O último dia da minha versão estagiária
Lembram-se de ter escrito que este era agora o blog de uma estagiária, aí há uma semana atrás? Pois, têm razão - não foi há uma semana, mas parece: foi há pouco mais de três meses e hoje, o capítulo que abri nesse dia, foi fechado. Hoje foi o meu último dia de estágio e eu já estou um bocadinho atrapalhada por saber que já não tenho para onde ir para a semana que vem.
Sofri muito por antecipação com este estágio; sofri também por, numa fase mais avançada, não saber o que escolher. Mas hoje sinto a melhor sensação de todas que é, para além de missão cumprida, saber que fiz a escolha correta. Não fiquei a servir cafés, não fui maltratada, não fui posta de parte, não estive fechada numa cave, não estive horas sem fazer nada. O meu estágio foi tudo o que eu podia pedir: foi não só uma experiência de trabalho mas também - e acima de tudo - uma experiência para crescer enquanto pessoa.
Mais uma vez, aprendi a ver para além dos preconceitos. Quando, por exemplo, me apercebi que ia integrar uma equipa só de mulheres, até me arrepiei só de pensar. Hoje sei que uma equipa só de mulheres pode funcionar tão bem como todas as outras - ou até melhor. A alegria e a maluquice daquele escritório era contagiante e não houve um dia, nestes três meses de estágio, em que as minhas colegas não me tenham feito rir. Ri até chorar e dei por mim a partilhar experiências e pensamentos com elas que só partilhei com um par de pessoas em três anos de faculdade.
Eu sei que um dos meus problemas ao interagir com os outros é não aceitar que eles possam gostar de mim. Sinto que sou sempre substituível (aliás, agradavelmente substituível, porque acho sempre que me querem ver pelas costas), algo a dispensar, que ninguém gosta de ter por perto. Sinto isso em relação a todas as pessoas que me rodeiam, com excepção dos meus pais e dos meus irmãos. E ali, apesar de às vezes o contrário, também sempre achei que queriam a "intrusa" fora dali. Mas hoje, para minha surpresa, foram ao supermercado e compraram-me uma série de coisas para um lanche de despedida. E à saída a minha colega de mesa - que, indiscutivelmente foi a pessoa com quem me liguei mais - perguntou-me: "vais mesmo embora? Não voltas mais?". E eu disse que não, que não voltava. E depois pensei melhor e, com umas coisas ainda para tratar em cima da mesa, adiei a despedida que mais me ia magoar o coração e disse: "oh, afinal venho segunda tratar disto". E eu vi na cara dela um "ainda bem" que, na minha leitura, foi o mesmo que me dizer que, afinal de contas, eu não era um estorvo por estar a roubar o cantinho da secretária dela. E esse foi o único do momento do meu dia em que me apeteceu largar a chorar, porque percebi que podia não ser a estagiária dispensável, a chata, o estorvo. Acho que, por isso, até neste campo aprendi qualquer coisa.
Foram três meses cheios e dos quais vou ter saudades. Do ambiente daquele escritório, da vista para o mar, dos quinze minutos de carro que demorava a viagem e, claro, das minhas colegas, com as suas conversas sobre comidas, figuras públicas e empregadas de limpeza. Foram três meses em que não custava acordar para ir trabalhar, em que sabia que todos os dias iam ser diferentes e com qualquer coisa nova para rir e aprender. Porque posso não ter ganho um cêntimo como retorno do meu trabalho, mas saio extremamente mais rica.