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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

23
Jan16

O que tem de ser, tem de ser

Já fez um ano que a minha avó faleceu. Não assinalei a data aqui no blog porque, na altura, não me sentava ao computador e escrever não era tarefa fácil. Lembrei aquele dia acendendo-lhe duas velas (como, de resto, faço muitas vezes), usando o último anel que ela me deu (que também uso muitas vezes) e indo à missa em que o seu nome foi invocado (o que, ao contrário das outras duas coisas, nunca faço). 

Não foi um dia mais especial que os outros, porque lembro-me dela mesmo muitas vezes. Acendo muitas vezes as tais velas que tenho ao lado de uma foto dela, muito novinha, onde parecia uma autêntica modelo. Há dias em que a sinto comigo e há outros em que a quero comigo - nesses (e são muitos), ligo as velas e uso coisas que ela me deu, para a sentir um pouquinho mais perto de mim. Só não levei o último anel que ela me deu para a cirurgia porque sabia que não podia entrar com nada no bloco - senão, por entre todas as peças e amuletos que tenho, este seria sem dúvida o que vinha comigo.

Ao longo deste ano lembrei-me muito dela e tenho pena que ela não saiba disso; acho que, em vida, não lhe trasmiti todo o amor e carinho que sentia por ela. Na verdade, acho que também só o descobri na totalidade quando ela desapareceu - o que é triste, mas é assim. Nos últimos dias do ano, enquanto batalhava comigo própria e tentava decidir se faria a cirurgia logo no início do ano ou me mantinha no plano original de só a fazer em Fevereiro (e aguentar as dores até lá), lembrei-me muito de algo que ela me dizia, sempre que eu tinha crises de pânico à custa dos médicos. Dizia-me: "nisso não sais nada a mim! Eu sempre enfrentei tudo sem medo: o que tem de ser, tem de ser!" Afirmava sempre isto com ar determinado e peito cheio, com uma mão cheia de experiências que o comprovavam: a cirurgia ao coração (de peito aberto), a cirurgia à anca, ter tido os filhos sozinha em casa.

Foi também nela que pensei quando, no último dia do ano, tomei a decisão de ser operada e, uma semana mais tarde, quando ia a caminho do bloco, de olhos fechados e as mãos juntas ao peito. Quis ser corajosa como ela sempre fora. E sei que hoje, ao lado daquela velinha bem cheirosa que lhe comprei, ela está orgulhosa de mim. Porque "o que tem de ser, tem de ser".

 

960401 NiNosAvósCAvóCarolina (6).jpg

23
Jan16

Com calma

É uma merda quando o nosso corpo não evoluí ou, neste caso, recupera, da forma que nós queríamos. E também é uma merda saber que temos coisas para fazer - e outras que não temos, mas gostávamos - e não nos sentirmos totalmente capazes de o fazer. Não quer dizer que não consigamos, mas dói. Ou chateia. Ou incomoda. Ou fica dorido. E a sensação com que ficamos é a de tentar não repetir. 

Desde segunda que tentei fazer a minha vida normal. Fui ao cabeleireiro, voltei a conduzir, voltei ao curso de fotografia. Fiquei sempre cansada rapidamente, mas só no curso é que me apercebi do quão limitada ainda estava. Depois de três horas sentada, desta vez sem intervalo, a assistir a uma aula muito pormenorizada e a um ritmo demasiado lento, fiquei mesmo muito dorida. Com dores. E extenuada e irritada, tanto por aquilo ainda estar a acontecer como por uma provável quebra de açúcar que me deixou com o humor a níveis negativos. Saí dali derrotada e a saber que tinha de olhar para a agenda, porque as coisas estavam a apertar. Trabalhos para entregar, exames ao virar da esquina (mesmo deixando um para a época de Setembro), coisas por fazer. Pouco tempo, muita coisa e um corpo ainda-não-muito-funcional.

E daí comecei a stressar, porque comecei a ver que algumas coisas iam ser deixadas por fazer: e essa sensação é das piores que tenho - não fazer aquilo com que me tinha comprometido. Foi, aliás, a razão de um sofrimento paralelo enquanto estive em repouso (quase) absoluto: saber que tinha trabalhos para entregar, que não pude completar, deixando uma sobrecarga para todos os meus colegas dos vários grupos que tinha. Eu não sou nem nunca fui a lapa de serviço; sempre fui a que me chateava por os outros não entregaram as suas partes, por o fazerem mal e porcamente ou as entregarem umas horas antes do prazo final; sempre fui aquela que tinha ideias, que ajudava, que impulsionava. E desta vez tive que ser a que não fez, a que deixou para os outros; quis acreditar até à última que ia recuperar o suficiente para, ainda a tempo, fazer algo - mas enganei-me redondamente. E isso, mesmo sabendo que a culpa não é minha e que a saúde vem primeiro, trouxe-me um peso na consciência enorme.

Agora que já me sentia melhor (ou a minha cabeça já me dizia "yey! 'tás boa, faz-te ao trabalho, há um mundo de coisas para fazer!"), senti que o corpo me dizia para abrandar, porque ainda não era hora de levar esta empreitada avante, pelo menos com a envergadura que tinha em mente. Comecei também a ter dores num sítio na cicatriz e todo o medo de algo ter corrido mal e de me ter de submeter a mais alguma coisa tornou a esmagar parte de mim. Queria muito despachar isto, ficar só com uma cadeira por fazer (a tal que vou deixar para Setembro) e tirar boas notas nas restantes; ter um bom trabalho final a fotografia; arrumar e mudar algumas coisas neste quarto; desfrutar de novo da minha liberdade. Mas a dissonância entre o meu corpo e a minha cabeça, a juntar ao medo assoberbado criado pelos macaquinhos da minha mente, fizeram com que caísse.

Voltei à base, ao descanso, à televisão e aos livros por mais um bocadinho. Estou a tentar não dar passos maiores do que a minha perna. 'Bora com calma.

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