3 dias no Gerês
Depois de sair de Penacova e voltar a casa, nem tive grande oportunidade de tirar as coisas das malas. No fundo, fiz só uma "reciclagem" daquilo que precisava de levar no dia seguinte e dormi na minha cama, da qual já estava a morrer de saudades. Combinei, super em cima do joelho, uma ida de três dias ao Gerês com as minhas amigas - eram os únicos dias que tinha livres até começar a trabalhar (depois acabei por não começar na quinta-feira, ficou adiado para a semana) e cheguei várias vezes a pensar em cancelar estes planos: no dia seguinte ao fim de férias ia trabalhar, tinha um trabalho por fazer e coisas para estudar para o meu último exame da faculdade, pelo que seria tudo feito com temporizador e já muito à rasca. Acabei por arriscar e, felizmente, o universo conspirou a meu favor e deu-me mais dois dias de férias para organizar a minha vida.
Decidimos ir para o Parque Cerdeira, em Campo do Gerês. A escolha foi super acertada, adoramos! É um parque de campismo a sério, grande, com imensas infraestruturas (campo de futebol, piscina, várias casas de banho, sala de jogos, mini-mercado, muitas atividades); tem também imensas árvores e muito espaço para tendas, não há forma de nos sentirmos apertados. Para além do mais, a nível geográfico, está perto de tudo, o que é a cereja no topo do bolo.
Mesmo o parque sendo maravilhoso, o que nós queríamos mesmo era explorar o Gerês. No primeiro dia, já a meio da tarde e depois de montarmos a tenda, fomos a uma das praias fluviais que lá há, na barragem de Vilarinho das Furnas. A praia era linda, super calma (estávamos cerca de 10 pessoas) e a água muito limpa e clarinha. O caminho para lá chegar não é difícil - implica uma descida grande, no início em pedras e depois em monte, mas faz-se relativamente bem. Acima de tudo, vale imenso a pena pela paisagem, pela calma e pela água. É uma daquelas visões indescritíveis de tão belas; as palavras não chegam, as fotografias não são fidedignas o suficiente. É de tirar a respiração e uma pessoa só quer poder ficar mais um minuto para poder desfrutar daquelas vistas.
Baía da barragem de Vilarinho das Furnas
Baía da barragem de Vilarinho das Furnas
Baía da barragem de Vilarinho das Furnas
O dia seguinte foi dedicado a alguma caminhada e às cascatas. Fomos pelo caminho romano até à Portela do Homem, onde passamos parte da manhã. Descer até à água, para mim, não foi fácil - sou muito naba no que a estas atividades "radicais" diz respeito e imagino-me sempre com menos dois dentes, a cabeça rachada e uma perna partida só de ver aquele amontoado de rochas. Tive medo e fui sempre com mil cuidados, muitas vezes com as duas mãos e pés nos chão, para ter o máximo de equilíbrio possível - ou isso, ou ia mesmo de rabo.
A Portela do Homem é bonita mas, nesta altura do ano, não é aquela cascata que vemos nas fotografias: por um lado, tem muito menos água; por outro, tem muito mais pessoas. É difícil tirar uma fotografia sem um emplastro atrás. Ainda assim, vale a pena a visita. A água é geladíssima, mas é linda, linda, linda - e faz com que os cabelos fiquem mais macios do que com quilos de amaciador! Na minha opinião, este é um sítio para visitar, tomar um banho, tirar umas fotografias e ir embora - não há muito espaço para circular, há sempre pessoas à volta, tem de se ter sempre mil e um cuidados para dar um passo e o calor das pedras consegue ser infernal. Uma coisa que a mim me perturbou particularmente foram as pessoas a saltar: a lagoa é baixinha e havia pessoas a darem saltos de 4 ou 5 metros, muitas vezes com rochas salientes pelo caminho. Eu não digo nada, mas fico com o coração na boca - e sei que as pessoas que morrem todos os anos nestes sítios devem-no a maluquices mal calculadas deste género.
Portela do Homem
Portela do Homem
Depois da Portela do Homem fomos até lá cima, à Cascata do Arado. Estava super seca, a cascata limitava-se a um fio de água e esta era muito menos límpida, muito provavelmente por não circular. O caminho até lá foi mais difícil e longo do que para a Portela do Homem, por isso não achei que valesse muito a pena. Em alturas de mais chuva deve ser linda, porque o "caminho" da água é bastante maior, mas nesta altura não se revela nada de especial. Faltou-nos a cascata do Thaiti, mas decidimos não arriscar: segundo dizem, é a mais perigosa de todas e já nenhuma de nós estava virada para mais riscos. Eu confesso que, apesar de ter gostado muito das vistas, respirei de alívio.
Cascata do Arado
Nesse dia passamos ainda pela Vila do Gerês e depois voltamos para Campo por um caminho lindíssimo, que repetimos no dia seguinte por termos gostado tanto dele.
O último dia foi um bocadinho diferente: de manhã decidimos fazer uma das atividades do parque, a que chamam "Parque Aventura". No fundo, consiste em algumas atividades que eles lá têm, que incluem arvorismo, slide e escalada. Tudo em ponto pequeno, mas o suficiente para pôr a adrenalina do nosso corpo a circular - em mim, pelo menos, teve esse efeito! O monitor era incrível, super simpático e engraçado, o que tornou a experiência ainda mais gira. Se forem a esta parque, aconselho muito!
Estas férias foram muito importantes para mim no sentido de superação de barreiras e obstáculos. Sempre fui a menina totó, dos livros, que detestava educação física; aquela que caiu de cara na primeira aula do 7º ano e ficou com um olho negro, a que não consegue fazer a roda, a mais gordinha e menos atlética das amigas. E aqui consegui fazer tudo a que me propus: subi e desci pedras terríveis, andei em cima de fios de uma árvore para a outra, fiz escalada, atirei-me num slide duas vezes (mesmo tendo detestado a primeira!). Limitei-me a não pensar muito e tentar, pelo menos uma vez na vida, e soube tão bem ver que conseguia! Foi óptimo para o meu ego, para a minha confiança e auto-estima.
Depois das aventuras, desmanchamos a tenda e metemos tudo dentro do carro (outra aventura, portanto) e fomos dar uns passeios de carro, pelos vários miradouros. Ainda tentamos ir ver a vila de Vilarinho das Furnas, que está há muitos anos debaixo de água, mas acabamos por desistir por ainda termos de fazer uns quilómetros a pé. Como já disse, voltamos a fazer a tal estrada lindíssima entre a Vila do Gerês e Campo e parámos várias vezes para tirar fotos e apreciar as vistas. Pelo caminho passamos, claro, por vacas, bois e cabras - algo tão simples como maravilhoso.
A última paragem foi no miradouro da Pedra Bela, com uma vista linda e super completa do Gerês. Há lugar para o carro e sítios próprios para tirar fotos e até para fazer picnics, por isso é óptimo para uma paragem mais prolongada. Depois disso, engolimos as saudades que já apertavam e viemos embora. Eu, pelo menos, vim com a certeza de que quero voltar. O Gerês é aqui tão perto e é das coisas mais incríveis que este país tem.
Caminho Vila do Gerês - Campo
Caminho Vila do Gerês - Campo
Miradouro da Pedra Bela
Miradouro no caminho Vila do Gerês - Campo. Para mim o mais bonito de todos.