Miguel Araújo & companhia
Ontem fui ver o Miguel Araújo ao coliseu, com muita falta de vontade mas a saber, no fundo, que ia valer a pena. E valeu, porque me conseguiu pôr mais bem-disposta. Mas, devo admitir, esperava um bocadinho mais.
Acho mesmo que o último concerto que fui ver foi d'Os Azeitonas, onde ele se insere, e o público vibrou muito mais. É verdade que as músicas do Miguel são mais calmas, mais nostálgicas e tristes, ao contrário das dos AZ, onde reina a boa disposição e divertimento. Ainda assim, não sei se foi feita uma boa gestão da set-list, para os picos de emoção irem variando, e intercalar músicas conhecidas com as menos conhecidas, assim como mais mexidas com mais calmas.
Por outro lado notava-se algum desconforto e nervosismo da parte dele - e não é para menos. Foi a primeira vez que cantou a solo no coliseu e... encheu! Isso refletiu-se em (relativamente) pouca interação com o público - pelo menos comparado com outros concertos de artistas portugueses a que fui, onde dividiam a plateia e nos punham a cantar, e nos obrigavam a saltar e pediam mais, e mais, e mais. Ou isso ou o público estava murcho e ficou também um bocadinho à quem das minhas expectativas.
Mas fora isso adorei a espontaneidade, o leve sotaque e de se notar que o Miguel é um portuense de gema. Cantou tudo o que queria ouvir - e o que me apeteceu chorar na "Recantiga"? - e os convidados foram excelentes. De salientar o António Zambujo, de quem gosto mais a cada dia que passa, e a quem já tinha ouvido como convidado no concerto dos Deolinda. Também adorei a Inês Viterbo e a Ana Moura, claro - como não gostar?
O momento alto da noite foi quando ele convidou uns tios para tocarem com ele - para além de ser a música mais mexida, que pôs o pessoal todo a abanar o capacete, foi um gesto lindíssimo. Os tios têm uma banda de rock amador há mais de trinta anos - sendo que continuam a ensaiar todas as semanas - e ele deu-lhes a oportunidade de tocar num palco daqueles, algo que nunca aconteceria se ele não os tivesse convidado. Foi um momento giro, mas acima de tudo um gesto fabuloso e que acho que tocou a todos.
Resta-me dizer que adorei o facto de estar lá uma "mini orquestra", que tornou tudo muito mais genuíno e bonito. O senhor do violoncelo, então, deu cabo de mim. Eram mesmo, mesmo espetaculares e deram um toque muito especial ao concerto.
Sobre o Miguel não há muito a dizer, para além de que tem uma voz que adoro, um sotaque delicioso e umas letras divinais. Talvez lhe falte algum amadurecimento (musical), mas para isso é que estamos cá para o ver crescer. Eu, pelo menos, estou lá batida.
Like a Rolling Stone, Miguel com os tios (pena não se perceber o delírio do público):
Pica do 7 com António Zambujo:
(nenhum dos vídeos me pertence)