Os nossos contextos e os contextos dos outros
Acho que todos os meus amigos sabem que uma das melhores formas de me irritar é ler os textos que aqui escrevo em voz alta. É algo que não suporto. Faz-me uma confusão tremenda ouvir aquilo que escrevi (e, no fundo, "ouvi" com a minha própria voz "interior") na boca de outra pessoa, sem todas as paragens e significados que atribuo a cada texto que escrevo. Acho sempre que os meus textos estão horríveis, mal escritos, que a coerência ao nível do som das palavras (se é que isto faz sentido) é terrível, que - dada a forma como são lidos - a pontuação está mal aplicada. Enfim, uma série de tragédias e defeitos sem fim.
Mas a verdade é que, quem escreve, tem de aceitar isto. A minha mãe sempre me disse que "um livro não é só um livro, são muitos - tantos quantos as pessoas que o lêem" e isso é algo com que o escritor tem que viver; perceber que nem tudo o que escrevemos é interpretado da forma que desejaríamos e intencionávamos, que isso depende do contexto em que cada um vive, do humor com que está no momento em que lê as coisas.
Às vezes irrito-me e fico um pouco magoada com as coisas que dizem nos comentários. Alguns com clara intenção de ofender, outros simplesmente com opiniões contrárias às minhas mas que têm muitas vezes o objetivo de combater algo que eu nem sequer disse. Assumem-se demasiadas coisas, tiram-se conclusões erradas de coisas que digo - e isso, num "bolo total", dá toda uma percepção errada daquilo que queria dizer, da mensagem que queria transmitir.
A verdade é que também eu escrevo no meu próprio contexto - quando "escrevo" os textos na minha cabeça, antes de os passar para aqui, já estou a tomar como adquiridos muitos factos que já fazem parte de mim mas que o cidadão comum (ou, na verdade, qualquer cidadão) não sabe. Aquilo que me parece mais que óbvio e contextualizado é, muitas vezes, quase um insulto para uma outra pessoa que lê e vê tudo isto de uma outra perspectiva e contexto qualquer.
No fundo, acho que cada um lê o que quer. E não podemos fazer muito para além de aceitar - porque por muito que escrevamos, contextualizemos e expliquemos... cada um continua a ter a sua verdade, a sua vida e os seus próprios contextos. E, esses, nós nunca vamos poder mudar.