O que seria de uma viagem sem um pouquinho de aventura?
Há uma semana atrás estava a voltar da Régua. Fui no meu antigo carro, uma vez que éramos três pessoas, mas sempre com medo do que dali poderia vir. Desde que tenho o smart que ele está mais parado e há um ano já me tinha deixado apeada na Avenida da Boavista, quando sobreaqueceu e ameaçou derreter-me o motor do carro. Sem me alongar muito, basta dizer o esperado: aconteceu outra vez.
Estavam perto de 40º no Douro Vinhateiro e o caminho que decidimos fazer, por Mesão Frio até à auto-estrada, ainda tem uns bons quilómetros de nacional. A casa onde estávamos já ficava bem alta e, antes de irmos, decidimos passar pelo centro da Régua para comprar os rebuçados que tanta gente gosta - o que implicava descer e depois tornar a subir. Assim fizemos. Eu estive sempre de olhos postos na rodinha que assinala a temperatura, já com um feeling do que podia acontecer, porque aquelas subidas são íngremes e eu via-me obrigada a puxar pelo carro. A temperatura subia um pouquinho e depois voltava ao normal, andava nisto, até que de repente saltou para o extremo do vermelho e o carro perdeu a potencia toda e eu tive um dejá-vu daquela tarde na Boavista. A diferença é que neste caso estava na nacional, em cima de duas curvas e sem sítio para encostar.
Coisas importantes a saber: eu não tinha telemóvel; a amiga que estava comigo tinha bateria mas menos de 1 euro para gastar e o outro amigo que também estava no carro tinha 8% de bateria. Uma gestão difícil, portanto. Não vale a pena entrar em grandes pormenores do que aconteceu: com o meu irmão a seguir-me de guia e "calmador espíritual", abri o capôt, tentei descobrir o sítio onde se coloca a água (não descobri...) e passado algum tempo (já depois de triângulo posto e colete vestido) seguimos para uma bomba de gasolina ali pertinho.
Depois de pedir ajuda aos senhores que lá estavam e de ouvir as centenas de bitaites e experiências que tinham para me contar, e como o carro já tinha voltado ao normal, fiz uma segunda tentativa. Durou pouco mais de um quilómetro, onde o carro voltou a aquecer e eu desisti e tive de chamar o reboque. É verdade: 21 anos, 3 de carta, a 100kms de casa, fui rebocada pela primeira vez.
Mas o que importa aqui não é o facto de ter sido rebocada, mas sim a forma como encarei tudo isto. Sejamos sinceros: um carro avariar é sempre uma situação chata e stressante, principalmente se não percebemos nada do assunto e estamos no meio de uma nacional onde a visibilidade e a probabilidade de acidente é muito maior. Confesso que nos momentos iniciais tive medo, acima de tudo pelo sítio péssimo onde estávamos, mas depois passou. E quis levar aquilo da forma mais relaxada que pude, sem stresses de maior, e aproveitar a experiência que espero não ter de repetir muito mais vezes na vida. No fundo, eu sabia como não queria encarar a situação: não queria berros, não queria choros ou desespero porque a situação não era digna de uma reação de fim de linha. Tenho andado a trabalhar muito nesta minha parte mais emocional, racionalizando-a; vejo os outros a fazer cenas por coisas mínimas e penso: "eu não quero ser assim". E não fui.
Estava com amigos, a rir-me meia em pânico porque não sabia como ia saltar abaixo do reboque e com aquela adrenalina de quem já é crescidinha e soube tomar conta da situação. O reboque saiu primeiro, ainda esperamos vinte minutos pelo táxi, e depois lá seguimos por aquelas estradas em "S" com um taxista louco ao volante - tão louco que, apesar do avanço do reboque, ainda o conseguimos ultrapassar em plena auto-estrada.
No fim de contas, a GoPro da minha irmã ainda serviu para documentar o sucedido e deixar uma recordação para a história. Rebocada e feliz. É isto a vida.