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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

06
Jan16

Palavras do dia: "dor", "orgulho" e "superação"

Estou viva, meus amigos, estou viva! Já o tinha anunciado no facebook (quem é que ainda não tem like na página, hun???), mas não podia deixar de salientar o facto absolutamente espetacular de ter sobrevivido aqui no blogue.

Já estou em casa, muito dorida e cada vez com mais dores (ai, a falta que aquelas drogas que vão logo para a veia fazem!) e sem grande posição para estar. Preciso de ajuda para tudo, o que me faz não fazer praticamente nada - detesto estar dependente de outros. Mas, enfim, durante quinze dias vou ter de levar com isto, para o bem e para o mal. Quanto à operação, correu tudo bem: já não tenho nem o quisto nem um sinal na perna que era suspeito e que estava para tirar há anos. Ambas as feridas estão com óptimo aspeto e agora todo o cuidado é pouco para não rasgar os pontos.

Eu não acredito muito em "mentalização", mas acredito em manter promessas. O processo de mentalização, para mim, reflete-se em pensar em tudo de mal que podia acontecer: ficar com amnésia depois da anestesia, a minha "mente" acordar durante a cirurgia embora o meu corpo não reagisse (aconteceu com a minha mãe), ter de ficar com o golpe aberto e ter assim três meses de recuperação pela frente ou mesmo a derradeira consequência, morrer. Posso-vos dizer que me lembrava de um novo drama todas as noites, por isso a "mentalização" tem zero resultados em mim. No entanto, se há coisa que prezo são as promessas que faço, e eu tinha prometido à minha mãe que ia dar o meu melhor para não fazer cenas tristes. Quando soube que ia ser lancetada chorei que me matei, gritei, expulsei toda a gente do quarto; sei que magoo pessoas pelo caminho quando faço isso e tentei que isso não se repetisse. Ocupei a manhã de ontem a arrumar o meu quarto, a preparar séries para ver, registar postais e outras coisas que me ocupassem a cabeça. Fui para o hospital sem cenas, só não queria que me falassem - e foi isso que pedi até adormecer na anestesia. Sabia que se alguém da minha família me dissesse algo - em particular a minha mãe, que me acompanhou durante todo o processo, e que era a pessoa que menos queria desiludir - eu não conseguiria controlar o ataque de pânico que estava para vir.

Sabia que o caminho para o bloco era o mais crítico. Vesti a bata quando me mandaram e senti o pânico a crescer dentro de mim - o meu instinto foi fechar os olhos, juntar as mãos (quase como em posição de reza, embora não o saiba fazer) e morder os lábios e esperar que aquilo que me parecia o caminho para o inferno passasse. Foi duro, foi muito duro. As pessoas acham que uma fobia é ver uma aranha e gritar, que é passar para o outro lado da rua quando está um palhaço a fazer palhaçadas no outro lado do passeio. Mas não é, é muito mais que isso. Durante todo aquele caminho (que eu nunca saberia reproduzir, porque quase nunca abri os olhos) eu estive a controlar o ataque de pânico gigante que crescia dentro de mim. Consegui não fugir, consegui não gritar, consegui não ser agressiva com ninguém, mas uma fobia vai para além disso: tinha tremores por todo o corpo, as lágrimas escorriam-me pelos olhos mesmo eu não estando a chorar e tendo-os fechado e desenvolvi uma espécie de urticária nervosa, ficando com o corpo cheio de manchas vermelhas. Tentei descontrair e ser simpática com aquela equipa de médicos incansável que estava a tratar de mim, mas o pânico era demais para conseguir ser eu, para interagir ou sequer para agradecer a música que me puseram a tocar ao ouvido ou toda a simpatia que me foi dirigida. Puseram-me o catéter (dos poucos momentos em que vi o bloco por ter aberto o olho) e, finalmente, puseram-me a dormir daquele pesadelo. Não me disseram para pensar em coisas boas, mas mal me puseram a máscara eu sabia que era esse o momento - e foi o mais feliz que vivi nessa hora. Não me perguntem porquê, mas pensei em Hogwarts. Talvez porque aquilo que fiz e me controlei ali, para mim, foi magia.

Foi das coisas mais difíceis que fiz na vida.

Quando acordei (também com as lágrimas a escorrem-me), a primeira coisa que perguntei foi: "portei-me bem?". Era tudo o que queria, não ter falhado na minha promessa. E o resto do dia decorreu com uma satisfação estranha que sei - e sei mesmo - que não foi provocada por nenhuma anestesia, mas por uma satisfação imensa por ter cumprido, em tudo o que pude, aquilo com que me tinha comprometido.Sei que chorei, sei que o meu pânico era visível, mas também sei que não podia, nunca, ter-me comportado melhor do que comportei e que ontem tinha acabado de derrubar uma das maiores barreiras que a vida me tinha posto à frente.

O sofrimento não se mede, mas posso dizer que ontem sofri, de forma interior, desmesuradamente. Mas sobrevivi e não deixei que o medo fosse maior que eu. E essa é a maior lição que posso tirar disto.

 

(Lamento se o texto tem gralhas mas, para além de ter sido escrito no telemóvel, não o consigo reler. Vi-me obrigada a parar duas vezes enquanto o escrevia, por estar a reviver tudo o que vivi e todos os sentimentos de pânico virem de novo ao de cima. Já chorei mais nestes minutos do que chorei ontem o dia todo - e digo-o, sem qualquer tipo de vergonha, porque não vejo o choro como uma fraqueza. Não sei se foi demasiado cedo para (d)escrever isto, mas sinto que precisava, para fechar um dos dias mais duros da minha vida nas gavetas onde ele pertence: à da "dor", mas também a da "vitória" e do "orgulho em mim própria". Agora é descansar, lidar com a dor o melhor possível e recuperar totalmente, porque tenho toda uma vida à minha espera).

 

(Obrigada também pelo vosso apoio, mensagens e comentários, com votos de força e melhoras - ajudaram a dar fôlego ❤️)

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