A síndrome da página em branco
Há uns dias, a falar com um amigo, futuro engenheiro, ele perguntava-me aquilo que mais tenho ouvido nos últimos tempos: "como está a correr o estágio? O que estás a fazer lá?". Eu expliquei o que fazia e ele respondeu-me, a torcer o nariz: "isso parece uma seca, passar os dias a olhar para páginas em branco com o cursor sempre a piscar". E eu achei imensa graça, porque nunca tinha pensado nas coisas dessa forma - de facto, 90% das atividades que faço passam pela escrita, mas têm todas um cariz, tons e objetivo tão diferentes que nunca me parecem a mesma coisa.
Se formos a pensar bem, eu começo normalmente as minhas manhãs com um press release. Depois vou pensando em formas de alimentar as redes sociais, escolho e edito imagens, escrevo as descrições e preparo planos de uma semana. A seguir sou capaz de escrever uma notícia ou acabar um relatório sobre o último evento; ou então um plano de comunicação para os eventos que vêm aí. Sou capaz de fazer uma pausa pelo meio para ler, fotocopiar e scanar notícias que saíram nos últimos dias sobre o setor, mas provavelmente já tenho outro press para escrever no email. Pelo meio vou lendo o muito que se escreve no facebook, partilho algumas coisas e vou tendo ideias para textos meus aqui no blog - se forem coisas pequenas, até já vou adiantando trabalho. Quando chego a casa, sento-me mais uma vez em frente ao computador e escrevo o que consigo, o que me apetece, o que me vem da alma. E assim passo o meu dia, a escrever.
Há uma blogger bastante conhecida aqui no pedaço que diz que "a vida resolve-se sozinha". A verdade é que não sei como vim aqui parar; sei é que no 12º ano eu não tinha nenhum curso para onde quisesse ir e a única coisa que dizia era: "quero escrever". E hoje escrevo, em muitas coisas, em muitos registos, em muitos suportes, de muitas formas e com vários objetivos. Enfrento todos os dias o "drama" da página em branco. E adoro. A minha vida, por estes meses, resolveu-se mesmo sozinha.