Noites menos felizes
Desde miúda que a morte me aterroriza. Aliás, ia para além da morte: pensava quando o mundo acabasse e na possibilidade de não existir mais vida em lado nenhum e aquilo que ficaria... que era nada. Mas não é "nada" como pensamos vulgarmente: é nada, mesmo nada, nada, zero, nada. Um nada impressionante e demasiado grande para uma miúda daquela idade conseguir digerir, e portanto acabava frequentemente a chorar quando pensava nestas coisas. Porque eu sempre soube que, em principio, quando morrer, tantos outros ficam na Terra - o problema é quando houver uma catástrofe qualquer e tudo desaparecer e... nada. Nada. Tudo nada.
Confesso que ainda hoje esse pensamento me consome, embora muito menos vezes e sem choro à mistura. Esta última vaga de "pensamentos" surgiu nestes dias, à noite, e tem-me roubado muita paz: não penso propriamente no fim do mundo, mas no fim do meu mundo. Tenho medo de morrer, basicamente - ou que um dos meus morra. Um pensamento parvo, eu sei, que ninguém deve ter em mente - e que eu não tenho, normalmente, mas que à noite me invade, não sei bem porquê (suponho que seja do stress, de tudo o que me anda a moer por dentro e dos livros que ando a ler). Tenho medo de morrer sem ter sido feliz, de não ter feito toda uma série de coisas que acho que marcam uma vida, sem olhar para trás e sorrir, sem deixar uma marquinha - por pequena que seja - no mundo (um livro, um livro bastava). E, acima de tudo - mais do que não saber o que está do lado de lá - tenho medo de ter sido eu a provocar essa minha infelicidade, de me sentir culpada por ela.
Enfim, têm sido noites pouco produtivas, pouco felizes e pouco fáceis de digerir. Espero que passe rápido, tal como os meus pesadelos vão e voltam sem avisar. Que hoje caia redonda na cama e que tudo isto tenha sido de ontem e que fique lá, sem me perturbar novamente.