Hoje é tudo "aparentemente"
Acordei às 5.30h da manhã, estremunhada com um pesadelo. Num dia normal, voltaria a dormir; mas, como ontem me deitei logo depois do jantar, o sono não voltou a pegar. Icei a mão para o telemóvel, como é meu costume, para ver se tinha notificações. Dou de caras com uma mensagem que dizia que o Nuno Markl e a Ana Galvão se iam separar. Como se já não tivesse suficientemente acordada, fui a correr para o facebook ler a mensagem que - calculei - tivessem deixado aos seus seguidores. E fiquei sinceramente de coração partido.
E isto lembra-me uma coisa de que já falei aqui que é o facto de acharmos que conhecemos quem, de facto, não conhecemos. Eu acabei de dizer que fiquei de coração partido e todos achamos isso normal mas, se analisarmos a coisa ao pormenor, será que é mesmo? Eu nunca vi o Nuno Markl e a Ana Galvão na vida; nunca sequer comentei uma publicação dos dois; nunca ouvi a Ana Galvão na rádio (só coisas gravadas); sei que têm um filho, uma casa com cave onde já se deram concertos espetaculares, duas cadelas e uma gata. No fundo, é isto que sei. E se provavelmente dissesse aos meus bisavós (que já faleceram, mas que servem aqui para exemplicar alguém daquela geração, onde tudo era diferente) que estou triste porque um casal (nas condições de pouco "conhecimento" que afirmei acima), se ia separar... eles diriam que eu estava louquinha. Porque a verdade é que, vendo só o pouco que sei, parece que eu ficaria despedaçada de cada vez que um vizinho distante se separasse: sabia o agregado da sua família, o tipo de casa onde vive e os animais que passeia. No fundo, aquilo que sei da família Markl.
Mas a verdade é que não fico. Apesar do pouco que deles conheço, Nuno Markl entra-me pela rádio todos os dias para me fazer rir, faz podcasts brilhantes, leva-me a "passear" com os seus textos e desenhos, tem ideias geniais que partilha no facebook para quem quiser ver. No fundo, e apesar de não o conhecer de parte alguma, faz parte integrante da minha vida (a Ana Galvão só mesmo a parte do facebook e os vídeos que faz, que também gosto de ver - não deixo, no entanto, de simpatizar muito com ela). São este tipo de coisas que as novas tecnologias proporcionam: uma proximidade-não-próxima, uma ilusão daquilo que vemos (e mostramos) e a sensação de que conhecemos muito bem meio mundo, que os "amigos" facebookianos quase são amigos reais, tal a quantidade de informação aparente que temos ao nosso dispor.
Embora haja muito boa gente que se exponha demasiado, há sempre coisas que ficam de fora da equação. Só quem está no convento é que sabe o que vai lá dentro. E eu, às cegas com toda esta ilusão em que todos estamos metidos e com a "proximidade" e simpatia que sentia por este casal, punha quase os meus dedinhos no fogo em como este era um amor a sério, daqueles que duram para vida. E pumba, eis que anunciam a separação. E, no entanto, Nuno Markl estava aparentemente feliz e risonho esta manhã, quando mais um vez me entrou pela rádio adentro e me arrancou sorrisos no caminho para o trabalho.
"Aparentemente", é isto a reter. Nas estrelas da rádio, da televisão, do facebook ou dos blogs - aliás, mesmo que não sejam "estrelas". Na verdade, basta serem pessoas. Esta barreira que agora temos entre nós engana muito. Caímos em ilusões tremendas e só choques como estes nos chamam à realidade. Que nos sirva de lição, para recordamos que há toda uma vida fora deste jogo de aparências em que agora todos temos um peão a jogar.