Uma decisão pouco estratégica de que não me arrependo
Se há pessoa que ouve os pais sou eu. Tenho mesmo muito em conta as opiniões deles - embora possa argumentar e refilar, tudo o que eles me dizem fica em "fermentação" cá dentro e muitas vezes acaba por evoluir para uma opinião que coincide com a deles ou, pelo menos, se aproxima àquilo que eles acham.
Que eu me lembre, de todas as grandes decisões que tive de fazer na vida, só fui contra as indicações deles uma vez: no 11º ano, quando abandonei as ciências e tecnologias e passei para línguas e humanidades. Nesse caso, tomei a decisão contra a vontade deles e de 90% das pessoas que me rodeavam - foi provavelmente a maior luta que tive até hoje, também por levar as suas opiniões tão a sério. Ao contrário do que sempre tentei fazer, mudar de curso não foi uma decisão estratégica, não foi uma decisão a médio/longo prazo, com olhos postos no futuro; foi um dos raros momentos em que disse "logo se vê", "seja o que deus quiser", "é aquilo que sinto que devo fazer".
E fiz. E ainda hoje não me arrependo - mas sinto que é uma decisão que, ainda assim, me persegue. E isso é das coisas que, de certa forma, me magoa. Porque passo os dias a ouvir pessoas a dizerem-me para aproveitar a vida, para viver o dia porque não se sabe o que vem amanhã, para levar a vida com descontração sem pensar demasiado no futuro. Tudo coisas que eu, pela minha personalidade, sou praticamente incapaz de fazer - mas nos poucos momentos em que sinto que o fiz, quando fiz aquilo que o meu coração dizia e deixei um bocadinho a racionalidade de lado, sou criticada.
Apesar de sempre ter crescido com a ideia de querer continuar os negócios da família, na altura em que mudei de curso, a situação era bem diferente da de agora - e não me apetecia ter quatro anos de sofrimento pela frente só para jogar pelo seguro. E isso fez com que o 12º ano fosse um dos melhores anos da minha vida - e sem dúvida o melhor que passei na escola - e que escolhesse um curso multidisciplinar, que apesar de não aprofundar muita coisa e de não ser a área de especialidade que devo exercer pela minha vida fora, me deu ferramentas essenciais e momentos que não esquecerei.
E por isso, independentemente de todos os olhares e perguntas julgatórias como "se sabias que tinhas de gerir uma empresa porquê que seguiste jornalismo!?", eu vou levar a minha avante. Tomei a decisão certa, na altura em que precisava de a tomar; foi tomada mais com coração do que com a cabeça, num desespero latente, mas correu-me bem - independentemente do que venha a seguir na minha vida para emendar esse "erro". E sim, erro entre aspas, porque para mim não se trata disso: foi apenas uma fase da minha vida que precisei de viver, de experimentar, de tentar e de conhecer. E de que, repito, não me arrependo nem um segundo.