Isto é uma analogia extremamente injusta, mas é verdade: os turcos lembram-me ciganos, na aparência física, muito devido ao seu tom de pele escuro e cabelos negros. No entanto, acho que são um povo extremamente trabalhador e respeitoso. Mas não me atraem, pronto.
A relação deles com as mulheres era um pouco estranha - sentia que nos comiam com os olhos; olham-nos com uma intensidade diferente do normal. Há lá muitas mulheres que andam de lenços na cabeça, mas não são assim tantas as que andam tapadas da cabeça aos pés. Nota-se que são os homens que trabalham (não se vêem mulheres em lojas e muito menos no Grande Bazar) e a relativa inferioridade do sexo feminino.
Mas eu lá, nesse aspecto, fui tratada como uma princesa. No Grande Bazar o meu ego elevou-se imenso - também por quererem vender, como é óbvio, mas era elogio atrás de elogio: ora porque os preços eram mais baixos para meninas bonitas, ora porque eu, com as botas x, parecia uma top model (anedótico). Uns queridos.
No primeiro almoço que lá fizemos, num restaurante ao ar livre, o empregado engraçou comigo e não nos largou durante a refeição inteira - e de onde é que eu vinha, e como me chamava, e se aqueles eram os meus pais e se eu estava no ramadão (porque não comi). Depois oferecia-se para tirar fotos. Depois passava pela mesa em versão camara lenta, sorrindo, e ensinando-nos e repetindo a forma de dizer "obrigada" em turco. Uma festa. Eu já não sabia em que buraco me havia de meter e ele... sorria.
Na manhã seguinte conheci um dos empregados no hotel que, vendo-me à espera da minha mãe em pleno lobby, às voltas de um lado para o outro, veio ter comigo: se estava tudo bem, de onde é que eu vinha, onde ia hoje. De todas as vezes que me via lá vinha ter comigo: estava bem disposta naquele dia? E quando me via ir embora vinha ter comigo, com uma cara um tanto ao quanto apavorada: já me ia embora (de vez)? Não, só no dia x. E ele lá me desejava um bom dia, que lá me esperaria quando chegasse. No último dia de excursão, na última voltinha que dei para me despedir da cidade, ele pensou mesmo que eu ia embora e até me estendeu a mão para me cmprimentar: disse-lhe que só amanhã. Mas no dia seguinte ele não estava lá e ficou o passou-bem por dar, com alguma pena minha - a simpatia do senhor merecia uma retribuição.
Durante os três dias que lá passei os sorrisos que recebi foram muitos, assim como os elogios. Talvez tenha sido por isso que vim renovada, apesar de cansada, da antiga capital do império Otomano. Foi bom para o ego e para a auto-estima.