Sobre o fim de uma embirração pessoal
Acho que há certos momentos da nossa vida em que temos de ceder, deixar o orgulho de parte e poder admitir que, porventura, estávamos errados. Ou então superar simplesmente coisas em que temos razão mas que não passam de atos únicos, irrefletidos e que não têm necessáriamente de rotular para sempre a vida de uma pessoa. Talvez essa evolução se chame crescer, não sei.
Hoje anuncio, para regozijo de muitos, o fim de uma embirração pessoal de há muitos anos e que tanta gente batalhou. Tem dois nomes, é dado como o melhor jogador do mundo e chama-se Cristiano Ronaldo. E não, não foi pelas lágrimas que ele verteu nesta última final; tratou-se sim de uma "desembirração" gradual já ao longo dos últimos, talvez, dois anos. Como disse, as razões que evocava para não simpatizar com ele continuam lá, mas acho que está na hora de serem ultrapassadas e de ver para além disso. Escrevo isto depois de ver um vídeo que me apareceu no facebook com ele a cumprimentar fãs em todo e qualquer lado, a consola-los - alguns doentes e com incapacidades físicas visíveis - e o meu coraçãozinho de gelo derreteu. Achei que era uma boa altura para pôr um ponto final nisto e anuncia-lo definitivamente ao mundo.
Isto não implica que eu passe a simpatizar mais com o Real Madrid do que com o Barcelona; não quer dizer que eu ache correto que se continue a fazer dele o herói e indispensável da seleção, quando neste euro se provou que - embora ele tenha lutado muito - os outros não lhe ficaram nada atrás e se tenha de defender o menino de ouro quando ele faz qualquer coisa mal ou não jogue assim tão bem, quando os outros jogadores não têm o mesmo tratamento. Mas quer dizer que posso elogiar um golo ou uma ação dele sem que me lancem olhares do tipo "ai é??? mas não és tu que o detestas?!" e que possa verter uma lagrimita quando ele sai de campo a chorar baba e ranho ou quando se emociona quando levanta mais uma bota de ouro.
Continuo a dizer que temos todo o direito de simpatizar ou não com determinadas pessoas - quer tenhamos ou não razões para isso. Há primeiras impressões que marcam, determinadas ações que não nos passam ao lado e que rotulam imediatamente determinadas pessoas. Mas acho que também temos o direito de mudar as nossas opiniões e posições, agir de acordo com a nossa consciência e a nossa própria evolução. Continuo a ter um punhado cheio de embirrações pessoais, mas hoje uma caiu oficialmente por terra. (Estejam descansadinhos que ainda tenho muito com que me entreter com todos os outros que sobram.)