Eu, bruxa
Eu sabia, eu sabia, eu sabia. Só me enganei numa coisa: não foi em relação aos outros, foi em relação a mim.
Odeio ter pressentimentos. Fiz febre antes de sair de casa. Estava tudinho a dizer-me "Carolina, não saias de casa." E eu, teimosa, saí.
Lá fui ter com a minha amiga, que gentilmente me veio buscar a casa. O aperto continuava. Tudo bem até 500 metros antes de chegarmos ao parque do shopping. O carro começou a fazer um barulho estranho quando se fazia curvas um pouco mais apertadas, tanto para a direita como para a esquerda - era como se tivesse perro, embora tal não se sentisse na direcção. Mas o barulho era mesmo muito.
Estacionamos o carro, subimos até aos cinemas e comemos algo. Entretanto, liguei ao pai (homens são preciosos nestas alturas), e lá lhe disse o que se passava. E ele disse-me para ir devagarinho para casa, que tudo devia correr bem. E eu só pensava: "caraças, não me digas isso! Diz-me para não ir! Diz-me que me vens buscar!". Naquele momento, só pensava nos dois momentos em que senti um carro ficar sem direcção e eu estava dentro dele. E sabia que não queria repetir a sensação.
Posso dizer que não disfrutei do filme. Chegadas ao carro, uma enorme poça de óleo - o que, no fundo, foi o meu alívio, porque soube que não íriamos sair dali dentro daquele carro. E daí foi falarmos com o segurança, ele dizer-nos que o pronto socorro só estaria autorizado a entrar no parque amanhã e que era melhor arranjarmos transporte para casa - e foi a minha mãe que fez essa tarefa.
Stress a níveis altos, neste momento. Tão altos que só me apetece chorar - porque eu sabia que uma porcaria deste género ia acontecer.
Vou virar bruxa. Ou então vou à bruxa. Parece que as duas opções são viáveis.