"Mudaste."
"Mudaste" é capaz de ser das palavras que mais ouvi este verão. Subitamente, toda a gente me decidiu dizer que mudei, que cresci. E eu, num instinto de defesa antigo, digo que não, que estou igual.
Associo sempre essa forma do pretérito perfeito do indicativo do verbo mudar a algo pejorativo. Talvez seja um preconceito vindo de todas os dramas que vi e li, em que um romance incrível acaba com essa palavra pequenina mas tão impactante como um punhal dirigido ao peito. "Mudaste", como quem diz: "já não és aquilo que eras, já não és a pessoa que conheci, já não és a pessoa de quem um dia gostei". Porque nos livros e nos filmes é sempre uma palavra dita tristemente, com sabor a fim - e soa-me estranho que mo digam levemente, como quem fala do tempo. Não o consigo levar como uma coisa positiva, ainda que me sorriam pelo meio - sinto sempre um julgamento implícito, nem que seja um "mudaste para melhor, e ainda bem, porque antes eras impossível".
Há uns tempos disseram-me, alegremente: "cresceste tanto, Carolina!". E eu, com toda esta história do "mudaste" e toda a sua conotação, só pensei "mas antes eu era assim tão criança?". Percebi na hora que era um elogio, mas aquela frase pequenina caiu-me de forma imprevisível. Porque, não sabendo se na realidade mudei ou não, o que sei é que há muito tempo que estou satisfeita com a pessoa que sou - sempre gostei de mim, com todos os meus defeitos e manias. Mas, aparentemente, o mesmo não se passava com todos os outros há minha volta, se essa mudança é tão notada e ainda por cima há a necessidade de a afirmar em alta voz.