Update
Continuo viva (embora menos do que estava à espera)! Os últimos dias têm sido difíceis - bem mais do que aquilo que eu esperava. Achei que os primeiros dias é que iam ser maus mas, afinal, tem-se passado precisamente o contrário.
Tem sido uma luta diária com as dores e com os meus próprios fantasmas e negativismo típico. É uma luta injusta e desigual e sinto que a perco muitas vezes - mas o que mais faço é pausas, dormindo. É tudo o que quero, sei e posso fazer. Tenho dormido tanto, tanto, tanto que acho que chego a fazer inveja às preguiças que vivem na floresta. Não devia dormir tanto desde os meus quatro anos, mas enfim - é a única altura em que as dores me dão tréguas e eu posso respirar de alívio.
As cicatrizes estão em óptimo estado e quinta-feira devo ir ao hospital - conto já tirar os pontos da perna (onde tirei um sinal), mas os outros, ao que parece, estão cá para ficar. Eu queria muito tirá-los, ver-me livre disto e deixar esta fase negra para trás, mas o risco de isto abrir é demasiado grande e não posso deitar tudo a perder. Do pouco que percebo disto, a minha incisão é anormalmente grande, porque nas últimas semanas (em que já não me sentava) o quisto alastrou-se de forma perigosa, criando "caminhos" que antes não existiam e que tiveram de ser todos limpos e cozidos (por dentro e por fora, por isso não só tenho pontos exteriores como interiores).
Não piso a rua há praticamente uma semana e os caminhos que faço são todos os dias os mesmos - quarto, cozinha, sala. Só a ordem vai variando. Sinto-me presa. Ando à velocidade de um caracol e a minha liberdade de movimentos é altamente condicionada, por isso não posso fazer mais nada senão estar deitada no sofá e tentar ver alguma televisão. Pelo meio, adormeço - e é o que me vale e me ajuda a ver o tempo passar, contando sempre as horas para um dia indefinido em que tudo isto vai acabar. Ainda carrego sempre um livro comigo, mas as dores constantes e as posições desconfortáveis tiram-me a vontade e a concentração para me agarrar à leitura.
Nunca quis tanto ir ver o mar no Inverno ou ir fazer umas simples compras ao Continente. Nunca quis tanto poder ir ao ginásio, esticar as pernas e fazer agachamentos. Já só penso em tudo o que quero fazer depois disto, em todas as novas portas que quero abrir. Só depois de curada é que vou ditar os meus objetivos para o novo ano porque, de facto, só quando isto passar é que vou poder retomar a vida que deixei em 2015. Agora é aguentar. Aguentar. Aguentar e não chorar, não ir abaixo nos entretantos, porque o mais difícil já passou.
Gostava de dizer que para a semana já estou fina, mas não posso, nem quero. Primeiro porque não sei e segundo porque não quero criar expectativas que depois acabam por me defraudar e deitar abaixo. Suponho que quando tiver de ser, será. E quando eu já puder sentar-me, trabalhar e viver a minha vida sem ser neste sofá, voltarei a escrever com a regularidade que vocês conhecem e gostam. Por agora, aprendi apenas que nem sempre o "show must go on" e que há prioridades que temos que ter e evidências que temos de aceitar. É a vida.
Obrigada por todo o vosso apoio. Prometo responder a tudo quando estiver em condições para o fazer e ir dando novidades de quando em vez, só para saberem que - ainda com um grande golpe de bisturi no rabo - continuo viva e com muito para escrever e vos contar. Até lá!