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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

25
Out11

Demasiada areia para uma descoberta

Uma pequena porção de areia. Um anel. O anel cai na areia; nós procuramos o anel. Nós encontramos o anel, porque a areia não era assim tanta.

Uma grande quantidade de areia. Muito grande. Uma praia. Um anel. O anel cai na areia; nós procuramos o anel. E procuramos. E procuramos. E procuramos. E horas. E horas. E dias. E semanas. E choramos, porque o anel era importante. E irritamo-nos, porque queríamos mesmo encontra-lo. E chateamo-nos, porque todos tentam mas ninguém o encontra. E desistimos, porque acreditamos em causas perdidas.

O anel está na areia. O anel vai ficar para sempre na areia. Perdido. Que mais estará na areia, enterrado naquela grande praia?

 

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25
Out11

As gavetas

A minha cabeça é composta por diversas gavetas. Muitas, muitas, muitas. Umas abertas, umas fechadas, outras em vias de fechar. As chaves estão espalhadas por mim, como as nuvens estão pelo céu visível - dispersas aqui, aglomeradas ali; e, embora sejam imensas, nunca se perdem.
Nos dias piores, as fechaduras das gavetas enfraquecem; as chaves aproximam-se gradualmente das gavetas fechadas e, com um mecanismo intrigante, abrem-nas, deixando que o seu conteúdo desastroso saía cá para fora - ideias devastadoras, pensamentos negativos, maus feelings; tudo coisas que batalhei, dia após dia, para fechar dentro das malditas gavetas e que com um simples abanar da estrutura, acabaram por sair e ter ordem para vaguear de novo pela minha mente.

E agora sou eu, numa procura incessante das chaves, para poder fechar as gavetas de novo. Até lá...

 

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23
Out11

Como é que se esquece alguém que se ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.


Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

23
Out11

Reacção à diferença

Nestes últimos dias de bom tempos, naquela semana muito quente de Outubro - o nosso Verão tardio - andei sempre de calções (aliás, como aqui já está farto de ser relatado). E o meu pé elástico, como é óbvio, andava ao descoberto.

Apesar de ser cor de pele e ao longe passar despercebido, não pude deixar de notar que 80% das pessoas que passavam por mim na rua olhavam para ele (descaradamente!). E, digamos, que 5 a 10% ainda ficavam  olhar para trás quando eu passava para ver bem o que se estava a acontecer com aquele pé estranho.

E isto deixou-me a pensar, apesar de não me incomodar minimamente o facto das pessoas olharem. É que eu tenho um pé elástico e já é como é - mas e quem tem deficiências graves, anda de cadeira de rodas e etc.? Que sentirão eles quando 99,99% das pessoas ficam a olhar para eles na rua (e, com certeza, também se viram para trás quando a pessoa passa..), para analisar melhor aquela "aberração"?

Como nós, povo alegadamente evoluído, reagimos tão mal à diferença...

 

 

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