As corridas no Goodreads
Já falei aqui várias vezes do Goodreads e de como gosto daquela que chamo carinhosamente como a "rede social dos livros". É lá que descubro coisas novas para ler, que vejo o que vai saindo e, acima de tudo, as opiniões de quem lê - que, apesar de ser tudo muito relativo e de cada um ter opiniões diferentes sobre o mesmo assunto, é aquilo que mais aprecio. É muito comum estar em plena FNAC a ver livros e a olhar também para o ecrã do telemóvel, para ir vendo as opiniões gerais e as classificações que estão no site.
Mas, como em todas as redes sociais, estão lá os mais diversos tipos de pessoas: os que não ligam nada àquilo, os que ligam demasiado, os moderados, os exagerados, os que põem gifs por tudo e por nada, os pessimistas e os positivistas, os exigentes e os relaxados. E, para mim, os mentirosos e os verdadeiros. Não quero que levem esta classificação de "mentirosos" para um lado muito extremista, não é algo muitoooo grave mas, a partir do momento em que deixa de ser verdade, é porque é mentira - mesmo que seja pequenina ou insignificante.
Então e quais são, para mim, os mentirosos? São aqueles que dizem que, em pouco mais de dois meses, já leram 80 livros. Oi? Isso dá uma média de pouco mais de um livro por dia! Não interessa se são reformados, se estão acamados, se não fazem mais nada da vida: ninguém consegue acabar um livro por dia! A menos que, claro, estejamos a falar de livros para crianças - o que, olhando para os nomes dos livros e suas classificações (e às vezes reviews, uma coisa espantosa!), não me parece o caso.
Ler 50 livros num ano, para mim, já é uma loucura. É muito livro. O meu máximo foram 25 e acho sinceramente que é o meu limite - mas já estou aqui a dar uma margem para os outros que lêem mais rápido que eu (e acho que uma margem do dobro já é bastante razoável). Para mim, a leitura incorpora todo o prazer de saborear a escrita do autor, de ir pensando e refletindo naquilo que se vai lendo; não é passar os olhos - ou mesmo ler - sem que a informação passe para o cérebro e seja lá processada, sem toda a calma que isso exige; não é uma corrida contra o tempo, não é uma luta para se ir aumentando cada vez mais a estante em prol de um rótulo qualquer ao estilo "leitor compulsivo". Ou então na corrida do "top reader", "top reviewer" ou "top librarian", categorias do Goodreads que, isso sim, penso que estão a impulsionar toda esta mania da leitura compulsiva de livros (ou a suposta leitura, devo dizer?).
Se por um lado adoro ver que as pessoas lêem e que se está a conseguir incrementar a leitura, principalmente em algumas camadas mais jovens, por outro, toda esta loucura e corrida em prol de uma mera classificação irrita-me um bocadinho. Um bocadinho grande, vá.