Aleatoriedades minhas
Já foi o tempo em que também tinha porta-moedas com aquelas zonas transparentes onde normalmente pomos as fotos dos nossos familiares. Na realidade eu tinha fotos: mas eram minhas. Não por olhar para ali e me achar a última coca-cola do deserto, mas por mero acaso: às vezes devolviam uma foto qualquer ou não era preciso para um documento e pumba, enfiava-a ali, para mais tarde arrumar - coisa que, logicamente, não acontecia. Podia ter fotos dos meus pais, as pessoas mais importantes da minha vida - mas não tinha fotos deles; por outro lado, também gostava de ter dos meus irmãos - e, já agora, dos meus sobrinhos. Mas não há carteira nem espaço-transparente que aguente tanta foto, por isso ou o espaço estava vazio ou tinha um par de fotos minhas, estilo "evolução com a idade".
Entretanto reformei a minha antiga carteira e deixei esse tipo de fotos para trás. Agora só ando com uma - e não me retrata a mim, nem à minha família, amigos ou cães. É uma polaroid (o que, só por si, já tem outro significado) que tirei nas minhas últimas férias no Algarve. Na Minha praia, com o céu azul, a areia fina, as falésias num degradé alaranjado, o mar a perder de vista com uma onda suave.
Momentos normais, como uma ida ao supermercado, ficam mais ricos quando abro a carteira e dou de caras com aquela paisagem que me diz tanto; e momentos mais tristes ficam apaziguados quando, propositadamente, vou ali buscar inspiração e esperança para dias melhores. O meu paraíso existe e está à distância da abertura de um fecho zip (ou, pelo menos, a lembrança de que ele está a apenas 4 horas de carro).