Ao fim de uma causa (há muito) perdida
Os 20's são a altura perfeita para lutar por causas perdidas. Temos uma convicção inabalável, uma esperança inquebrável e uma ingenuidade típica que nos deixa acreditar que podemos mudar o mundo.
Isto pode ser bom ou mau. É bom porque, por um lado, há mesmo ideias e convicções que mudam o mundo - e, como diz o ditado, "dos fracos não reza a história", por isso há que lutar para conseguir o que queremos. Por outro lado, podemos ser um chatos sem fim, sem conseguirmos mudar a opinião de uma só pessoa, quando mais do mundo inteiro.
Aprendi que as nossas convicções, ainda que pouco apoiadas, podem estar tão certas como as outras. Porque as dos outros, para eles, também estão corretas. E, aqui, não se trata ou não de respeitar ou não as convicções dos outros: trata-se de tentar muda-las. O que, pelo que tenho visto, é das coisas mais difíceis de fazer acontecer - principalmente quando as do outros são precisamente opostas às nossas. Até porque, tal como nós, todas as pessoas têm razões para acreditarem no que acreditam.
Desconfio que crescer é também perceber que, às vezes, não vale a pena. São lutas sem fim, discussões acesas que acabam com o coração na boca e o cérebro e a racionalidade metidos num bolso. É, infelizmente, ter de aceitar que aquilo em que acreditamos piamente, com todas as células do nosso corpo, não é necessariamente aquilo em que os outros acreditam. E termos de engolir esse sapo, porque a vida é mesmo assim. Alias, crescer é mesmo assim: é, por vezes, perceber que as nossas "causa perdidas" são, efetivamente, perdidas e que não há nada a fazer para mudar isso.
Por estes dias, relativamente a algo que sempre foi uma das minhas "causas perdidas" e que me mexe sinceramente com o íntimo, percebi que não valia a pena continuar a lutar. Pus um fim em todas as minhas discussões, dramas e opiniões alheias e é assim que pretendo que continue daqui em diante; ficarei tão calada como nunca me viram, porque desisti. E é nestes dias que percebemos que crescemos e, ao mesmo tempo, também morremos um bocadinho. Matam-nos a esperança, tão característica da raça dos mais novos. Até que, eventualmente, acabaremos tão iguais e tão adultos como todos os outros. Limpos de causas perdidas e esperança.