Assustei-me seriamente quando vi quem me iria tratar. O Rodolfo já havia passado pelo FCPorto, Benfica e Sporting; na clínica veste-se sempre de preto, combinando com o seu bigode farfalhudo e o cabelo preto, ligeiramente encaracolado. Tinha cara de mau e só quando o ouvi falar é que respirei de alívio.
De todos os médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e massagistas a que me dirigi, todos ficam a olhar para o meu pé com um ar pensativo - os tratamentos que me aconselhavam baseavam-se no 'talvez resulte...' porque, notoriamente, ninguém sabia bem o que isto era. E ele mostrou-se confiante. Disse que conhecia um caso semelhante e me punha como nova. E eu aceitei de imediato, porque foi a única pessoa nesta jornada que me pareceu confiante naquilo que dizia.
A fisioterapia não se tem revelado fácil. A primeira semana, que tive de ir todos os dias, foi na verdade muito difícil. E os dias em que saí depois das 21h também. Era chegar a casa e ir para a cama, com a cara molhada de lágrimas de cansaço e revolta. Mas assim tem de ser. A espera por vezes é muita - já chegou às 3 horas - e o tratamento, que ronda as 2 horas, desgastam qualquer um. E não é fisicamente - é psicologicamente.
A rotina é sempre igual. Meia hora de electrodos - 'diz quando começares a sentir', 'diz quando estiver bom', que é o único tratamento não indolor que tenho - depois 10 minutos de ultrassons, seguido de 5 minutos de laser - "põe os óculos, não os tires enquanto não acabar". Depois vou para o 'turbilhão' (hidromassagem), recebo uma massagem e por fim 30 minutos de pressoterapia (uma bota que é colocada na perna, que incha e desincha, de modo a fazer drenagem).
A Tânia, o Luís e o Líbano são a minha pouca companhia durante estas horas - são quem ajuda o Rodolfo na clínica e que me permitem uma breve troca de palavras de cada vez que abrem a cortina da minha box, só para espreitar como eu estou. São eles que me fazem os ultrassons e tentam meter conversa comigo, enquanto passam o aparelho no meu pé. A Tânia é a minha preferida. É uma risota pegada. A minha box, apesar de um ser uma pessoa reservada, é a mais animada lá do sítio. Ouvem-se gargalhadas e brincadeiras, vêem-se sorrisos.
Ou seja, está é no fundo, e para já, a minha terceira casa.
(pressoterapia e electrodos)