As coisas que não têm lugar
Andei durante os três meses de estágio a acumular tralhas dentro de gavetas e armários. Pensava sempre "para o próximo fim-de-semana tenho de arrumar isto", mas nunca acontecia: ou porque estava sol e eu queria aproveitar para apanhar vitamina D e pôr a leitura em dia; ou porque estava cansada e queria dormir; ou porque tinha outras coisas combinadas; ou, simplesmente, porque preguiçar me parecia melhor ideia. Até desabafei isto com as minhas colegas de trabalho, muito mais experientes nisto de trabalhar-5-dias-por-semana-e-ainda-ter-de-fazer-tudo-o-resto e elas bem me avisaram que eu tinha de me obrigar a fazer as coisas, senão bem que tudo morria no sítio onde eu tinha acumulado a tralha. Até consegui faze-lo uma vez ou outra (arrumei os postais, algo que estava para fazer há uns 3 anos!), mas a maioria dos "arrumos temporários" ficou por tratar.
Essa é uma das tarefas que quero fazer nestes primeiros dias de férias. Arrumar tudo - e não só aquilo que está à vista (sim, porque a minha secretária está sempre impecável... o truque é não olhar para as gavetas). Já comecei pelo quarto-de-banho e aproveitei para fazer umas mudanças e agora falta tudo o resto: a secretária, os armários, as gavetas, as mesinhas de cabeceira, as estante. Enfim, todo um mundo de coisas.
Mas a verdade é que, por muito que limpe e arrume, há sempre coisas que continuam ali encravadas no mesmo sítio... porque não têm mais sítio para ir. Os livros vão para a estante, as canetas para o copo em cima da secretária, a máquina fotográfica para a mochila, as sapatilhas para o armário. E aquelas tatuagens temporárias que há um ano estavam na moda e que temos enfiadas numa gaveta algures? E aquele papel muito giro que vinha numa revista e que guardamos para fazer um recorte que nunca mais na vida vamos fazer? E aquele mapa de Londres que guardamos porque nos pode vir a dar jeito no futuro?
São coisas totalmente aleatórias, que muitas vezes nem sabemos como nos aparecem nas mãos mas que, pelos vistos e numa altura qualquer, decidimos guardar e esperar que numa próxima vida sirvam para alguma coisa - ou que temos simplesmente pena de deitar fora. O pior é que não cabem em nenhuma "categoria de arrumação" e tudo o que apetece é deita-los numa qualquer caixa, estilo pandora, e esperar que elas se auto-arrumem e encontrem o seu caminho para uma vida arrumada e organizada, como todos os outros items do nosso quarto.
E pronto, isto tudo para dizer que DETESTO coisas que não têm lugar. Digam-me, por favor, que não estou sozinha nesta luta.