E das bóias, ninguém se lembra?
Aqui no Algarve tenho muito tempo para pensar. Penso muito na vida, nas pessoas, nas coisas, na evolução das espécies... Eu sei lá! A praia dá-me para isto.
E enquanto miro o mar e todos os bifes que para lá nadam, com todas aquelas pranchas de esferovite e fatos até às orelhas, penso nas bóias que trazem consigo e que todos já vimos. E aí reside a questão principal deste post: todos já vimos aqueles golfinhos cinzentos demais, aqueles crocodilos e orcas onde temos de fazer equilibrismo para nos pormos em cima deles, aquelas bóias estilo donut que imitam os desenhos de um pneu e as outras onde nos podemos deitar, transparentes e com umas riscas com várias cores no meio, ainda com direito a um buraquinho para pormos um copo que nunca existe. Todos já as vimos porque desde há 15 anos para cá que não se mudam o raio das bóias.
É ultrajante, não é? Quer dizer, neste período de tempo descobriu-se a cura para milhares de doenças, passamos dos telemóveis com teclas para os touch, das pens de 200Mb para 120Gb, o Algarve já foi "Allgarve" e já voltou ao nome inicial, já por cá passou a Troika, o Sócrates foi preso e o Miguel Relvas perdeu a licenciatura... Enfim, tantas coisas marcantes neste nosso mundo, tantas evoluções difíceis e que exigiram tanta pesquisa, tanta investigação (e, no caso do Sócrates, tantos tomates) e ninguém é capaz de inventar uma bóia nova? Um polvo, um robalo, uma sardinha tão tipicamente portuguesa? Ou uma gaivota, um linguado ou uma amêijoa, se queremos pensar fora da caixa. Qualquer coisa! Em desespero de causa até já só peço para mudarem aqueles desenhos manhosos: utilizam-se os mesmos moldes, as mesmas bóias, mas ao menos com um styling diferente. As pessoas continuarão a mandar chapas monumentais em quedas espalhafatosas proporcionadas por aqueles insufláveis, mas ao menos será em bom.
Dito isto, e feito o meu apelo em prol de um mar português com uma "fauna bóial" mais diversificada, deixo-vos com a deixa daquele gajo chato que dita moralidades na RFM: "Vale a pena pensar nisto".