Hoje, quem ganha, sou eu
E pronto, lá estamos nós. Meio que desesperados, quase sempre - preocupados, com uma ideia constante a batalhar na nossa cabeça, com algum medo sobre o que a senhora nos vais dizer. Lá subimos as escadas, quase sempre de uma tijoleira com cor desensabida, e às vezes lá agarramo-nos ao corrimão - precisamos de forças.
E já está. Lanço de escadas subido. Já chegamos. Um "tlin-tlont" anúncia a nossa entrada num sítio onde reina a cor branca, e estão umas cadeirinhas com alguém com cara de desespero/preocupação/não-relaxação/pensativo-sobre-os-problemas-da-vida. Vamos ao balcão - também a maioria das vezes branco, vá-se lá saber porquê - e dizemos (ou, no meu caso): "Olá, bom dia. Tenho uma consulta para as 16.00h.", "Como se chama?", "Carolina Guimarães", "Pode sentar-se que a doutora já a vem chamar". Sentamo-nos, medrosos, a pensar no que vai acontecer naquela sala, que para mim é como sala de turtura.
Lá entramos nós, sentamo-nos na cadeirona - quase sempre azul, curiosamente - e eles baixam aquilo e mandam-nos abrir a boca. Não, esperem aí: antes ainda falamos um bocadito; coisas como "então o que o trouxe aqui?", "onde lhe dói?", "qual o tipo de dor?". E agora sim, abrimos a boca. E fechamos os olhos. E pomos Lady Gaga num dos ouvidos, para dar força. Ainda assim, ouvimos as brocas a mexer, sentimos a anestesía no nervo (foda-s* que aquilo dói!), ouvimos as dicas da médica "abra um bocadinho mais", "vire mais para aqui", e sentimos coisas estranhas na boca.
Quando acaba, depois de todo aquele sofrimento, depois de nos babarmos todos ao tentar bochechar a boca com água (mas, ups, estarmos anestesiados), depois de termos aquele sabor horrível mesmo típico a dentista e depois do nosso ritmo cardíaco estabilizar, levantamo-nos.
Agradecemos, damos um apertinho de mão e um sorrisinho à médica, pagamos, e pomo-nos dali para fora.
Hoje - mesmo que tenha sido só por hoje, porque o medo continua aqui - enfrentei a minha fobia. E sim, mereço um gelado como uma criança. Mereço um beijo e um abraço, e até um "parabéns" - que foi o que o meu irmão me ligou a dizer, e a quem eu só posso agradecer, porque são pessoas assim que me dão força para continuar. Hoje fui com um bromalex em cima, mas fui. Hoje curei aquilo que precisava de ser curado. Hoje fui grande, porque enfrentei o meu maior medo, e apesar da ligeira dor que ainda possa sentir e da estranha sensação de ter algo estranho na boca (vá, não façam filmes), hoje fui vencedora, e estou muito orgulhosa de mim mesma.