Parece que foi ontem que vi aqueles ratinhos em forma de cães em volta da Luna, a mãe. Eram tão pequeninos que até metia impressão pegar-lhes. Eram todos demasiado fofos - tão fofos que só apetecia comer e estrafegar com beijos e mimos bons. Mal eu sabia, nessa altura, que um daqueles cãezinhos iria ser meu.
Parece até que foi hoje que vi a Molly entrar aqui em casa, dentro de um saco de papel e um lacinho vermelho ao pescoço, em forma de prenda de anos da minha mãe. Mal toda a gente sabia que aquela tinha sido a melhor prenda do mundo, não para a aniversariante, mas sim para mim.
Ainda me lembro da primeira noite que passei com ela, quase metida na minha cama; do drama que foi introduzi-la na matilha, uma vez que o Tomé tinha uma vontade louca de a comer de um só trago; da diferença de tamanho grotesca entre ela, com dois meses, e os outros cães; da primeira noite em que dormiu aqui dentro de casa, completamente enroscada em duas mantas onde a embrulhei para parar de tremer de frio. Foi o primeiro cão que conquistou lugar aqui dentro de casa, mas desde o início que conquistou os nossos corações. Tenho uma relação com ela que não tenho, nem nunca tive, com mais nenhum cão - talvez porque ache que tudo aquilo que sinto por ela é recíproco. Ela mima-me quando eu preciso, eu faço-lhe o mesmo; ela é chata quando quer alguma coisa, mas eu também sou chata quando quero que ele faça o que quer que seja; ela tem a mania que manda, e eu mostro-lhe que quem manda sou eu. Mas, dentro das nossas grandes diferenças, completamo-nos. Acho que somos quase feitas uma para a outra.
Como prenda de anos antecipada, a semana passada esqueci os trabalhos, o programa, os computadores, as internets e os telemóveis e levei-a à praia pela primeira vez. Todos aqueles passeios e treinos tinham esse grande objetivo: começar a leva-la de carro a alguns sítios para nos passearmos uma à outra. Para primeira experiência correu bem. Fomos para uma praia com pouca gente e ficamos lá meia hora. Não estranhou a areia nem tentou meter-se na água; no passeio portou-se lindamente, com excepção dos momentos em que via outros cães ou mirava os pássaros para caçar (o que é um problema porque eu não reparo neles e não estou à espera do puxão que ela me dá). Nunca a soltei da trela, com medo que ela fugisse ou se metesse com outros cães, mas estamos num bom caminho. Acho que foi a melhor prenda de aniversário que ela podia ter tido.
Em suma, há um ano tinha acabado de nascer uma das minhas melhores amigas. Parabéns Guacamolly*!
*um nome fofinho que eu lhe chamo, num trocadilho entre o prato "guacamole" e o seu nome, Molly