O país dos doutores e engenheiros
Sempre se disse (e se ouviu) que Portugal é o país dos doutores e dos engenheiros. Toda a gente tem de ter um prefixo qualquer para se sentir de bem com a vida. São doutores os que não médicos ou doutorados (e os praxistas a partir do segundo ano, que é melhor ainda!), são engenheiros os que só têm o bacharelato e, com o estado das coisas, o estagiário no gabinete de arquitetura já é provavelmente senhor arquiteto. Até a mim me chamam doutora, que é assim a coisa mais estranha e anedótica de sempre - mas enfim, é o país onde vivemos.
E eu sempre soube que isto era assim mas só agora é que estou a entender a extensão do problema e as dificuldades que isso nos pode criar no dia-a-dia. Neste momento, e para mal dos meus pecados, passo a vida a falar com pessoas que não conheço - e a menos que saibamos à partida que aquela pessoa é médica, doutorada, advogada, engenheira (ou qualquer outra coisa que tenha um rótulo associado) é um problema quando nos dirigimos a ela. Eu dou por mim a gaguejar e a dar trinta voltas de forma a que todos os "sujeitos" nas minhas frases sejam omissos, para não fazer asneiras e as pessoas não ficarem ofendidíssimas. Sim, porque se chamamos doutor a um engenheiro cai o carmo e a trindade. E se chamamos senhor a um doutor é um drama. E se não chamamos o que quer que seja a alguém que não é nenhuma das coisas supra-mencionadas... também é provável que essa pessoa fique chateada. Ou seja: é uma gestão difícil.
Eu tenho duas técnicas: a primeira é estar atentíssima sempre que me falam de quer que seja, para apanhar os prefixos de toda a gente; mesmo quando se está em conversa com essa pessoa, dá sempre jeito ir vendo como é se deve interagir. A segunda é, como disse acima e em desespero de causa, nunca chamar a pessoa pelo nome, o que às vezes requer bastante imaginação.
Pronto, já disse o que tinha a dizer. Agora a doutora Carolina vai mazé trabalhar, que a vida não é só andar aqui a mandar uns bitaites. Doutora que é doutora faz coisas sérias.