que o valor emocional se tenha mantido intacto. Por isso, em tom de homenagem e confronto de gerações, Emma veste uma peça pesadíssima e quente do lado direito e, do lado esquerdo, saiu à rua apenas com um body da Intimissimi para arejar.

 

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 Brie Larson sem qualquer dó e piedade para com as pessoas com transtornos obsessivo-compulsivos. Aposto o que quiserem que a minha mãe, só de olhar para esta fotografia, está com suores frios. Quer dizer, até a mim, que nem sou contra assimetrias. Mas aqui a questão é mais grave: o vestido está TORTO. Tor-to. E faz com que toda ela pareça torta. E isso não é fixe.

 

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 Kerry Washington pediu um vestido da Micaela Oliveira emprestado a Cristina Ferreira. Bem me parecia que já tinha visto isto n'A Tua Cara Não Me É Estranha.

 

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 Sofia Vergara, és tu? Cadê as transparências? Cadê o corte sereia? Cadê os decotes até ao umbigo? Agora deste numa de colegial e passaste de gata-sexy-arrasadora a menina-de-repa-ao-lado-e-vestido-curto-em-ocasião-de-gala?

 

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Não é difícil perceber a inspiração do vestido de Nicole Kidman, pois não? Até os olhinhos de carneirinho mal morto estão lá. Atentar também aos pormenores de cor naqueles ombros, inspirados nos detalhes dos "ombros" do pássaro. Liiiiiiiindooo. #sqn

 

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 Natalie, querida, muito bem que podes não ser uma daquelas grávidas que gosta de ter a roupa justa à barriguinha, mas também não era preciso teres ido ao Museu do Traje buscar mommy-wear do século XIX, não é verdade?

 

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 Eu juro - mas juro mesmo! - que fui pesquisar o nome desta rapariga (que, para também quer saber, se chama Taryn Manning) porque pensei sinceramente que ela era aquela que fazia o iZombie. Achei de facto estranho que continuasse a encarnar a personagem de forma tão evidente numa passadeira, mas depois percebi que era outra senhora e que foi apenas reviver um pouco da sua fase gótica da adolescência.

 

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Pergunta para um milhão de euros: qual foi o livro que Julia Louis-Dreyfus leu durante as férias de Natal?

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Pior que ter um vestido medonho, é ter um vestido medonho com uma espécie de buraco no sovaco e ainda fazer uma pose sexy para mostrar.

 

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 E acabamos assim. O vestido é péssimo, mas não vou por aí. O pior é mesmo o penteado inspirado na última esfregona da Vilada.

29
Jan17

O luxo que é ter tempo

Eu acho que uma das maiores riquezas que há na vida é ter tempo. De que serve ter muito dinheiro se não há tempo para o despender? De que serve ter uma família grande se não temos tempo para ela? Eu acho que este equilíbrio é dos mais difíceis de conseguir e hoje em dia dou por mim sempre a correr, a sair de manhã para o trabalho e chegar já com a noite cerrada e perguntar-me: é isto a vida? É durante o tempo do pequeno-almoço e do jantar que se vive, sem fazer algo a que estamos obrigados por parte da sociedade? E isto para não falar de todas as outras obrigações que as pessoas normais e independentes têm: fazer a cama, arrumar a casa, preparar refeições. Que tempo sobra?

Ainda para mais eu tenho a mania dos planos, das listas, das tarefas. E adoro quando chego ao fim do dia com tudo preenchido e feito - aliás, só assim fico realizada e verdadeiramente sossegada. Mas a verdade é que me esqueço da liberdade e do sossego que é ter dias para não fazer nada. Sem planos, sem horas, sem bilhetes para isto e aquilo, sem jantares, sem ter de fazer uma sobremesa para levar não sei onde, sem viagens às 8 da manhã. E sem ter de escrever, de ler, de ver aquele filme, de estudar, de arrumar. Sem nada destinado - porque só deixando a minha agenda mental livre de tarefas é que consigo efetivamente desfrutar do tempo totalmente livre e não ficar a remoer em tudo o que devia ter feito e não fiz.

Sabendo que o mês que se aproxima vai ser caótico, que os fins-de-semana ricos em descanso não vão existir, que o trabalho vai estar a 200%, que nestas duas pernas vão estar muitos quilómetros e demasiadas horas em pé e que eu vou ter de beber muito café para aguentar a pedalada, decidi que este fim-de-semana ia ser para descansar. Sem planos, sem obrigações - só as refeições e a ida ao supermercado para ir buscar o pão. 

Já li, já vi séries, já vi um filme, já planeei a minha viagem, já escrevi. Sem check-lists, sem stresses, ao sabor do tempo que resta. Governada pelo sono ou falta dele, pela vontade de fazer coisas ou a falta dela. Que bem que soube e que pena estar a acabar. Sinto que vou passar de um passeio domingueiro para uma corrida de fórmula 1. E a única coisa que espero é chegar ao fim com os fusíveis todos. Até lá, vou só dormir mais um bocadinho para queimar os últimos cartuchos.

28
Jan17

La La Land, ou o caminho para os sonhos

Acabo de ver o La La Land, o filme que estava mais curiosa para ver nesta corrida para os Óscares. Confesso que este ano, para além do que já vi, não há assim muitoooo que me puxe e este era definitivamente a falta mais grave na minha lista.

Sobre este filme não sabia muito e as minhas expectativas baseavam-se na quantidade de globos de ouro que ganhou no início do mês. Não vi reportagens ou críticas, apenas o trailer - que, confesso, não me atraiu por aí além. Mas roubou muitos globos, vai levar muitos Óscares, é um musical, tem Emma Stone e, não menos importante, Ryan Gosling.

Por falar em Gosling: casava-me. E acreditem que eu não digo isto muitas vezes. É um ator incrível, com uma vibe incrível, com um estilo incrível e com uma cara... como dizer... incrível. Mas a verdade é que da Emma se pode dizer o mesmo, ou até mais, uma vez que, neste caso em específico, acho que ela é melhor em termos de dança e cantorias. Adorei os dois e, relativamente aos atores, estamos falados. Agora falta a história.

Não gosto quando as pessoas dizem não gostar de filmes "light" - ou, pior, quando julgam quem os aprecia; não gosto de filmes feitos para críticos, feitos para o óscar e, ao mesmo tempo, feito para plateias vazias ou cheias de intelectuais. E nisso, La La Land é uma chapada de luva branca. É light, é bonito, é colorido, mas é poderoso. É um filme sobre sonhos, mas também sobre escolhas; sobre esse mix onde tudo e nada pode acontecer, sobre essa coisa que todos temos mas tantos acham inatingível e sobre o caminho para lá chegar, que pode ser duro e implica consequências. Eu acho que La La Land é sobre esse duro contraste: o sonho e a ação; o conceptual e a realidade. E, acima de tudo, sobre escolhas. Porque todos temos sonhos mas para lá chegarmos o caminho pode ser tudo menos de sonho - e até lá, acontece a vida. Crescemos, tomamos opções e os caminhos alteram-se para chegarmos ao derradeiro objetivo. 

Penso que para além de La La Land ser um filme esteticamente lindo, com uma banda sonora fantástica, de ter dois atores principais de arromba e ter uma mensagem bonita por detrás, acaba - mais do que com uma moral - com uma pergunta retórica importantíssima: será que às vezes, para chegar ao sonho, não nos esquecemos de viver e saborear o caminho? É que esse caminho pode ser tão ou mais importante que o sonho e, de tão obcecados que estamos com a meta final, perdemos a parte melhor da viagem. 

 

26
Jan17

Carolina, a dar concertos grátis no Smart desde 2014

Continuo a dizer que o Smart é o melhor carro do mundo para ouvir música. Eu adoro ouvir rádio enquanto estou dentro do carro - aliás, para dizer a verdade, adoro ouvir música em todos os lugares. Estou sempre a cantarolar e adoro estar a ouvir canções enquanto cozinho, escrevo, penso, adormeço e, claro, conduzo.

E a verdade é que o facto do Smart ser pequenino faz com que a sonoridade daquilo seja fabulosa. É assim uma espécie de coluna 360º, tudo pertinho de ti, e com uma qualidade de som espetacular. Lembro-me que foi das primeiras coisas que gostei nele e que ainda hoje me cativa - ao ponto de continuar a cantar aos altos berros enquanto vou e venho para o trabalho e nos afazeres do dia-a-dia. Esta é até uma boa forma de atestar o meu humor: se eu não estou a cantar, alguma coisa está mal e o melhor é fugirem para bem longe de mim. De qualquer das formas, e é com muito agrado que o digo, são poucos os dias em que não estou dada a cantorias.

Mas bom, ontem estava eu em pleno trânsito portuense e passava na rádio a "Dangerosly", do Charlie Puth. Nem sequer adoro a música, mas gosto do refrão. Estava parada e, como de costume, dei literalmente voz aos meus dotes vocais e pus-me a cantar que nem uma maluca. Mas eu não só canto como faço gestos - e enquanto dizia "cus' I loved you dangerously yyyyy yyyyyyyyyyyy", movia os braços em movimentos poderosos, com os punhos cerrados e uma cara um bocado sofrida, como quem acredita plenamente naquilo que estava a cantar. A fila ia andando e, como se fosse uma cena em câmara lenta, passa um carro do meu lado esquerdo, que se apercebe do meu espetáculo - e vai continuando a andar até me ultrapassar e perder de vista enquanto, ao mesmo tempo, o rapaz que estava no lugar do pendura do dito carro ia rodando a cabeça até não poder mais, num movimento coordenado com a velocidade do carro, qual cena de filme. Ao mesmo tempo a expressão dele ia ficando um bocadinho mais "wtf?"" e, perante tudo aquilo, confesso que decidi parar.

Mas só até ao refrão seguinte. Nenhuma desculpa é boa o suficiente para pararmos de cantar uma música de que gostamos. "Cus' I loved you dangerously yyyyy yyyyyyyyyyyy". 

 

25
Jan17

Review da semana 15#

O pequeno-almoço no McDonalds

 

Há uma semana, quando fui a Lisboa, levantei-me com as galinhas, engoli qualquer coisa e fui para o aeroporto. Entre segurança, dar uma volta na Parfois e entrar no avião foi uma rapidinha e mal me sentei no meu lugar aterrei. Juro que nunca me tinha acontecido tal coisa, mas aquele sol matinal a bater-me na cara fez com que adormecesse profundamente e só acordasse quando aterramos, um bocado carrancuda por a viagem ter sido tão curta (também nunca me tinha acontecido querer que a viagem fosse mais longa).
Chegamos mais cedo que o previsto e, depois daquele sono de beleza, apeteceu-me um segundo pequeno-almoço. Em vez de me pôr a andar do aeroporto, como fazem as pessoas normais, decidi ir ao McDonalds experimentar o menu de pequeno-almoço, algo que já queria fazer há muito tempo. Pedi panquecas e um café com leite; achei que me iam perguntar que molhos (ou doces) queria com as ditas mas não me deram opção e foi surpresa até as abrir.
Vamos então ao veredito: as panquecas eram enormes, três, e não consegui comê-las todas; o molho era uma espécie de maple syrup - porque já que é para comer o pequeno almoço no mac, tal e qual os americanos, ao menos que o façamos da forma devida. Devo confessar que, quando abri a caixa, fiquei um pouco de pé atrás: cheirava-me demasiado a baunilha, coisa que não gosto, e pareciam-me plásticas. Depois acabei por ficar surpreendida: a textura era boa e não eram muito abaunilhadas, apenas desenxabidas, o que faz sentido se o objetivo for colocar qualquer coisa por cima (eu em casa, como não costumo pôr nada a acompanhar - devoro-as tão e simplesmente - acabo por as adoçar para lhes dar um travo melhor). O maple syrup não é das minhas coisas favoritas mas, naquele contexto, resulta bem - embora ache que devessem ter outras opções, como compotas, chocolate e etc.
Não esquecer, no entanto, o café com leite, que é uma ciência por muitos desconhecida! Também ia a medo, uma vez que há muitos cafés que me fazem mal e eu já me imaginava aos tremeliques durante todo o dia, mas correu tudo bem e a meia de leite estava no ponto: sabia-me àquele café de hotel, de saco, que eu também gosto muito.
Por isso, e de uma forma geral, o pequeno almoço do McDonalds está aprovado. Agora o problema é mesmo escolher entre as panquecas e o Big Mac.

24
Jan17

O estádio é uma tentação de distrações

No sábado fui com três dos meus sobrinhos ao futebol. O mais velho pediu-me para o levar e, perante o dia de sol que se esperava e pela raridade que agora é haver jogos durante a tarde, peguei nos outros dois e fui com a minha irmã até ao estádio. Já tinha levado o mais velho e achei justo os gémeos também terem a sua oportunidade. Ir ao estádio é algo que adoro e que adorava ainda mais quando era pequena, por isso é algo que fico feliz por lhes poder proporcionar. Mas bom, este post não é para me vangloriar pelo facto de ter levado os putos ao futebol. Quer dizer, não sendo sobre isso, não devemos no entanto esquecer de que sou, de facto, a melhor tia do mundo por ter tido a coragem de ir com os três juntos ao estádio, mas enfim. 

A verdade é que, mesmo gostando muito de ir ao Dragão e de sentir toda aquela vibe portista, acabo por não ver futebol. Parece ridículo, mas não é: quando vemos os jogos na televisão, só olhamos para a televisão; no estádio há literalmente uma multidão de coisas por onde nos distrairmos. Lembro-me que sempre foi este o meu "problema". A certa altura está tudo a assobiar e a gritar "vai para a rua" e eu fico a olhar para o céu, esperando uma explicação divina para aquilo que está a acontecer. E isto é o menos. O pior é quando falho os golos - e, acreditem, é com muito embaraço quando digo que isto acontece frequentemente.

No sábado foi igual. A certa altura a minha irmã dá-me um toque para eu reparar num senhor que estava à nossa frente e que, apesar de ser super carinhoso e cuidadoso, fazia um totó no cabelo da filha da forma mais desajeitada à face da terra. A situação teve graça precisamente por este contraste: apesar de todos os cuidados, aquele apanhado estava uma absoluta tragédia e nós olhávamos, meio embevecidas, meio gozonas, para aquela situação. O puxo ficou feito e a situação passou. Mas passado 30 segundos o pai voltou a agarrar a filha, apertando-a contra si num gesto amoroso, e desta vez fui eu que não resisti em dar um toque à minha irmã para apreciar à situação. E naqueles segundos entre chamar à atenção/ olhar/ apreciar/ comentar... o estádio levanta-se em euforia. E, claro, eu e a minha irmã ficamos sentadas, sem conseguir acompanhar os impulsos rápidos do resto da malta. Conclusão: perdemos o primeiro golo.

E podia ter sido o único, mas não foi. A certa altura marcou o Rio Ave e a minha irmã estava no telemóvel. Eu estava convicta em ver o jogo atentamente, só deitava o olho ao ecrã do iPhone se ele tremesse, mas como não se passava nada, não resisti em catrapiscar aquilo que ela estava a fazer no dela. E a certa altura só se ouve um suspiro generalizado, uma espécie de "afffffff" profundo, um som que só é descritível para quem já ouviu. E eu percebo o que se está a passar e digo-lhe, revoltada: "o Rio Ave marcou!". E ela aqui entra em negação: "não marcou nada! Oh! Não marcou...". Pois que marcou e nós tornamos a não ver.

A situação até podia ser resolvida se repetissem os golos no ecrã, mas não, somos obrigadas a ficar na ignorância. E eu sei que a culpa é minha, sei que não devia estar a olhar para o senhor da frente enquanto faz o totó à filha; que não devia estar a apreciar a disparidade entre homens e mulheres no estádio; que não devia estar a bufar para o fumo do cigarro do senhor da frente não me vir para a cara; que não devia estar a pensar na sande de panado que vou comer a seguir; que não devia pensar nas senhoras que depois limpam o estádio; que não devia estar a olhar para os apanha bolas e como queria ser um deles quando era criança. Mas, olhem, é mais forte que eu. Sou uma adepta vergonhosa e peço perdão (mas ao menos levo os sobrinhos ao futebol, dêem-me um desconto...).

 

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23
Jan17

O mundo está contra os rótulos, mas bem devíamos olhar para alguns

Se há coisa que eu gosto nesta vida é de ir ao supermercado com todo o tempo do mundo. Hoje em dia andamos sempre acelerados, não temos tempo a perder - e quando o temos, passamo-lo muitas vezes a descansar ou em tarefas que nos deem gozo. Porque se há coisa em que não perdemos tempo é nas idas aos supermercados - estamos sempre com pressa, suspiramos quando vemos o nosso número da charcutaria, vamos indo ao talho para poupar tempo e mesmo assim batemos o pé ao ver o ponteiro dos minutos passar e quando chegamos às caixas analisamos à peça o número de coisas que cada carrinho tem para escolhermos a fila mais rápida. E ainda bufamos enquanto a senhora da frente procura o cartão de crédito no porta-moedas.

Eu não estou a dizer que sou excepção: normalmente também vou ao supermercado num corridinho, não tenho tempo para prospeções, mas a verdade é que gosto quando o tenho. Adoro ver os novos produtos que existem, novas alternativas e, acima de tudo, de olhar para os rótulos. Acho que algumas pessoas me acham maluca porque sempre que pego em alguma coisa vejo logo a tabela nutricional, à procura dos açúcares, hidratos e coisa que tais. E é aqui que está o core deste post: eu acho que é essencial todos nós aprendermos a ler rótulos, porque somos todos sistematicamente enganados por paraverdades presentes nas embalagens. Da mesma forma que nas escolas se dá formação cívica, educação sexual e outras coisas que tais - algumas sem qualquer utilidade prática - acho que isto era algo interessantíssimo e útil para o futuro de cada um de nós.

Não sou de dietas malucas, mas sou um bocado obsessiva com as imperfeições do meu corpo - e como são infinitas, tenho muito com que me entreter. Principalmente ao nível da alimentação, tenho uma relação difícil: eu adoro comer, principalmente coisas que não são particularmente benéficas para a saúde, e acho-me sempre gordíssima. É uma gestão difícil, feita com muito cuidado para não descambar, sobre a qual já falei aqui; passa por fases, mas aquilo que faço é tentar controlar-me nas gordisses, nunca descorando aquilo que me sabe realmente bem. E aquilo que tento fazer é encontrar coisas de que gosto, sempre com a menor qualidade de açúcares (e químicos) possível - daí adorar pegar em todas as novidades do mercado e esmiúça-las.

E juro-vos, sinto-me enganada sempre que decido andar a investigar com mais cuidado os novos produtos. Mais: as coisas estão especialmente desenhadas para enganar pessoas mais ingénuas e desatentas. Pegando, por exemplo, naquela "área viva" do Continente, cheia de produtos aparentemente mais saudáveis - pega-se numa granola superior, rica em fibras e vitaminas de A a Z e nutrientes XPTO, e no entanto tem 30 gramas de açúcar por cada 100g de produto. Isto é mais do que os cereais normais, incluindo alguns daqueles de chocolate de que toda a gente agora foge. Ou, por exemplo, os iogurtes corpos danone, que apelam à aceitação do corpo e são supostamente super saudáveis para nós: um iogurte líquido tem, por exemplo, 8 gramas de açúcar, mais do que um pacote daqueles que pomos no café. E um iogurte grego? 14g - dois pacotes de açúcar. 

Isto tudo para dizer que acho mesmo, mesmo importante olhar-se para os rótulos e percebermos que somos constantemente imbuídos em mentiras nada piedosas. Não é por dietas, é só mesmo para ter consciência daquilo que comemos. E, meus amigos, acreditem: eu adoro açúcar e tudo o que é bom. Mas tenho a consciência do que ingiro - e, pior que isso, a noção de que tudo o que comemos está cheio de adoçantes e que, de tão habituados que estamos a isto, difícil é encontrar (e gostar) de algo que não tenha a "droga do século XXI".

22
Jan17

Tapioca, ou um desgosto profundo

Em 2006 fui ao Brasil, mais propriamente a São Salvador da Bahia. Tenho poucas memórias dessas férias, não foi algo que me tenha marcado e todo aquele mito que envolve o Brasil morreu para mim desde essa altura - neste momento, só tenho curiosidade em ir ao Rio, porque de resto passo bem sem lá pôr os pés de novo. A praia não era nada de especial, detestei andar nas ruas, não apreciei o ambiente. (Enquanto escrevia este texto fui ver as fotos dessas férias e concluo que, de facto, não estava a gostar de nada - estou SEMPRE com cara de chateada). Diria que, das duas semanas que lá estive, trouxe três coisas de que me recordo com alguma saudade: os macaquinhos que andavam lá e roubavam comida a torto e a direito nos pequenos-almoços; as atividades que haviam, nomeadamente uma a que eu ia todos os dias, que consistia em aprender a fazer cestos e outros objetos através da folha de palmeira; e, claro, não menos importante... a comida.

Essa foi a coisa que mais me marcou. A comida era divinal e eu nunca vi um pequeno almoço tão grande como aquele em toda a minha vida. O pior é que era tudo delicioso! A fruta, o pão, as iguarias... fico com água na boca só de pensar. Já nessa altura comia como uma lontra e ali não havia muito mais para fazer para além de enfardar, por isso limitava-me a comer e a ser minimamente feliz. Aprendi a gostar de umas tantas coisas, mas uma que marcou em particular eram uns crepezinhos de uma farinha branca que eles punham para cima da frigideira e aquilo, como por magia, solidificava. Não era líquido, mas mesmo assim ficava homogéneo e as senhoras depois colocavam lá dentro uma banana frita e o que mais quiséssemos.

Vim com aquilo na memória e andei a falar disto durante anos - anos, sem exagero! Lembro-me que, quando cá cheguei, não sabia o que era mas falava daquilo a toda a gente como se fosse a última iguaria deste mundo. Até que, eventualmente, acabei por a esquecer. Até há um ano atrás, quando comecei a ver os tais crepes brancos a invadir o instagram de todas as pessoas fit e percebi que, dez anos depois, tinha reencontrado a pólvora. O drama foi encontrar a tapioca para os fazer, uma vez que tem de ser hidratada e não havia nada no mercado (e que se vendesse no Porto) com esse efeito. Vi vídeos no Youtube, perguntei a toda a gente que via fazer, vasculhei nas caixas de comentários alheias à procura de dicas.

Nisto passou-se um ano. Pelo meio ainda fiz uma tentativa infrutífera com polvilho doce, hidratando-o, mas aquilo ficou um porcaria e eu achei que tinha feito algo de errado. Hoje percebo que se calhar não fiz nada de mal, simplesmente a tapioca não era aquilo que eu imaginava. Há uns dias vi que há uma nova marca de tapioca hidratada no mercado, que se vende no Celeiro. Fui logo a correr comprar aquilo e, nessa mesma tarde, fiz a dita. Primeiro não aglomerou, ficou toda partida - mas com isto uma pessoa até vive. O pior é o sabor e a textura. Sabem quando um comprimido daqueles que sabem mal fica entalado na garganta e, quando o tenta "empurrar" com água, ele se desfaz e deixa um sabor terrível na boca e parece deixar bocadinhos farinhentos na vossa boca? Foi basicamente o que senti quando pus a tapioca na boca. 

Para além de ter pago uma pequena fortuna por uma farinha que não vou usar e de aquilo ter sido das piores coisas que provei nos últimos tempos, o pior de tudo isto foi o desgosto. Não sei se fui eu que fiquei com uma ideia errada sobre aquilo que comi no Brasil, se era de facto algo diferente e eu estou a confundir ou se eles punham açúcar na farinha... mas a imagem que eu tinha era o oposto disto que hoje se come. Tenho consciência que estes "mitos" da nossa memória nunca mais se tornam a concretizar, que as comidas por muito boas que sejam nunca sabem à mesma coisa e perdem a magia, mas neste caso é passar de uma comida de sonho para algo absolutamente intragável. Admiro sinceramente quem consegue comer aquilo ao pequeno almoço e ainda sorrir enquanto dá uma trinca. Se calhar é o preço a pagar por ser fit. E, sendo assim, está visto que vou ser lontra a vida inteira.

 

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19
Jan17

Podemos falar do flagelo das calças rasgadas?

Já vos contei várias vezes sobre o drama que é eu arranjar calças de que goste. Não vale a pena repetir a lenga-lenga toda de novo, por isso acreditem simplesmente no que vos digo: comprar calças comigo é dramático, um inferno na terra. Não gosto de nada, sou esquisita, acho que tudo me fica mal - e quando não fica hei-de arranjar outro defeito.

A moda tem muitos males (e agora que trabalho no meio dela, descubro cada vez mais), mas um deles é estar em permanente mudança e esquecer-se que os corpos não mudam (e que alguns gostos também não, uma vez que há gente que não muda de opiniões ao sabor das modas). Há uns anos não se via mais nada nas lojas para além de skinny jeans: o que, para alguém como eu, que tem pernas gordinhas, era horrível. Se eu agora acho que é um drama comprar calças, naquela altura era o apocalipse. Há coisa de um ano voltaram as calças de cinta subida e aí eu rejubilei - acho que naquele período de meses comprei mais calças do que nos cinco anos anteriores.

E depois alguém teve a brilhante ideia de começar a rasgar as calças todas, como se todos tivéssemos tombado num degrau e esfolado não só o joelho como a perna toda. E a única pergunta que se impõem aqui é: "porquêêêêêê?". Porquê que 80% das calças vendidas em lojas fast-fashion têm rasgões? Na minha altura (vêem como estou velha?) as calças que se rasgavam tinham duas saídas: 1) iam para deitar fora ou 2) cosiam-se ou colocavam-se remendos, com aqueles bonecos "colados" com o ferro de passar a roupa. E agora, para além de se andar com os jeans todos rotos (às vezes mais rotos que inteiros, diga-se de passagem), ainda se paga por eles virem todos estragados. Não cabe na cabeça de ninguém.

Mas bom, eu sei que nesta coisa das modas não há nada a fazer - é sentar e esperar que passe. A questão é que eu gostava mesmo de comprar calças - decentes, sem "decotes". E a minha solução é a seguinte: se fazer DIY (do it yourself) está tão em voga, porque não juntar o útil ao agradável e, por cada compra de calças de ganga, vender um "ripador" de jeans e um conjunto de instruções sobre "como rasgar as suas calças da melhor forma para ficar na moda"? Assim ficávamos todos felizes: aqueles que ainda têm juízo e compram calças completas, aqueles que gostam das calças rasgadas conforme se vendem e ainda aqueles que também gostam das calças cheias de buracos mas preferem rasgões de outras dimensões para além daqueles vendidas em lojas. No meio disto tudo, ainda ficavam a ganhar, por poderem dar aos clientes "aquele" toque de personalização que agora é tão valorizado.

Por favor, pensem nisto.

Assinado: uma compradora desesperada.

 

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(amiga, está frio, não é tempo de andar com os joelhos à mostra...)

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