Dar tempo ao tempo (para ter tempo)
Estou numa fase estranha, entre altos e baixos consoante o dia. Aliás, consoante a hora do dia. Tanto estou feliz, cheia de ideias e a imaginar um futuro brilhante pela frente, como estou em baixo, cansadíssima e com umas covas debaixo dos olhos que me aparecem instantaneamente mal o meu espírito cai.
Estou a descobrir uma nova vida. Uma vida definitivamente mais ocupada, mais atarefada, sem grande tempo para pausas - pausas essas que, descubro agora, me fazem muita falta. Penso mais do que achava que pensava (esta frase faz sentido?). Por um lado, sempre soube que overthinking era uma das minha especialidades, mas esse é o lado negativo da questão; o lado positivo, onde se inclui a medição, o ato de auto-debater comigo mesma, de construir raciocínios e argumentações lógicas, foi algo que nunca valorizei mas que agora vejo que tem uma importância enorme para mim. Daí escrever tanto, daí ter ainda mais textos "escritos" na minha cabeça.
Sempre gostei de fazer as coisas com tempo. Sempre acordei mais cedo para poder levantar-me dez minutos depois, para poder tomar o pequeno-almoço com calma e aproveitar aqueles minutos matinais com a minha mãe; sempre saí mais cedo de casa para não chegar atrasada à faculdade, para não ter de carregar demasiado no acelerador, para não stressar ao tique-taque do relógio; sempre fiquei quinze minutos a apanhar ar antes de entrar nas aulas, com tempo para apanhar um bocadinho de sol (ou chuva, dependia dos dias) na cara e renovar as energias; sempre gostei de me deitar com alguma genica, para poder ler algumas páginas do livro que tenho na mesinha de cabeceira, sabendo, ainda assim, que as horas de sono e a minha energia do dia seguinte não iam ser comprometidas.
E agora não tenho conseguido fazer isso. Vou a correr para todo o lado, não leio, não escrevo, não apanho sol antes de entrar ao trabalho, não descanso antes de ir para o ginásio, não passo grande tempo de qualidade com os meus pais. E não me interpretem mal: o trabalho está a correr muito bem, sinto-me uma sortuda por ter conseguido encontrar algo que me satisfaça minimamente (porque eu sou difícil de satisfazer). No entanto, o facto de ainda não ter reajustado a minha vida a este novo ritmo, deixa-me desnorteada; ter aberto mão, sem dar conta disso, das coisas que me fazem feliz, tira-me o chão de cada vez que penso nisso. A adaptação está a fazer-se, mas bem mais lenta do que eu pensava.
Não deixa de ser curioso o facto da cura para a minha falta de tempo ser, de facto, dar tempo ao tempo.