Os nomes que nunca me poderão chamar
Eu acabo por passar muito tempo com pessoas adultas e nem tanto com pessoal da minha idade. Fico muito em casa, distancio-me um pouco da confusão que é a vida típica de um adolescente rodeado de amigos, festas e saídas e por isso sinto-me, muitas vezes, deslocada. Não necessariamente no sentido mau da coisa, mas acabo simplesmente por não estar integrada e ficar fora dos assuntos normais - eu nunca sei quem é a pessoa x ou y lá da escola, porque eu não conheço praticamente ninguém; sou sempre das últimas a saber que um colega começou a namorar com outro; fico sempre mais do que espantada por saber as fofoquices de sabe-se lá quem, que já aconteceram há demasiado tempo.
No entanto, com uma semana inteira de convivência com pessoas da minha idade, fiquei a saber da vidinha de meio mundo - e tendo em conta que éramos três raparigas, má língua não faltou. E durante aqueles longos minutos em que eu tentava dormir mas não conseguia, reflectia sobre isso e da forma como somos cruéis nas costas dos outros - e eu incluo-me, porque acho que todos, de alguma forma, o fazemos.
Numa das noites acabei mesmo por ficar feliz por ser como sou. Questiono-me muitas vezes sobre o que os outros dizem sobre mim quando eu não estou, por uma pura questão de curiosidade - mas sei, por exemplo, que nunca me descreverão como "aquela Carolina que namorou com o João, aquele loiro, com o Rodrigo, aquele que joga futebol, com o Manel, aquele alto de olhos claros, com o Dinis, que anda na escola do y". Fico contente por, ao menos, me manter rígida em relação a alguns parâmetros que para mim são importantes de respeitar (neste caso não era preciso ser tão rígida, não é? Não quero ser uma Maria-vai-com-todos, mas passar a eternidade solteira não era bem o meu plano). Há muitos pontos onde me podem criticar e insultar, mas sei que há julgamentos praticamente impossíveis de fazer sobre mim e eu considero esses os mais importantes e que, conscientemente, evito.
Porque ser mauzinhos e criticar tudo e todos faz parte de nós - vão sempre faze-lo mesmo que sejamos óptimos, fantásticos e lindos, nem que seja por inveja. A má lingua das mulheres será sempre a mesma, embora pudéssemos começar a trabalha-la, se quisessemos (eu tento, a sério). Mas o mais importante de tudo é mesmo sermos fiel a nós mesmos e não cedermos nos pontos que para nós são os mais importantes - porque falhas vão sempre existir, o sítio onde elas existem ou não é que poderá, eventualmente, ser grandemente influenciado por nós.