O professor de físico-química
O professor de físico-química sempre foi especial. Desde o início que ele engraçou comigo (ou com o meu físico) e eu com ele. Faz o meu tipo de pessoa: usa a ironia o sarcasmo, é inteligente.
Era sabido já desde o início que ele gostava bastante das raparigas. Ou seja, que os olhinhos dele gostavam de pairar pelos seus corpos. E é como dizem - primeiro estranha-se, depois entranha-se. Nunca deixei de me vestir com mais ou menos decotes por causa dele nem coisa do género - simplesmente, ninguém pode evitar que ele ou outros olhem, por isso acho melhor mantermo-nos fiéis a nós próprios.
Sempre foi um amor para mim - mostra-se sempre zangado e preocupado quando tiro más notas, pergunta-me regularmente sobre o pé, diz-me quando acha que o meu humor não está nos seus melhores dias. Sei que tem noção das minhas capacidades e gostava que à sua disciplina fosse uma aluna exemplar - coisa que nunca se revelou. A verdade é que cada vez gosto menos de físico-química, porque aquele mundo revela-se de dia para dia mais complexo e menos cativante.
Desiludir pessoas é coisa que mexe comigo. E eu sei que o teste que fiz ontem, para além da desilusão que vai ser para mim, será também para ele. Porque a aluna que ele queria que fosse exemplar vai tirar negativa ou algo pouco acima disso.
Não fiz por ser a menina do professor. Mas a verdade é que o pressão que decai sobre mim é maior. Porque vou ver a cara chateada dele quando me der e teste e ouvir a sua voz a dizer 'Guimarães, leia a pergunta', porque ele só me trata por Guimarães quando está zangado. Porque ele tem expectativas e eu não as vou atingir.